Capítulo 17



Ajeitei a mochila sobre os ombros e me virei em direção à porta, onde Maria me aguardava, absorta em seu smartphone. Após o ocorrido mais cedo, ela parecia mais calma. Eu acreditava que finalmente conheceríamos o tal South Terano, mas, no fim, apenas vi o Minami. Não que eu não quisesse vê-lo, longe disso, mas eu almejava, pelo menos, ter a oportunidade de encarar o homem que quase me levou à morte. E aquele que minha mãe considerava melhor amigo.

Caminhávamos em direção à saída, avistando Sanzu parado em frente ao veículo. Ao nos ver, um sorriso enorme se abriu em seu rosto. Aproximando-me, envolvi-o em um abraço apertado, sentindo seus lábios depositarem um beijo suave em minha testa.

—— Está tudo bem? — indagou ele, com um tom de preocupação. Esqueci-me de mencionar que, ultimamente, até ele tem se mostrado ainda mais protetor.

—— Sim, estou bem. E você? — respondi, afastando-me de seus braços e fitando seus olhos azuis.

—— Estou bem. — Ele abriu a porta para nós, entramos logo em seguida.

Esquecera-me completamente da aula de balé, que acontecia hoje. O caminho até o estúdio era tranquilo, Maria, absorta em seu celular, e Sanzu, com suas perguntas ocasionais sobre o meu dia, me acompanhavam. No entanto, um pressentimento ruim me assolava.

Ao nos despedirmos de Sanzu, adentramos o estúdio, rumo ao vestiário. Maria disse que cogitava a possibilidade de abandonar as aulas de balé. A sua voz, normalmente tão animada, soava melancólica.

—— Por que, maria? — perguntei, preocupada. — aconteceu alguma coisa?

Ela respirou fundo.

—— Eu não falei antes, mas talvez eu vá para o Brasil, nas férias, sinto... Saudades dos meus avós. E descobri agora pouco ao receber uma mensagem de Minami que a minha vó estava doente, ela melhorou, mas pode ser que ela fique doente de novo... O pior de tudo é que não posso ir amanhã, depois de amanhã. Por causa da faculdade.— ela murmurou tristonha, enquanto calçava as suas sapatilhas.

—— Sério? Sinto muito, amiga. Não quero te ver assim, tão abatida. Ela já está melhor. Então, por favor, não alimente pensamentos negativos, ok? Concentre-se em coisas positivas, sempre.— A tristeza em seus olhos me dizia que minhas palavras, por mais sinceras que fossem, não eram suficientes para apagar sua preocupação.

O silêncio se instalou entre nós, quebrado apenas pelo som distante da música clássica que ecoava do salão de dança. Observei Maria, seus ombros curvados, sua expressão abatida, e senti uma pontada de tristeza. Ela amava o balé, amava estar aqui, mas faria de tudo para estar com os avós agora.

Um sorriso fraco se formou em seus lábios e olhou para mim.

—— Obrigada, Harleen, você é uma amiga incrível.

A aula transcorreu de forma tranquila, agitada e bastante cansativa. No entanto, durante esse tempo, Maria voltou a exibir aqueles sorrisos travessos, além de retomar seu comportamento brincalhão. Tranquilizei-me ao vê-la alegre, pois sua felicidade era como a minha. Após o término das aulas, avisei o a Haru que nos encontrasse uma hora depois em uma lanchonete, onde a dona era a mãe da Maria, visto que ela confessou estar faminta demais para aguentar até chegar em casa.

Agora, aguardávamos ansiosamente a chegada do Haruchyo em frente a lanchonete. Acho que não custa nada eu perguntar algo que eu queria desde cedo...

—— Maria, você não ligou para o South? — perguntei, com a voz quase inaudível.

—— Sim, ele foi na escola — respondeu ela, concentrada em seu celular.

—— Eu não o vi, infelizmente — respondi, ela largou seu celular e olhou confusa para mim.

—— Como não? Amiga, você foi na porta da escola comigo pegar a maquininha que ele foi entregar! — exclamou ela.

Como assim? Apenas o Minami esteve lá... Então o Minami... E o South... São a mesma pessoa?

—— Maria? O Minami... E o South são a mesma pessoa? —  um nó se formou em minha garganta, apertando-a com força.

—— Claro, amiga. Pera... Você não sabia? — ela me olhou surpresa, a expressão se tornando confusa.

—— Não... — arregalei os olhos, surpresa, e senti lágrimas quentes escorrerem pelo meu rosto. Por que diabos eu estava chorando? Virei meu rosto antes que Maria pudesse ver e limpei as lágrimas, as contendo. Não quero que ela pense que estou fazendo drama, ainda mais depois do que ela passou mais cedo e não chorou, ou então que só sei chorar. Eu queria conhecê-lo, mas por que essa sensação de...  desespero? 

A cena se tornava turva, as palavras de Maria se fundindo com o turbilhão de emoções que me dominava.

Um soluço resmungo escapou dos meus lábios, e eu me senti completamente perdida. Não sei se fico triste por ele ser o homem que quase me matou ou feliz por ele ter sido o melhor amigo da minha mãe.

Maria se aproximou de mim e envolveu seus braços em volta do meu corpo, transmitindo conforto.

Era minha vontade conhecer o South Terano, cujo nome verdadeiro é Minami.

Uma dor insistia no centro do meu peito, consumindo-me cada vez mais e tomando conta do meu corpo.
Não era uma dor física, era uma dor sentimental, um sentimento que eu nunca havia sentido. Um sentimento que eu não compreendo.

—— Harleen, eu já passei por uma situação parecida. Eu sei bem como é achar que conhece uma pessoa e no fim, saber nem metade sobre ela. Mas não posso dizer que nossa dor seja a mesma. Tenho certeza de que não. Pode chorar se quiser, nunca irei te julgar. Nesse momento, a coisa que você mais precisa é se acalmar, e depois você tenta entender tudo. Sanzu chegou, ele vai te levar para casa, ok? — ela passou os bracos em volta de minha cintura ficando ao meu lado, me guiando em direção ao carro.— Vamos fazer assim, vou pedir para o Minami e conversar com você.

—— Não! — murmurei nervosa.

Haru, aparentemente fumando, e assim que nos viu, jogou o cigarro no chão e o pisou, e em seguida abriu a porta do carro. Ele veio em nossa direção, e me abraçou. Em seguida entrei na parte de trás do carro.

Suspirei fundo ao escutar Maria informar o que aconteceu para ele, sentindo seu olhar por um momento em mim, e então se despediu de Maria, que avisou que iria ficar mais um pouco na lanchonete pois iria esperar pela saída da mãe. Então ele entrou no carro.

—— Harleen... Vou te dar um conselho: antes de acusar ou odiar o South, lembre-se do que conversamos naquela noite. E não fique remoendo o passado, do qual você nem fez parte. — ele murmurou, dando partida no carro.

—— Haruchyo... Não sei que sentimento é esse. — digo sem rodeios, notando seu olhar atento em mim pelo retrovisor. Fiquei um pouco constrangida.— é algo que eu nunca sentir antes, é... Incompreensível para mim.

—— Não quero estar sendo invasivo, mas já sendo, você já chegou a ter algum contato... íntimo com o Minami? — minhas bochechas fervem, e desvio meu olhar rapidamente dos seus olhos refletidos pelo retrovisor.— Isso é um sim?

Acho que não. Tudo o que fizemos até agora foi conversar, e algumas provocações da parte dele ao me chamar de arlequina. Mas nunca passamos disso. Além do mais, ele é muito mais velho que eu.

—— Não, Haru.— Murmurei, colocando a bolsa sobre o banco e apoiando a cabeça sobre ela. Em seguida, estiquei as pernas sobre o restante do assento.

—— Hm. Então...

Sua voz estava se afastando, meus olhos insistiam em se fechar e eu lutava para mantê-los abertos a todo custo.

"Não sei o que lá, não sei o que lá" era o que eu escutava vindo do Sanzu. Ele parecia tão distante.

Mas, parando para pensar um momento, eu sempre fico nervosa ou inquieta quando se trata do Minami. Porém, não posso tirar conclusões precipitadas, eu não o vejo todo dia, pode ser que eu esteja delirando agora por causa do sono.

Ou talvez eu realmente possa sentir algo...

Mas ele é mais velho que eu, com certeza ele procura alguém mais velha e experiente.
E eu? Não sei nem diferenciar paixão de amor, nem ter certeza dos meus sentimentos.


















Já assistiram o fabricante de lágrimas?
Se preparem.

Votem e comentem.

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