capítulo um
01┊a inveja nauseante
Os corredores da Fortaleza De Maegor agitavam-se como nunca antes. Os preparativos para a viagem da princesa foram deixados para última hora; o Rei temia deixar tantas pessoas nos corredores em que sua esposa e seus filhos eram isolados, mas mudou de ideia em último instante, lotando a porta dos aposentos da rainha de guardas, enquanto lá dentro estavam trancafiados mais três guardas, as damas de companhia, a rainha, a princesa e o pequeno príncipe, Viserys.
Em uma completa oposição a movimentação frenética dos corredores, os aposentos de Rhaella habitava um silêncio que mal se ouvia a respiração daqueles ali presente. As atenções estavam todas na princesa e na rainha, que jogavam uma partida de xadrez. O pequeno Viserys, de cinco anos, acomodava-se no colo da irmã, concentrado em aprender o jogo de tabuleiro, enquanto a rainha estava no oposto da pequena mesa quadrada, as vezes sorrindo carinhosamente para o seu caçula, mas a maior parte do tempo concentrada, e as damas sentavam-se todas nos sofás, tanto às três da princesa, quanto às duas da rainha.
Além da, agora, fiel Emma Redwyne, haviam duas novas damas para a Princesa, que a acompanhariam em sua passagem ao Ninho de Águia. Temporárias, fora o que Rhaella disse. Para a Rainha, incluía Lady Emma Redwyne, mas houve uma grande discussão entre mãe e filha para manter a Lady. A decisão da princesa prevaleceu, quando ela ameaçou pedir ao próprio pai para manter sua lady, e a rainha cedeu ao pedido da filha. Não havia, de forma alguma, um desgosto pela Lady por parte da rainha, havia medo do que uma senhora, solteira, ficar tanto tempo no castelo poderia significar para o Rei. Apesar de sua promessa de fidelidade, para o Aerys, mãos bobas não eram o mesmo que deitar-se com uma mulher; e as damas de companhia anteriores entendiam isso muito bem.
A princesa quebrou o silêncio com seu grito de vitória ao vencer a mãe, finalmente. As damas bateram palmas, enquanto Jaehaera levantou-se abraçada ao irmão, pulando de alegria. Em seus dezessete anos de vida, provavelmente jogava dama contra a mãe onze anos, e aquela era sua primeira partida vencida.
━ Meus parabéns, querida! ━ Rainha Rhaella sorriu docemente para a filha, em seu orgulho pela vitória da garota.
No fundo de sua mente problemática e silenciosa, a princesa desejou que sua mãe esperneasse; rejeitasse sua derrota, gritasse, a acusasse de roubá-la. Mas a princesa, com seus pensamentos intrusivos no fundo de sua mente, sorriu e agradeceu a mãe, abraçando-a, sentindo aquele aperto acolhedor e materno que tinha no abraço de sua mãe, que a fazia culpar-se pelos pensamentos que tinha contra a rainha. Aquela vontade súbita de chorar e pedir perdão, de ajoelhar-se e implorar.
Quando as portas se abriram, todo o caos se juntou ao quarto. Aerys Targaryen trouxera com ele sua coroa que mostrava seu poder, suas unhas longas como garras, seus cabelos brancos com mechas douradas longos e embaraçados, sua barba ainda maior que seu cabelo, e perfeitamente lisos.
━ Deixe-nos ━ ordenou o rei, e todos saíram apressados, Emma carregou o pequeno Viserys para fora também, deixando apenas a princesa e a rainha.
━ Papai ━ a princesa abaixou a cabeça em respeito ao título do pai, enquanto sorria carinhosamente para o homem.
━ Você não está indo a lugar nenhum ━ o rei revelou, então, andando apressado e gesticulando de forma aleatória. ━ Aquele Jon Arryn... por que a convidaria de forma tão inesperada? ele planeja algo... não sinto confiança na forma como ele escreveu a carta...
━ Jon Arryn sempre fora um homem tão leal, vossa graça, nunca lhe deu motivos para desconfiança ━ Rainha Rhaella sentou-se novamente em sua cadeira, recolhendo as peças do jogo que antes jogara com a filha. ━ Seu convite fora inesperado, mas, quem não iria querer a princesa em sua casa? E, lembrarei a ti, meu marido, que Jon Arryn abriga o filho de seu falecido amigo mais próximo, Robert Baratheon. Se Steffon Baratheon, em vida, confiou seu herdeiro a Jon Arryn, não há motivos para desconfiar.
━ Steffon sabia em quem confiar, ele tinha bom senso ━ A forma defensiva de Aerys sumiu rapidamente, logo a melancolia tomando conta ao lembrar-se do velho amigo que, indiretamente, morrera por sua culpa.
Jaehaera achou que veria seu pai chorar. Talvez chorasse junto a ele, por qual motivo choraria? Perguntou a si mesma. Ela não soube responder; apenas choraria. Steffon Baratheon pouco significava alguma coisa para ela, então não choraria por luto, e a esposa também falecida do homem muito menos seria motivo de tristeza para a princesa.
O pai nada disse quando levantou-se. Mãe e filha temeram perguntar qual seria a consequência daquela rápida conversa de família. Mais tarde, Rhaella pagaria o preço de suas palavras, que mesmo sensatas e bem colocadas, nada significava para o rei, enquanto a princesa Jaehaera degustaria de sua viagem.
━ Acha que ele mudará de ideia até o amanhecer? ━ Jaehaera sussurrou para mãe, preocupada.
━ Farei o possível para que tudo saia como planejado ━ rhaella garantiu, dando seu melhor sorriso.
A princesa não devolveu o sorriso de suas mãe, que logo também desmanchou o seu e ambas trocam olhares preocupados. Nunca diriam em voz alta, nunca confessariam seus descontentamentos e medos contra o rei, irmão e marido de uma e pai da outra. Mas, acima de tudo, o rei de todo aquele reino. A verdade que nunca teriam nem um terço de algo com aquela dimensão para chamarem genuinamente de seu, mesmo que Rhaella fosse a rainha consorte, e seu marido sucumbisse a mais pura loucura, ela nunca teria nada, seria levada pelo Estranho sem que pudesse levar nada além do amor que sentira pelos seus três filhos que sobreviveram, e seus outros que não tiveram a mesma sorte. Sua vida como rainha fora toda dedicada a engravidar, a rainha parideira, que pouco fizera com o título que lhe foi concebido, sucumbida pela sua dor e sacrifício que viera com a coroa que pousava em sua cabeça com cabelos prateados.
Seja por vontade própria, ou por insistência da rainha, Aerys não mudara de ideia sobre sua viagem, e agora pouco ele poderia fazer, além de descontar sua frustração em sua esposa e em quem ele sentisse desconfiança. Enquanto isso, Princesa Jaehaera dormira e sonhara a maior parte de sua viagem, enquanto os outros se incomodavam com o chacoalhar da carruagem, aquilo pouco afetou a Targaryen, que mantinha-se calma, mesmo quando abrigada em estalagens pouco propensas para receber uma princesa, continuava a sorrir gratamente para os donos que os recebiam, sempre insistindo em dar-lhes gorjetas e despejar conversa fora, conversando com eles como qualquer pessoa, mesmo que o privilégio destoasse suas situações e eles nunca poderiam reclamar com a princesa sobre o risco de passar fome, como reclamariam com qualquer outro cliente que tivesse nas mesmas condições de riscos que eles.
Ainda na estrada, insistia em escrever cartas a seu irmão e sua mãe, mesmo com o receio de que nunca chegariam nas mãos de ambos, surpreendeu-se ao receber resposta de Rhaegar, mas, suas desconfianças se tornaram certezas quando Rhaella nada lhe respondera, sabendo e conhecendo a mãe que criou-a, Rhaella, assim que tomasse conhecimento das cartas, teria escrito uma resposta imediatamente, entusiasmada. Lembrando-a que a mãe pouco sabia sobre o próprio reino que a aclamava como Rainha, já que mal permitiam-a sair do castelo, permitiriam muito menos que saísse de Porto Real.
Usar palavras que não direcionavam o isolamento de sua mãe direto a comando de seu pai era algo que Jaehaera fazia frequentemente, mesmo que apenas em pensamentos, recusava-se a atribuir a culpa dos seus problemas familiares a seu pai quando, até os dias de hoje, ele sempre fora tão bom paternalmente a ele. Era cega a tudo de ruim que envolvia seu pai, e não poderiam culpá-la, quando Rhaella e Rhaegar sempre fizeram o possível para mantê-la afastada da fúria do pai.
Desde jovem, destinada a ser a rainha dos Sete Reinos, se mantinha ativa politicamente, e até mesmo Tywin Lannister, com seus ideais machistas e interesses opostos em relação a futura rainha, ocupava parte do seu tempo como Mão do Rei para auxiliá-la em sua educação, mantendo-a como sua pupila, mesmo na ausência frequente do rei nas reuniões, a menina fora mantida lá. Até os recentes eventos, quando seu noivado foi rompido e Tywin Lannister foi embora, parte do conselho fora substituído e nenhum tinha interesse em manter Jaehaera nas reuniões, vista até mesmo como ameaça, já que sua proximidade com o Lannister poderia ser prejudicial para os que se aproveitavam do afastamento do Senhor de Rochedo.
Outra carta chegara para si, novamente de Rhaegar, que prontamente a informava sobre seu primeiro filho que estava por vir, e seus planos de como o nomearia.Aegon, caso fosse um garoto, em homenagem ao conquistador, e Rhaenys, em homenagem a conquistadora. Fora feita uma rápida menção da dúvida de Rhaegar entre as duas esposas de Aegon, Visenya e Rhaenys, e que ele esperava que ela pudesse o ajudar a escolher, mas suas esperanças focavam-se no futuro Aegon, sempre esperando um garoto para nascer. O estômago de Jaehaera embrulhava de ciúmes, doentiamente quase vomitava em pensar em Rhaegar com Elia Martell, não por amá-lo, mas seu desejo pelo poder distorcia-se por paixão a seu irmão, quando nunca poderiam chegar a insinuar-se um para o outro, mesmo que crescendo como noivos.
Nunca chegou a escrever uma resposta para Rhaegar, e assistiu a carta queimar na fogueira da estalagem que estava hospedada naquele dia. O fogo a lembrou do ouro e, então, da coroa que lhe fora roubada por culpa de Aerys, mas seu coração ainda não queimara de ódio pelo pai, ainda.
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