fourteen

Batendo a porta do seu próprio apartamento, Tom soltou um gemido alto e frustrado a plenos pulmões.

Ele queria ficar bravo com Emily, ele só queria ficar bravo com ela, com o que ela disse, por ela ter passado dos limites com as palavras que lhe disse, que se repetiam na cabeça dele enquanto ele pegava uma cerveja na geladeira para acalmar as emoções.

Tom queria ficar bravo com ela e, sem dúvida, estava bravo por ter arruinado o acordo perfeito com a melhor amiga que já teve. Ele estava incrivelmente bravo, mas consigo mesmo. Ele sabia que Emily estava certa sobre tudo, mesmo que ele tivesse medo de admitir isso para si mesmo.

Provavelmente nunca o faria, muito menos naquele momento.

Ele deveria saber que o acordo que Emily fez era bom demais para durar. Era exatamente por isso que ele nunca se aproximava demais das pessoas, especialmente mulheres, sempre fazia com que quisessem algo mais dele. Algo mais gratificante, de longo prazo, o que sempre assustava Tom e era por isso que ele nunca permitia que ninguém entrasse em sua vida. Era mais fácil assim... pelo menos ele achava que era.

Mas as emoções eram inevitáveis. Tom nunca foi nenhum tipo de sociopata que não fosse capaz de sentir ou desejar algum tipo de proximidade com alguém, mas o medo de perder uma pessoa importante era sempre o que o afetava e o impedia de se apaixonar ou de desenvolver segundos sentimentos.

O medo era o que sempre o dominava e arruinava tudo para ele.

Mas, com Emily... o medo praticamente implodiu sobre ele mesmo. Naquela noite no quarto dele, ele sentiu isso. Tom não podia negar e odiava tê-la feito pensar todas aquelas coisas.

Ele se abriu com ela de uma forma que nunca havia feito com ninguém. E, então, Tom acordou na manhã seguinte, depois de perceber que havia deixado Emily entrar, e não suportou o pensamento de vê-la fugir dele mais uma vez.

Emily era realmente a melhor amiga dele em muitos aspectos e ele a decepcionou, sabendo que não havia nada que ele pudesse fazer para consertar os seus erros.

Ele estava absolutamente desesperado e com aversão a si mesmo, enquanto as palavras que Emily disse se repetiam na mente dele.

Ele queria ignorar a ideia que ela havia dado sobre ele ter algum tipo de problema com a mãe, mas ela estava certa e ele sabia disso. Mais uma vez, o típico Tom estava com medo de dizer qualquer coisa porque tinha medo de se aproximar demais.

Ao desbloquear o celular, ele deslizou pelos contatos frustrado. Ao chegar ao nome, ele sabia que não queria ligar, mas precisava acabar logo com aquilo.

Uma parte dele queria provar que Emily estava errada e mostrar que era capaz de fazer aquilo, mas outra sabia que aquilo era algo que deveria ter sido feito há anos. Ele simplesmente não queria fazer aquela ligação.

O telefone tocou e foi direto para o correio de voz quando Tom colocou o telefone no viva-voz e o pousou na mesa de centro enquanto esperava ansiosamente pelo bipe.

Fechando os olhos lentamente, ele sentiu todo o seu corpo se contrair de tensão ao ouvir o bipe, indicando sua deixa para começar a falar o que pensava.

— Oi, mamãe. Sou eu. — Tom falou baixinho para o telefone enquanto encarava o dispositivo. Ele apoiou os braços nos joelhos enquanto enterrava o rosto nas palmas das mãos antes de continuar. — Eu realmente gostaria que você atendesse a porra do telefone quando eu ligasse, em vez de se esquivar todas as vezes porque tem muito medo de que eu diga algo que talvez você não queira ouvir. Isso realmente não tem mais sentido, considerando que você não me vê há mais de um ano, então espero que você pelo menos faça um esforço e oiça esta mensagem de voz...

Tom parou por um momento, tentando pensar no que iria dizer em seguida. Mas, de repente, percebeu que ele estava, por fim, encontrando as palavras certas.

— Desde que meu pai morreu, você nunca esteve presente. Eu era uma criança, mas sei que você me culpava de alguma forma estranha e distorcida pelo fato de ele ter morrido. Você não conseguia nem olhar para mim... — Ele começou a sentir um nó na garganta e tentou engoli-lo rapidamente. — Você me mandou morar em um maldito internato porque não conseguia nem ficar perto do seu próprio filho. E, mesmo após tudo isso, ainda não quer ficar perto de mim... Eu era uma criança, mãe! Tinha acabado de perder o meu pai e precisava da porra da minha mãe, mas você deixou bem claro que preferia ir para Seattle, ou Milão, ou qualquer outro lugar com Clint, desde que fosse longe de mim. E eu só... — Tom finalmente quebrou ao sentir as lágrimas escorrendo pelo rosto enquanto enterrava a cabeça nas mãos.

Tom limpou o rosto, as lágrimas ainda escorrendo enquanto ele sentia a raiva o preenchendo novamente.

— Você sabia que seu filho é um mulherengo que não consegue nem pagar um jantar para uma garota porque tem medo que ela o deixe? Seu filho vai a pubs com striptease toda sexta-feira à noite para pegar dançarinas e levá-las para casa porque pelo menos elas sabem que não devem se aproximar demais. Esse é o seu filho.

Ele se sentiu como uma criança birrenta fazendo birra. Mas ele sabia que nunca teve permissão para agir daquela forma emocionalmente com sua mãe, então pelo telefone ele podia finalmente deixar sair todos os traumas que tinha acumulados.

Já era tarde demais e, embora soubesse que era responsável pelas suas ações no presente, Tom sabia que provavelmente não teria se tornado tão perverso se tivesse recebido mais orientação durante a infância.

Tom estava deitando tudo para fora de uma forma que nunca havia feito em toda a sua vida e era estranhamente bom fazê-lo com a pessoa que ele sabia que mais precisava contar.

Foi preciso tudo o que havia dentro dele para colocar aquilo para fora, mas ele o fez com orgulho, mesmo que aquilo o estivesse fazendo se sentir como uma criança novamente.

Respirando fundo, ele pegou o telefone e o aproximou do rosto. A palma da mão esfregou os olhos lacrimejantes antes de ele voltar a falar.

— Tudo o que eu tenho medo que aconteça comigo é porque você me abandonou e continua fazendo isso mesmo anos depois, mãe. É pelos traumas que você me causou desde que eu era criança que eu não consigo nem dizer à garota no fundo do corredor que eu a am...

Beep.

Tom bateu o telefone na mesa de centro agressivamente quando a chamada se desconectou, provavelmente por ter atingido o limite de tempo.

Ele se sentou novamente no sofá com outro grunhido, olhando para a cerveja na mesa de centro e pegando nela para dar um longo gole da garrafa. Não era forte o suficiente para anestesiar sua dor, mas era tudo o que ele tinha.

O mais irônico era que a única pessoa a quem ele queria recorrer quando tinha um dia de merda como aquele era a pessoa a quem ele basicamente mandou se foder. E agora, como consequência de perdê-la, ele estava afogando as mágoas e sarando suas feridas sozinho.

Quando ele sabia perfeitamente onde e com quem queria estar.

***

Emily mal dormiu naquela noite por se sentir demasiado mal com o que havia dito ao Tom sobre a mãe dele. Arrependeu-se no instante em que a frase saiu de seus lábios e até ela ficou surpresa por ter tido a audácia de dizer algo tão vil a uma pessoa de quem gostava.

Ver a expressão no rosto de Tom a fez perder o controle e ela quase se sentiu feliz por ele ter saído logo em seguida e não ter visto como ela desabou do outro lado da porta.

Tudo a atingiu de uma só vez enquanto ela se deitou na cama e pensou na briga que teve com Tom. Emily sabia que tinha feito a coisa certa ao contar tudo a ele e manter sua posição, e sabia que não esperava que Tom tivesse os mesmos pensamentos que ela ou concordasse com o que ela havia dito, mas com certeza não imaginava que ele faria tudo o que fez depois da conversa deles.

Foi, no mínimo, decepcionante para ela ouvi-lo falar de uma forma tão cruel e vê-lo agir como se nada do que tivesse acontecido entre os dois importasse para ele.

Emily sabia que eles tinham um acordo, mas não conseguia evitar o que sentiu naquela noite, tal como não conseguia evitar os ciúmes. Não era como se ela quisesse que tudo aquilo fosse culpa dela, então ela não entendia por que ele estava agindo daquele jeito com ela.

O fato de Tom tê-la machucado daquela maneira foi pior do que Emily imaginava, pois os dois eram muito próximos. Eram amigos, mais do que amigos, melhores amigos. Ela contava-lhe tudo sobre o seu dia e ficava ansiosa para sair com ele, não importava se fosse apenas uma pizza ou algo mais do que isso. Ele fazia-a se sentir melhor consigo mesma e a ajudava quando ela passava por momentos difíceis.

Emily gostava de pensar que ele sentia o mesmo que ela, apesar de ele não quisesse dizê-lo em voz alta. Tom era provavelmente o melhor amigo que Emily tinha e agora ela sentia que não era nada.

Emily estava tão brava com ele e não sabia como perdoá-lo por suas ações. Como seria possível o perdoar quando ele reagiu de uma forma que a fez se sentir como se estivesse enlouquecendo? Quanto mais pensava naquilo, mais frustrada ela ficava, e aquilo estava dando cabo dela.

Parte dela queria ir até o apartamento de Tom e gritar na cara dele, mas sabia que isso não adiantaria nada.

Talvez a distância fosse o melhor.

Ela então se recompôs e se levantou da cama para tomar um copo de água. A ideia de ficar longe de Tom a machucava e não a fazia se sentir melhor, mas, dadas as circunstâncias, talvez fosse a melhor coisa a fazer por ambos.

Os dois claramente tinham pensamentos diferentes sobre o assunto e Tom estava passando por muita coisa na vida dele. Emily não queria deixar uma pessoa que estivesse abatida, mas acreditava nele mesmo que ele claramente não acreditasse.

Sem conseguir dormir, ela ligou o laptop e sentou-se à sua mesa na escuridão. Precisando de uma distração do seu drama atual, o brilho da tela iluminou o quarto enquanto ela abria um e-mail para um dos empregos aos quais ela se candidatou por capricho.

Na verdade, a ideia foi de Tom. Já que ele achava que Emily merecia algo melhor do que a situação atual que passava no trabalho, ele fê-la prometer que se candidataria a outros empregos. Ela manteve a promessa, mesmo que Tom tenha quebrado o vínculo que os dois compartilhavam.

Quase engasgando com a água, ela piscou os olhos algumas vezes para se certificar de que estava lendo o e-mail corretamente.

Sra. Hamilton
Agradecemos imenso o envio da sua candidatura e currículo. Gostaríamos muito de conversar com a senhora esta semana sobre a possibilidade de executar um projeto futuro que estamos desenvolvendo. Para isso, seria necessário mudar-se o mais rápido possível. Acreditamos que essa seria uma excelente oportunidade para você e gostaríamos de ter notícias suas o mais rápido possível.
Cumprimentos e esperamos pela sua resposta.

Talvez mudança fosse exatamente o que ela precisava.

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