𝐂𝐡𝐚𝐩𝐭𝐞𝐫 : 𝟎𝟑
O estúdio fotográfico de um modelo nacionalmente famoso era o último lugar onde gostaria de estar em minha vida. Os flashes incessantes e os trabalhadores ocupados andando de um lado para o outro durante a realização de suas tarefas me faziam ficar um pouco zonza com todo o movimento constante.
Senju informou ao restante da equipe que o encontro ocorreria no local de trabalho do irmão de Yuzuha, portanto, todos já haviam se locomovido e estavam apenas esperando pela próxima ordem.
Essa escolha foi estratégica, pois o local estava situado em uma região mais distante do aglomerado e também funcionava como uma das principais fachadas da Brahman. Dessa forma, nós poderíamos nos movimentar sem despertar suspeitas. Porém, embora ninguém desconfiasse da minha presença, estar ali era verdadeiramente incômodo, pois aquele ambiente não pertencia ao meu mundo habitual.
─ Não acredito que resolveu envolver a polícia nisso! ─ a platinada exclama para mim, franzindo o cenho.
─ Cala a boca, eu sei o que estou fazendo ─ rebato, cruzando os braços.
─ Espero que saiba mesmo, porque não foi fácil conseguir isso ─ uma voz firme anuncia atrás de mim e me pega de surpresa, me fazendo adotar uma postura ofensiva.
─ Porra! Que susto, Naoto ─ sibilo, hesitando em revidar quando reconheço o moreno ─ O que foi isso? Perdeu o amor a vida?
─ Não mais do que você, eu suponho ─ ele estende para mim o que estava segurando, sorrindo minimamente ─ Aqui está o que pediu, e também trouxe algumas informações importantes.
Devolvo o sorriso e imediatamente seguro o canudo, o desenrolando com curiosidade para me deparar com uma planta baixa que continha detalhes até demais para que eu pudesse analisar com uma simples olhada.
Apenas uma única chamada telefônica foi mais do que suficiente para alcançar o meu objetivo. Afinal, não era apenas Izana que possuía conexões importantes, eu também havia ajudado a polícia em diversas ocasiões - sempre atuando nas sombras -, e Naoto esteve lá como o meu principal ajudante em todas elas.
Essa foi uma decisão especificamente minha, já que nós nos conhecíamos desde a época da adolescência e era fácil trabalhar com ele a partir disso. Além desse detalhe, a relação de trabalho era benéfica para ambos, pois informações provenientes do submundo possuíam um valor inestimável nas mãos de um policial, assim como o contrário também se aplicava.
No entanto, essa relação em questão não parecia ser do agrado de uma criminosa procurada em particular, que exibia uma expressão de descontentamento evidente. Senju contorcia seu rosto em uma careta desagradável, enquanto observava atentamente a cena que se desenrolava diante de seus olhos.
─ Naoto Tachibana... ─ ela murmura, deixando sua irritação evidente na voz.
─ Senju Kawaragi. Ou melhor dizendo, princesa da Brahman ─ ele devolve, erguendo uma sobrancelha.
─ Não me chame assim, já tive o suficiente desse título por hoje ─ ela desvia o olhar para mim, mas eu ainda estava distraída com a planta baixa.
─ Hmph, devo confessar que a minha maior vontade nesse exato momento é de te prender e te levar para bem longe da sociedade. Ah, e eu adoraria mesmo ver esse rostinho bonito atrás das grades... ─ ele declara com um tom doce, ponderando sobre a possibilidade enquanto analisa a mulher ─ Mas eu tenho um grande respeito pela [Nome] e pela decisão dela, então irei deixar você passar dessa vez.
─ Vai se gabando enquanto pode, policialzinho de merda! Você não conseguiria me prender nem se quisesse ─ ela ergue o queixo e estreita os olhos, desafiando o homem intimidante à sua frente.
─ Tudo bem, vocês dois, já chega ─ interfiro antes que a situação piore, enrolando novamente o canudo com rapidez ─ Precisamos trabalhar juntos para parar o que quer que seja que esteja vindo, então eu agradeceria se vocês fossem menos barulhentos.
─ Mas eu disse que não precisamos nos juntar a ele ─ Senju reclama, incomodada com o olhar do moreno sobre si ─ O que esse cara pode fornecer que nós já não temos?
─ Você precisa aprender que policiais também podem ser úteis, alteza ─ Naoto mantém o mesmo semblante neutro e vira de costas, se afastando.
─ Eu juro que vou matar esse filho da puta ─ ela sussurra para mim, cerrando os punhos.
─ Relaxa, esquece ele por enquanto ─ sussurro de volta, esperando acalmá-la por um momento ─ Pode nos levar até as outras, ao invés disso?
Senju, com uma expressão contrariada no rosto, solta um resmungo irritado antes de finalmente ceder e começar a nos liderar por um corredor estreito que conduzia aos camarins exclusivos.
Seus passos eram pesados, revelando sua relutância em realizar essa tarefa, visto que estava levando um verdadeiro policial direto para a toca da raposa. No entanto, ela também confiava na minha escolha e se mantinha à frente, indicando o caminho apenas com gestos.
O barulho distante dos passos apressados e o burburinho do estúdio movimentado não fazia tanta diferença para mim, pois tudo o que podia ouvir era meu próprio coração martelando freneticamente dentro do peito esperando o momento certo para se acalmar.
Esse nervosismo era completamente compreensível, já que haviam se passado muitos anos desde que tive que me reunir com a minha antiga gangue. A situação chegava a ser até um pouco angustiante, afinal, não tinha como saber como seria a reação delas ao me ver novamente.
De repente, Naoto começa a diminuir gradualmente o ritmo de seus passos e decido acompanhá-lo, permitindo que Senju continuasse caminhando sozinha muito à frente.
─ Inclusive, eu gostaria de comentar algo com você em particular ─ ele declara em um tom baixo, focando a atenção em mim ─ O caso da Emma ainda está em aberto, mas não vou conseguir mantê-lo assim por muito tempo, então é melhor se apressar.
─ Eu entendo, e estou quase conseguindo alcançar o meu objetivo... ─ solto um suspiro, coçando a nuca em um gesto nervoso ─ Mas você pode me garantir só mais alguns meses, por favor?
─ Tudo bem, vou ver o que posso fazer ─ ele sorri minimamente, sendo o único que era capaz de entender a minha urgência.
─ Obrigada ─ agradeço aliviada, recebendo apenas um semblante caloroso do moreno.
─ Vocês vão entrar ou não? ─ Senju pergunta, segurando a porta aberta no final do corredor.
Nós nos entreolhamos e nos apressamos para acompanhá-la, entrando no que parecia ser o camarim de um modelo realmente importante. A sala era iluminada por uma suave luz, destacando um ambiente luxuoso e bem decorado. O espaço era espaçoso e organizado, com um toque de elegância em cada detalhe, desde a mobília sofisticada até as peças de roupa cuidadosamente penduradas.
Meus olhos rapidamente percorrem o ambiente, enquanto Senju fecha a porta. Uma figura estava sentada em uma das poltronas cinzas enquanto lia alguma revista que não parecia nada interessante, outra estava em pé perto do espelho ajeitando o cabelo e a última estava sentada no chão se distraindo com o celular. Ao meu ver, todas aparentavam estar melhores do que nunca, sem nenhum sinal do que um dia já foram.
─ Ah, aí estão vocês! ─ Hinata foi a primeira a perceber a presença, saindo da frente do espelho.
─ Hmm... ─ Akane apenas resmungou, voltando a mexer no celular com indiferença.
─ Seja bem-vinda de volta ao time, [Nome]! ─ Yuzuha parecia estar forçando simpatia comigo, mas ainda mantém seu tom animado.
Minha preocupação apenas se tornou exagerada no fim das contas, pois as reações foram melhores do que eu imaginava. No entanto, ainda dava para perceber o incômodo em seus semblantes enquanto me cumprimentavam. Afinal, diferente de Senju, as outras três ainda guardavam um rancor forte demais, e se tiveram que engolir esse sentimento para aceitarem o meu envolvimento, significava que a situação realmente exigia uma atenção especial.
─ Hakkai vai estar ocupado com o fotógrafo pessoal dele, então temos bastante tempo e podemos planejar com calma ─ Yuzuha informa, nos convidando para sentar.
─ Vamos ser rápidas, eu não quero ter que usar todo esse tempo ─ comento, me acomodando no assento e jogando o canudo no balcão à minha frente.
Assim que o papel repousa na superfície, eu rapidamente deslizo os dedos sobre a folha para abri-la por completo e expor o desenho enquanto todos também se aproximam para olhar. Hinata é a que fica mais próxima de mim, apertando os lábios em concentração para me ajudar a segurar um dos lados da folha.
─ Então, me contem o que sabem ─ solicito sem tirar os olhos da planta, ainda assimilando cada detalhe que poderia usar ao nosso favor.
─ Um dos nossos informantes mais confiáveis nos disse que haverá um leilão ilegal que vai recepcionar os maiores figurões da cidade daqui a algumas horas. Então estávamos planejando descobrir onde aconteceria isso, em primeiro lugar ─ Senju explica, apoiando a mão na cintura.
─ Mansão Nakamura ─ Naoto dispara, recebendo olhares confusos ─ Esse leilão vai ser na residência dos Nakamura ─ ele sorri presunçosamente, cruzando os braços ─ Vocês não fizeram o dever de casa? Da onde acham que é essa planta baixa, afinal?
─ Você sabia disso? ─ a platinada se volta para mim, desconfiada.
─ Não. Ele comentou que faria uma pesquisa, e eu só pedi uma planta para um plano de emergência ─ confessei, dando de ombros ─ Prossiga.
─ Bom, o fato é que sempre que acontece um evento grande como esse, todas as poderosas organizações dão as caras para manter a reputação ─ Senju continua, dando voltas pela sala enquanto explica ─ E como a Bonten é o nosso alvo principal, não podemos perder a oportunidade de averiguar.
─ Além disso, pode existir um anexo dentro daquela casa que diz respeito aos membros. E o único momento para resgatar isso é agora, já que ela fica aberta para convidados apenas em raras excessões ─ Yuzuha completa, me entregando um lápis para fazer anotações na planta.
─ E já pensaram em algo para conseguir o arquivo? ─ questionei.
Todos permanecem em silêncio enquanto eu os encaro de maneira confusa, esperando que se pronunciassem sobre algum movimento que estivessem planejando. Mas ninguém responde a minha pergunta, então Senju respira fundo para me explicar o motivo.
─ Por isso precisamos de você para liderar, queremos que nos diga qual é o melhor caminho para seguir com esse cenário.
Se havia algo em relação a mim sobre o qual todos naquela sala concordavam, era que sempre fui uma excelente estrategista em certas ocasiões. Meu senso de planejamento e capacidade de explorar os dados de forma rápida e precisa era uma vantagem significativa em qualquer missão em que estivesse envolvida, então sempre deixavam a parte difícil da análise para mim.
─ Ah, sinceramente... ─ suspirei cansada, massageando a têmpora ─ Certo, tudo bem, vamos ver como isso pode funcionar ─ mordo o lábio inferior, alternando o olhar entre as colegas e a planta do pavimento enquanto faço alguns rabiscos para organizar os pensamentos ─ Hina.
Hinata dá um leve salto na poltrona, se assustando ao ouvir o seu nome sendo pronunciado subitamente em um momento em que sua mente vagava para longe. Ela logo se ajeita e observa os elementos ao redor, finalmente soltando a folha para que eu tomasse o controle e tivesse a liberdade de movê-la livremente.
Sorri amigavelmente para ela e me levantei para apoiar as duas mãos nas extremidades da planta, inclinando o corpo para ler melhor as descrições e passar as instruções.
─ Você vai dar cobertura para a Yuzuha, então podemos posicionar vocês no segundo andar ─ declaro, circulando uma área do desenho com o lápis ─ Estarão seguras nesse ponto cego.
─ Acho que não ─ Akane rebate antes que a colega responda, guardando o celular e saindo do chão para se aproximar do balcão.
─ Como é?
─ Precisa calcular melhor as saídas ─ ela bate o dedo na planta em zonas específicas do desenho ─ Se as duas estiverem no segundo andar, vai ser difícil não serem notadas durante o deslocamento.
─ Mas esse é exatamente o objetivo do ponto cego...? ─ franzi o cenho, estranhando o comportamento por ter que explicar o óbvio ─ Elas vão usar entradas diferentes e conseguirão passar tranquilamente sem serem vistas nos lugares onde circulei.
─ E o que uma delas vai fazer se a outra for descoberta?
─ Elas não vão ser descobertas, Akane. Caso sejam, irão mandar um sinal ou ligar para o restante do grupo.
─ Hmph, você que sabe ─ a mulher apenas encolhe os ombros de forma despretensiosa, transmitindo uma sensação de indiferença, e retorna ao seu celular para voltar a utilizá-lo.
─ Enfim... ─ tentei ignorar a interrupção e continuei ─ Yuzuha ficará por conta da coleta ─ alinho a postura e solto a folha para começar a enrolar ela com cuidado enquanto olhava para a ruiva em busca de uma aprovação ─ Você está de acordo?
─ [Nome], Yuzuha não é especialista nisso ─ Senju declara como se eu não soubesse da aptidão de cada uma ─ Coloque ela em outra função, a Akane tem uma capacidade melhor pra esse trabalho.
─ Verdade, ela é bem flexível e consegue passar por qualquer lugar sem ser vista ─ Hinata pondera, posicionando o dedo indicador no lábio inferior.
─ E eu ainda consigo pegar o arquivo em apenas alguns minutos.
Durante um momento, elas realmente discutem sobre as possibilidades da minha linha de raciocínio ser a errada e de outras alternativas que poderiam fazer mais sentido, mesmo que aquela fosse a melhor, pois eu sabia que Yuzuha tinha o conhecimento do anexo e encontraria a localização dele com uma taxa maior de êxito.
Diante disso, a minha paciência estava lentamente se esgotando, como uma chama ardente de um fósforo prestes a se apagar. Odiava quando isso acontecia. Elas sempre reclamavam, e reclamavam, e reclamavam, e nunca estavam satisfeitas com nenhuma das minhas escolhas.
Era desgastante. Esse era mais um dos diversos motivos pelo qual havia desistido de lutar pela gangue, não tinha nenhum sentido se eu também não tivesse a liberdade para proteger a minha própria autoridade.
─ Caralho, vocês são bem melhores do que eu em dar palpite. Querem comandar no meu lugar? ─ finalmente interrompo a conversa, cerrando os punhos sobre a mesa e erguendo o olhar ─ Eu já sei de tudo o que vocês pontuaram, mas não vou forçar ninguém a nada. Por isso minha pergunta foi feita para a Yuzuha.
Um silêncio desconfortável se faz presente logo em seguida e todas se entreolharam com expressões desagradáveis. Elas já estavam acostumadas a presenciar a minha habitual explosão, visto que nas reuniões antigas aconteciam momentos assim com frequência durante as discussões.
Mas dessa vez a confiança que tinham em mim não era mais a mesma e eu sabia disso, o que acabava afetando a maneira com que lidavam com o evento agora.
─ Pessoal, eu consigo fazer isso ─ Yuzuha se pronuncia, levantando as mãos em um gesto apaziguador ─ Sou ótima em improviso, posso dar um jeitinho.
─ Então, nesse caso, a Akane ficará responsável pela parte da desativação dos sistemas de segurança. Pode ser? ─ perguntei, agradecendo mentalmente pela intervenção de Yuzuha que foi capaz de quebrar a tensão.
─ Uhum ─ ela balança a cabeça em afirmação, desistindo de se opor novamente.
─ E por fim, eu e Senju ficaremos responsáveis pela parte da distração. Já fizemos essa dupla antes e funciona bem ─ olhei para a platinada e ela pareceu concordar ─ Ótimo, isso é tudo.
Finalizei com um suspiro e estiquei os braços, me voltando para entregar a planta baixa para o moreno que permanecia próximo a parede em uma distância confortável.
─ Você fica com ela, para caso precise usar futuramente. É só apagar esses rabiscos depois, eu consegui memorizar os locais certos.
─ Sem problemas ─ ele acena, segurando o canudo que formei e o apertando levemente.
─ Então, finalmente chegamos na melhor parte?
Senju pergunta animada antes que o silêncio reine novamente e abre um dos pequenos armários presentes na sala, retirando uma vestimenta sofisticada de dentro para a estender no balcão. Em seguida, ela percorre o cômodo para pegar os delicados saltos na sapateira e os acessórios no porta-jóias enquanto eu a sigo com os olhos, curiosa sobre a finalidade dos itens.
─ A gente já sabia que teria que usar algo assim, então você vai precisar disso também ─ ela segura a minha mão e deposita um par de brincos metálicos.
─ É, são todos lindos... ─ fechei a mão e deslizei o dedo sobre o tecido fino do vestido distraidamente ─ Eu só não entendi porquê preciso dessas coisas.
─ Bem, você não pode entrar naquele lugar com uma roupa dessas ─ Senju gesticula para indicar todo o seu traje simples e eu franzo o cenho ─ Nada contra, mas você vai ser a nossa personagem principal e precisa estar vestida a caráter.
─ Mas não se preocupe, estaremos esperando lá fora ─ Hinata declara, expulsando imediatamente todos dali para que eu pudesse ter privacidade.
─ Tudo bem... ─ inclino a cabeça para observar novamente os artefatos no balcão, esperando os meus colegas saírem.
Assim que a porta se fecha, eu a tranco e tiro um tempo para examinar o vestido. Ele tinha um decote em V profundo, que acentuava meu colo delicado, a saia era longa e ia até o chão com um pouco de volume e havia uma fenda lateral que começava na coxa, revelando um pouco da perna e adicionando um toque sensual ao vestido.
Em minha visão, eram muitos detalhes para alguém que não gostava de chamar uma atenção indevida. Porém, no final, eu realmente seria a estrela e teria que fazer um esforço necessário apenas por uma noite.
Depois de me despir, o novo tecido cai suavemente sobre o meu corpo, abraçando minhas curvas em todos os lugares certos. Eu sorrio ao ver o reflexo no espelho, passando as mãos suavemente sobre o tecido do vestido e experimentando a suavidade sob meus dedos, me sentindo uma pessoa completamente diferente.
Quando também concluí o processo de arrumar cuidadosamente o cabelo e colocar os acessórios, chegou o momento de posicionar o último brinco na orelha. No entanto, devido à pressa do momento, a pequena tarraxa escapa de minhas mãos e desliza pelo ar, indo parar debaixo da mesa.
─ Que droga ─ reclamei.
Logo me inclinei para alcançar o objeto caído, localizando-o rapidamente por ter seguido o seu trajeto com os olhos. Mas antes de me endireitar, algo atrai a minha atenção. Uma luz vermelha estranha começa a piscar em intervalos curtos em uma das pernas da mesa. Uma sensação de curiosidade misturada com cautela toma conta de mim. Parecia ser um dispositivo, um pequeno artefato tão diminuto quanto uma formiga, quase imperceptível a olho nu de longe.
Com um gesto abrupto, removo o objeto usando a mão, observando atentamente o material frágil que constituía sua estrutura. Aquele tipo de tecnologia não era desconhecido para mim, no entanto, agora era tarde demais para ponderar sobre sua natureza. Com isso, eu simplesmente o esmaguei entre os dedos enquanto franzia a testa e apertava os lábios, expressando descontentamento diante daquilo.
─ [Nome]? ─ uma batida na porta me tira dos próprios devaneios.
Me levanto rapidamente, deixando para trás o objeto destruído para me dirigir ao balcão com o intuito de pegar o meu salto alto. Caminhando descalça em direção à porta, eu a abro e me deparo com Hinata.
Ela estava vestida com um simples conjunto preto e um par de botas da mesma tonalidade - o traje perfeito para se locomover com agilidade sem ficar desconfortável -, o curto cabelo ficou preso em um coque firme e o típico colar de trevo em seu pescoço balançava conforme ela se mexia. Aquela cena quase me lembrou dos tempos antigos e me fez vagar nas recordações, mas logo afastei os pensamentos abanando a mão na frente do rosto.
─ Nós usamos os outros camarins para trocar de roupa ─ ela comenta, percebendo que eu a olhava com certa confusão ─ Aliás, o vestido ficou incrível em você, não pensei que fosse combinar tanto.
─ Foi você que escolheu?
─ Sim, foi. Takemichi me ajudou quando fomos até a loja para comprar o meu vestido de casamento, e eu também me apaixonei por esse.
─ Casamento? ─ minha pergunta com tom de surpresa a faz arregalar os olhos e eu rapidamente entendo a reação ─ Ah, não se preocupe, eu não me importo.
E era verdade, eu não me importava, nunca me importei. Seria até estranho pensar que as coisas continuavam iguais, afinal, diferente de mim, elas conseguiram trilhar caminhos considerados normais após se desvincularem da gangue e atualmente viviam os sonhos que tanto almejavam. Não tinha problema algum nisso, estava tudo bem, elas mereciam seguir em frente também, mereciam ser felizes, mereciam conquistar o que queriam; mas eu não.
─ Mas eu me importo, vou providenciar um convite para você ─ ela sorri constrangida, desviando o olhar.
Estava prestes a intervir, mas sou surpreendida com um panorama inesperado quando chegamos até a entrada do prédio. Senju olha para nós e acena, vestindo roupas sofisticadas semelhantes às minhas, o que me fez sentir menos isolada em meu estilo elegante.
Uma limousine estava estacionada em frente ao estúdio, com sua carroceria preta e brilhante refletindo a luz do luar. Suas janelas escurecidas proporcionavam privacidade para os passageiros que estavam dentro, impedindo que qualquer um de fora pudesse ver quem estava lá. As pessoas que passavam pareciam alheias a ela, como se aquilo fosse um simples elemento do cotidiano.
─ Uma limousine?! ─ exclamei espantada.
─ Temos que parecer fazer parte disso, então nada mais justo do que experimentar um pouco de luxo ─ Yuzuha declara ao passar por mim, estando vestida com os mesmos trajes de Hinata.
─ E aquela é a Akane? ─ meus olhos captam uma terceira figura de preto entrando no lado do motorista na parte da frente.
─ Não, é a nossa mais nova motorista profissional ─ Senju sorri zombeteira, entrando primeiro para ficar no banco do meio.
Revirei os olhos em resposta à brincadeira e me sentei na ponta do banco, observando as outras mulheres também se organizarem para ocuparem seus respectivos lugares. Enquanto isso, Naoto aparece apressadamente na entrada do estúdio e corre em direção ao carro. Porém, antes que ele alcance, eu coloco as pernas para fora do veículo para vestir o salto que ainda carregava.
─ Tudo bem, vocês estão prontas? ─ ele se agacha para ter a visão ampla da parte de dentro da limousine.
─ Sim ─ todas confirmam simultaneamente.
─ E por favor, não se esqueçam, evacuem imediatamente se qualquer coisa der errado ─ o moreno levanta com um semblante de preocupação no rosto, olhando diretamente para mim ─ Boa sorte.
─ Não precisamos de sorte ─ declaro com um sorriso confiante, terminando de colocar o salto e voltando a perna para dentro ─ Até mais tarde, senhor policial.
Fechei a porta do veículo antes que Naoto pudesse responder, e ele apenas sorriu aliviado antes de se afastar. Assim, um clima inquietante se instalou enquanto o carro começa a se movimentar e ninguém ousa fazer qualquer comentário. O nosso verdadeiro foco no momento se concentrava em apenas em um objetivo: destruir a Bonten.
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