14.
conteúdo sensível.
caso sinta algum desconforto, recomendo que pare a leitura e pule para o próximo capítulo.
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NUNCA FUI A PESSOA MAIS RELIGIOSA DO MUNDO, mas constantemente desejava que uma força maior, se é que ela existisse mesmo, levasse-me e fizesse com que toda essa angústia presente em meu peito esvaísse. Desejava que o Deus que estivesse no céu me ajudasse, tivesse piedade do meu ser.
Minha cabeça latejou. O cheiro de mofo e uma luz branca forte invadiram meus olhos recém-abertos, analisando cada detalhe do teto de madeira sobre mim. Tentei me levantar, mas fui impossibilitada por correntes que prendiam-me a uma dura cadeira. Eu estava presa em um lugar desconhecido.
— Ela acordou, chefe! — Uma voz feminina desconhecida gritou, e enquanto eu tentava procurar a fonte dela, ele apareceu.
Hwang Hyunjin.
Sua presença invadiu a sala branca, um ponto vermelho no meio de tanta clareza, que fez minha cabeça chacoalhar. Seu cheiro de sangue era o que mais prevalecia, e me fazia querer vomitar. Ele continha um sorriso ameaçador nos lábios, como sempre. Tentei me manter intocável, a expressão fria em meu rosto enfraquecido.
— Bem vinda de volta a vida, Jennie. — Ele debochou, aproximando-se cada vez mais, os olhos pregados em mim como se ele estivesse prestes a arrancar meu coração e deliciar-se dele mais tarde. — Está finalmente na hora de termos uma conversa... íntima.
— Me tire daqui, Hyunjin. Eu não devo nada a você. — Pronunciei, confiante, mas minha respiração estava descompassada. O local era tão abafado quanto poderia ser, e eu estava ficando sem ar.
Ele abriu um sorriso ladino, me encarando. Os fios avermelhados caindo sobre a sua face bem marcada.
— Minha querida... você ainda não entendeu? — A voz saía quase como um sussurro, próxima ao meu ouvido, o que me fez arrepiar. Eu tentava reunir forças para algum feitiço ou algo do tipo, mas era inútil.
Ele havia implantado algum tipo de barreira aqui.
— Você... ah, Jennie. — Ele parecia se embriagar com meu cheiro. — Agora que te tenho, não irei te deixar ir... você é minha menina dos olhos. O meu mais perfeito experimento...
Tentei desviar o olhar, mas era impossível ignorar a intensidade dos olhos vermelhos de Hyunjin, que brilhavam com uma mistura de excitação e crueldade.
— Você acha que pode continuar resistindo, mas a verdade é que você será uma parte crucial nos meus planos. — Ele disse, inclinando-se mais perto, sua voz hipnótica e perigosa. — Com seu poder, seremos capazes de realizar coisas que os vampiros e os humanos jamais sonharam.
— Eu nunca vou te ajudar, Hyunjin! — murmurei, tentando manter minha voz firme, mesmo que por dentro eu estivesse tremendo. — Eu preferiria morrer a ser parte dos seus planos.
Hyunjin riu suavemente, um som que parecia ecoar pelas paredes do lugar.
— Oh, Jennie, você subestima o que somos capazes de fazer. Sua força de vontade é admirável, mas será inútil contra o que eu posso te oferecer. Você não vai se arrepender...
Ele se afastou, levantando-se e dando um passo para trás, ainda me observando como um predador observa sua presa.
— Vou te mostrar uma coisa. — Ele fez um gesto e a mulher que antes havia falado se aproximou com um livro velho e empoeirado. — Este é um livro de antigos rituais e feitiços que foram esquecidos com o tempo. Contém o segredo para criar híbridos.
Eu fechei os olhos, tentando bloquear suas palavras, mas cada sílaba parecia penetrar na minha mente.
— Com sua ajuda, Jennie, nós poderemos realizar o impossível. Vampiros e bruxas, unidos em um poder absoluto. — Ele folheou as páginas, os olhos brilhando de excitação. — E você será a chave para isso.
— Eu nunca vou te ajudar — repeti, a raiva e o desespero se misturando em minha voz.
Hyunjin fechou o livro e se inclinou sobre mim, seu rosto a poucos centímetros do meu. Pude sentir a poeira voar em meu rosto, o que me fez tossir.
— Você não tem escolha, Jennie. E quanto mais cedo você aceitar isso, mais fácil será para você. — Ele sorriu de novo, um sorriso cruel que fez meu sangue gelar. — Agora descanse. Temos muito trabalho a fazer.
Ele se afastou e a mulher de antes se aproximou novamente, segurando uma seringa cheia de um líquido desconhecido. Enquanto a agulha perfurava a minha pele, a dor foi imensa e imediata. Era como se houvesse fogo correndo por minhas veias, me queimando. Minha visão começou a embaçar, a escuridão se aproximando mais uma vez enquanto eu lutava para manter a consciência.
Mas, antes de apagar, uma última esperança cruzou minha mente: Taehyung. Meu Taehyung.
Eu gritei pelo seu nome, antes de tudo virar pó.
Quando acordei novamente, me encontrava em um ambiente diferente. As correntes ainda estavam lá, em minhas mãos, mas agora eu estava em um laboratório amplo, cheio de equipamentos estranhos e runas antigas gravadas nas paredes. Hyunjin estava conversando com um grupo de pessoas, todos vestidos de maneira similar, com mantos escuros e olhos vazios, como se não possuíssem um sequer resquício de alma dentro de si. Seus olhos eram tão vermelhos quanto podiam ser.
— Ah, nossa número sete acordou. — Hyunjin anunciou com um tom de voz entediado, olhando para mim por sobre o ombro.
Sete? Ele realmente estava se referindo a mim como um número agora? Patético...
— Sete, deixe-me apresentar os outros. — Ele fez um gesto amplo, e as outras figuras se aproximaram. — Estes são os outros participantes do experimento. Eles são referidos por números também, assim como você. Este é Número Um, Número Dois...
Enquanto ele os apresentava, eu percebi que todos pareciam exaustos e derrotados, como se a esperança tivesse sido arrancada deles há muito tempo, os ossos transparecendo por suas finas peles, as marcas roxas pelos corpos. Eu podia sentir a energia mágica que emanava deles, uma energia potente, mas agora corrompida e controlada por Hyunjin.
— Monstro... — Pronunciei baixinho.
Hyunjin sorriu de novo, aquele sorriso que me dava calafrios.
— Nós estamos prestes a começar o primeiro experimento. Você, Sete, será a primeira a ser testada com uma nova combinação de magia ancestral e DNA vampiro. — Ele disse, sua voz suave mas cheia de intenções malignas. — Vamos ver como sua poderosa linhagem de bruxas reage a este novo poder, minha querida.
Eu senti um pânico crescente, mas me forcei a permanecer firme. Não iria dar a ele a satisfação de ver meu medo.
— Você não conseguirá o que quer, Hyunjin. Eu vou resistir. — Declarei, meu olhar desafiador.
— Veremos. — Ele respondeu simplesmente, fazendo um sinal para os assistentes. Eles se aproximaram com mais seringas e equipamentos, enquanto Hyunjin observava, seus olhos fixos em mim como um predador prestes a dar o bote.
Aquela foi a minha primeira noite de eletrochoque.
Abri meus olhos depois de uma conturbada noite de pesadelos e alucinações, desta vez em um quarto pequeno e mal iluminado, com uma grade que proibia a minha saída. Minha cabeça latejava e meu corpo doía. Lembrei-me das agulhas, do ritual, do choque e senti um arrepio percorrer minha espinha. O que Hyunjin havia feito comigo?
Olhei ao redor, notando uma figura encolhida em um canto. Ela estava sentada de costas para mim, os ombros caídos e a cabeça baixa. Seu cabelo longo e escuro caía em mechas desalinhadas. Ela era linda, tirando por sua face amedrontada, que me deixava com menos esperanças ainda na bondade do clã Hwang, se é que ela algum dia existiu.
— Ei... — Chamei suavemente, minha voz rouca. — Quem é você?
A figura se virou lentamente, revelando um rosto pálido e olhos sombrios que pareciam ter visto horrores inimagináveis. Ela parecia mais nova do que eu, mas sua expressão era de uma juventude perdida há muito tempo.
— Eu sou... Três — disse ela, sua voz um sussurro quase inaudível. — E você é Sete, não é?
Assenti, sentindo uma pontada de tristeza ao ouvir meu "nome". Sentindo-me a urgência de encontrar uma conexão, me arrastei até ela, as correntes nos meus tornozelos tilintando suavemente no chão. Me sentei com cuidado, a dor ainda me preenchia.
— Qual é o seu nome verdadeiro? — Perguntei, tentando oferecer algum consolo. — Acho que podemos falar isso entre nós duas, não?
Ela hesitou antes de responder, como se tentar lembrar seu próprio nome fosse um esforço doloroso.
— Minha mãe me chamava de Yuna... Choi Yuna. — disse ela, finalmente. — Mas faz tanto tempo que ninguém me chama assim...
— Yuna — repeti, oferecendo um pequeno sorriso. — Sou Jennie.
Ela olhou para mim com uma mistura de surpresa e gratidão, como se não esperasse mais ouvir nomes reais nesse lugar.
— Eles me trouxeram aqui quando eu era criança... — disse Yuna, sua voz ganhando força com a lembrança. — Eles disseram que eu tinha um grande poder, mas agora... só me sinto vazia. Eu não sei que poder é esse...
— Hyunjin me disse que éramos experimentos — murmurei, sentindo o peso de suas palavras. — Você sabe o que ele está tentando fazer?
Yuna assentiu, seu olhar sombrio.
— Ele quer criar híbridos, misturar o poder das bruxas com a força dos vampiros. — Ela explicou, sua voz trêmula. — Nós somos apenas peças no jogo dele. Ele nos mantém aqui, testando nossas habilidades, nos quebrando aos poucos. Ainda não fui transformada, mas ele diz que vou ser a próxima... depois de você.
Um silêncio pesado pairou entre nós. Senti uma fúria crescendo dentro de mim, uma determinação que Hyunjin não poderia apagar. Não éramos apenas números. Éramos pessoas, com nomes, histórias e forças. Éramos muito mais do que isso, não iríamos ser resumidas a esse laboratório!
— Nós precisamos sair daqui, Yuna — disse, minha voz firme. — Precisamos encontrar uma maneira de nos libertar e acabar com esses experimentos.
Ela olhou para mim com um brilho renovado nos olhos, um resquício de esperança que eu sabia que seria nossa força.
— Eu vou te ajudar, Jennie. Vamos sair daqui juntas. — Ela prometeu, estendendo a mão para mim. — Mesmo... que seja impossível...
Segurei sua mão com força, sentindo a aliança entre nós. Hyunjin podia nos tratar como números, mas dentro de nós ainda existia a força e a determinação para lutar.
Enquanto conversávamos em sussurros, um plano começou a se formar. Eu sabia que seria difícil, mas pela primeira vez desde que acordei naquele pesadelo, senti uma centelha de esperança.
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