ㅤㅤㅤㅤ☀︎︎˒ ›ㅤ𝘃𝗶𝗶. surpresas que não param de chegar

❛ eu nunca gostei de surpresas.
raramente elas eram algo bom,
e, na minha vida, elas sempre
chegavam para arruinar tudo ❜

⁔︵᰷𖥻⃪᳟ٗ🌫ᨘܱ 1.07 ━ surpresas que não param de chegar
hill house — vol. 1

Derry, Maine12:56PM

Elizabeth não conseguia entender como, poucas horas atrás, ela estava se divertindo tanto que chegou a ficar sem ar, mas naquele momento estava sentindo o maior dos tédios.

Fazia quase uma hora desde que saiu da casa de Ben, que estava mostrando seu "quarto de evidências" ─ que na verdade era apenas o seu quarto, mas cheio de papéis com mapas, notícias, plantas de lugares, pregados na parede. Além disso, ela estava há quarenta minutos sentada em uma mesa da sorveteria acompanhada de Daisy e Sofia enquanto esperavam Abigail e Maya chegar.

Por Deus, uma hora atrás ela estava segurando Bill Denbrough, e agora ela estava ouvindo Daisy tagarelar sobre tudo que aconteceu desde que se viram pela última vez na escola. Ela chegou a pensar que não entendia como tantas coisas poderiam acontecer em 24h, até que lembrou sobre as suas últimas 24h.

─── Beth? Está ouvindo? ─── A voz de Daisy chamou sua atenção, claramente chateada por perceber que a loira não estava prestando atenção. Assim que abriu a boca para responder, Elizabeth foi interrompida pela própria Daisy. ─── Eu sei que não gosta tanto de mim quanto da Maya, da Sofia ou da Abigail. Eu sei que falo demais, mas você poderia pelo menos tentar conversar. Eu não sei sobre o que falar porque você nunca fala, e sempre que pergunto você é vaga. Eu queria ser sua amiga, mas você nem me deixa tentar!

Elizabeth piscou seus olhos algumas vezes, atordoada pela confissão inesperada ─ até mesmo para Daisy, que não tinha planejado falar nada daquilo ─ da mais baixa, sem saber o que falar para responder. ─── Desculpe. Eu já volto. ─── Daisy falou novamente, dessa vez com a voz baixa e com as bochechas vermelhas ao perceber que chamou atenção de algumas pessoas que estavam por perto.

A inglesa observou Daisy enquanto ela levantava e seguia até os fundos da sorveteria, virando no corredor onde se encontrava o banheiro feminino. ─── Sabe, ela está certa.

A voz calma de Sofia fez a loira virar na direção dela.

─── Todas nós sabemos que você se dá melhor com a Maya, Elizabeth, mas desde que você chegou Daisy fala sobre querer ser sua amiga. ─── A morena falava com o olhar suave, como uma mãe aconselhando uma filha. ─── Sobre tornar Derry um lugar mais confortável pra você porque ela sabia que você morava sozinha. Nós sabemos que ela fala demais às vezes, mas amamos ela mesmo assim. Daisy tem um coração bom, ela só não quer te ver sozinha. ─── Sofia terminou de falar e passou os dedos carinhosamente nos dedos de Elizabeth, que estava com as mãos dobradas na mesa.

E então Elizabeth começou a pensar. Ela conseguia ver bem situações assim quando ela não estava envolvida, mas a partir do momento em que estava envolvida, Elizabeth tinha dificuldade em ver até mesmo o que estava explícito na sua cara. ─── Você- Você também se sente assim? ─── Ela perguntou em voz baixa, envergonhada demais para olhar na direção de Sofia.

─── Não exatamente. Eu não vou te forçar a ser minha amiga de verdade, cada um tem o seu tempo. Quando estiver pronta, eu vou estar aqui. ─── Sofia deu mais um sorriso e a loira se perguntou como nunca percebeu o quão empática a morena era.

Talvez teria percebido se tivesse dado uma chance de verdade pra elas.

Percebendo que Elizabeth estava pensativa, e um pouco longe, Sofia permaneceu em um silêncio confortável enquanto esperava sua amiga voltar do banheiro. Demoraram poucos minutos até que Daisy voltasse e, assim que ela se sentou, Elizabeth foi a primeira a falar.

─── Eu não sabia que se sentia assim, Daisy. Me desculpe. ─── A inglesa falou, com um sorriso triste no rosto.

─── Me desculpe também, eu não queria explodir assim. Tá tudo bem se não quiser ser minha amiga, eu não queria te forçar. ─── Ela respondeu, soando realmente arrependida.

Elizabeth se apressou em negar, balançando a cabeça suavemente para os lados. ─── Eu nem tentei dar uma chance, é minha culpa. Mas, como minhas amigas, vocês têm que saber uma coisa. ─── Ao perceber que Elizabeth se referiu a ela como sua amiga, Daisy deu um grande sorriso e concordou com a cabeça para que ela continuasse.

A inglesa gesticulou para que as duas garotas na mesa se aproximassem, e se inclinou para sussurrar. ─── Eu prefiro que me chamem de Eliza.

Para a felicidade de Elizabeth, a próxima meia hora passou tão rápido quanto sua manhã, mas ela se entristeceu consigo mesma ao perceber que Daisy e Sofia eram pessoas incríveis e, quando se posiciona sobre os assuntos que não gosta, as conversas podem ser incrivelmente agradáveis.

As garotas só pararam a conversa quando Elizabeth olhou para a porta da sorveteria e encontrou uma Abigail de olhos vermelhos e olhando para dentro do estabelecimento, correndo na direção das garotas quando viu onde elas estavam. ─── Daisy, Sofia. ─── A inglesa disse, chamando a atenção das duas para Abigail, enquanto se levantava e seguia até a outra.

─── Abigail, o qu- ─── Ela começou a perguntar quando se aproximou da mais alta.

─── Vocês viram a Maya? ─── Abigail interrompeu, intercalando o olhar entre as três garotas na sua frente. Elas, por sua vez, trocaram olhares confusos. 

─── Não desde ontem na escola. ─── Sofia respondeu, se sentindo um pouco hesitante, sem saber o que aquela resposta realmente significaria para a pergunta.

─── E vocês? ─── A mais velha voltou a perguntar, olhando para Daisy e Elizabeth, que responderam a mesma coisa que a morena. ─── Ah, Deus. ─── Ela sussurrou, a voz falhando enquanto ela passava as mãos pelo próprio cabelo.

Os olhos de Elizabeth se arregalaram ao perceber que lágrimas começaram a descer dos olhos de Abigail e ela sentiu seu corpo travar, sem saber o que fazer. Ela nunca havia visto a garota assim. Na verdade, a mais forte emoção que já viu Abigail esboçar era um tédio máximo direcionado às pessoas que a incomodavam.

Daisy, diferentemente da inglesa, se moveu rapidamente para envolver a amiga em um abraço, mas Abigail nem se incomodou a retribuir. Em seguida, Sofia puxou Daisy delicadamente para o lado e colocou a mão nas costas de Abigail. ─── Vamos lá pra fora, tudo bem? ─── Ela falou em um tom baixo, guiando a mais velha para sair da sorveteria movimentada para a rua quase vazia, para que tivessem mais privacidade.

Sofia não olhou para trás e continuou guiando a amiga, sabendo que as outras duas garotas estariam logo atrás. A garota apenas parou quando chegaram em um pequeno banco que havia na propriedade ao lado da sorveteria ─ que era algo parecido com um parque. ─── O que aconteceu, Abigail? ─── A morena perguntou após sentar Abigail no banco e se sentar ao lado, com Elizabeth e Daisy em pé de cada lado.

─── Eu- ─── Ela soluçou, abaixando o corpo e colocando as mãos no rosto. ─── A mãe da Maya disse que ela saiu ontem à noite e não voltou, e ninguém viu ela depois disso. ─── A voz da garota soou baixa e abafada, só sendo compreendida porque as outras três estavam em total silêncio e porque não havia movimento no trânsito.

As outras três garotas trocaram um olhar de preocupação, entendendo a lógica que se formou na cabeça de Abigail, mas Maya era a única que parecia capaz de perguntar qualquer coisa. ─── Ela não pode ter dormido em algum lugar?

A resposta de Abigail veio como uma negação da cabeça. ─── O-Os pais dela estão n-na delegacia agora. Eles disseram que- ─── A voz da garota cortou novamente, seguida de mais um soluço. Ela se manteve em silêncio por mais alguns segundos, tentando conseguir força para firmar sua voz. ─── Acham que se não acharem ela em 48h, não vão conseguir achar ela. Igual os outros.

Mas assim que terminou de falar, o corpo de Abigail começou a tremer com o choro incessante que se iniciou. Daisy se colocou de joelhos e passou os braços por Abigail novamente, a única forma de conforto que ela conseguia encontrar, mas dessa vez a garota retribuiu o abraço.

Elizabeth ainda estava surpresa com a intensidade dos sentimentos de Abigail em relação à Maya, mas as outras duas garotas estavam acostumadas. Elas se conheciam desde muito novas, mas Maya e Abigail foram as primeiras. A inglesa já havia ouvido sobre as duas se conhecerem desde o berço, suas mães sendo melhores amigas na época do colegial, mas aquilo era diferente.

Em sinal de conforto, Elizabeth colocou a mão no ombro de Abigail, se sentindo um pouco deslocada sobre como ajudar e sobre seus próprios sentimentos.

Poucos segundos depois, a loira ouviu mais uma fungada, mas dessa vez vinha de Daisy, que havia começado a chorar no abraço que dividia com Abigail, e um segundo depois, ao olhar para Sofia, Elizabeth viu lágrimas silenciosas escorrendo pelo rosto da garota. E então a realidade começou a bater em Elizabeth.

Mas Elizabeth se recusou a chorar, tudo que ela fez foi dar um último aperto carinhoso no ombro de cada uma das garotas e sair dali, caminhando decidida até a maldita casa em que morava.

Ela não diminuiu seus passos a nenhum instante, só parou de se mover quando passou pela porta da sua casa. Como sempre, todas as luzes estavam ligadas, iluminando cada canto da enorme residência. Mas não importava o quão claro aquilo estava, Elizabeth sabia que haviam coisas escondidas.

Ela sabia que havia a Coisa escondida.

E então a garota começou a andar pela casa e a gritar. ─── O que você fez com a Maya?! Pra onde você levou ela?! ─── Ela passou pelos cômodos, abrindo todas as portas e gritando o mais alto que podia. Os sons feitos por Elizabeth eram as únicas coisas que se ouvia pela casa, mas ela sabia que não estava sozinha. Ela sentia a Coisa ali. ─── Por que você só se esconde?! Eu sei que você está aqui! EU SEI!

Depois de andar por toda a casa, repetindo e gritando as mesmas coisas sem parar, Elizabeth saiu pela porta dos fundos da casa e seguiu para os fundos. Era uma área coberta de grama com alguns objetos de lazer que Elizabeth nunca usou por nunca achar que tinha amigos para chamar, por nunca querer chamar alguém para um lugar tão sombrio quanto aquela casa.

─── CADÊ VOCÊ?! ─── Ela gritou, sua voz já claramente rouca de tanto gritar, mas ela não queria parar. Ela queria suas respostas, mas ela não recebia nenhuma. A inglesa ainda não conseguia acreditar que, depois de tudo de ruim que a Coisa havia feito, ela ainda havia pegado Maya.

A voz no fundo da mente da loira também gritava, mas gritava com Elizabeth. Ela sabia que aquilo havia sido de propósito, sabia que a Coisa entendia o significado de Maya para Elizabeth antes mesmo que a própria inglesa percebesse o quanto ela realmente significava para si.

E então, parada no meio do quintal de sua casa, os joelhos de Elizabeth cederam e ela caiu em uma crise de choro.

Aquilo se tratava de Maya, a primeira pessoa que se preocupou em falar com Elizabeth como um verdadeiro ser humano, não como um objeto de fofoca que chegou em Derry para dar a todos algo novo sobre o que falar. Maya, a garota que jogava bilhetes para todas as quatro garotas no início de todas as aulas para dizer o quão incrível ela achava que elas eram. A mesma pessoa que encontrou Elizabeth chorando e, além de não dizer nada a ninguém, foi a primeira pessoa a lhe dar um abraço depois de tantos anos.

Maya, a mesma pessoa que levava luz para a vida escura de Elizabeth, estava desaparecida.

E era tudo sua culpa.

E depois de tanto tempo sem ouvir nada desde o momento em que pisou em sua casa, ela ouviu. Bem no fundo, quase impercebível, mas alta o suficiente para que pudesse ser ouvida. Alta o suficiente para que Elizabeth pudesse ouvir.

A Coisa riu.

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