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A MORTE É ROSA · primeira temporada
capítulo vinte : a fuga é rosa
CHOI HANA SENTIU SEU CORAÇÃO disparar ao ver diversos homens armados entrando na sala de música. ─── No chão! Todos no chão! ─── Um deles gritou quando Cheongsan começou a se aproximar.
Suhyeok, que havia se aproximado de Hana depois da porta ter sido derrubada, puxou-a rapidamente para trás antes que qualquer um se aproximasse demais. Hana sentia seu corpo mole ao deixar Suhyeok ajudá-la a se deitar no chão, deitando ao lado dela e segurando sua mão com firmeza. ─── Vai ficar tudo bem. ─── Suhyeok sussurrou, a voz baixa, mas firme.
Hana não conseguia desviar o olhar dos soldados armados. O chão estava gelado contra suas pernas, expostas pela saia que usava, e os ossos de seus joelhos pressionavam diretamente contra o piso rígido, enviando pontadas desconfortáveis a cada segundo que passava nessa posição.
─── Ei. ─── Ouviu Suhyeok falar com a voz mais firme ainda, e teve que olhá-lo. ─── Vai ficar tudo bem, Hana.
Hana mal conseguia respirar, sentindo seu peito apertado de tensão e o coração batendo muito rápido, mas acenou. O sentimento ficou ainda pior quando chegou sua vez de ter a temperatura examinada, e Hana fechou os olhos com força, desconfortável por ter uma arma tão perto de si. Mesmo que não estivessem com elas apontando para os estudantes, os soldados ainda tinham as armas a alcance.
Era o suficiente para Hana ficar apreensiva.
Sentiu Suhyeok apertar sua mão com mais força, um conforto bem recebido. ─── Sala de música do Hyosan High. Treze sobreviventes confirmados. Verificando temperatura. ─── O soldado falava pausadamente, como se estivesse em comunicação direta com outra equipe, talvez uma central de comando. Era o mais lógico.
Um por um, eles tiveram as temperaturas examinadas. O bipe do equipamento era o único som além dos transformados arranhando as paredes no corredor. Provavelmente os que subiram atraídos pelos barulhos dos tiros, já que os soldados aparentavam ter cuidado de todos os que estavam lá fora antes.
─── Não liberado. ─── disse o mesmo soldado, agora atrás de Hana. Ela virou o rosto o suficiente para ver a ponta de uma manta térmica sendo estendida sobre Namra. Imaginou se a temperatura "errada" tinha algo a ver com a mordida que Namra sofreu. Um arrepio percorreu sua espinha, mas relaxou ao ver o soldado se afastar de Namra, não notando nada de errado.
Ela estava bem.
Eles ficariam bem.
─── Uma está com hipotermia. O resto está normal. ─── O soldado disse, andando até a frente da sala. Hana o seguiu com o olhar. ─── Vamos resgatá-los após terminar a missão. Câmbio.
Outro soldado, que aparentava ser mais jovem, olhou ao redor com a testa franzida. ─── O que é essa música? ─── Perguntou.
Hana ficou surpresa por ter ignorado a música que ainda tocava. A essa altura, a melodia virou um som de fundo que sua mente deixava de registrar, até alguém mencioná-la novamente. De repente, o som ficou mais claro de novo. ─── Vem da sala de transmissão. Fica no andar de baixo. ─── Suhyeok respondeu ao lado de Hana, e o soldado acenou.
Uma sensação estranha tomou conta de Hana quando esse soldado se aproximou do outro. ─── É onde fica o laboratório de ciências. ─── O sussurro foi baixo, mas estavam bem ao lado de Hana. Seu estômago embrulhou ao perceber que eles estavam procurando o laboratório do professor. Será que isso significava que não estavam ali para salvá-los?
─── Podem se levantar. ─── O soldado mais velho disse, e aparentava ser o comandante daquele equipe em específico. Hana obedeceu assim como o restante de seus colegas, sentindo seus joelhos doerem ao levantar, e resmungou baixo. Viu Suhyeok olhar com preocupação, mas Hana apenas acenou com a mão. ─── São os únicos sobreviventes?
─── Não sabemos. ─── Cheongsan respondeu, olhando diretamente nos olhos do soldado. Seu amigo parecia menos intimidado pelos soldados do que o restante do grupo. ─── Tenho certeza de que tem mais.
─── Vamos descer por alguns minutos. Esperem aqui. Não façam nada. Não saiam daqui. Entenderam? ─── o líder da equipe reforçou, e Hana se sentiu desconfortável pela maneira como ele fixou o olhar em cada um em busca de uma confirmação. Cruzou os braços, acenando brevemente.
E então eles saíram pela porta.
E não voltaram.
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─── Eles não vão voltar... vão? ───Hana perguntou, a voz baixa, quase um sussurro. Não falava com ninguém em específico, apenas dava voz ao pensamento que crescia a cada segundo.
Não sabia quanto tempo fazia desde que os soldados saíram pela porta, ou desde que ouviram os últimos tiros. A música da sala de transmissão também havia parado, então sabia que eles chegaram até lá. Desde então, nenhuma dica da posição dos militares. Tirando o sussurro que Hana ouviu.
─── Acho que estavam aqui para buscar alguma coisa do professor. ─── Hana não sabia se falava em voz alta, ou se estava apenas pensando. Estava cansada demais para entender.
─── O quê? ─── Jimin perguntou, a voz tremendo.
Parece que tinha falado em voz alta, então.
─── Ouvi eles sussurrando alguma coisa sobre o laboratório de ciências. ─── Hana explicou, cruzando os braços e se encolhendo um pouco, como se a própria voz a incomodasse. Naquele momento, incomodava. Não pelo som, mas pela informação que estava passando aos seus colegas. Era a última coisa que queria fazer, mas já havia começado.
─── Então... não vieram nos salvar? ─── Dessa vez foi Hyoryung quem falou, mas Hana ouviu os outros sussurrando para si mesmos. Yihan, diferente do restante, resmungou um palavrão tão alto que Hana ficou com medo de algum transformado ter ouvido.
─── Não sei por que estão surpresos. ─── Yihan resmungou, chutando a perna de uma mesa. Ninguém reclamou quando o barulho foi alto. Ninguém prestou muita atenção.
Acabaram de entender que foram abandonados. Ninguém os salvaria.
─── Temos que fazer alguma coisa. Não podemos ficar aqui pra sempre. ─── Cheongsan olhou para os outros, inquieto. A perna de seu amigo balançava freneticamente, mostrando a ansiedade que também conseguia ser percebida em sua voz. Desde que isso tudo começou, Cheongsan era um dos que mais demonstrou odiar estar parado.
─── E o plano de vocês? ─── Yihan perguntou, virando para olhar Hana. ─── Dos túneis?
─── Dá pra tentar. Temos as chaves, pelo menos. ─── Gyeongsu respondeu, e Hana concordou com um aceno.
Estava encostada na parede com um dos ombros apoiado contra o concreto frio e os braços cruzados diante do peito. Suhyeok estava sentado em uma mesa a poucos centímetros de distância, perto o bastante para que ela sentisse a presença dele mesmo sem tocá-lo. Hana conseguia ouvir a batida ritmada dos dedos de Suhyeok contra a madeira.
─── Vamos precisar ir até o estacionamento. A entrada é pela sala de manutenção. ─── Hana explicou, com a voz suave pelo cansaço. Queria dormir, mas queria dormir sentindo-se segura. E isso parecia ser impossível.
─── Tá escuro o suficiente pra tentar, não? ─── Yihan levantou e foi até uma janela próxima, abrindo o suficiente para olhar lá fora. A janela soltou um leve rangido ao ser arrastada, mas não se preocupavam com barulho agora. Os soldados atiraram no restante de transformados no corredor, assim como Hana imaginava que fariam.
─── Podemos tentar. ─── Suhyeok respondeu com firmeza, parando o ritmo dos dedos.
─── Não quero descer. ─── Hyoryung se encolheu na cadeira em que estava sentada, abraçando os joelhos. ─── E se os zumbis nos pegarem?
Por um segundo, Hana sentiu o mesmo medo. Claro que já se sentia assim, mas era diferente ouvir de alguém que estava claramente apavorada, como Hyoryung estava. Virou para olhar Suhyeok, encontrando-o olhando para Hyoryung, mas parecendo perceber o olhar de Hana e virando na direção dela.
Como se soubesse, Suhyeok acenou com a cabeça. "Vai ficar tudo bem", o sussurro de mais cedo ecoou na cabeça de Hana.
─── Vamos tomar cuidado. Se ficarmos juntos, vai dar certo. ─── Suhyeok voltou a olhar para Hyoryung, a voz firme, mas calma.
Hana sentiu mais uma onda de alívio passando por seu corpo. Mesmo que o medo ainda estivesse ali, ela se sentia um pouco mais forte. Talvez por estar perto de Suhyeok, talvez por não estar sozinha. O importante era que estava mais confiante de que aquilo daria certo, e que eles ficariam bem.
─── E o que temos que fazer? ─── Jimin perguntou, mas sua voz tremeu. Hana não conseguiria julgar, mesmo se quisesse. Se ela que sabia o plano estava um pouco ansiosa, imagina aqueles que sequer tiveram contato com ele ainda.
─── Vamos sair do prédio e ir até a sala de manutenção. ─── Suhyeok respondeu, sua postura de liderança aparecendo mais uma vez quando os outros permaneceram quietos.
Hana estava muito ocupada batendo as unhas contra seu quadril. A onda de alívio foi embora, de novo, agora que estava entendendo que realmente fariam isso. Não tinha ficado muito tempo exposta aos transformados ainda, e esse plano era baseado nisso. ─── Temos a chave. ─── Gyeongsu completou. ─── E depois vamos para os túneis.
─── Mas onde nós vamos? ─── Wujin soou confuso. Ele estava apoiado em uma mesa, com as mãos ao lado do corpo, e se inclinou para frente ao perguntar.
─── Até o centro de logística.
A voz de Hyunsik surpreendeu Hana, que parou com o movimento dos dedos e levantou o olhar para o amigo. Claro, ela percebeu a maneira como Hyunsik parecia estar superando parte de seu desconforto com pessoas novas, conversando com Gyeongsu, às vezes até mesmo com Suhyeok. Falar na frente de todos era uma novidade.
Hana estava orgulhosa.
Os sentimentos maternos que seu clube de artes provocava em Hana despertaram de novo. Adorava ser a presidente do clube, e adorava todos os seus "filhos". Ainda se lembrava do dia em que Miyeon começou a chamá-la de mãe como uma brincadeira, criando uma tradição que se manteve. As risadas de Chaeyoung e Minho naquela memória feliz preencheram a mente de Hana.
Estavam todos sentados no chão da sala do clube, cobertos de glitter e restos de papel colorido depois de uma tarde tentando fazer cartazes para a feira cultural. Era uma tarde diferente das outras no clube, quando ficavam em seus próprios mundos, ou em mundos compartilhando, deixando a arte dentro deles fluir para uma tela. Ainda assim, era um momento tão divertido quanto os outros.
Miyeon, que conseguiu estar com cola até no cabelo, apontou para Hana e disse, com uma voz cheia de deboche: ─── Mãe, o Minho comeu tinta de novo. ─── Claro, quando Hana olhou para Minho e viu sua boca azul, da mesma cor da tinta que ele usava, ficou desesperada. Quando Hana começou a se levantar, viu o saco de balinhas azuis ao lado de Minho.
Seu amigo, por sua vez, abriu um sorriso brincalhão. ─── Você devia me dar mais atenção, mãe. ─── E então Chaeyoung soltou uma gargalhada tão alta que derrubou os cartazes que já tinham pendurado nos cavaletes, que usavam como apoio. Desde aquele dia, o título de "mãe" nunca mais a deixou. Era uma piada interna, mas para Hana, aquilo significava mais. Eles eram sua família.
Parada na sala de música, sem saber onde eles estavam e se estavam bem, Hana sentiu seu coração apertar. Devia ter insistido que fossem com ela, assim conseguiria cuidar deles. Se tivesse pensado direito, sido a líder que deveria ser, não estaria nessa dúvida. Eles estariam ali com ela, Namra e Hyunsik.
─── Eles estão bem.
Hana se assustou com o sussurro ao seu lado. Teve que piscar algumas vezes para voltar à vida real, e encontrou Namra parada ao seu lado. O ombro de sua amiga tocava no seu, e Hana sequer percebeu quando isso aconteceu. ─── Hm? ─── Hana perguntou, sentindo-se lenta.
─── Os outros. Estão bem. Tenho certeza. ─── Hana não sabia se entendeu certo, mas era difícil não ler o olhar de Namra.
Foi o suficiente para Hana querer chorar mais uma vez. Pouco tempo atrás, Namra era solitária e sequer trocava muitas palavras com Hana. Depois de tanto progresso com o clube e de ver Namra se abrindo um pouco mais durante as atividades, ainda se surpreendia quando via a empatia em Namra.
Sabia que ela era boa, claro. Ainda assim era incrível ver uma pessoa tão quieta perceber algo que sequer Hana entendia muito bem no momento e ir até ela para reconfortá-la.
─── Eles estão. ─── Hana repetiu em um sussurro suave, sorrindo para Namra.
Sua amiga acenou mais uma vez, a expressão serena como em todos os momentos, e virou para olhar Suhyeok. Prestando atenção, Hana percebeu que ele explicava o plano. Ela havia ficado mais tempo avoada do que imaginava, porque Suhyeok já falava sobre o que fariam ao sair do centro de logística.
─── ...floresta. Não é difícil chegar até a cidade. Se conseguirmos dar a volta, em vez de passar pelo meio, não devemos enfrentar muitos zumbis.
Hana estremeceu com a última palavra, abraçando o próprio corpo.
─── E se encontrarmos transformados mesmo assim? ─── Hyoryung perguntou, soando hesitante. Hana levantou o olhar, encontrando a colega com os braços cruzados, apertando seu casaco contra o corpo.
─── A gente corre. ─── Cheongsan respondeu com simplicidade. Seu amigo soava decidido, e ao buscá-lo com o olhar, Hana encontrou Cheongsan parado ao lado de Suhyeok. Sua postura estava tão reta que Hana estranhou. ─── Correr ainda é melhor do que morrer aqui dentro esperando que alguém volte.
Um silêncio desconfortável preencheu a sala, até que Yihan respirou fundo e falou: ─── Então vamos tentar. Não tem outro jeito.
─── Vamos. ─── Suhyeok concordou, soando firme. ─── É isso ou esperar sem saber se alguém vai mesmo nos tirar daqui.
─── É melhor tentar. ─── Hana murmurou para si mesma.
Pelo canto do olhar, Hana viu Nayeon se mexer. Ainda estava no mesmo canto recluso de mais cedo, mas se levantou. ─── Vocês têm certeza disso? Porque parece mais suicídio do que plano.
Hana segurou a respiração, tentando não deixar sentimentos ruins virem à tona. Deviam isso à professora, depois que ela se transformou tentando salvar Nayeon, mas ela não estava ajudando. Era difícil ser educada, ou pelo menos não ser tão Nayeon quando estavam tentando salvar a todos, incluindo ela?
Yihan deu uma risada sarcástica, cruzando os braços. ─── Ficar aqui esperando não parece muito melhor. Mas fique à vontade pra ficar aqui enquanto a gente se salva. ─── A resposta ácida de Yihan fez Nayeon revirar os olhos, mas ela voltou a ficar quieta em seu canto, sem atrapalhá-los enquanto começavam a se arrumar para sair.
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Deixar a sala de música foi quase desesperador. Era relativamente seguro, com as entradas protegidas por barricadas feitas com mesas e cadeiras, além dos suprimentos que tinham na sala. Era impossível carregar toda aquela comida, então o grupo se limitou a encher duas cases de violão. Daesu e Joonyoung ficaram encarregados de carregá-las nas costas, e estavam no fundo do grupo.
Por Yihan ser uma das poucas lutadoras do grupo, principalmente por ser uma boa, estava andando atrás, junto de Wujin. Podia parecer contraprodutivo, considerando que protegeria melhor o grupo se estivesse na frente, mas ela protegeria apenas os dois. Se alguma coisa acontecesse e eles precisassem correr, Yihan e Wujin usariam a janela que Daesu antes carregava para criar um escudo e atrasar os transformados.
Se fosse muito perigoso ─ muito, já que seria perigoso de qualquer maneira ─, abandonariam as cases com comida e os quatro correriam junto do restante do grupo.
Era bom ter comida, mas não perderiam ninguém.
Hana odiou o plano de primeira. Sim, odiou. Uma palavra forte. Estava preocupada por Yihan, mas ficou menos tensa ao ouvir essa parte do plano. Além do mais, foi Yihan quem sugeriu que ficasse atrás. Hana queria ficar próxima, mas decidiram que ela deveria ficar mais na frente para não se arriscar tanto, já que sequer poderia ser considerada uma lutadora, e era uma corredora relativamente boa.
Foi uma decisão unânime entre Yihan, Suhyeok, Gyeongsu, Cheongsan, Hyunsik e Namra ─ até Namra decidiu se pronunciar nesse assunto. Namra era outra dos que ficariam na frente. Seria um desperdício não usar a audição melhorada de Namra, por mais que Hana se sentisse mal por usarem ela como um objeto.
Hana segurava a mão de Suhyeok com força quando saíram da sala, sentindo seu coração bater rápido demais pela tensão. Na mão esquerda, segurava um pedaço de madeira que usava como arma. Gyeongsu ia logo atrás, segurando as chaves na mão fechada para não fazer barulho algum. ─── Podem descer. ─── Namra murmurou do outro lado de Hana, quando pararam para ela ouvir qualquer passo.
Pouco depois de decidirem sair, ouviram o helicóptero dar voo no terraço. Foi a confirmação de que foram abandonados, mas não se prenderam a isso. Usariam o barulho para se moverem pela escola, já que os transformados estariam distraídos. Só saíram da sala quando o barulho se tornou menos insuportável para Namra, já que seriam guiados por ela.
Como o esperado, os transformados se acumularam nos andares de cima, na direita do prédio. Por isso, seguiram pelas escadas que ficavam na esquerda do corredor.
A cada passo que dava, Hana sentia seu coração batendo mais rápido. O grupo descia as escadas com uma facilidade que seria surpreendente se os corredores não estivessem cheios de cadáveres dos transformados. Poças de sangue manchavam os tênis de todos eles, e Hana sabia que vomitaria se o medo não fosse maior. Seu corpo sabia que não deveria fazer qualquer barulho, por mais que estivessem aparentemente seguros.
Até ali, tudo corria conforme o plano.
Pisar no primeiro andar foi estranho. Hana sentia que algo estava errado, fácil demais, mas conseguiram passar mesmo assim. Não terem transformados no caminho era um alívio de tantas maneiras, inclusive por significar que conseguia segurar a mão de Suhyeok sem preocupação. Era a única coisa que estava impedindo Hana de entrar em pânico.
Desde o segundo andar, os corredores estavam diferentes. Não tinha tantos corpos de transformados, muito menos fuzilados pelas balas das armas dos militares, e era menos macabro. Não tinha tanto sangue, o que ajudou o estômago de Hana. Ao alcançarem a entrada, ou saída, da escola, o grupo se manteve encostado à parede.
Dava para ver os carros abandonados, os transformados que já não se interessavam pelo barulho do helicóptero que se afastava, e os corpos que Hana tentava ignorar.
Hana seguiu as ações de Suhyeok, se agachando ao passarem pela grande porta, pisando fora da escola. Uma chuva caía, passando a encharcar o cabelo e as roupas de todos. Hana ficou preocupada que isso fosse pesar ainda mais as cases cheias de comida, mas bastou um olhar para trás para ver que Daesu e Joonyoung estavam bem. Claro, não andaram ainda, mas já era um ponto bom em que ela tentaria focar para se manter calma.
─── Vamos seguir pelos lados. Não saiam de perto das paredes. ─── Suhyeok virou-se parcialmente, apenas movendo os lábios para que os outros entendessem sem chamar atenção. A mão dele apertava a de Hana com firmeza, e, ao terminar de falar, olhou direto nos olhos dela. Foram apenas alguns segundos, mas o suficiente para Hana se acalmar. Ela se perguntava se causava o mesmo efeito nele.
Esperava que sim. Não aguentaria vê-lo ceder ao medo.
O grupo seguiu, dando a volta colados à lateral do prédio, pisando com cuidado nas pequenas poças formadas pela chuva. O som era baixo, abafado pela chuva, e parecia seguro por enquanto.
Hana sentiu o peito apertar ao perceber um movimento atrás de si, vendo Gyeongsu escorregar na água. Viu Cheongsan, que estava próximo, se movendo para agarrar o amigo. Para a surpresa de todos, foi Nayeon quem agarrou o cotovelo de Gyeongsu para estabilizá-lo e impedir que ele caísse e, consequentemente, chamasse a atenção dos transformados.
─── Vai logo ─── Nayeon resmungou, soltando-o bruscamente. ─── Não dá pra você tropeçar até a saída.
Todos voltaram a respirar novamente, e Hana imaginava que estavam tão chocados quanto ela. Por mais que Nayeon ainda falasse como sempre, não deixando as falas rudes de lado, Hana conseguiu ver um instinto diferente vindo dela. Era como se Nayeon estivesse começando a entender o que um grupo é.
Quando encontraram um caminhão abandonado, voltaram a se agachar, seguindo pela lateral do veículo. Hana se levantou o suficiente para observar por cima da frente do veículo. Bem ao fundo, um pouco apagada pelas gotas da chuva, conseguia enxergar a lateral do ginásio.
Significava que a sala de manutenção estava mais perto.
─── Vou derrubar aquele zumbi. ─── Suhyeok virou-se novamente, apontando discretamente para uma transformada que bloqueava o caminho. Hana hesitou ao soltar a mão dele, os dedos afastando lentamente, como se não quisessem se afastar ─ e não queriam. Suhyeok pareceu perceber, e antes que os toques se desfizessem por completo, deu um último aperto.
Hana mordeu o lábio, sentindo seu peito apertar. Observava cada passo dele com atenção, pronta para correr ao menor sinal de perigo. Não era a mais forte, mas se ele precisasse, ela estaria lá. No menor sinal, estaria pronta para correr até ele.
Ou era isso que pensava, até ver a madeira que Suhyeok segurava acertar a lateral da cabeça da transformada.
O movimento fez com que a transformada virasse. Assim que viu o rosto dela, o coração de Hana parou. O rosto pálido, os olhos vazios, os fios de cabelo colados na pele pela chuva fina. O sangue seco no canto dos lábios. Mas mesmo com todos os traços da infecção estampados ali, Hana a reconheceu na hora.
Era a mãe de Cheongsan.
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