0.6

KIM TAEHYUNG
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ESSE ERA UM DOS MOMENTOS EM QUE EU MAIS DESEJAVA DORMIR, a fim de esquecer os meus problemas. Daquela vez eu estava no ensino médio, mas talvez purgatório fosse uma palavra mais apropriada. Se havia alguma maneira de reparar todos os meus pecados, sem dúvida essa experiência devia ajudar.

Era difícil se acostumar ao tédio; cada dia parecia mais insuportavelmente monótono e angustiante do que o anterior. Talvez até desse para considerar aquilo minha própria versão de dormir; afinal, o que é o sono senão um estado inerte entre períodos ativos?

Olhei para as rachaduras que atravessavam o gesso no canto mais distante do prédio, imaginando padrões que não existiam. Foi a forma que encontrei de abafar o fluxo de vozes tagarelando dentro da minha cabeça feito a correnteza de um rio. Elas iriam me deixar louco.

Centenas delas eu ignorava por puro tédio.

Quando se tratava da mente humana, eu já ouvira de tudo e mais um pouco. Era preciso muito pouco para criar uma cena. Vi o rosto da menina nova de vários ângulos, repetido em pensamento atrás de pensamento. Analisei por algum tempo cada detalhe da delicada face feminina que corria pelas mentes masculinas daquele local. Tentei ao máximo ignorá-los.

Apenas algumas vozes eu bloqueava por educação e não por desgosto: as da minha família, que estavam tão acostumados com a falta de privacidade ao meu lado que raramente se preocupavam com isso. Eu fazia de tudo para evitar ouvir seus pensamentos sempre que possível.
Porém, por mais que tentasse... eu sabia. Eu sentia.

Naquele dia, enquanto dirigia pela estrada, observei um fusca antigo parado, bloqueando a passagem. Era estranho algo daquilo acontecer, ainda mais em uma cidade pequena como aquela, onde nunca se havia trânsito e eu tinha liberdade para correr o quanto quisesse. Foi quando parei meu veículo, descendo do mesmo apenas para observar uma cena que me deu desespero.

Jennie Mikaelson, desmaiada no meio da estrada.

Eu sabia. Eu sabia que Jennie não era uma simples humana, e dentro de mim, algo me dizia para que eu me afastasse para o nosso próprio bem, mas ao mesmo tempo, eu acabava me repelindo cada vez mais. O seu sangue, o seu cheiro era diferente de tudo que eu já havia visto antes, extremamente mais chamativa, extremamente mais perigosa.

Eu me sentia menos sob controle.

Eu sentia que a qualquer momento poderia acidentalmente me aproximar de mais e avançar contra ela, causando uma chacina acidental, o que obrigaria a minha família a se mudar as pressas mais uma vez.

Me aproximei do garoto, Christopher Mikaelson, primo de Jennie, pelo que ouvi dos pensamentos dos outros humanos que antecipavam a chegada de ambos. Ele era mais velho do que ela, e estava fora a estudos.

— Ei, cara. Tá tudo bem? Quer ajuda?

Ele se voltou para mim, segurando a menina nos braços. Parecia realmente preocupado com a garota, como se sua vida dependesse disso, mantê-la a salvo.

Mal sabia ele que eu poderia estragar tudo se quisesse.

— Liguei para a ambulância... Ela desmaiou de exaustão... — Eu tentava ler a mente dele, Christopher estava pensando em alguma desculpa para me contar, mas repreendi a mim mesmo, seja lá o que fosse, não iria me meter. Concordei, mas no fundo eu sabia.

Era frustrante esperar - ainda mais com o silêncio de Christopher e seus pensamentos ansiosos - enquanto os humanos estacionavam a ambulância ao nosso lado, fechando completamente o trânsito. Por fim, os paramédicos chegaram até nós, colocando a menina deitada na maca. Por conta de meu pai, eu conhecia um ou outro paramédico, e pude os ajudar no processo.

Eu e o garoto nos afastamos, entrando em nossos próprios carros e seguindo para o Hospital Comunitário.

Não havia nada nos pensamentos dos paramédicos com que precisasse me preocupar. Pelo que eles sabiam, nada de tão sério havia acontecido com a garota.

A prioridade, quando chegamos ao hospital, era encontrar o Seokjin. Atravessei correndo as portas automáticas, mas não abri mão de vigiar Jennie. Fiquei de olho nela, ainda que não diretamente, mas através dos pensamentos dos paramédicos e Christopher.

Foi fácil encontrar a mente familiar do meu pai. Ele estava em seu pequeno consultório, sozinho, o primeiro lance de sorte daquele dia azarento.

— Seokjin.

Ele me ouviu chegar e se assustou ao ver a expressão em meu rosto. Ficou de pé num só pulo e se inclinou por cima da escrivaninha de madeira organizada.

"Taehyung! Você não...?"

— Não, não, não é isso.

Ele respirou fundo.

"É claro que não. Sinto muito por ter pensado nisso. Seus olhos, é claro, eu deveria ter percebido."

Ele encarou meus olhos ainda dourados com alívio.

— Mas ela se machucou um pouco, Seokjin, provavelmente não é nada sério, mas...

— O que aconteceu?

— A encontrei desmaiada na estrada, o primo disse que pode ter sido exaustão, mas sinto que tem bem mais do que isso. Ela bateu a cabeça, também.

Seokjin clicou em sua caneta algumas vezes, pensativo.

Bruxas, Taehyung, elas se esgotam com mais facilidade quando sua magia é utilizada de maneira absurda. — Ergueu o olhar, as orbes douradas encontrando as minhas. — Ela pode ter usado de algum feitiço contra alguém, ou ter tido a sua energia sugada. Continue verificando, podemos encontrar algo. Você... não se envolveu, certo?

Eu sabia que Jennie era uma bruxa, mas não imaginava que chegaria àquele ponto. Pelo que me disseram, ela sua magia ainda não havia despertado, portanto ela não era capaz de muito. Talvez ela fosse mais do que a jovem e inexperiente bruxa que imaginávamos.

— Ajudei o Christopher a verificar os batimentos dela, e os paramédicos. Eu sinto que não deveria ter parado o carro, mas algo me chamou... Eu sei que é perigoso, Seokjin, bruxas e vampiros, mas... ela me repele. Como um ímã.

Ele deu a volta na escrivaninha e pousou uma de suas mãos em meu ombro. Então deu um passo para trás. Certamente ele sabia de algo que eu não.

"Você fez a coisa certa, ajudou alguém. E não deve ter sido fácil para você, considerando as circunstâncias. Estou orgulhoso, Taehyung."

Finalmente consegui olhá-lo nos olhos, a tensão voltando para a minha face.

— Ela parece saber que tem algo... errado comigo.

— Isso não importa... Se tivermos que ir embora daqui, faremos isso. O que ela disse?

Balancei a cabeça, um pouco frustrado.

— Por enquanto, nada.

"Por enquanto?"

Seokjin saiu de perto com uma expressão tensa, ajeitando o estetoscópio. A conversa se estenderia para uma outra hora.

No hospital, a atmosfera estava carregada de tensão. As vozes se misturavam, criando uma cacofonia imensa na minha mente. Tentando focar, eu comecei a percorrer as mentes das pessoas ao redor. As preocupações triviais dos pacientes e a rotina dos funcionários do hospital eram fáceis de ignorar. O desafio era encontrar algo relevante nas memórias fragmentadas e nos pensamentos fugazes.

Quando finalmente alcancei a mente de Christopher, a experiência foi como um eletrochoque. Sua mente estava em estado de alerta, preocupada com Jennie e cheia de imagens que ele preferia esquecer. Fui aprofundando minha busca, até encontrar a lembrança que procurava.

A imagem do homem de cabelos vermelhos era nítida na mente de Christopher. O rosto do homem estava contorcido em um sorriso cruel, seus olhos brilhando com uma luz vermelha predatória. Ele criou uma ilusão na mente de Jennie, a deixando desnorteada e fazendo com que a menina usasse de sua magia para o afastar. Sua energia foi totalmente drenada pelo homem, que sumiu logo após, cheio de si.

O nome surgiu na mente de Christopher como uma maldição: Hwang Hyunjin. Ele era um vampiro, mas não qualquer vampiro. Pertencia a um clã perigoso, conhecido por sua crueldade e poder. Os Mikaelsons, mesmo sendo bruxos, sabiam que não podiam subestimar Hyunjin e seu clã.

E aqui não era território deles.

Meu sangue gelou ao perceber a gravidade da situação. Aquele vampiro não estava ali por acaso. Ele tinha um propósito, e Jennie estava no centro dele. Se ela era importante para ele, significava que estávamos todos em perigo. Ele a queria, não ela, mas o que ela podia o proporcionar, sem dúvidas ele estava a frente de nós. Eu precisava avisar Seokjin e meus irmãos imediatamente.

Desvencilhei-me dos pensamentos de Christopher, ainda abalado pelas imagens que havia visto. Minha cabeça doía, mas eu não podia perder tempo. Corri pelos corredores do hospital até encontrar Seokjin novamente.

— Seokjin! — Chamei, ofegante.

Ele ergueu o olhar do prontuário que estava lendo, a expressão preocupada.

— O que foi, Taehyung?

"Hwang Hyunjin está de volta."

Eu preciso proteger a Jennie, custe o que custar.

JENNIE VATORE-MIKAELSON
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Eu acordei em um ambiente estéril, o cheiro de produtos de limpeza e a luz branca ofuscante indicavam claramente que estava em um hospital. Pisquei, tentando me situar. e então lembrei-me vagamente da figura de cabelos vermelhos e da sensação de esgotamento que me dominou após tentar o afastar para proteger o primo Bangchan. Céus, como a minha cabeça doía!

— Jennie, você está acordada! — Uma voz suave e familiar chamou minha atenção.

Virei a cabeça para ver Chan ao meu lado, segurando minha mão com uma expressão de alívio no rosto. Ao seu lado, um homem alto e de aparência gentil, com cabelos escuros e um jaleco branco, observava-me atentamente. Ele devia ser o doutor Kim Seokjin, o pai de Taehyung, visto que ambos tinham a mesma pele pálida.

— Como você se sente, querida? — Ele perguntou, aproximando-se. — Sou o doutor Kim. Você desmaiou e foi trazida para cá. Estamos fazendo alguns exames para garantir que está tudo bem, não se preocupe.

Minha mente estava um turbilhão de perguntas. O que havia acontecido? Quem era aquele homem de cabelos vermelhos? E por que eu desmaiei? Eu não havia usado tanta magia assim...

Antes que pudesse responder, a porta do quarto se abriu abruptamente, revelando minha tia, a expressão de puro pânico no rosto. Ela correu até mim, seus olhos cheios de preocupação. Eu suspirei, querendo chorar.

— Jennie! Meu Deus, o que aconteceu? — Ela exclamou, tentando me abraçar, mas Chan a conteve gentilmente.

— Calma, mãe. — Ele disse suavemente. — Jennie está bem, só precisa descansar.

— Precisa mesmo, senhorita Mikaelson. — Doutor Kim interveio. — Sua sobrinha está exausta e precisa de repouso. Vamos fazer alguns exames adicionais, mas por enquanto, não há nada com o que se preocupar, ela está bem.

Minha tia respirou fundo, tentando se acalmar. Chan a guiou para uma cadeira ao lado da minha cama, onde ela se sentou, ainda visivelmente abalada. Ele a deu um copo de água, que ela bebia, com as mãos trêmulas.

— Jennie, o que aconteceu, enfim? Nunca te vi daquele jeito... — Chan perguntou, sua voz baixa e cheia de preocupação.

Tentei lembrar os detalhes, mas minha mente estava enevoada. Era como se aquela figura tivesse apagado várias coisas.

— Eu... vi um homem de cabelos vermelhos. — Murmurei. — Ele estava me observando e... de alguma forma, senti que ele estava me chamando. Tentei afastá-lo, mas depois disso, tudo ficou escuro...

Chan e minha tia trocaram olhares preocupados. Antes que alguém pudesse falar mais alguma coisa, a porta se abriu novamente, e Taehyung entrou, parecendo igualmente preocupado.

— Taehyung? — Perguntei, surpresa.

— Jennie. — Ele disse, aproximando-se. — Eu ajudei Chan a trazer você para o hospital. Você estava inconsciente e parecia muito mal...

O olhar de Taehyung encontrou o meu, e por um momento, senti como se ele pudesse ver além das minhas palavras, além do que eu estava revelando. Seus olhos continham um tom escuro, como da vez que o vi no cais. Ele definitivamente tinha algo além de seus olhos. Eu sabia, mas só precisava de uma confirmação.

E dependendo da confirmação, precisava de me afastar.

— Obrigada. — Eu disse, sinceramente grata. — Não sei o que aconteceu comigo.

Ele concordou, levemente, trocando olhares com seu pai e saiu, as mãos para trás do corpo. Ele era mesmo estranho, agora estava se preocupando comigo?!

— Taehyung parece se preocupar com você... ele é um bom menino. — Tia Morgan pronunciou, jogando o copo descartável no lixo.

Fiz um bico. Tia Morgan parecia não saber do que eu sabia, ou se soubesse, estava me escondendo alguma coisa.

— Ele é esquisito, isso sim.

Ela se voltou para o doutor Kim, que saía da sala com um sorriso pequeno. Enfim, ela me deu um leve beliscão.

— Me desculpe por ela, senhor Kim!

Doutor Kim apenas acenou com a cabeça, seu sorriso discreto indicando que não havia se ofendido. Após a saída dele e de minha tia para discutir mais detalhes sobre minha condição, fiquei sozinha. Antes que pudesse dizer algo, Taehyung retornou ao quarto, se sentando a minha frente e me encarando com um sorriso quadrado. Eu devia admitir que até achava bonitinho quando ele sorria assim.

— Então, como está se sentindo? — Ele me perguntou.

— Não tem nada de errado comigo, mas não querem me deixar ir embora. — Reclamei, fazendo um bico, e ele riu.

Que risada mais... aconchegante. Chega, Jennie! Ele pode ser perigoso.

Por fim, o doutor voltou com as minhas chapas de Raio X, feitas mais cedo. Eu suspirei, na esperança de poder sair dali, odiava hospitais e qualquer coisa que envolvesse jalecos brancos e estetoscópios. Ele caminhou para o painel de luz em cima da minha cabeça, e o ligou.

— Seu raio-x parece bom — ele disse. — A sua cabeça está doendo? Christopher disse que você bateu com força.

— Ela está bem — eu repeti com um suspiro, franzindo as sobrancelhas na direção de Taehyung.

Os dedos frios do doutor tatearam levemente meu crânio. Ele percebeu quando eu estremeci.

— Dolorido?

— Na verdade, não.

Podia ser bem pior do que eu imaginei.

— Bem, a sua tia está na sala de espera - você pode ir pra casa com ela e seu primo agora. Mas volte se você tiver vertigens ou se tiver qualquer problema com a sua visão.

— Eu posso voltar para a escola? — eu perguntei, imaginando minha tia tentando ser atenciosa. Eu quase matei ela mais cedo.

— Sem problemas, senhorita. Mas pegue leve.

Concordei.

— Alguém tem que espalhar a notícia de que eu estou viva... — Brinquei.

— Na verdade — O Dr. Kim corrigiu. — Parece que toda a escola e a cidade está na sala de espera.

— Ai, não... — Eu gemi em desgosto, cobrindo o rosto com as mãos.

Dr. Kim ergueu as sobrancelhas.

— Você quer ficar?

— Não, não! — Eu insisti jogando as minhas pernas pelo lado da cama e me colocando rápido de pé. Rápido demais - eu cambaleei, e Dr. Kim me segurou. Ele pareceu
preocupado.

— Eu estou bem. — Eu assegurei pra ele. Não tinha por que dizer pra ele que os meus problemas com o equilíbrio não tinham nada a ver com o fato de eu ter batido com a cabeça.

— Tome Tylenol para a dor.. — Ele sugeriu enquanto me sustentava.

— Não dói tanto assim... — Eu insisti. Eca, remédios.

— Parece que você teve sorte — Dr. Kim disse enquanto assinava meu prontuário com uma letra caligrafada.

— Sorte que o Taehyung nos ajudou — Eu emendei com um olhar duro na direção do objeto da minha declaração.

— Oh, bem, sim — Dr. Kim concordou, subitamente ocupado com uns papéis à sua frente.

Assim que o Dr. virou de costas, eu me aproximei de Taehyung.

— Será que eu posso falar com você por um minutinho? — Eu sibilei sob minha respiração. Ele deu um passo para longe de mim, sua mandíbula subitamente apertada.

— Seu primo está esperando por você, Jennie. — Ele disse entre dentes.

Eu olhei de relance para o Dr. Kim e minha tia.

— Eu gostaria de falar com você em particular, se você não se incomodar — Eu pressionei. Era agora ou nunca.

Ele me olhou fixamente, e depois me deu as costas e caminhou pelo longo quarto. Eu praticamente tive que correr para acompanhá-lo.

Assim que viramos na curva para um pequeno corredor, ele se virou para me encarar.

— O que você quer? — Ele perguntou, parecendo que sabia do que eu iria falar. Seus olhos eram frios.

A hostilidade dele me intimidou. Minhas palavras saíram com menos severidade do que eu pretendia.

— Você me deve uma explicação — Eu o avisei.

confesso que não curti muito esse capítulo, escrever na visão do tae foi um desafio pra mim, tanto que tentei me basear bastante em sol da meia noite e nos pensamentos do edward pra escrever o tae :P mas espero que gostem! beijos <3

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