𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 : 𝟎𝟓
Alguns considerariam uma completa burrice repetir o mesmo passado, mas penso que nunca é burrice aprender novamente os ensinamentos dos mesmos erros quando se considera um aspecto tão amplo como esse. Todos são capazes de se lembrar deles no final, porém, poucos são os que realmente levam a lição para o resto da vida e a usam da melhor forma possível.
Embora eu certamente tenha aprendido e adquirido a habilidade necessária para realizar essa tarefa, parece que não foi o suficiente para romper o ciclo repetitivo. E agora, dois irmãos estavam sendo separados. De novo.
Meu estômago se revirava, tornando difícil me manter em pé ou compreender claramente os gritos acusadores que ecoavam em meus ouvidos. O mundo parecia distorcido e tudo o que conseguia discernir eram as vozes que me amaldiçoavam com a mesma intensidade que sentia quando aquela sensação se manifestava.
De repente, o camarim também parecia pequeno demais, apertado demais, sufocante demais para ainda permanecer inteira.
Um forte tapa é desferido em minha bochecha e sou obrigada a virar o rosto para absorver a punição. As lágrimas involuntárias brotam em meus olhos, junto com o rubor intenso antes do hematoma iminente.
─ Onde ela está, caralho!?
Hakkai encontrava-se em um estado de exaltação evidente, algo que era incomum para ele, que jamais proferiria um palavrão sequer em seu estado normal. Porém, qualquer um poderia apontar que a situação atual já não era mais normal.
Ele teve que abandonar apressadamente uma sessão de fotos assim que recebeu a notícia do desaparecimento, e foi uma carga emocional muito difícil de lidar quando o estresse acumulado finalmente decidiu explodir em um momento delicado.
─ Se acalma, cara ─ Mitsuya rapidamente afasta o amigo de perto de mim com a ajuda de Takemichi.
─ Takashi, não tente pará-lo ─ Akane adverte, voltando a me encarar ferozmente ─ Ele tem toda razão.
─ A culpa foi minha? ─ sussurrei, fazendo a pergunta mais para mim mesma do que para qualquer outro naquela sala.
─ A única responsável pelas coordenadas de Yuzuha era você, lembra? Fez questão de que fosse assim antes da gente entrar ─ a loira continua, acreditando que eu estava verdadeiramente envolvida no incidente.
─ Chega! ─ Senju interrompe, ficando em uma posição protetiva entre mim e os outros ─ Não vamos julgar ninguém sem saber o que aconteceu aqui, porra!
─ E precisa saber? É evidente que a [Nome] tem a sua parcela de culpa no desaparecimento ─ Akane declara, mantendo o seu tom irritado ─ Você mesma avisou que não deveria deixar Yuzuha naquela posição, mas ela ignorou como sempre faz.
─ Ei, não acha que está sendo muito dura? ─ Takemichi pergunta, demonstrando em seu semblante uma certa pena por mim.
─ É vocês que estão sendo muito idiotas para não perceberem que toda a história está se repetindo que nem da última vez, e já sabemos muito bem qual é o fim dela ─ Akane cruza os braços com indignação.
─ Akane, agora não é hora pra isso ─ Senju lança um olhar de reprovação, negando com a cabeça.
─ E quando vai ser a hora?! Já estou cansada de ter que fingir que nada aconteceu, e essa palhaçada precisa acabar.
─ Concordo com ela, Senju ─ a voz de Hinata é falha, mas ela ainda se pronuncia com determinação ─ Fizemos isso por você, mas precisa admitir que não estamos mais no mesmo barco.
─ Tudo bem, escutem... ─ a Akashi levanta a mão e solta um suspiro ─ Eu sei que a [Nome] errou, e não vamos nos esquecer desse detalhe, mas precisamos focar na Yuzuha primeiro.
─ Eu errei? ─ repito com o mesmo sussurro, como se estivesse em outra realidade.
Eles simplesmente me ignoram como deveriam, continuando a discutir sobre a ruiva enquanto eu me sentia cada vez mais invisível naquela conversa. Queria gritar, queria ser ouvida e me defender, mas minhas palavras pareciam travar na garganta antes de desaparecerem. Era frustrante perceber que, no fim, não importava o que dissesse naquela ocasião, eu nunca seria ouvida. De novo.
─ Infelizmente nós não temos nenhuma pista, não podemos ir atrás dela a essa altura.
─ Meu Deus... ─ Hakkai perde a força nas pernas e acaba cedendo, apoiando a mão no chão para diminuir o impacto.
Enquanto tentavam acalmar Hakkai e explicar um cenário plausível, eu não suportei a pressão presente e decidi sair apressadamente do local sem olhar para trás, ignorando outro grito atordoante chamando por mim, e seguindo direto para casa. Aquilo era o suficiente para que eu pudesse desistir de continuar a discussão, portanto, julguei que seria melhor resolverem tudo se eu não estivesse lá.
Durante a trajetória solitária no meio da escuridão da noite, tomei um tempo para me recuperar do caos e de todos os pensamentos conflituantes. As luzes cegantes dos faróis passando por mim eram como um aviso de que eu ainda estava presente no ambiente da calçada, mas tudo o que esperava no momento era que esse fato não fosse real e que eu fosse apenas mais uma assombração qualquer, podendo ser capaz de esquecer dessa noite assim como a que se seguiu anteriormente.
Infelizmente, isso não seria mais possível depois de tantos anos me condenando, mas uma coisa não deixava de ser um fato: com o pequeno detalhe que percebeu durante o leilão, eu achava que sabia exatamente com quem Yuzuha poderia estar. Não, não achava, tinha total certeza. E estando ocupada planejando a minha nova teoria, eu não dormi naquela noite.
Logo pela manhã, a primeira coisa que fiz assim que o sol surgiu no céu foi ir até o cemitério da cidade. A fonte das respostas que tanto procurava estava parada em frente a um túmulo simples em meio a diversos outros, observando atentamente aquele espaço como sempre. Esse hábito já havia se tornado normal para mim, já que ele sempre vinha nesse horário e se posicionava exatamente no mesmo lugar antes de começar o dia.
A brisa gelada e atordoante da manhã era feroz e assobiava segredos no ar, caçoando dos ouvidos humanos que não tinham a capacidade de entender seu significado. O vento brincava com algumas mechas do meu cabelo, as fazendo flutuar enquanto meus olhos também repousavam sobre a lápide grafada com o nome de Izana Kurokawa.
─ Você sabe daquele cara, não é? ─ perguntei usando um enfâse que ambos reconhecíamos ao me aproximar do homem, colocando os braços atrás das costas.
─ E o que te faz pensar isso? ─ Kakucho ergue uma sobrancelha em desconfiança, mantendo a postura tranquila.
─ Seu amigo morto aí criou um símbolo peculiar demais para o brinco dele, e tem uma certa pessoa que decidiu usar isso para marcar um legado criminoso, se é que me entende ─ usei um tom acusador enquanto olhei para ele, que ainda insistiu em não me encarar ─ Suponho que esteja marcado em você também.
─ Uau... Não sabia que era tão observadora. Você é melhor do que eu esperava ─ ele sorri satisfeito, acenando positivamente com a cabeça ─ Quando foi que descobriu?
─ O dia da sua chegada ─ declarei esperando que ele entendesse, mas ele finalmente me olha confuso ─ Você estava sem camisa, idiota. Foi fácil interligar os pontos.
─ Ah, certo! ─ Kakucho parece se lembrar disso e volta para a sua posição séria de antes ─ Tudo bem, você está correta. Eu tenho as informações que você precisa do Mikey, e posso te contar as coisas mais sombrias que poderia ouvir se estiver disposta a arriscar a sua vida.
─ Eu estou disposta a ir até ao inferno, se for preciso ─ disse com uma dura convicção, o que não era mentira, já que estava vivendo um caos pior do que isso em minha própria mente.
─ Então, me responda, o que vai fazer quando encontrá-lo?
Essa pergunta realmente me pega de surpresa. O que eu faria, afinal? Não tinha uma resposta pronta e imediata. A verdade é que me via diante de uma encruzilhada, sem saber por onde começar. Qual era o seu objetivo indo atrás de Manjiro novamente? Resgatar Yuzuha? Não, não era isso.
Eu esperava que Yuzuha fosse apenas o bônus de algo maior, pois não conseguia seguir em frente tendo que suportar o fardo sozinha. Então, por que não sabia responder a maldita pergunta? O que faria se encontrasse Manjiro de verdade?
Nesse momento, a minha cabeça é inundada por uma série de emoções conflitantes. Existia uma mistura de curiosidade, ressentimento, raiva e uma pitada de esperança. A possibilidade de confrontar Mikey face a face me assustava e, ao mesmo tempo, me instigava.
─ Parece que você está com dificuldades nisso, não é? Vamos mudar essa questão: o que você sobre a Bonten? ─ Kakucho imediatamente suaviza a expressão, percebendo o meu desconforto aparente diante daquilo.
─ Nada, talvez esse seja o problema ─ deixei escapar um longo suspiro, fechando os olhos por um minuto.
─ Mas tudo tem um começo, e seria interessante começar a explicar que eu era um dos pilares. Melhor dizendo, o terceiro no poder ─ ele confessa como se fosse algo bobo e eu me surpreendo, o encarando com uma visão diferente que não passa despercebida ─ Engraçado, não acha? A organização é famosa por exterminar todos os traidores, mas estou bem vivo aqui.
Como eu pareço não ter nenhuma reação além daquela, o moreno continua calmamente:
─ Boa parte de mim saiu de lá por causa do Izana, já não poderia ignorá-lo quando descobri que estava vivo também, e acho que nunca vou esquecer do dia que recebi aquela ligação. Pensei que estava ficando louco ao ouvir a voz dos mortos ─ ele solta uma risada curta, apertando os lábios logo em seguida para explicar o restante ─ De qualquer forma, não foi só por isso. Aquele lugar é um verdadeiro pesadelo, e me fez pagar o preço de viver para sempre apenas como uma sombra agora que escapei. Mas sabe, confesso que poderia ser pior.
─ Onde você quer chegar com essa conversa? Seja breve, porra ─ murmurei, começando a perder a paciência com aquela história, a qual eu não estava nem um pouco interessada.
Ele permanece em silêncio, sua expressão séria e contemplativa. Havia uma tensão palpável no ar, como se ele estivesse lutando contra alguma decisão difícil para não me jogar em um abismo profundo, sabendo que eu jamais voltaria em segurança novamente se estivesse fraca demais.
Os olhos dele encontram os meus, transmitindo um misto de preocupação e precaução. Podia sentir que existia algo importante que ele não estava compartilhando, algo que poderia mudar tudo.
─ Kakucho! ─ segurei os ombros dele com força, o obrigando a me encarar novamente ─ Onde ele está?
─ Parece que você já sacou, hein? Ótimo, vai me poupar um tempo precioso. Eu vou te contar o que você quer saber, fique calma.
Ele retira as minhas mãos do ombro dele com um movimento brusco, como se estivesse impulsionado por uma urgência incontrolável e, em um gesto ágil, ele se abaixa diante da lápide, trazendo sua presença mais próxima da terra. Seus dedos tocam suavemente o solo e ele começa a fazer desenhos na superfície, traçando linhas sinuosas e símbolos misteriosos.
De ínicio, eu não consegui entender muito bem o que ele estava fazendo, mas observei cada movimento com atenção, esperando ter uma resposta depois que o desenho fosse concluído. Quando Kakucho finalmente se levanta, eu noto que minha expectativa realmente havia sido atendida, dando a mim a oportunidade de analisar melhor aquilo.
─ Tira uma foto disso, você vai precisar ─ Kakucho alerta, logo se virando para ir embora daquele lugar ─ Não esquece de apagar da terra quando sair e... Boa sorte, [Nome].
Um lampejo de satisfação cruza o rosto dele, e eu sinto um estranho arrepio percorrer o meu corpo. Ele acena para mim, transmitindo confiança e encorajamento, antes de desaparecer no meio do labirinto de lápides e caminhos sinuosos, me deixando à mercê da incerteza. A responsabilidade rapidamente recai sobre os meus ombros, e agora isso dependia apenas de mim.
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