𝖽𝖾𝖼𝖾𝗆𝖻𝖾𝗋 𝟣𝟩𝗍𝗁

Palavras não eram suficientes para descrever a quantidade de dor que Bridget sentia por todo o seu corpo. Desde a dor na cabeça até à ponta do dedinho do pé, ela se sentia completamente derrotada.

O homem que a havia tocado na noite anterior ainda a assombrava, mesmo depois de todas as horas que haviam se passado. Era verdade que ela tinha passado a maior parte do jantar a trocar mensagens com Tom no celular que escondia debaixo da mesa enquanto o cara em sua frente divagava sobre como o trabalho era cansativo.

Era verdade também que o homem era do mais entediante que Bridget havia conhecido em sua vida inteira. No entanto e apesar do comportamento desrespeitoso dela, a morena não merecia ser mal-tratada pelo homem à saída do restaurante.

Ele havia tentado beijá-la e tocá-la sem seu consentimento, e isso incomodou-a visivelmemte. Bridget teve que correr dele, fugindo para uma pequena cidade perto daquele lugar. Após finalmente se acalmar, havia decidido ligar a Tom, que foi até lá sem hesitar.

Bridget tinha que admitir que não se recordava de muita coisa a partir do momento em que o moreno a acompanhou até o carro, mas se lembrava perfeitamente de como ele parecia preocupado, fazendo perguntas e tentando evitar que ela desmaiasse, devido a estar ligeiramente embriagada pelos copos de vinho que havia bebido ao jantar.

Depois de vários minutos olhando para o teto, a garota se levantou da cama, calçando seus chinelos quentinhos e caminhando até ao armário. Pegou um pijama, pois já sabia que passaria o dia em casa, e foi até porta do quarto.

Após abrir a porta do fundo do corredor, retirou suas roupas da noite anterior e tomou um banho quente e relaxante. Quando já estava vestida, foi para a cozinha, avistando Tom que fazia o café da manhã.

— A sua sorte foi eu ter ido te buscar. Aquele bastardo podia ter assediado você. — Tom pegou na xícara, a levando aos lábios antes de voltar a falar. — Fui pegar seu carro há pouco, já está no estacionamento lá embaixo.

— Obrigada. — Bridget foi curta, falando baixinho ao se aperceber de que o que tinha feito não havia sido correto.

Os ovos e as torradas sobre o prato de Bridget foram desaparecendo lentamente à medida em que o maxilar de Tom ficava mais tenso. Ele tinha as mãos nos bolsos, as costas pressionadas contra a bancada da cozinha enquanto ele encarava o chão e escutava a respiração da morena.

— Eu... peço desculpa. Talvez devesse ter escutado você. — Tom levantou a cabeça rapidamente ao escutar a voz dela. — Só que... eu queria muito ficar com alguém, e o bastardo realmente parecia interessado em mim.

— Minha mãe costuma dizer que todo o mundo é sério até começar a rir. — Ele olhou profundamente no rosto dela, observando enquanto as suas feições mudavam, parecia realmente arrependida. — O que você fez foi muito irresponsável, não deveria ter confiado em um desconhecido.

— Ah, tá bom, pai! Já escutei! — A garota gritou de repente, o que fez com que Tom hesitasse ligeiramente.

— Não estou tentando agir como seu pai, apenas não quero que você fique traumatizada para o resto da vida por querer a porra de um beijo de Ano Novo! É assim tão ruim eu me preocupar com você? — O moreno se controlou para não gritar de volta, mas não deixou de aumentar o tom de voz.

— É ruim sim! Eu sei cuidar de mim própria, não preciso assim tanto da sua preocupação! — Ela rebateu, vendo o quão machucado ele ficou com as palavras dela.

— Não precisa da minha preocupação? — Perguntou sarcasticamente, dando passos em direção a ela. — Fique sabendo então que sem a minha preocupação dispensável, você teria dormido na rua essa noite!

Bridget se calou, não querendo argumentar contra aquilo e percebendo o quão egoista estava sendo. Tom sabia bem que ela sempre havia sido a filha rebelde para seus pais e que ela era bastante teimosa devido à sua educação desleixada. A garota não dizia nem fazia as coisas por mal, porém ela podia chegar a ser considerada ingrata pela sua falta de auto-controle em certos momentos.

Tom deu um último passo em direção a ela, que entendeu a mensagem e saltou para os braços dele, que a segurou sem hesitar.

— O que você acha... — Ele se afastou dela delicadamente, limpando as pequenas lágrimas que haviam caído dos olhos dela. — ...de decorarmos a casa à nossa própria maneira. Não tem nada de Natal por aqui.

Bridget não pôde evitar o sorriso involuntário que crescia em seu rosto com a ideia. Eles nunca haviam decorado a casa com coisinhas de Natal, já que a única vez em que o tinham passado como colegas de quarto tinha sido no ano anterior.

Se dirigiram até uma lojinha perto da casa, caminhando lado a lado em um silêncio confortante. Bridget estava perdida em memórias das mensagens que trocou com Tom na noite anterior. Ele parecia diferente, como se estivesse mandando mensagens para ela propositadamente, por saber que ela estava em um encontro.

Enquanto isso, os pensamentos de Tom vagueavam no quanto a morena ficava tão bonita naquelas roupas de inverno. Um cachecol cobria o pescoço que ele tanto gostaria de acariciar e um casaco enorme fazia com que as curvas dela fossem quase imperceptíveis, porém ela continuava linda daquele jeito.

— Tom, isso está se tornando constrangedor agora. — Bridget disse em alto e bom som, fazendo com que Tom acordasse do transe e se apercebesse de que tinha sido apanhado encarando ela. — É sério, você deveria se controlar.

A garota soltou uma risada ao ver a expressão chocada de Tom perante aquela afirmação. Só dessa forma ele conseguiu perceber que não passava de uma brincadeira da parte dela. Mesmo assim, não disse mais nada durante o curto caminho para chegar até à loja.

Se dirigiram até às árvores de Natal, onde tentaram encontrar uma não tão grande, mas também não demasiado pequena e com um bom preço. Quando escolheram, ficaram olhando para as decorações da lareira, indecisos entre se levariam figurinhas de Papai Noel ou não.

— Eu adoro esse daqui, Tommy! — A morena exclamou entusiasmada pegando um deles nas suas mãos, vendo o garoto fazer caretas.

— Não gosto desse, é muito simples. Além do mais, esses olhos esbugalhados estão me assustando. — Tom arregalou os olhos para o Papai Noel na mão dela, quase como se estivesse jogando o jogo do sério com ele.

O beicinho no rosto dela aumentou sucessivamente, e isso fez com que ele se derretesse pela fofura no rosto dela. Tom então largou o Papai Noel grande que tinha em mãos para pegar o pequenininho que Bridget tinha escolhido.

Caminharam até à caixa já com todas as decorações em mãos, e esperaram que a senhora de idade passasse todas as coisinhas lentamente. Tom suspirou pela demora, levando um tapa no ombro dado por Bridget.

— Não demonstre tanto, está sendo desagradável. — Ela sussurrou baixinho, sorrindo na direção da senhora que ainda passava as decorações na caixa.

Tom revirou os olhos, sabendo que por muito que ele gritasse mais alto do que suas cordas vocais conseguissem, a senhora não escutaria. Depois de alguns minutos e quando finalmente pagaram, os dois foram até ao lado de fora da lojinha, onde tentaram acomodar as coisas todas.

Bridget levava parte das decorações em dois sacos, enquanto Tom levava a árvore sobre o ombro e um saco na mão do braço do lado oposto. O silêncio de mais cedo permaneceu, porém dessa vez era mais constrangedor do que antes.

Ele não para não parava de se perguntar se Bridget se apercebeu do quão nervoso ele estava mais cedo. O moreno não costumava ficar nervoso daquele jeito com ela, ele sempre estava tão à vontade e, de repente, se sentia tão stressado perto dela.

Era mais do que óbvio que ele tinha criado sentimentos por ela naqueles últimos tempos, mas ela não sabia disso. Por isso mesmo, naquele preciso momento Bridget se perguntava por que Tom estaria tão constrangido mais cedo só por ter sido apanhado olhando para ela.

Ela pensava que talvez olhasse por estar distraído, o que por vezes acontecia com as pessoas em geral. Essa ideia havia abandonado as possibilidades a partir do momento em que ele começou a tremer as mãos, escondendo-as nos bolsos.

Bridget conhecia ele melhor do que a palma da própria mão e sabia que ele tinha aquelas pequenas reações nervosas quando estava ansioso. Mas, porque estaria ele ansioso?

— Vamos decorar ou não? — Tom perguntou reparando o quanto ela estava perdida em devaneios.

Nem sequer se tinha apercebido de que já tinham chegado a casa, e que ele havia pousado todas as decorações sobre a mesa da sala de estar. Bridget apenas assentiu, observando de forma atenta a maneira como Tom se movia ao posicionar a árvore de Natal, começando a abrir a caixa grande.

Algo parecia diferente sobre ele, como se ela não estivesse olhando para o idiota que discutia qual o melhor sabor de sorvete com ela, o seu melhor amigo. Como se, de um momento para o outro, a maneira de vê-lo tivesse mudado para sempre.

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