A MORTE É ROSA · primeira temporada
capítulo dezessete : a sala de música é rosa

CHOI HANA SENTIU SEU CORAÇÃO disparar quando a porta deslizou para o lado.

Seus passos foram automáticos ao entrar na sala atrás de Daesu e Suhyeok, sua mão segurando fortemente o pedaço de madeira entre seus dedos. Pela primeira vez em algumas horas, sua mente pareceu voltar à sua essência normal, e logo Hana aliviou o aperto. Sua pele deixaria de ficar macia se segurasse essa madeira áspera com tanta força. ─── Cara! ─── Hana ouviu um estalo seguido de um resmungo, e levantou o olhar a tempo de ver Gyeongsu abraçando Cheongsan com força.

Hana sorriu, mesmo sentindo seu corpo querendo morrer para não precisar ficar em pé, e conseguiu sentir seus olhos brilharem. Na verdade, até mesmo ao redor de seus amigos pareceu começar a surgir um pó brilhante bem parecido com o pó das fadas no filme da Tinker Bell. Hana era movida pelas pessoas, e sabia disso. Talvez agora que estavam juntos de novo ela conseguiria esquecer o professor de ciências, a briga com Gwinam e que precisaram jogá-lo pela janela para conseguir saírem de lá, e que provavelmente haviam matado uma pessoa.

Com certeza poderia esquecer o peso no ar de quando Cheongsan não estava com eles, o peso que havia feito Hana não conseguir respirar, às vezes.

─── Não faz isso de novo. ─── Gyeongsu repetia, quando Hana se aproximou, e finalmente se desgrudou do pescoço de seu melhor amigo. O rosto de Cheongsan estava vermelho com a força que foi agarrado pelo amigo, mas ele não parecia exatamente se importar.

Hana precisa engolir em seco para não chorar ali mesmo, feliz pela visão de seus amigos juntos. Piscou os olhos algumas vezes, sua boca formando um bico infantil. Assim que Gyeongsu pisou para o lado, Hana levantou a mão e deu um tapa estalado no braço de Cheongsan. Seu amigo olhou Hana com os olhos arregalados. ─── Meu rímel é caro demais pra eu chorar, mas fique sabendo que eu tô sentindo várias coisas. ─── Resmungou com a voz chorosa, apontando um dedo para o rosto dele.

Atrás de si, ela conseguiu ouvir algumas risadas, e um engasgo. ─── Você ainda tá com maquiagem? ─── Ouviu Daesu perguntar, e virou a tempo de encontrar o rosto confuso de seu colega. Hana acenou em concordância. ─── Mas não tá manchada. ─── Ele pareceu mais confuso ainda.

Realmente, com o tempo que estavam ali, deveria estar manchada, principalmente seu delineado e o destaque que fazia em suas pintas. ─── Eu sou boa nesse nível mesmo. ─── Hana respondeu, sentindo-se mais leve com o tópico bobo. Foi só encontrarem Cheongsan que tudo ficou menos pior, menos pesado.

─── Cadê a Onjo? ─── Cheongsan perguntou, quando Daesu entrou no lugar de Hana para abraçar seu amigo anteriormente desaparecido. Como em um roteiro perfeito, foi nessa hora que Onjo entrou pela porta, que foi fechada por Hyunsik. ─── Onjo! ─── Cheongsan não hesitou antes de empurrar Daesu para o lado, jogando-o no chão, e ir até a garota. ─── Está machucada? Está bem? ─── Perguntou, agarrando os ombros dela.

Hana desviou o olhar, percebendo a sala desarrumada e suja, e seguiu até uma mesa em pé logo abaixo de uma das janelas fechadas que mostravam o corredor. Deixou a madeira lá, com cuidado para que ela não caísse no chão e fizesse algum barulho alto, e levantou sua blusa para tirar os mapas que ainda estavam lá. Não é uma surpresa estarem tão amassados assim, pensou fazendo um bico.

─── Pelo menos ainda dá pra ler... ─── Hana sussurrou para si mesma, antes de passar as mãos no cabelo e se virar.

Alguma coisa havia acontecido, porque Cheongsan estava ajoelhado sob uma mesa, com cara de dor. ─── Mandei você não sair de lá. Por que nunca me ouve? ─── Onjo falou atrás dele, parecendo magoada. Hana entendia, e tinha visto o quão preocupada e quieta ela ficou no tempo em que Cheongsan estava longe. Principalmente quando sequer sabiam onde ele estava.

Ignorando o que acontecia, Suhyeok passou ao lado do colega ajoelhado e deu um tapa fraco no ombro dele, como se cumprimentasse Cheongsan. Hana seguiu Suhyeok com o olhar, vendo ele se escorar na parede ao lado dela com um suspiro. ─── Tá tudo bem? ─── Hana perguntou, com a voz baixa, para não chamar atenção dos outros.

Suhyeok olhou para baixo, e seus olhos encontraram os de Hana. Estavam cansados, mas ele parecia feliz, e o sorriso que ele deu deixou isso bem claro. Era pequeno, mas tão genuíno que Hana não tinha dúvidas. ─── Tá. Agora tá. ─── Ele falou, ainda sorrindo, com o mesmo tom de Hana. Alguma coisa começou a espreitar nos olhos dele, menos rosa e mais cinza. Alguma coisa que Hana não gostava. ─── Você tá bem? Como estão suas costas? ─── Suhyeok perguntou depois de alguns segundos.

Hana desviou o olhar, voltando a mexer nos papéis. Estava ignorando a pancada que recebeu durante a briga com Gwinam. Ainda estava incerta do que era real, o que era psicológico e o que estava sendo camuflado pelo psicológico. Quando andaram até a sala, sentiu algumas pontadas, mas não sabia se era uma dor real. ─── Eu tô bem. ─── Hana respondeu, a voz soando doce pela vontade de fazê-lo acreditar.

─── Tem certeza? ─── Suhyeok perguntou, e mesmo não olhando para ele, Hana conseguiu ver quando ele se abaixou um pouco mais para combinar com a altura dela. ─── Talvez você devesse sentar. ─── Ele murmurou, parecendo preocupado, e Hana sentiu a mão dele parar nas suas costas. Era um toque leve e cuidadoso. Não era como se ele estivesse com receio de tocar nela, mas sim de machucar.

A mão dele era quente, era real, e era tão cuidadosa que Hana quis chorar. Não teria como Suhyeok machucá-la. Ela olhou para cima, vendo os olhos dele correndo pelos seus braços, como se buscasse algum machucado. ─── Tá tudo bem. ─── Hana repetiu mais uma vez, e dessa vez olhou nos olhos dele. ─── Estou feliz agora que a gente encontrou Cheongsan. É isso que importa.

─── É. Acho que sim. ─── Suhyeok acabou concordando, ainda mantendo a mão nas costas de Hana. Era bem difícil para Hana não perceber. ─── Você não falou muito com ele.

─── Queria que Gyeongsu e Onjo tivessem um momento com ele primeiro. ─── Hana falou, olhando pelo ombro e encontrando Cheongsan com a mão atrás da panturrilha, ainda com uma expressão de dor. ─── Ou não. ─── Murmurou, vendo que Daesu estava abraçando Cheongsan. A posição dos dois estava estranha, e parecia desconfortável, principalmente para Cheongsan. Ele estava quase contorcido tentando massagear sua perna, e Daesu não parecia querer soltar.

Suhyeok riu, e o som saiu mais rouco pela falta de água. Do mesmo jeito que não tinham muito o que comer, tinham menos água ainda. ─── Tô surpreso que ele não jogou o Cheongsan no chão ainda.

─── É só dar um tempo que ele faz isso já já. ─── Hana falou, voltando a olhar os mapas. Daesu estava agitado demais, e com certeza acabaria tropeçando e derrubando os dois, mas era fofo a maneira como ele estava preocupado. Quando estavam na sala, não parecia que estava tão preocupado assim.

─── O que é isso aí? ─── Suhyeok perguntou, afastando-se da parece para inclinar sobre a mesa.

─── Eu e Gyeongsu encontramos algumas plantas mais cedo, mas não tivemos tempo de mostrar. ─── Virou uma das plantas para que Suhyeok conseguisse enxergar melhor. ─── A gente estava pensando em- ─── Hana começou a explicar, sentindo-se feliz por finalmente ter a chance de contar sobre o plano que ela e Gyeongsu começaram a traçar na sala de administração. É claro que não conseguiu sequer começar, já que foi interrompida por um grito.

─── Faz silêncio! ─── Ouviu Joonyoung repreender alguém.

Ao virar-se, com o coração batendo de maneira rápida pelo susto, Hana encontrou Hyoryung com a mão na boca. Sua colega encarava Namra, com os olhos arregalados a mão tremendo apontando na direção de Namra. Hana franziu as sobrancelhas, confusa. ─── Ela- Ela foi mordida! ─── Sua colega exclamou, a voz tremendo.

─── O quê? Não foi, não! ─── Hana defendeu, largando a mesa e correndo para o lado de sua amiga. "Como assim?", ouviu alguém perguntar, no meio das exclamações que tomaram conta da sala. O coração de Hana acelerou ainda mais, sua mente disparando em mil direções, traçando possibilidades aterrorizantes para um futuro que ela sequer queria considerar.

─── Olha o braço dela! ─── Hyoryung insistiu, apontando outra vez. Hana olhou para o lado, vendo Namra segurando o próprio braço com força.

─── Ela se machucou durante a confusão mais cedo! Para com isso, Hyoryung. Ninguém sequer chegou perto da gente desde que saímos da sala de transmissão. ─── Yihan rebateu, parando na frente de Namra. Ao redor delas, os outros começaram a se afastar, quase inconscientemente formando um círculo. Hana sentiu o peito apertar ao ver a maneira como olhavam para Namra.

Como se ela fosse uma ameaça.

Cheongsan foi o primeiro a se mover de verdade. Ele se abaixou e pegou um equipamento do chão, girando-o nas mãos com uma determinação fria. Era claro o que ele pretendia fazer quando se virou para encarar Namra. Os olhos de Hana se arregalaram ainda mais. Sem hesitar, ela deu um passo para ficar ao lado de Yihan, bloqueando o caminho até Namra. ─── Para com isso! ─── Hana choramingou, seus olhos implorando para que seu amigo parasse com isso.

─── Hana, sai da frente. ─── Cheongsan falou, sua voz com um tom de ameaça que fez o coração de Hana quebrar. Ele sequer olhava para ela, focando apenas em Namra.

Uma figura parou na frente de Hana no mesmo instante. ─── Cheongsan, para! ─── A voz firme de Suhyeok cortou o ar tenso, e em um movimento protetor, ele estendeu o braço para manter Hana atrás de si. Sem desviar o olhar de Cheongsan, sua mão encontrou o pulso dela, segurando-a com firmeza. ─── Deixa Namra falar primeiro. Yihan está certa. Nenhum zumbi chegou perto dela hoje. Se tivesse sido mordida antes, já teria se transformado.

─── Eu vi! Foi Gwinam. ─── Hana defendeu mais uma vez. ─── Ela- Ela tentou me defender quando ele me jogou pra longe. Foi nessa hora que ele mordeu Namra!

As palavras saíram rápidas demais, quase atropeladas. Sequer lembrava se era realmente isso que aconteceu, mas sentia em cada fibra do seu ser que essa era a verdade. Namra ficou na sala de transmissão o tempo todo. A adrenalina corria nas suas veias. Sabia que não foi um zumbi, porque Namra foi quem ficou na sala de transmissão o tempo inteiro. Além disso, Hana lembrava de ver Namra segurando o braço apenas depois da luta com ele. Tinha sido isso, tinha que ser.

─── O- O quê? ─── Isso pareceu desestabilizar Cheongsan, que ficou confuso. ─── Quem- Quem fez isso?

─── Gwinam. O valentão. Ele invadiu a sala enquanto estávamos nos preparando pra subir. ─── Suhyeok explicou. 

─── Namra, isso é verdade? ─── Cheongsan finalmente tentou olhar para ela.

O silêncio caiu sobre a sala, como uma atmosfera sufocante. Do lado de fora, a música dos alto-falantes continuava tocando na esquerda do prédio, uma melodia que parecia zombar da confusão que reinava ali dentro. Tudo tinha acabado de ficar bem de novo, não poderia acabar tão rápido.

─── Sim. ─── Sua amiga falou, a voz baixa cortando o silêncio.

─── Gwinam foi mordido por zumbis. Eu vi acontecer. Se ele foi mordido, você vira um. É a regra. Se ele mordeu...

─── Não! ─── Yihan gritou, para a surpresa de todos. Lá fora, os barulhos contra as janelas voltaram. Joonyoung e Wujin correram para fechar as cortinas, tentando bloquear a visão dos zumbis e acalmá-los novamente. ─── Ele- Todos nós vimos ele, Cheongsan. Ele definitivamente não era um zumbi.

─── É verdade. ─── Gyeongsu entrou na conversa, dando um passo hesitante ao lado de Yihan. ─── Ele falou com a gente. Estava procurando por você.

─── É verdade que ele foi mordido? ─── Namra perguntou. Hana sentiu uma mão em seu braço, puxando-a suavemente para o lado. Ainda atordoada, viu Namra passar entre ela e Yihan para encarar Cheongsan diretamente. ─── Então, eu vou me transformar. ─── Sua voz calma falou, olhando para o colega.

─── Não- ─── Hana começou a falar, seu corpo se movendo por instinto para segurar o braço da amiga.

─── Eu vou embora.

─── Para com isso, Namra. ─── Yihan repreendeu, dessa vez tentando manter a voz baixa. ─── Ele não era uma dessas coisas. Você também não vai ser. O professor, Minji... Todos eles se transformaram muito rápido. Se fosse para você se transformar, já devia estar acontecido.

─── A gente não sabe se... ─── Joonyoung começou, mas Yihan o silenciou com um olhar afiado.

─── Você fica no canto, e eu vou te vigiar. ─── Yihan decretou, a voz carregada de autoridade. ─── Se você começar a se transformar, a gente dá um jeito. Mas você não vai. ─── Ela cruzou os braços. ─── Então senta logo nessa cadeira, pra eu poder te xingar quando você perceber que está bem.

O silêncio reinou por um momento. Lá fora, os mortos continuavam rondando, suas presenças como uma ameaça silencioso.

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─── Você tinha que ver o chute que a Hana deu no Gwinam. ─── Gyeongsu gesticulava animado, contando para Chegonsan tudo que aconteceu enquanto ele não estava lá.

Yihan e Namra ainda estavam afastadas no canto da sala, sentadas em uma cadeira a uma distância segura da transformada que Cheongsan informou estar presa debaixo do piano. Hana queria conversar com suas amigas, mas sentia que não era o momento. Elas estavam reclusas, presas em sua própria bolha, e Hana não queria se intrometer. Sentia um pequeno aperto no peito por isso, mas estava feliz por elas terem uma à outra.

─── Eu faço 80kg no leg press, tá? ─── Hana informou os dois, um pequeno sorriso orgulhoso, erguendo o queixo enquanto se acomodava melhor na cadeira ao lado de Gyeongsu. Suhyeok estava sentado na mesa da cadeira onde Hana estava sentada, os pés apoiados no suporte de metal, e enquanto conversavam, Hana descansava o rosto na palma da mão, com o cotovelo apoiado na coxa dele.

Deveriam estar traçando um plano, e era esse o objetivo do grupo. Porém, depois da tensão que surgiu com a mordida revelada de Namra, Suhyeok informou a todos que deveriam descansar antes de tentarem elaborar qualquer coisa. Estavam agitados demais, com as mentes transtornadas e os nervos à flor da pele. Nada de bom sairia disso, então esperariam até o tempo que determinaram para a transformação de Namra: uma hora no relógio dela, que estava com Suhyeok.

─── Eu queria fazer academia. ─── Gyeongsu resmungou, balançando a cabeça levemente.

─── Na minha tem um extra que pode levar amigo todo sábado. Quer ir comigo? ─── Hana perguntou, distraída pelo toque leve dos dedos de Suhyeok mexendo nas pontas do seu cabelo. Ele estava relaxado, as mãos largadas sobre a mesa, e os fios dela caíam diretamente em sua mão esquerda, o que o levou a brincar com eles quase sem perceber.

─── Quero. ─── Ele respondeu rapidamente, e os dois trocaram um sorriso cúmplice.

─── Cara... ─── Cheongsan olhou para os dois, parecendo um pouco incrédulo com a conversa tão banal diante da situação em que estavam. Suhyeok, por outro lado, apenas riu baixo.

Hana deu de ombros. ─── Você devia agradecer minha inscrição, tá? Se eu não tivesse fazendo tanto exercício, já teria morrido. E você ia sentir minha falta. ─── Hana brincou, mesmo sabendo que era um humor ácido dessa vez. ─── Ai! ─── Resmungou, sentindo Suhyeok dar um puxão mais forte em um dos fios. Virou-se para ele, dando um olhar aborrecido.

─── Para com isso. ─── Ele repreendeu, em um murmuro.

─── É só uma piadinha.

─── Eu iria sentir sua falta! ─── Gyeongsu entrou na onda de Hana.

─── Tá vendo só? ─── Hana sorriu, tirando o cotovelo da mesa para se inclinar na direção de Gyeongsu e abraçá-lo de lado. ─── Eu também teria sentido sua falta. ─── Murmurou, um pouco mais honesta do que queria. Não conseguiu evitar se lembrar do que Nayeon tentou mais cedo.

O riso na sala morreu de repente quando Cheongsan arregalou os olhos do nada e levantou com um salto, o corpo tenso como se tivesse levado um choque. No mesmo instante, um barulho brusco tomou conta do ambiente, seguido por um som abafado de esforço. Hana girou a cabeça na direção do canto da sala, o coração disparando.

Namra estava segurando Yihan com força, os dedos cravados nos braços dela, os olhos brilhando de forma estranha sob a pouca luz. Sua boca estava entreaberta, e o modo como inclinava o rosto, como se estivesse farejando a amiga, fez um calafrio correr pela espinha de Hana. Seus olhos não podiam acreditar no que estava vendo.

Seu sangue gelou ao perceber que Namra estava prestes a morder Yihan.

╰ ⴰ♡̸㇀ ── passando aqui pra avisar que a partir de amanã (01/02), vai sair capítulo da minha outra fanfic de aouad (republicada) todos os sábados<3

╰ ⴰ♡̸㇀ ── obs: a primeira temporada de death is pink tá chegando na reta final🥹