Capítulo 22
Já se passaram mais de 30 minutos desde que aquele homem veio aqui, e já faz mais de 20 minutos que meu pai retornou para casa após eu informar sobre a visita inesperada do tal Hanma. Desde o momento em que chegou, meu pai está encarando aquela maleta, e de forma alguma me permite vê-la. Confesso que estou intrigada para saber o que há dentro, e parece que quanto mais ele nega, maior se torna minha vontade de descobrir.
Outra coisa que está me deixando curiosa é esse tal de Shuji Hanma. Eu nunca o tinha visto antes, e de repente ele apareceu. Pelo jeito que meu pai está agindo, talvez ele seja alguém perigoso ou, quem sabe, alguém muito importante. Espero que meu pai não esteja escondendo algo de mim novamente. Suspirei fundo e me afastei alguns centímetros, observando suas feições mudarem a cada instante.
Apoiada na parede, encarando fixamente meu pai enquanto ele observava atentamente o que quer que estivesse naquela maleta, girei os calcanhares em direção à porta assim que a campainha ecoou. Dei uma última olhada para ele, tão imerso em seus pensamentos que nem percebeu minha presença.
Ao abrir a porta, deparei-me com Haru, os haitanis, Tio Hajime e praticamente todos da Bonten. Por um momento, meu coração falhou uma batida. Haru passou por mim sem sequer me cumprimentar, como costumava fazer. Confesso que fiquei chateada; já estava acostumada com o carinho dele e essa indiferença me deixou um vazio.
—— Vamos para o meu escritório. Harleen, qualquer coisa, pode me chamar — disse meu pai, logo desaparecendo com os outros.
—— Tudo bem, né... — Suspirei fundo, subindo rapidamente para o meu quarto. Joguei-me na cama e entrei em contato com Maria, ligando para ela. Ela atendeu imediatamente. Parecia cansada, suada e com o cabelo todo desgrenhado. — Maria? Você está bem?
—— Amiga, não. Terminei de arrumar minhas malas e decidi organizar a minha cama, mas tive uma ideia maluca de trocar a cama de lugar. Passei um sufoco, como você pode imaginar! Mas ainda bem que o Minami apareceu por aqui e me ajudou. Você tinha que ver: ele empurrou tudo com uma facilidade impressionante. — Franzi o cenho um pouco envergonhada, a culpa não é minha, mas o jeito que ela falou foi meio... Digamos, inadequada. Assim que me toquei, me ajeitei sobre a cama imediatamente, me apoiando na cabeceira.
—— Sim, percebe. Você está destruída. — Gargalhei ao notar a cara de desgosto dela. — O Minami ainda está aí?
—— Ah, está sim. — Observei ela virar a câmera, e filmando a sua cama, onde o Terano se encontrava. Ele estava sentado em outra poltrona do quarto dela, aparentemente, bem preocupado. Porém, lindo. — Ele veio resolver algumas coisas da minha viagem, deixei tudo nas mãos dele hahaha!
—— Entendi. — Alguns segundos se passaram, e ele então olhou para a câmera, e acenou.
Ficamos conversando por mais alguns longos minutos até que decidi desligar. Deixei o celular sobre a cama, suspirando fundo enquanto fitava o teto. Após me cansar de estar imersa em meus próprios pensamentos, levantei-me e peguei meu notebook, sentando-me à minha mesa de estudos, onde procurei algumas dicas sobre como gerenciar minha clínica, mesmo sabendo que trabalharia com meus tios. Afinal, eles já estão fazendo muito apenas por compartilhar um espaço comigo.
Peguei uma caderneta e uma caneta e comecei a anotar diversas sugestões, sentindo-me um pouco menos infeliz do que há alguns minutos atrás. Apoiei-me no encosto da cadeira, mordendo a ponta da caneta enquanto novamente me deixava levar pelos meus pensamentos. O fato de que sempre tive o melhor em tudo – com meu pai exigindo que ele ou seus contratados cuidassem das minhas responsabilidades – fez com que eu deixasse de aprender a cuidar de mim mesma quando ele não estava disponível.
Refletindo sobre isso, percebi que essa dependência me impediu de desenvolver habilidades essenciais para a vida adulta. Agora, ao iniciar essa nova fase profissional, talvez eu sinto a necessidade de me tornar mais autônoma e responsável.
Após terminar de anotar tudo que considerei importante, guardei os materiais e espreitei pela porta em direção ao quarto do meu pai. Fui até lá, mas não o encontrei; logo, percebi que ele ainda estava ocupado.
Voltei para meu quarto e me joguei na cama, encolhendo-me e enrolando-me na coberta, enquanto sentia o aroma delicioso do jantar que subia do andar de baixo.
Bocejei ao levantar rapidamente, completamente desorientada. Meus olhos demoraram a se ajustar, e quando finalmente focaram, percebi que as luzes do quarto estavam apagadas e o ar condicionado estava ajustado para 23 graus. Calcei minhas sandálias e saí do quarto, trombando acidentalmente no batente da porta, ainda não totalmente acordada.
Ao descer as escadas, notei que, além do meu quarto, todas as luzes da casa estavam apagadas, indicando que talvez ninguém estivesse acordado naquele momento.
Cheguei à cozinha e observei os pratos e talheres limpos, sem nenhuma panela no fogão. Um beicinho surgiu em meus lábios ao me sentir frustrada por achar que ninguém havia deixado comida para mim, especialmente considerando o aroma delicioso que havia sentido mais cedo. No entanto, ao me virar para sair da cozinha, avistei uma travessa coberta. Ao puxar o pano, vi que havia onigiris e taiakis. Embora aquilo não fosse uma refeição adequada, certamente iria saciar a minha fome.
Após terminar de comer, subi para o andar de cima, especificamente para o quarto do meu pai, mas ao chegar lá não o encontrei. Apenas um bilhete sobre a escrivaninha informava que ele precisou sair para resolver outros assuntos.
—— Trabalho e mais trabalho. — Suspirei profundamente ao sair do quarto dele. Não estava sendo nada agradável ficar sozinha ali, mesmo sabendo que deveria estar dormindo e não procurando algo para fazer. Voltei para o meu quarto, peguei meu celular e respondi algumas mensagens da Maria que ela havia enviado mais cedo, além de outras perguntando se eu ainda estava viva.
Era duas da manhã quando rolei pelos contatos até encontrar o dele. Fechei os olhos por um momento, ponderando se realmente ligaria. Minha consciência lutava contra meu coração.
Liguei.
Chamando.
Chamou e chamou, mas ele não atendeu. Talvez estivesse ocupado. Larguei o celular sobre a cama e me enrolei nos lençóis, tentando fechar os olhos para adormecer. Contudo, o sono não vinha, e eu já começava a ficar estressada.
Perdi as contas de quantas vezes rolei na cama tentando encontrar conforto e rezando para que o sono chegasse, mas nada acontecia. Decidi descer para o andar de baixo e assistir alguma coisa. Peguei alguns salgadinhos no armário e me sentei no sofá, angustiada e ansiosa. Morro de medo de ficar sozinha. Nesses dias em que estive "sozinha", sempre havia algum cozinheiro ou serviçal em casa; ou então, meu pai esperava eu dormir para sair. Infelizmente, hoje estou definitivamente só, tendo acordado apenas depois que ele saiu.
Coloquei um filme e estiquei as pernas, com os olhos fixos na tela da televisão. A cada salgadinho levado à boca, era uma tentativa frustrada de esquecer que estava sozinha. Assim que terminei de comer, limpei as mãos e bebi um gole da água no copo que havia pegado, encostando-me novamente no sofá enquanto suspirava fundo.
Que tédio!
Não aguento mais ficar sozinha. Levantei-me e desliguei a TV, girando os calcanhares em direção à escada; no entanto, parei quando ouvi a campainha tocar. Meu coração congelou; eu estava sozinha em casa! E se fosse um ladrão? E se fosse... algum gangster rival do meu pai sabendo que estou desprotegida? A campainha continuou tocando insistentemente enquanto eu avançava lentamente em direção à porta, cautelosa para não fazer barulho.
Me aproximei, olhando pelo olho mágico, mas tudo estava escuro, como se algo estivesse obstruindo minha visão. Suspirei fundo mais uma vez e girei a chave na fechadura. Sou uma mulher, sou uma mulher adulta. Não há razão para eu ter medo! Abri a porta, colocando minha cabeça pela abertura e erguendo meu olhar para cima.
—— Pois não? — murmurei um pouco nervosa. Assim que reconheci quem estava à minha frente, minha boca se abriu em surpresa, e imediatamente abri a porta completamente, ficando parada com as mãos em frente ao corpo.
—— Vim ver se está tudo bem com a minha mulher. Ela me ligou diversas vezes e, quando retornei a ligação, não atendeu, o que me deixou preocupado. — Por um momento, minhas pernas bambearam, como se eu estivesse prestes a cair ao perceber que ele me chamou de sua mulher. O sorriso que surgiu em meu rosto era enorme; eu me sentia uma boba apaixonada. Então, lembrei da parte em que ele mencionou que eu não o atendi e percebi que havia deixado o celular em meu quarto.
—— E-eu estou bem... Eu só queria conversar com você, não queria incomodar, desculpe. — Abaixei o olhar, ouvindo-o murmurar algo inaudível. Segundos depois, ele estava com os braços em volta da minha cintura, me puxando com força até que meu corpo encostasse no dele, apoiando meus braços em seu ombro.
Meus olhos se fixaram nos dele, que me observavam intensamente, como se pudessem enxergar algo oculto em mim. Sua mão tocou minha mandíbula, erguendo meu queixo com a ponta dos dedos. Aí meu coração disparou.
Ele se inclinou para baixo e tomou meus lábios para si, provocando inúmeras sensações em meu corpo, como se eu tivesse recebido um choque de adrenalina.
Sua mão na minha cintura suspendeu meu corpo um pouco mais para cima, como se ele precisasse de mim, assim como eu precisava dele. O contato que tínhamos não era suficiente; eu queria mais, muito mais. Eu desejava estar completamente derretida em seus braços.
Votem e comentem.
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