18.
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O CORAÇÃO HUMANO QUE batia dentro de mim deu suas últimas frenéticas batidas quando o fogo finalmente o consumiu por inteiro. Era como uma batalha, onde ambos perdiam. O fogo se cessava e minhas batidas cardíacas também.
Eventualmente, tudo se consumia ali dentro. Minha sede, minha seca garganta apenas me incomodava enquanto eu me tornava o monstro que um dia alguém sonhou em me criar.
Perigosa. Imortal. Irreversível.
— Ela vai ficar bem. — Jungkook parecia tentar acalmar Taehyung. Ele nunca saía do meu lado, era como se dependesse daquilo para se certificar de que tudo estaria bem.
— Quanto tempo mais? — Bangchan perguntava ansioso, enquanto eu podia ouvir tia Morgan pronunciando runas antigas ao seu lado.
Pobrezinha...
— Aguardem aqui. — Ele sinalizou. Pude sentir a presença de cada um.
O fogo se restringiu, concentrando-se dento daquele único órgão remanescentemente humano com uma final, insuportável onda. A onda foi respondida por um profundo e audível golpe. Meu coração vacilou duas vezes, e então bateu silenciosamente de novo só mais uma vez.
Não havia som. Nem respiração. Nem mesmo minha. Por um momento, a ausência de dor era tudo que eu podia perceber.
E então eu abri meus olhos e olhei por cima de mim pela primeira vez.
Tudo estava tão claro.
Agudo. Definido.
A brilhante luz acima de mim ainda era extremamente vivaz, e mesmo assim, eu ainda podia ver claramente os fios condutores do filamento dentro da lâmpada. Eu podia ver todas as cores do arco-íris na luz branca, e, na pontinha do espectro, eu podia ver uma outra cor que eu não conseguia identificar.
Atrás da luz, eu conseguia distinguir cada textura no teto de madeira escuro acima. Na frente dele, eu podia ver as partículas de poeira no ar, os lados que a luz tocava, e os lados escuros, distinta e separadamente. Eles giravam como pequenos planetas, se movendo ao redor uns dos outros numa dança celestial.
A poeira era tão linda que eu inalei, chocada; o ar saiu rolando em minha garganta, girando as partículas como num buraco negro. Essa ação pareceu um erro. Eu pensei, e me dei conta de que o problema é que não havia nenhum alívio ligado a essa ação. Meus pulmões não esperavam por isso. Eles reagiram com indiferença ao refluxo.
Eu não precisava do ar, mas gostava dele. Nele, eu podia sentir o gosto do quarto ao meu redor – as adoráveis partículas de poeira, a mistura do ar estagnado com o fluxo de ar mais fresco que entrava pela porta. Podia sentir a luxúria do toque da seda. Sentir a presença de alguma coisa quentinha e desejável, algo que devia estar úmido, mas não estava... O cheiro fez minha garganta ficar seca, um pouco do veneno se queimou, apesar do cheiro estar afetado por um pouco de creolina e amônia. Acima de tudo, eu podia sentir o gosto de um cheiro quase com o sabor de mel com violetas e sol que era a coisa mais forte, mais próxima de mim.
Eu não tinha me dado conta de que alguém estava segurando minha mão até que a pessoa apertou levemente a minha mão. Tal como havia feito antes para amenizar a minha dor, meu corpo travou com a surpresa. Esse não era o toque que eu esperava. A pele era perfeitamente suave, mas tinha a temperatura errada. Não era fria.
Depois desse primeiro segundo congelado de choque, meu corpo respondeu ao toque desconhecido de uma maneira que me assustou mais ainda.
Eu dei um giro tão rápido que a sala deveria ter se tornado um borrão incompreensível – mas isso não aconteceu. eu vi cada partícula de poeira, cada textura das paredes de madeira, cada detalhe microscópico que estava fora do lugar enquanto passei girando por eles.
Então, quando eu me encontrei defensivamente encurvada perto da parede – cerca de um sexto de segundo depois – eu já tinha entendido o que tinha me assustado, e me dei conta que minha reação foi exagerada.
Oh. É claro. Taehyung não seria mais frio pra mim. Agora nós tínhamos a mesma temperatura. Eu me mantive em posição por um oitavo de segundo, me ajustando à cena em minha frente.
Taehyung estava inclinado sobre a mesa de operação onde eu fui transformada, as mãos dele estavam erguidas em minha direção, sua expressão ansiosa.
O rosto daquele vampiro era a coisa mais importante, mas minha visão periférica catalogou todas as outras coisas, só pra garantir. Algum instinto de defesa havia sido ativado, eu automaticamente procurei por algum sinal de perigo.
Mas não havia nada. Apenas aquela família me olhando, ansiosa. E Yuna. Minha nova melhor amiga, junto da pequenina Hannah que segurava uma bonequinha. Seus olhinhos ainda continham o mesmo tom humano de sempre, o que me fez suspirar aliviada.
— Princesa... como está se sen-
— JENNIE! — Chan o interrompeu, me abraçando apertado, o que fez Taehyung ficar sem expressão. — Você... tá tão gelada...
— Chan... — Respondi baixinho, quase inaudível. — O que aconteceu? Yuna..!
Ela veio ao meu encontro, me abraçando tão forte que se eu fosse uma simples bruxa ainda, juraria que poderia me quebrar em vários pedaços.
— Prima... você demorou tanto pra acordar. — Ela exclamou.
Prima?!
Eu olhei para Yuna, surpresa e confusa com suas palavras. Prima? As memórias começaram a se juntar em minha mente, fragmentos de momentos e histórias que minha mãe e tia Morgan haviam compartilhado comigo ao longo dos anos. Mas nunca pensei que Yuna pudesse ser minha prima.
— Prima? — Perguntei, a voz saindo mais forte do que eu esperava. — Como assim, Yuna?
Ela sorriu, um sorriso triste, mas cheio de esperança.
— Sim, Jen. Nós compartilhamos o mesmo sangue, tanto de bruxa quanto de vampiro. Nossas mães eram irmãs... As gêmeas Mikaelson — Yuna explicou, segurando minhas mãos frias nas dela. — Mas as duas parecem ter tido o mesmo final...
Suspirei, logo me lembrando. Minha tia, Jade Mikaelson morava no Canadá, por isso não tinha muito contato. Tia Morgan havia me dito que ela tinha uma filha, que desapareceu há alguns anos.
Eu olhei ao redor da sala, procurando por respostas nos rostos dos outros. Taehyung estava ao meu lado, os olhos cheios de preocupação, mas também de alívio. Minha nova realidade começava a fazer mais sentido, cada pedaço se encaixando no quebra-cabeça de minha vida.
— Eu sei que é muita coisa para processar, Jennie. — Tia Morgan disse, se aproximando e colocando uma mão reconfortante em meu ombro. — Mas agora você não está sozinha. Nós estamos aqui para te ajudar a entender e controlar seus novos poderes.
Eu respirei fundo, tentando absorver tudo isso. A mudança era avassaladora, mas o apoio ao meu redor me dava forças. Eu não sabia o que o futuro reservava, mas estava determinada a enfrentá-lo com coragem.
— Tudo bem. — Disse finalmente, erguendo o queixo com determinação. — Vamos descobrir isso juntos.
Yuna apertou minha mão, um brilho de determinação em seus olhos. Eu sabia que, com ela ao meu lado, e com Taehyung e toda a família, eu poderia enfrentar qualquer desafio que viesse.
— Vamos começar do começo. — Yuna disse, sorrindo. — Temos muito a aprender e pouco tempo a perder.
Eu assenti, sentindo um novo propósito se formando dentro de mim. A escuridão havia passado, e agora, com minha nova família ao meu lado, eu estava pronta para qualquer coisa.
— Nini! — Hannah exclamou, me abraçando apertado. Aquele pedacinho de vida se tornou um bem precioso naqueles dias que passamos no laboratório. — Senti sua falta...
— Também senti, pequena.
O ambiente da casa era acolhedor, familiar, mas agora eu via tudo com novos olhos. Cada detalhe, cada textura, cada som era amplificado pela minha nova natureza. Yuna e eu nos sentamos no sofá, enquanto Taehyung e Seraphine explicavam mais sobre nossos novos poderes e habilidades.
— Vocês duas são híbridas, como eu. Um misto raro de bruxa e vampira. — Seraphine começou, seu tom sério. — Isso significa que vocês possuem habilidades de ambos os lados, mas também enfrentam desafios únicos.
— A sede será algo que precisarão controlar. — Taehyung acrescentou, segurando minha mão com firmeza. — Mas com o tempo, vocês aprenderão a dominar isso.
Yuna assentiu, uma expressão de determinação em seu rosto. Eu olhei para ela, sentindo uma conexão profunda e renovada. Estávamos nisso juntas, e isso me dava forças.
— E quanto aos nossos poderes de bruxa? — Perguntei, curiosa.
— Eles ainda estão lá, talvez até mais fortes agora. — Seraphine explicou. — Vocês precisarão treinar para controlá-los, mas eu estarei aqui para guiar vocês.
Eu respirei fundo, sentindo a responsabilidade e o potencial em minhas mãos. Havia muito a aprender, mas eu estava pronta para enfrentar cada desafio.
— Vamos começar o treinamento amanhã. — Yuna disse, sorrindo para mim. — Temos um longo caminho pela frente, Jenjen!
— Primeiro você precisa caçar. — Taehyung acariciou minha mão. Pela primeira vez eu vi sua expressão preocupada se relaxar. Ele parecia tão calmo, tão sereno, como se a preocupação constante de me manter a salvo de si mesmo não existisse mais. — Yuna, se importa se nós formos a sós?
Yuna assentiu, compreensiva, e se levantou, nos deixando a sós. Taehyung se virou para mim, seus olhos brilhando com uma mistura de expectativa e confiança.
— Vamos, Jennie. — Disse ele suavemente, puxando-me para a floresta.
A noite estava calma, apenas o som das folhas balançando e pequenos animais se movimentando. Eu podia ouvir cada som, sentir cada cheiro, e tudo era incrivelmente vívido. Taehyung começou a explicar enquanto caminhávamos.
— Como híbrida, sua força e velocidade são superiores às de um vampiro ou de uma bruxa comum. — Ele começou, mantendo seu tom calmo e instrutivo. — Você vai aprender a usar essas habilidades para caçar e controlar sua sede.
— E os feitiços? — Perguntei, curiosa sobre a outra metade de meus poderes.
— Seus poderes de bruxa estão amplificados. — Ele explicou. — A energia mágica dentro de você é mais poderosa agora. Vamos precisar treinar para você controlar isso, mas primeiro, vamos focar na caça.
Chegamos a uma clareira na floresta. Taehyung parou e olhou para mim, seus olhos encontrando os meus com uma intensidade que me fez sentir segura.
— Sente a presença dos animais ao seu redor. — Ele disse, fechando os olhos para mostrar como fazer. — Concentre-se em seus sentidos e deixe sua sede guiar você.
Fechei os olhos e me concentrei. Senti o cheiro de um cervo próximo, a batida rápida de seu coração. Sem pensar, me movi rapidamente, minhas novas habilidades me permitindo alcançar o cervo em segundos. A caça foi instintiva e, embora a sede fosse intensa, consegui me controlar, bebendo apenas o necessário.
Taehyung me observou, um sorriso satisfeito em seu rosto.
— Você fez bem, minha bruxinha. — Ele disse, orgulhoso. — Com o tempo, isso se tornará mais fácil.
Sentindo-me mais confiante e fortalecida, nos sentamos à beira de um riacho próximo. Taehyung parecia pensativo, como se estivesse ponderando algo importante.
— Jennie... — Ele começou, pegando minha mão novamente. — Eu queria falar algo com você.
Eu olhei para ele, curiosa e ligeiramente nervosa.
— Desde que nos conhecemos, senti uma conexão com você que nunca experimentei antes. — Ele continuou, seu tom sério e sincero. — Cada momento que passamos juntos só reforçou isso. Você é a minha alma gêmea, a única pessoa com quem quero passar a eternidade.
Meu coração, embora agora imóvel, parecia bater de alguma forma, cheia de expectativa. Ele tirou algo do bolso – um anel. Era simples, mas incrivelmente bonito, com um brilho que capturava a luz da lua.
— Eu sei que isso pode parecer precipitado, e talvez seja muito, mas... — Ele hesitou, seus olhos cheios de vulnerabilidade. — Jennie, você se casaria comigo? Passaria a eternidade ao meu lado? Sinto que não posso mais pensar em um futuro sem você...
Fiquei sem palavras por um momento, a emoção me tomando por completo. Mas não havia dúvida em minha mente ou coração. Taehyung foi aquele que chegou destruindo todos os parâmetros que eu tinha no meu coração em relação a paixões. Ele me transformou em alguém capaz de se apaixonar, algo que eu jurava para mim mesma nunca acontecer.
Eu nunca acreditei no amor.
Mas ele me fez mudar de ideia.
— Sim, Taehyung. — Respondi, a voz firme e cheia de emoção. — Eu aceito. Quero passar a eternidade ao seu lado.
Um sorriso de puro alívio e felicidade iluminou o rosto de Taehyung. Ele deslizou o anel em meu dedo e me puxou para um abraço apertado. Eu me sentia extasiada, mais feliz do que jamais imaginei ser possível.
Naquele momento, tudo parecia perfeito. A floresta ao nosso redor, o brilho da lua, e, acima de tudo, o amor e a promessa de uma eternidade juntos.
Mas seria aquilo tudo mesmo perfeito?
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