ㅤㅤ.˚ 𝗖 - 𝟬𝟱. 𝗍𝗁𝖾 𝗋𝖾𝗏𝖾𝗅𝖺𝗍𝗂𝗈𝗇

05. a revelação

Washington, Decatlo Acadêmico dos EUA.
Entrada do hotel - Saguão
(Terra-616)

── Atenção, pessoal. Não vão se perder. ── Liz falou, andando na frente de todos ao lado do professor.

Violeta segurou sua mochila com mais força, respirando fundo. Estava andando atrás do grupo, querendo ficar menos visível possível para os outros, mas gostava do quão cheio aquele hotel estava. MJ, uma de suas colegas de time, estava andando ao seu lado e parecia desinteressada. Antes de viajarem, disse que queria chegar cedo para protestar em frente à embaixada. Provavelmente ainda estava pensando nisso.

Peter e Ned estavam mais à frente, conversando sobre algo que Violeta não conseguia ouvir. Fazia alguns dias desde que os dois pareciam ter se acertado e voltaram a ser tão próximos quanto ela percebeu quando começou a estudar na sua nova escola. Era quase reconfortante, porque sentia menos pressão em apoiar apenas um dos dois na briga que sequer entendia. Por outro lado, a sensação de estar sendo deixada de fora de algo importante era... estranha.

Mesmo assim, Violeta tinha mais com o que se preocupar.

Estava andando em modo automático, seguindo MJ ─ que sabia que seria sua colega de quarto durante a viagem ─, e ainda repassava os acontecimentos das últimas semanas em sua cabeça. Sua madrinha conseguiu limpar sua agenda no dia anterior, uma sexta-feira, e mandou uma limusine buscar Violeta depois da escola.

Obviamente, Violeta passou reto pelo carro. Sua madrinha não conhecia limites. Só entrou no carro, que sabia estar seguindo-a por uma distância, quando chegou longe o suficiente da escola. Havia considerado ficar invisível e entrar sem que o motorista percebesse, mas era arriscado, principalmente por suas roupas não ficarem invisíveis juntas.

Encontrar sua madrinha sempre era... interessante.

Hudson Valley, Mansão Moda.
Hall de entrada
(Terra-616) - um dia atrás

── Violeta! ── A voz conhecida chamou atenção de Violeta, fazendo com que desviasse o olhar das fotos emolduradas de antigos desfiles de Edna.

Sua madrinha descia uma longa escada espiral que cobria a direita do hall de entrada de sua mansão moderna. Seu cabelo loiro caía em ondas suaves ao redor de seu rosto, emoldurando os olhos azuis que pareciam capturar cada mínimo detalhe ao redor com uma calma quase calculada. A pele dourada sob a luz sutil da mansão realçava ainda mais sua presença, feita para ser notada, mas sem precisar se esforçar para isso.

A aparência de sua madrinha sempre surpreendia Violeta não importa quanto tempo se passasse. Edna parecia ter saído de um filme antigo de Hollywood, com uma beleza atemporal e cativante. Os lábios, pintados com um tom de vermelho vibrante, se curvaram levemente em um sorriso caloroso. Estava tão cativada que só percebeu que Edna havia chegado perto quando já estava envolvendo Violeta em um abraço maternal.

── Ai, querida! Faz tanto tempo. ── Edna suspirou, a voz afetuosa. Até mesmo seu suspiro parecia digno de uma protagonista de Hollywood, como se cada pequeno gesto seu fosse destinado a estar sob os holofotes. ── Quer beber alguma coisa? ── Perguntou ao se afastar.

── Eu- ── Violeta começou a falar, mas sua madrinha já havia tirado o celular do bolso de seu casaco. O casaco preto tinha um caimento impecável, estruturado nos ombros, mas fluido o suficiente para permitir movimentos graciosos naturais à Edna. A gola alta era minimalista, enquanto os botões ocultos pela cor escura davam um ar mais elegante. Era claramente feito por Edna, e mesmo se não fosse óbvio, era sempre seguro afirmar que era uma de suas obras.

Edna só usava roupas feitas por ela mesma.

── Tenho uma coisa para te mostrar, querida. Venha! ── Edna exclamou com animação, após guardar o celular.

Hudson Valley, Mansão Moda.
Sala de design - Passagem secreta
(Terra-616)

Um segredo sobre Edna era sua desconfiança.

Poucas pessoas eram de seu círculo mais próximo de confiança, e Violeta era uma delas. Não por ser sua família, ou sua afilhada, mas por Edna saber que Violeta era de confiança. Tinha uma intuição impecável para julgar caráter de pessoas, e estava sempre analisando aqueles ao seu redor. Por isso, tinha uma sala secreta dentro de sua sala de design. ── Você vai adorar. Tenho certeza. ── Edna disse com um sorriso confiante, e Violeta não duvidava que ela estivesse certa.

As mãos de Edna empurraram Violeta para que ela se sentasse em uma das poltronas de couro em frente à grande passarela de vidro construída no centro da sala. Era um lugar tão grandioso que Violeta ficava surpresa por conseguir ser um segredo. Porém, a mansão de Edna era tão gigante que essa sala parecia uma pequena areia comparada ao resto.

Sua madrinha apertou um botão prateado no centro da mesa de vidro entre as duas poltronas. Ao lado deles, uma bandeja carregava dois copos. Um de martini, do qual Edna bebericava a cada segundo, e o outro de uma soda italiana para Violeta. ── Vera, querida, comece o desfile, por favor. ── Edna pediu, apertando o botão.

Violeta sentiu seu corpo dar um salto na poltrona após as luzes se apagarem de repente, um brilho roxo passando a iluminar o contorno da passarela de vidro. Era sua cor favorita, e sua madrinha sabia. Arriscou um olhar a Edna, vendo sua madrinha encarando a passarela com um sorriso orgulhoso.

Os olhos de Violeta se arregalaram ao ver uma modelo artificial surgir, transparente como a passarela mas com o contorno visível pelo reflexo das luzes roxas. A silhueta da modelo, incrivelmente parecida com Violeta, estava coberta por um traje heroico que atraiu o olhar de Violeta em um piscar de olhos.

Ele era predominantemente vermelho, com detalhes em preto e amarelo, justo ao corpo, com o distintivo símbolo de "Incrível" no peito. Violeta sentiu um aperto no coração ao lembrar da marca registrada de seu pai durante seu tempo como o Sr. Incrível. Uma máscara preta cobria a área dos olhos da modelo, ajudando a esconder sua identidade. ── Madrinha... ── Violeta começou, a voz surpresa, mas foi interrompida por Edna.

── Ainda não, querida! Você ainda não viu a melhor parte.

Como se a modelo artificial estivesse escutado, seguiu até o final da passarela e desceu com um pulo para o chão. Violeta tomou um susto ao ouvir o tilintar de vidro batendo contra o chão, mas sua madrinha não demonstrou qualquer preocupação. A modelo seguiu até parar na frente das poltronas, esperando obedientemente enquanto Edna se levantava com graça de sua poltrona.

Sua madrinha esticou as mãos, e em questão de segundos a roupa estava em suas mãos. Violeta mal piscou e a modelo já estava sumida, engolida por uma plataforma escondida no chão. Estava ocupada tentando entender o que era essa modelo artificial, que parecia ser feita de vidro como grande parte das decorações da mansão de sua madrinha, quando Edna parou em sua frente.

Os dentes brancos de Edna brilharam ainda mais quando ela sorriu, pegando uma das mãos de Violeta e colocando sob o tecido. ── Fique invisível, querida.

Violeta achou estranho, mas obedeceu. Confiava cegamente em sua madrinha. Quando o fez, ofegou de surpresa no mesmo instante, seus poderes desativando com o susto.

── O-O quê? ── Gaguejou, levantando o olhar inseguro para Edna.

── É isso mesmo que você viu, querida. ── Sorriu ainda mais, colocando a roupa com gentileza nas mãos da afilhada. Violeta ainda se sentiu estranha, como se aquilo fosse uma pegadinha, mas tentou mais uma vez. Dessa vez, já estava preparada para a surpresa, e não se assustou.

Seu corpo estava invisível, mas o traje também.

Washington, Decatlo Acadêmico dos EUA.
Banheiro - Quarto 217
(Terra-616) - dias atuais

Violeta encarou seu reflexo no espelho, seus dedos finos afastando a gola de seu moletom para revelar o traje escondido debaixo de sua roupa. Era mais difícil esconder as botas justas debaixo da roupa, mas pegou uma de suas calças mais largas, que descia até seu tornozelo, para esconder da melhor maneira. Se olhassem de relance, achariam que estava usando um coturno.

Balançou a cabeça ao sentir uma onda de hesitação, dissipando o sentimento. Era sua única chance de testar o traje naquele fim de semana, e seria melhor usar o traje fora de Nova Iorque. A chance de alguém ver e seus pais descobrirem era menor. ── Ei, vai demorar? ── Ouviu a voz de MJ soar do outro lado da porta.

── N-Não! ── Exclamou em surpresa, fechando a mochila vazia em cima da pia.

Colocou a mochila nos ombros antes de sair do banheiro, dando de cara com MJ. Sua colega olhou com certa desconfiança, parecendo confusa. ── Vai onde? ── Perguntou, mas não parecia tão interessada.

── Hm, minha tia.. mora por perto. ── Não era uma mentira. Edna também tinha uma casa em Washington, perto da área do hotel onde o time de decatlo estava hospedado.

── Ah. Legal. ── MJ acenou, esgueirando ao lado de Violeta para conseguir entrar no banheiro.

Violeta suspirou de alívio, ajeitando a mochila nas costas, e seguindo para fora do quarto.

Ao alcançar a escada escondida no final do corredor, subiu até o telhado do hotel e seguiu até um canto mais isolado. Tirou as roupas comuns que usava por cima de seu traje, ficando apenas com o design perfeito feito por sua madrinha. Ela estava finalmente pronta. Colocou a mochila, com suas roupas normais, em um canto escuro onde não seria encontrada se alguém subisse até o telhado e preparou-se para testar seu traje.

Com um suspiro de empolgação, ela ajeitou a máscara, ativando seus poderes de invisibilidade. Então, de maneira ágil, Violeta saltou do prédio. Projetou um pequeno campo de força onde iria cair, criando uma superfície macia para amortecer sua queda. Funcionou. O impacto foi quase nulo, como se ela estivesse flutuando.

Ser filha de super-heróis tinha lá as suas vantagens, Violeta pensou antes de seguir para dentro da cidade.

Washington, Smithsonian.
Telhado - Museu Nacional de História Americana 
(Terra-616)

A cidade estava calma naquela noite, apesar das ruas muito movimentadas. Violeta, com um misto de animação e ansiedade, caminhava pelas calçadas, sentindo-se mais livre do que nunca. Andou por todo o Smithsonian, um dos lugares que mais queria visitar na cidade. Era incrível como poderia andar por toda uma exibição sem ser incomodada por qualquer funcionário. Com certeza entrava em lugares com entrada proibida, mas ainda era divertido.

Queria explorar toda a cidade, mas sabia que seria difícil fazê-lo em uma noite. Teria que estar descansada para o decatlo no dia seguinte. Pelo menos já tinha a confirmação de que seu traje funcionava perfeitamente, não sendo vista por nenhuma das pessoas que passavam por ela. Claro, ainda tinha que tomar mais cuidado que o normal ao andar, já que sabia o quão estranho seria se alguém esbarasse em sua figura invisível.

Sentiu uma onda de tristeza ao ver que já era próximo da meia noite, e que precisava voltar. Não estava tão longe do hotel, porque pegou um ônibus até o ponto mais longe que gostaria de visitar, e faria o caminho reverso. Ainda assim, teria sorte de chegar antes do relógio bater uma da manhã. 

Se aproximou da beirada do telhado, e estava buscando um dos ônibus que memorizou para voltar até o hotel quando sua visão periférica captou algo familiar: uma figura encapuzada, vestindo uma roupa vermelha com detalhes em azul e preto, balançando entre os prédios.

Homem-Aranha.

Já ouviu notícias do Homem-Aranha em outras cidades além de Nova Iorque, mas eram raras e muito pontuais. O que ele estaria fazendo em Washington? Antes que pudesse ir embora, com medo do que aconteceria se um dos vigilantes dos EUA ficasse sabendo de sua existência, o Homem-Aranha parou de repente, saltando para o telhado onde ela estava invisível.

Violeta estava prestes a pular do telhado, tentando superar a pequena onda de pânico para decidir onde projetar seu campo quando ele se agachou próximo à parede onde estava a porta pela qual Violeta conseguiu acessar o telhado. O Homem-Aranha começou a se abaixar, apertando algo em seu pulso que fez uma tela transparente surgir. ── Cara, nem acredito que- ── A voz familiar fez Violeta parar, os olhos se arregalando.

Ele começou a levantar a máscara, sentado no chão do canto escuro. Violeta ficou paralisada por um segundo. Peter? Ela não podia acreditar no que estava vendo. Ele era o Homem-Aranha? Isso- Até que fazia sentido, percebeu. Seu cérebro tentou processar as informações, mas o susto foi o suficiente para desativar os seus poderes.

Bem.

Na. 

Frente.

De.

Peter.

Falando nisso, ele claramente viu a garota que surgiu de repente na frente dele. Os olhos dele se arregalaram por um segundo, e o pânico foi instantâneo. Ele se levantou tão rapidamente que quase caiu, tentando se equilibrar, com os olhos fixos nela.

── O-O quê? Calma, olha- Não- Não é o que você tá pensando... Quem quer que você seja. ── Ele gesticulou, dando uma risada nervosa.  ── Não estava esperando... alguém aqui. E não sou muito de conversar com estranhos, sabe? Principalmente quando eles sabem como... bem, como eu fico sem máscara.

Meu Deus, ele falava muito. Já sabia disso, claro, mas ainda era surpreendente.

── Você, hm, é- tipo, tipo... tipo eu, ou os caras ruins? Porque olha, eu nem sabia que você tava aqui. Se tentar usar minha identidade contra mim, seria- seria sacanagem! ── Ele continuou falando, e Violeta bateu a mão em sua testa. Peter sequer tentou colocar a máscara de volta.

Meu Deus, como ele conseguiu esconder sua identidade do resto do mundo por tanto tempo?

Ele continuava a tagarelar, andando nervosamente de um lado para o outro, quando Violeta acabou tomando uma decisão. Respirou fundo. Era o justo, principalmente depois de tudo que ele fez para ajudá-la com a situação... aquela situação.

Com certa hesitação, sentindo seu estômago embrulhar de nervosismo, Violeta tirou sua própria máscara. Peter estava tão ocupado falando e andando, sem sequer olhar para ela, que não viu de imediato. ── -me caçar? Porque se for essa opção, eu realmente não tô no clima pra isso. Sempre dá pr- ── Peter finalmente olhou para ela, engasgando. ── Violeta?! ── Ele quase gritou.

── Fala baixo! ── Ela repreendeu, colocando a máscara de volta. Olhou ao redor, satisfeita pelo quão alto estavam, e andou até onde Peter estava. Arrastou o amigo até a escuridão formada pela sombra da entrada. 

── Você- Você fica invisível? Cara, isso é tão legal! ── Peter pareceu se recuperar, e começou a mexer nas luvas da roupa de Violeta quando ela agarrou seu pulso para arrastá-lo. ── Como que funciona? Tem algum botão na roupa que ativa um mecanismo de camuflagem? Mas como isso deixa o resto de você invisível também? ── Voltou a tagarelar, tentando olhar as costas do traje em busca de qualquer coisa que explicasse.

── O quê? Eu- Não é um botão. ── Violeta balançou a cabeça, batendo na mão de Peter para que ele ficasse quieto. ── Eu nasci assim. ── Falou, mas se arrependeu no mesmo instante ao ver a boca de Peter se abrir e seus olhos brilharem ainda mais. Mais perguntas, sinceramente. ── E coloca essa máscara de volta! ── Repreendeu, antes que ele pudesse perguntar qualquer coisa.

Era totalmente nova nisso de trajes de vigilantes e tudo mais, mas ainda assim parecia que Peter era o novato. ── O que você tava fazendo aqui? ── Peter perguntou, colocando a máscara de volta.

── Eu- ── Começou a falar, mas seu celular vibrou dentro de suas botas. Sua madrinha teve cuidado de deixar um compartimento em sua perna apenas para isso. Era bem útil. ── Espera. ── Falou, abaixando-se para pegar o celular.

── O que você tá- Uau! Um lugar pro celular? Isso é tão legal.

Violeta ignorou o garoto mais uma vez, desbloqueando o celular ao ver que as notificações eram de Flecha. Seu irmão mandou diversas mensagens, o que explicava as vibrações que sentiu durante esse tempo, mas estava tão distraída pela cidade que sequer se importou em olhar.

A mamãe tá estranha e o papai não tá em casa. Posso te ligar? Tá muito chato. Zezé quase engoliu uma colher. Morreu? Vi? Quando você volta?

Sentiu seu coração pesar. A cidade distraiu Violeta da situação em casa, e se esqueceu que seu irmão ainda estava bem no meio dela. Começou a se sentir uma péssima irmã, e guardou o celular mais uma vez. ── Preciso voltar pro hotel. ── Falou, vendo Peter ser pego de surpresa.

── Ah... Beleza! Então, eu, hm- Vejo- Vejo você quando isso acabar. ── Ele gaguejou, e Violeta acenou. ── O que é que você-? ── Começou a perguntar, quando Violeta começou a seguir até a beirada do telhado. A garota ficou invisível no mesmo instante, e Peter engoliu em seco, se perguntando se estava realmente sozinho, sem saber que ela havia ido embora.

Enquanto voltava para o hotel, a mente de Violeta estava dividida entre as descobertas da noite e a preocupação com seu irmão. O que ela não sabia era que aquela descoberta mudaria muitas coisas.

Para os dois.

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