2. Lost and found
Merda. Merda. Merda.
S/n vasculhou freneticamente sua mala, procurando por sua pequena bolsa. Ela sabia que não estava em sua mala, pois já havia procurado várias vezes antes, mas esperava e rezava para que, se olhasse apenas mais uma vez, aparecesse magicamente.
A garota suspirou pesadamente, deixando cair sua mala no chão e encostando-se na parede, tentando ao máximo não chorar, passando as mãos pelos cabelos e segurando as bochechas. Todo o dinheiro que ela tinha estava naquela bolsa, todo o salário daquele mês estava lá, contendo mais de duzentas horas do seu tempo.
A ideia de pedir comida por takeaway já havia desaparecido, especialmente considerando que ela nem tinha mais dinheiro, mas não havia comida na geladeira, além de umas batatas estranhas deixadas no em um cantinho de vegetais abandonado.
Ela olhou para o seu relógio antigo, 21:43 da noite. Seus olhos pareciam pesados e injetados, e seu corpo estava fraco e exausto, então ela decidiu que procuraria a bolsa perdida na manhã seguinte, bem cedo, na esperança de pelo menos recuperar a sua identidade.
Ela arrastou o seu corpo para o seu quarto, a comida agora fora da mente dela enquanto sua cabeça batia nos travesseiros, envolvendo seu corpo ainda totalmente vestido nos lençóis quentes, ligando a TV, ouvindo as notícias em silêncio enquanto caía no sono.
***
Três batidas fortes fizeram S/n pular da cama, a maquiagem escura espalhada em suas bochechas, seu top torcido em torno de seu torso, cabelo bagunçado e seus lábios secos e rachados. Ela atendeu a porta relutantemente, para encontrar nada mais nada menos do que o frio do corredor do apartamento. A seus pés havia uma caixa branca simples, com uma fita preta bem amarrada e um pequeno bilhete escrito à mão preso nela.
S/n se abaixou e pegou na caixa, fechando a porta distraidamente e voltando para a cama e jogou a caixa no colchão, cruzou as pernas e desamarrou preguiçosamente o laço. As pálpebras ainda pareciam tão pesadas quanto na noite anterior e começaram a lacrimejar com a visão à sua frente. Era a sua bolsa.
Algum anjo lá fora estava realmente cuidando dela. Ela acordou rapidamente, agarrando a bolsa freneticamente ao abri-la, apenas para encontrar tudo o que havia deixado dentro dela, todas as moedinhas, notas e cheques, bem como seus cartões e identidades, ela estava entre rir e chorar enquanto segurava o contracheque contra o peito, quase gritando. Quase esquecendo, S/n torceu o pequeno cartão na ponta dos dedos, lendo-o várias vezes atentamente.
"Mantenha-a segura.
T.H."
A caligrafia pequena e desleixada quase fez ela desmaiar, era o seu anjo da guarda. Ela gostaria que a pessoa tivesse deixado o nome completo ou pelo menos o endereço de retorno para que ela pudesse expressar sua gratidão, mas S/n não conseguiu pensar em nada disso porque teve que começar a se preparar para o seu dia de trabalho.
***
— Isso é loucura, me lembra aquele filme do Chris Evans em que eles passam a noite inteira procurando a bolsa daquela garota. — disse Rebecca, limpando a bancada enquanto S/n secava os copos.
— Sim, exceto que eu não saí procurando por isso e, infelizmente, não consegui beijar o Chris Evans. — respondeu, sua cabeça vitrificada com as iniciais escritas no cartão.
Rebecca passou a tarde pensando em cenários ou nomes aleatórios e malucos que poderia pertencer ao homem ou à mulher que devolveu a bolsa de sua amiga. Para ser sincera, S/n não se importou muito com isso, apenas se sentiu agradecida por ter tudo de volta e poder pagar uma comida chinesa naquela noite.
Durante seu profundo momento de afastamento, S/n não percebeu o homem moreno e extremamente bonito que havia entrado no bar vazio. Homem que agora estava parado na frente dela, que não o havia visto, até que Rebecca tossiu alto em sua direção.
— Ah, oi. Desculpe, o que você gostaria? — S/n perguntou profissionalmente, agora colocando o copo de lado, olhando para cima para encontrar um par de lindos olhos castanhos profundos olhando para ela, era um olhar duro e intenso, mas de alguma forma suave, fazendo com que as pernas dela quase cedessem.
A aparência dele, terno preto, cabelo castanho escuro com cachos irresistíveis, mandíbula robusta e rosto esculpido, fez S/n duvidar que estivesse enganada ao pensar nos músculos duros que estariam sob suas roupas. Ele parecia o tipo de academia.
— Apenas um uísque, por favor, darling. — O homem respondeu, sentando-se no banquinho do bar à frente dela, levando os braços por cima do balcão, e se não fosse pelo metro de mármore entre os dois, ela já teria pulado nos braços dele.
— É para já, senhor. — ela respondeu, desviando o olhar rapidamente e movendo-se timidamente pelo bar, fazendo o possível para não derramar a bebida com as mãos trêmulas.
Depois de colocar a bebida no porta-copos, os olhar de S/n cruzou o do homem, e quase ficou preso nas profundezas do doce marrom dos seus olhos.
— S/n! — O chefe delas gritou do back office, fazendo a garota pular levemente, aparentemente divertindo o homem à sua frente. Ela quebrou o contato visual e correu para seu chefe impaciente.
— Sim. — S/n disse, esperando no batente da porta que seu chefe desviasse a atenção da papelada e falasse com ela.
— Você sabe quem aquele homem é, certo? — ele perguntou, sinalizando para ela entrar e fechar a porta, para que o homem no bar não ouvisse.
— Hm, não? Devo? — ela questionou, seus dedos girando um no outro nervosamente.
— S/n, esse é Tom Holland, da família criminosa de Londres, os Holland. — Ele respondeu, batendo a caneta contra a mesa enquanto olhava boquiaberto para a sua empregada, não acreditando que ela não fazia ideia.
— Ah. — ela murmurou, baixando a cabeça enquanto processava a informação, realmente ela não fazia ideia. Mas, para ser justa, S/n nunca acompanhou o crime em Londres, ela se sentia melhor morando lá se simplesmente ignorasse tudo isso.
Ele era certamente muito atraente e intimidador, mas ela não podia imaginá-lo sendo parte de nenhuma família criminosa, especialmente com aquele cabelo, parecia tão macio e encaracolado. Ela só queria passar as mãos pelos seus cachos em um domingo de manhã, com o cheiro de panquecas de canela frescas.
— S/n! — O chefe dela gritou de novo, chamando sua atenção de seu devaneio enquanto ele ria dela.
— Sim? — respondeu ela, sorrindo nervosamente para ele.
— Eu queria falar com você em específico, já que a situação envolve sobretudo você. — o senhor afirmou, despertando a atenção de S/n que, por fim, escutava as suas palavras atentamente. — Ele comprou o bar esta manhã, fizemos um negócio. Estou me aposentando, e ele vai ficar consigo, pois ele despediu o resto dos meus funcionários. Incluindo Rebecca. — ele explicou devagar, para que S/n entendesse, tendo em conta que estava habituado a que ela estivesse com a cabeça na lua, como de costume.
— O quê? Porquê? Porquê eu? — ela perguntou, joelhos e dedos tremendo, com medo até de perguntar.
S/n foi interrompida pela porta se abrindo, revelando Tom na entrada do pequeno escritório. Sua figura impressionante estava encostada no batente, mãos nos bolsos, mostrando claramente a arma cinza que ele guardava enquanto sorria para ela.
— Deixe-nos a sós. — Tom falou, seus olhos ainda fixos em S/n enquanto o chefe dela corria para fora da sala mais rápido do que ela poderia protestar.
Ela observou enquanto Tom fechar a porta atrás dele, movendo-se pela sala, sentando-se na cadeira do anterior chefe dela. Os dois ficaram sentados em silêncio pelo que pareceu uma eternidade. S/n certamente não tinha certeza se deveria se levantar e sair, ou ficar o mais imóvel possível e esperar que se formasse um buraco naquele chão de madeira onde ela pudesse se esconder para sempre.
— Você sabe quem eu sou? — Tom perguntou, fazendo as sobrancelhas dela franzirem, sem entender a pergunta.
Ele quis dizer saber sobre a família criminosa dele, ou pessoalmente, ou apenas em geral? Qualquer que fosse o significado daquela questão, S/n não respondeu verbalmente, apenas encolheu os ombros, olhando para o chão, tentando manter o batimento cardíaco sob controle, em que Tom cantarolou.
— Você está dispensada então, fique segura, darling. — ele falou, fazendo os ouvidos dela se animarem e seus olhos se arregalarem de leve, antes de ela rapidamente escapar da sala.
***
Quando ela chegou em casa, havia outro pacote igual ao anterior, só que desta vez, a caixa branca e a fita preta trouxeram uma sensação de vazio na boca do estômago. Ela levou a embalagem para dentro, lendo o cartão primeiro dessa vez.
"Fique à vontade.
T.H."
S/n praticamente gritou ao ver que dentro da caixa havia vários maços de notas grandes. Ela nem queria tocar no dinheiro, muito menos contar quanto havia ali. A ideia deixou-a doente e, embora ela claramente precisasse do dinheiro, não era assim que o ganharia.
Com isso, pensou que estava envolta em consternação e raiva e, quando seu celular tocou, sentiu suas veias gelarem. Ela atendeu asperamente, de alguma forma sabendo quem estaria do outro lado.
— Que merda você quer de mim? — disse quase imediatamente, sem precisar ouvir a voz do outro lado da chamada, pois ela já sabia perfeitamente quem era.
— Woah baby, não há necessidade dessa linguagem. — respondeu Tom, e mesmo pelo celular, ela podia praticamente escutar o sorriso presunçoso e arrogante em seus lábios.
— O que você está tentando fazer, Holland? — S/n exigiu saber, descartando a caixa de dinheiro no balcão da cozinha, jogando o cartão no lixo.
— Apenas pensei que você poderia usar o dinheiro extra, talvez comprar uma bela roupa de trabalho, talvez uma lingerie, azul é a minha cor favorita, a propósito. — ele disse, seu tom brincalhão soando nos ouvidos de S/n enquanto ela se sentia furiosa.
— Continue sonhando, Holland. — ela zombou, desligando sem pensar duas vezes.
O rosto dela estava vermelho, sua mente cheia de pensamentos e seu coração explodindo com sentimentos desconhecidos. Que pressa do caralho esse homem tinha.
O celular soou novamente, com uma mensagem do mesmo número.
"10h em ponto, não me decepcione.
T.H."
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top