Capítulo 21


Suspirei profundamente, observando o tempo passar implacavelmente. Sendo a primeira a concluir as provas, encontrava-me solitária no pátio da escola. O silêncio era reconfortante, permitindo-me mergulhar em meus próprios pensamentos sem qualquer distração.

Na próxima semana, já não haverá mais aulas; eu já estarei formada. No entanto, talvez eu sinta falta da faculdade, especialmente das aulas práticas que tive no início do ano. Além disso, o que realmente me preocupa é como irei iniciar a minha clínica veterinária. Como conseguirei atrair clientes? Como? Como? Eu não faço a mínima ideia de como começar.
O fato de que, durante o curso superior, aprendi a salvar vidas, tratar de doenças em animais machucados e realizar suturas, não diminui a realidade de que ninguém me ensinou como abrir e administrar uma clínica veterinária.

Levantei-me, pegando minha mochila e caminhando em direção à saída da faculdade, após o sinal de término das aulas ecoar pelos corredores. Ao sair, avistei Haruchyo encostado em seu veículo, absorto em seu smartphone.
Assim que me viu, depositou um beijo em minha testa, e juntos adentramos o veículo.

Hoje e nas próximas duas semanas, não haverá aulas de balé, pois a professora estará em viagem. O que me parece estranho é que tudo parece ter se aglomerado nesse período: minha formatura, o baile de formatura e, talvez, a viagem da Maria ao Brasil.
Todos os meus conhecidos parecem estar bastante ocupados. Meu pai tem passado pouco tempo em casa ultimamente, mas sempre tira algumas horas para vir me ver depois que chego da faculdade e à noite, para se certificar de que estou bem e passar um tempo comigo. O tio Koko também está há algum tempo sem nos visitar, pois meu pai tem lhe dado muitas responsabilidades na organização, segundo ele próprio.

Maria tem faltado às aulas nos últimos dois dias, dedicando-se intensamente aos preparativos de sua viagem ao Brasil, que se dará em breve. Embora a ausência seja justificada pela necessidade de finalizar os preparativos, a situação, infelizmente, exige que ela retorne às aulas o mais rápido possível. Não porque é obrigatório, mas porque eu estou com saudades e necessito da atenção dela, pois não faço a mínima ideia de quanto tempo ficaremos longe.

E o seu primo..

Tenho saudades do Minami... Ah, conversamos por algumas ligações, mas faz quase uma semana desde que nós tivemos o nosso primeiro beijo, e três dias desde que não nos encontramos pessoalmente. A última vez que o vi foi quando ele veio em minha casa à noite para conversar com meu pai. Na ocasião, ele mencionou que sua gangue demandaria bastante de seu tempo. Compreendo totalmente a situação, mas sinto muita falta dele.

Desci do carro, observando Haru dar partida no motor e se afastar lentamente, sumindo do meu campo de visão. Ele é o único que não está ocupado ultimamente.
Abri a porta apenas para depositar a bolsa no chão da sala e trancá-la novamente, seguindo em direção à casa da tia Emma. Faz muito, muito tempo que não a vejo.

A pergunta que me assombra é: desde quando me afastei tanto de meus parentes?

Tenho diversos tios, embora não sejam parentes de meu pai, e mesmo que o fossem, continuariam a não ser, já que não sou filha biológica do Manjiro. No entanto, por consideração e afeto, todos eles acompanharam meu crescimento desde a infância. Após completar 18 anos, no entanto, a maioria deles se distanciou consideravelmente.
O único tio por vínculo sanguíneo é o Koko, irmão de minha mãe. Apesar disso, prefero acreditar, como sempre foi, que todos eles são meus tios, cultivando um laço familiar que transcende a mera relação biológica.

Toquei a campainha da casa da tia Emma e ouvi passos apressados se aproximando. Ao abrir a porta, deparei-me com meu primo Ryuki, que sorriu abertamente ao me ver.
Ele me acolheu em um abraço caloroso, e em poucos segundos me soltou, abrindo passagem para que eu entrasse.

Ao caminhar pela sala e sentar-me em um dos sofás, ouvi o som da torneira, que havia estado ligada até segundos atrás, cessar. Em seguida, a tia Emma adentrou a sala, com um sorriso gentil nos lábios. Ela usava um vestido florido e trazia um aroma suave de café recém-feito.

—— Harleen, meu amor! Finalmente resolveu vir aqui novamente. Se eu não estivesse tão cansada, lhe daria umas palmadas por não visitar a tia com mais frequência. —  Ela se aproximou e eu me levantei, retribuindo o abraço caloroso.

—— Desculpe, tia, parece que a vida adulta é bastante corrida. — Murmurei, sentando-me ao seu lado.

—— Corta para Harleen não fazendo nada, apenas indo para a aula de balé e faculdade. — Observei-o com um olhar crítico, os olhos semicerrados.

—— Não provoque sua prima, Ryu. — Minha tia voltou sua atenção para mim, a voz firme. — A Zoe vem para cá neste fim de semana. Sei que talvez seja um tópico delicado para você, mas ela pode contar mais sobre a Lary. Caso você queira saber mais sobre sua mãe.

Já se passou um mês desde que conheci Maria e Minami, e três semanas desde que descobri a verdade sobre meu pai. Tudo isso não foi fácil de processar, mas consegui lidar com as revelações. Agora, acredito que ouvir um pouco sobre minha mãe não fará mal, mesmo que, sempre que escuto seu nome, uma onda de tristeza me invade e sinto vontade de chorar. A cada palavra a respeito traz à tona emoções profundas que eu ainda estou tentando entender.

—— Sério? Vou adorar vê-la. E sim, talvez eu queira saber mais. — sorri gentilmente, sentindo a loira acariciar com os dedões a palma de minha mão direita. — E onde está o Tio Ken?

—— Ah, o seu pai convocou ele para ir a Bonten nesta manhã. Ele deve voltar logo!

As horas se arrastaram lentamente, e no final do dia, eu estava voltando para casa, com fome, apesar de a tia Emma ter me enchido de comida e doces. O condomínio estava silencioso, quase sombrio, e uma inquietação se apoderou de mim. Onde estariam meus tios neste momento? Em alguma missão perigosa? Confrontando os inimigos da tal Toman? Apenas espero que todos eles estejam bem.
Quando estava a poucos passos de casa, mudei de direção, indo em direção à casa da tia Hina. Embora eu não tenha a melhor relação com a Miraí, decidi que não seria certo deixar de visitar por causa dela. Assim, com um leve suspiro, segui meu caminho, pensando no que poderia encontrar ao bater na porta.

Logo me vi diante da casa dos Hanagaki, e ao tocar a campainha, um homem de cabelos bicolores, em tons de preto e amarelo, abriu a porta. Minhas mãos foram instintivamente para a boca, tamanha foi a surpresa. Sem pensar duas vezes, pulei nos braços dele. Tio Kazutora!

Fazia tanto tempo que eu não o via. Diferente dos outros, o tio Hanemya havia parado de me visitar quando eu tinha apenas 11 anos, logo após ser preso. A lembrança daquela época ainda era dolorosa, mas agora, ao ver Kazutora novamente, uma onda de alegria e nostalgia me invadiu. Ele sempre teve um jeito especial de me fazer sentir segura, como se nada pudesse dar errado quando ele estava por perto.

—— Feiosa!

—— Cabelo de bananeira!

Sorrindo, fui colocada no chão por Kazutora. Ao entrar, fui recebida na sala por todos, que estavam conversando animadamente. Abraços e palavras gentis me acolheram, e a sensação de estar entre a família me fez esquecer as preocupações.

Além do tio Kazutora, estavam também o tio Baji, o tio Chifuyu, o tio Takemichi e a tia Hina... e, para minha surpresa, a Miraí. O clima era descontraído, mas eu não podia evitar um leve frio na barriga ao ver sua expressão. Decidi que deixaria as diferenças de lado por aquele momento.

—— Então, depois que eu bati em um cliente por não me pagar, fui preso. Sai logo depois, mas acabei matando o cliente por ele voltar novamente e não me pagar de novo. — Abri a boca, surpresa e aterrorizada. — É brincadeira, Harleen. Eu só voltei para cumprir a pena de um crime que cometi há uns 19... 20 anos atrás.

—— Não deixa de ser assustador. — O tio Chifuyu comentou, arqueando uma sobrancelha. — Então, Harleen, fiquei sabendo que você está prestes a se tornar veterinária. Já tem sua clínica? Clientes?

—— Vai com calma, Chifuyu! — Takemichi o repreendeu, tentando aliviar a tensão.

—— Por enquanto não, na verdade, eu não sei por onde começar. Tipo, como conseguir clientes? Como organizar uma clínica? Onde achar uma? — Suspirei fundo, achando essa última pergunta muito idiota.

—— Bem, você está com sorte! — O tio Keisuke se aproximou com um sorriso animado. — Apesar de todos os problemas que o Kazutora se meteu nos últimos anos e que infelizmente arrastaram eu e Chifuyu junto, podemos voltar com o nosso pet shop e precisamos de uma médica. E outra coisa: tem um enorme espaço no estabelecimento onde você pode montar sua clínica. Vai ser ótimo expandir o negócio! E é claro, cabe a você decidir se aceita; você pode ficar lá o tempo que precisar.

—— E então, Harleen? — A tia Hina perguntou, enquanto uma tensão no ar crescia, todos esperando ansiosamente por minha resposta.

Deixando de lado todas as vantagens que eu teria ao trabalhar com eles, uma coisa me convenceu de verdade: o fato de eu ficar mais perto deles!

—— É claro que eu aceito! — Sorri amplamente, e imediatamente fui envolvida por diversos abraços e risadas. O calor da família me envolveu, e a felicidade era contagiante.

Agora, tudo o que eu queria era voltar para casa o mais rápido possível e contar tudo isso para o meu pai. Ele sempre dizia que poderia se encarregar de comprar uma clínica para mim ou conseguir clientes, mas, sinceramente, não achava muito corretos os métodos que ele sugeria. Meu coração estava cheio de expectativa pela nova fase que estava prestes a começar.

Mais tarde, meus tios me deixaram em casa. Depois de comer alguma coisa, fiquei sentada na sala conversando por ligação com o Minami, contando sobre minha nova conquista. No entanto, ele teve que desligar para resolver outros problemas.

Guardei meu celular, suspirando fundo enquanto me levantava do sofá. Virei-me para ir em direção ao meu quarto quando ouvi a campainha. Andei até a porta rapidamente, pensando que poderia ser meu pai.

—— PAi... — minha animação desapareceu ao ver que não era ele, e sim um homem que eu nunca havia visto antes. Ele vestia um terno elegante, bem passado, e estava cercado por vários seguranças. — O-olá?

—— Boa noite, senhorita Sano. Seu pai está? — Minha voz falhou e, devagar, balancei a cabeça negativamente. O homem apenas assentiu, e um dos seguranças se aproximou com uma maleta, entregando-a a mim. — Entregue isso ao seu pai, por gentileza, e diga a ele que foi Shuji Hanma quem lhe enviou.














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