ㅤㅤㅤㅤ☀︎︎˒ ›ㅤ𝘅𝗶𝘃. enfrentando seus medos, pt. 2

⁔︵᰷𖥻⃪᳟ٗ🌫ᨘܱ 1.14 ━ enfrentando seus medos, pt. 2
hill house — vol. 1

Derry, Maine5:59PM

Assim que Elizabeth alcançou o pequeno túnel, sentiu as mãos de Bill agarrando sua cintura e ajudando-a a se estabilizar no caminho curto. ─── Ela é incapaz agora, ou o quê? ─── Ouviu a voz de Richie reclamar, cheia de veneno e provocação.

Sorte a dele que Elizabeth estava mais irritada com a Coisa do que Richie jamais poderia deixá-la, ou teria jogado ele para fora do túnel. Estava tão decidida em salvar Maya que era capaz de realmente fazer isso se ele continuasse atrapalhando com essas frases desnecessárias. Fale o que quiser fora dali, mas precisavam ter foco naquele momento.

─── C-Cala a boca, Richie. ─── Bill murmurou, jogando a corda para fora do túnel, para que Mike conseguisse descer.

De repente, ouviram barulhos altos vindo de fora do poço, e os olhos de Elizabeth se arregalaram. A garota trocou um olhar com Bill, todos do grupo atordoados pelo barulho repentino. No mesmo instante, Elizabeth e Bill colocaram a cabeça para fora do túnel. ─── Mike! ─── Chamaram o amigo, ouvindo outra voz fora do poço. ─── Você tá bem? Mike!

─── O que é isso? ─── Eddie perguntou, soando assustado. Richie tentou se espremer entre Elizabeth e Bill para olhar para cima também, e a garota se aproximou das rochas para dar o espaço sem que ficasse em perigo de cair.

─── Merda. ─── Alguém xingou, quando foram surpreendidos pelo rosto de Henry Bowers surgindo acima deles. O sorriso maníaco, e que parecia tão natural para ele, fez o coração de Elizabeth gelar, sequer registrando que Bowers começou a puxar a corda que seria o meio de escape deles do túnel. ─── Pega a corda!

Era tarde demais, a corda já estava fora do alcance deles. Elizabeth começou a sentir o desespero surgir, porque não conseguiriam sair e tentar ajudar Mike. Henry Bowers era perigoso, e não seria seguro que ele ficasse sozinho com ele nesse estado.

─── Mike! ─── Elizabeth gritou, sendo acompanhada dos outros garotos. ─── Deixa ele em paz, Bowers! ─── Seu sotaque marcou ainda mais as suas palavras devido à pressa com que falava. ─── Mike, corre!

O desespero só crescia entre os amigos quando ouviram a luta lá em cima, sem ter a menor ideia do que realmente estava acontecendo. ─── Eu tenho que ir lá. ─── Bill falou, começando a olhar ao redor.

─── Tá maluco? Como vai conseguir subir?

─── Bill, espera um pouco! ─── Elizabeth se juntou a Eddie, segurando o ombro do garoto para que ele voltasse para perto do túnel. ─── A gente tem que pens- ─── Sua frase foi interrompida pelo corpo de Henry Bowers, que passou em toda velocidade por fora do túnel, descendo pelo poço.

─── Que merda? ─── Richie se assustou quando o corpo passou bem na frente de seu rosto.

Elizabeth olhou para cima, seu sangue correndo mais rápido pelo susto. ─── Mike? ─── Ela chamou, vendo o amigo aparecer. Ele respirava ainda mais rápido que ela, mas não parecia estar machucado. ─── Você tá bem? ─── Mike acenou, tentando arrumar seu colete de "balas". Isso aliviou um pouco o desespero, até que o colete de Mike caiu.

─── Gente, ─── Eddie chamou os outros, e Elizabeth se virou para olhar. ─── cadê o Stan?

Merda! Era só o que faltava. Dificilmente teria saído por conta própria, com o quão assustado estava quando vieram, então a Coisa já estaria ali? Ela realmente já sabia que Elizabeth e seus amigos entraram em seu espaço? ─── Stan! ─── Seus pensamentos foram interrompidos pelos amigos chamando o garoto perdido.

─── Mike, desce! ─── Elizabeth chamou, alternando seu olhar entre os garotos que seguiam pelo túnel e no amigo que esperava no topo. Quando Mike desceu a corda, e se aproximou da entrada do túnel, Elizabeth deu as costas e seguiu o caminho dos outros, ouvindo Mike atrás dela. ─── Eles estão ali. ─── Avisou, descendo com cuidado quando o pequeno túnel deu em um túnel maior, como se fosse apenas um pequeno atalho para chegar ali.

O cheiro era insuportável, e a água atravessava o tecido do seu tênis, mas Elizabeth correu atrás dos outros garotos. Ben estava mais atrás, parecendo checar se Elizabeth estava ali, e ela acenou para o amigo quando percebeu o olhar dele. ─── Ouvimos o Stan ali! ─── Contou, indo até os outros que abriam uma porta.

Elizabeth agarrou a lanterna com mais força, passando pela porta.

─── Cadê ele? ─── Bill perguntou, e Elizabeth aproveitou para tentar iluminar o lugar com os outros que seguravam lanternas. Estava muito  escuro, mais do que imaginava que estaria. Parecia quase anormal, como uma escuridão ainda mais profunda e criada apenas para esse momento. ─── Stan!

Quando cruzaram o cômodo, ouvindo barulhos vindo do fundo, o grupo congelou ao encontrar Stanley deitado no chão com alguma coisa sugando seu rosto. Era essa a mulher que ele falava ver sempre que a Coisa chegava até ele? ─── Stan! ─── Eddie chamou, sua voz tremendo, e a mulher ergueu o rosto, os dentes aterrorizantes soltando a pele de Stanley.

Ela pareceu acuada pela luz, soltando um grito ainda mais aterrorizante, e recuando até sumir na escuridão. ─── Stanley! ─── Chamaram o amigo, e Elizabeth observou os outros correndo para se agacharem e alcançar o garoto jogado.

Stanley se debatia, chorando e gritando sobre terem abandonado ele ao entrarem no túnel. Elizabeth não sabia o que fazer, passando a mão pelos seus cabelos. Ela estava tremendo, e percebeu quando mal conseguiu passar os dedos pelos fios, sempre desviando. ─── Não era pra ser assim. ─── Elizabeth sussurrou para si mesma. Acabaram de chegar, e isso já tinha acontecido.

─── Eliza! ─── Um grito ecoou, parecendo estar na sua mente.

Elizabeth deu um passo vacilante para trás. O quê?

─── Eliza, socorro! ─── Mais uma vez, e ela olhou para a esquerda. Tudo que conseguiu ver foi o vulto de cabelos escuros sendo agarrado por uma figura maior e puxado para dentro do túnel. Seus olhos se arregalaram, reconhecendo a silhueta.

Maya.

Seus pés batiam contra a água, a força da corrida molhando suas roupas cada vez mais, mas Elizabeth não conseguia prestar atenção. Estava tão perto. Maya estava bem ali, no final daquele túnel. Ainda conseguia ouvir sua voz chamando-a, buscando por Elizabeth. Ao enxergar a abertura final do túnel, mostrando um novo cômodo, Elizabeth desacelerou os passos, olhando ao redor.

Uma grande pilha de lixo cobria o centro do grande lugar, que parecia um poço gigante. Elizabeth não conseguia enxergar o outro lado, mas não importava. Pouco mais à sua frente, estava Maya. Sua amiga estava pendurada no ar, o pescoço jogado para trás, mas parecia estar viva. Estava tão alta que, mesmo de longe, Elizabeth sabia que não conseguiria alcançar.

Talvez, se conseguisse achar algo alto no meio do lixo... Começou a andar na direção da pilha, mas foi interrompida por outra voz conhecida. Ben. O quê?

Elizabeth ficou confusa, até finalmente se lembrar de como chegou ali. Estava com seus amigos, e também buscavam Beverly e Georgie. Parou no meio do caminho, sentindo como se estivesse saindo de um transe. ─── Ben? ─── Chamou, e começou a andar até onde ouviu a voz. Olhou por seu ombro, vendo o corpo de Maya no mesmo lugar. Seus amigos eram mais altos, talvez conseguisse subir no ombro de algum deles e alcançariam Maya assim.

─── Por que ela não acorda? ─── Ouviu ele falar.

Elizabeth deu a volta na pilha, encontrando seus amigos e Beverly. Começou a andar mais rápido, porque Beverly estava bem ali. Ben segurava a garota ruiva, e Elizabeth se surpreendeu ao ver seu amigo encostar os lábios nos de Beverly. ─── Ela- Ela tá bem? ─── Perguntou ao alcançá-los, a tempo o suficiente de ver que os olhos de Beverly estavam opacos, brancos. Mortos.

Até que não estavam mais, e Elizabeth sentiu vontade de chorar ao ver a garota voltando ao normal. ─── "Brasas no inverno". ─── Beverly murmurou, olhando apenas para Ben.

─── "Meu coração também queima". ─── Ben recitou, e Elizabeth sentia que conhecia o verso, mas não prestou atenção. Deu alguns passos para conseguir abraçar os dois, sentindo os outros se juntarem. O grupo não estava tão negativo mais, agora que Beverly voltou, e não estavam tão em desvantagem quanto antes. Estavam quase todos juntos, e isso que importava.

Elizabeth se afastou depois de alguns segundos, não esquecendo a situação em que se encontravam. Abriu a boca, decidida a perguntar o que aconteceu, curiosa para saber como encontraram Beverly e como ela veio parar aqui. Até olhar ao redor mais uma vez, e perceber uma falta que não existia antes.

─── Cadê o Bill?

Não foi difícil encontrar Bill, que estava logo na outra volta da pilha de lixo. O surpreendente foi encontrá-lo atirando na testa de seu irmão mais novo, que começou a convulsionar no chão e se transformar. De repente, estavam cara a cara com a Coisa, e Elizabeth não sabia se conseguiria respirar. Os outros gritavam para que Bill matasse a Coisa, mas Elizabeth não conseguia abrir a boca, até ver a Coisa agarrando Bill, mantendo-o de refém.

─── Solta ele! ─── Gritou, parando ao lado de Beverly. A amiga segurava sua mão com força, parecendo tão assustada quanto ela e os outros.

─── É assim que me recebe? ─── A Coisa perguntou, sua voz cheia de falsa chateação. ─── Faz alguns dias que não nos vemos, Lizzy. ───  A risada da Coisa reverberou pelos esgotos, como se ele estivesse se alimentando da angústia de todos ali.

─── Deixa ele em paz.

─── Não! Vou levar só ele, e vou ter o meu descanso. ─── Pennywise continuou, seu tom falsamente infantil. Elizabeth conseguia ouvir o que realmente estava ali, o escondido tom gélido e ameaçador. Tentando convencê-los pelo medo. ─── Vocês poderão viver, crescer e prosperar. Vão viver uma vida feliz até a velhice chegar e voltarem para debaixo da terra.

─── Vão embora. ─── Bill falou, sua voz fraca e cheia de arrependimento. ─── Eu meti vocês nisso. Eu s-s-sinto muito.

─── O quê? Fui eu quem trouxe a gente aqui hoje, Bill. ─── Elizabeth respondeu, sua voz tremendo de raiva e medo. Deu um passo para a frente, sentindo a mão de Beverly largar a sua. ─── Não é culpa sua.

─── Quer trocar com ele, Lizzy? ─── Os olhos do Pennywise pareceram brilhar. ─── Eu conheço você muito bem... E sua mãe, também. ─── A Coisa riu baixinho. ─── Ela quase foi minha, sabia?

O sangue de Elizabeth gelou, e todos pareceram parar de respirar. Não sabia do que ele estava falando. Sua família era britânica, todas as duas. Não teria como terem conhecido a Coisa, não quando descobriram que ela residia em Berry há tanto tempo. Tanto tempo que antecedia o nascimento dos pais de Elizabeth.

Ele estava blefando, tinha que estar. Provocando, buscando uma reação. Tentando fazê-la falhar.

─── Larga ele. ─── Elizabeth repetiu, suas mãos fechando em punhos.

A Coisa balançou a cabeça, como se estivesse se divertindo, antes de se virar para os outros. Então, de repente, Richie avançou. ─── É tudo culpa de vocês dois. Agora vou ter que matar esse palhaço de merda. ───Richie cuspiu, a raiva estampada em seu rosto. ─── Bem-vindo ao Clube dos Otários, seu bostinha! ─── Pegou um taco de baseball da pilha de lixo ao lado e, com força, deu um golpe direto na Coisa, acertando-o em cheio.

A Coisa soltou um grito ensurdecedor, uma mistura de surpresa e raiva.

Elizabeth correu para a pilha, alcançando um pedaço de cano ao mesmo tempo que Mike se juntava ao ataque contra a Coisa. Seu coração bateu mais rápido quando viu pequenas mãos saindo da boca aberta da Coisa, tentando alcançar Mike. ─── Solta meus amigos! ─── Elizabeth gritou com raiva, acertando o cano bem na nuca do palhaço.

Stanley surgiu ao lado dela, dando mais um golpe. A Coisa se virou para ele primeiro, seu rosto transformando no da mulher que havia atacado Stanley mais cedo. Elizabeth se preparou para correr atrás deles e acertar mais um golpe, mas Stanley foi mais rápido. Desferiu contra a cara transformada, gritando. 

─── Matem ele! ─── Algum dos meninos gritou, e todo o grupo se reuniu para atacar a Coisa. Acuada, transformava-se rapidamente, trazendo os maiores medos de todos à tona.

Quando a Coisa girou para trás, virando-se para Elizabeth e se transformando na única coisa que sempre achou temer. Sua mãe. O rosto tão conhecido, que Elizabeth tentava esquecer todas as noites durante seus pesadelos, em suas memórias. ─── Amanda, Amanda. Minha querida Amanda. ─── A voz destorcida de sua mãe cantou, fazendo o sangue de Elizabeth gelar. Dessa vez, não era medo.

Era raiva.

─── Vai se fuder! ─── Elizabeth gritou com toda sua força, desferindo um golpe tão forte contra a mandíbula de sua mãe que sentiu seu pulso doer. Seu corpo se virou com a força com que se mexeu, e virou para enxergar a Coisa tremendo e se tornando outra coisa. Um novo alvo, uma nova tentativa, e um novo terror.

Um por um, a Coisa tentava assustá-los. Elizabeth não sabia o que era, mas todos eles estavam apenas irritados. Ela mesma sentia seu sangue correndo com mais intensidade, mas não dando qualquer espaço para o medo.

Estava irritada, cansada, e totalmente puta com essa Coisa.

─── Espera... ─── Bill sussurrou ao lado de Elizabeth. Ao virar para olhá-lo, Elizabeth percebeu que ele parecia falar sozinho. ─── Você- ─── Elizabeth ouviu um barulho, e virou mais uma vez, vendo a Coisa arrastando-se no chão para longe deles. A Coisa parecia não conseguir respirar, convulsionando mais uma vez. Bill começou a andar na direção da Coisa, que estava encolhida contra uma pedra. ─── Por isso não matou a Beverly. Porque e-ela não estava com medo. E nós também não estamos. Agora é você quem está com medo.

Os olhos de Elizabeth se arregalaram ao ver a Coisa começar a se desintegrar, como se sua estrutura estivesse sendo dissolvida pelo medo que ele já não podia mais controlar. Estava sendo desfeito em partículas, como se ele fosse feito de poeira, ou de algo ainda mais frágil, desmoronando lentamente até desaparecerem no ar.

Suas mãos se esticaram em tentativas desesperadas de agarrar algo, mas não conseguia. Cada pedaço daquilo que ele representava, cada pedaço da Coisa, estava sendo arrancado de dentro dele. Com um último estalo de frustração, um grito gutural saiu de sua boca, um grito que já não tinha mais poder. Até que a Coisa finalmente desapareceu.

─── As crianças- Estão descendo.

Elizabeth voltou a prestar atenção, seu coração se acalmando aos poucos. Olhou para cima, vendo as crianças descendo lentamente de onde estavam erguidas no ar. Eram tantas, que Elizabeth sequer conseguia contar.

─── Não... ─── Ouviu Bill sussurrar, e se virou, vendo o garoto agachado. Ele agarrava uma pequena capa de chuva amarela, totalmente imunda. Georgie, Elizabeth se lembrou. Bill reconheceu a Coisa disfarçada mais cedo, tendo certeza de que não era seu irmão. Ele realmente havia morrido.

Suas sobrancelhas se franziram, sentindo sua garganta fechar em tristeza. Elizabeth se aproximou dele, abaixando-se próxima a ele. ─── Sinto muito. ─── Sussurrou, colocando a mão no ombro dele. Os ombros de Bill tremiam com o choro que tomava conta dele, e os outros se aproximaram devagar. ─── Sinto muito, Bill. ─── Repetiu, encostando a testa no ombro dele.

Ele abraçava a capa com força, a única coisa que restava de seu irmão. Seu corpo sacudia com cada soluço. ─── Desculpe, Georgie. M-Me desculpa. ─── Ele sussurrava para si mesmo, a voz rouca. Elizabeth passou seus braços ao redor dele com mais força.

Elizabeth não sabia quanto tempo se passou desde que ela e os outros abraçaram Bill, ficando ali com ele, apoiando-o enquanto ele enfrentava sua dor e deixava o luto finalmente tomar conta. Ele havia passado tanto tempo acreditando, era difícil ver que ele estava errado. Que sua esperança não havia lugar nessa realidade mais. O silêncio tomava conta, até que um som suave quebrou o silêncio: passos, leves e cautelosos, se aproximando. Então, uma voz familiar chamou.

─── Eliza?

Ela se virou instintivamente, seus olhos se arregalando ao encontrar quem estava ali.

Era Maya.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top