0.4
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NA NOITE PASSADA EU DESCOBRI que o Chan não sabia cozinhar nada além de ovos fritos e bacon, e isso não seria nada bom, considerando que a tia Morgan saía bastante de casa. Então eu pedi pra tomar conta dos detalhes da cozinha enquanto durasse a minha estada. Ele ficou feliz o suficiente pra me deixar com a cozinha toda para mim enquanto a minha tia não estivesse.
Eu também tinha descoberto que não havia comida na casa naquele momento, o que era um problema.. Então eu estava com a minha lista de compras e o dinheiro do jarro no armário onde havia DINHEIRO DA COMIDA escrito, e estava a caminho do Walmart.
Eu dei ignição no motor barulhento do carro do Bangchan à deixa dele, ignorando as cabeças que viraram em minha direção e dei ré cuidadosamente até entrar na fila de carros que esperava na estrada para sair de casa. Enquanto eu dirigia, tentando fingir que o barulho ensurdecedor e a fumaça estavam vindo do carro de outra pessoa, eu vi os irmãos Kim entrando no carro deles. Era um Toyota novinho em folha. É claro. Eu nunca tinha reparado nas roupas deles antes – eu tinha estado hipnotizada demais com os rostos.
Agora que eu havia olhado, era óbvio que todos eles se vestiam excepcionalmente bem; em um estilo simples, mas com roupas que sutilmente sugeriam estilistas famosos. Com os seus rostos notáveis e com o estilo com que se comportavam, eles podiam usar uma sacola e ainda ficariam bem. Parecia demais pra eles ter tanto beleza quanto dinheiro. Mas até onde eu podia dizer, era assim que a vida funcionava na maioria das vezes. No caso deles, isso não parecia ter comprado aceitação por aqui.
Não, eu não acreditava inteiramente nisso. A isolação deve ser algum desejo deles; eu não podia imaginar nenhuma porta que não estivesse aberta a esse grau de beleza que eles tinham.
Eles olharam para o fusca barulhento do Chan quando eu passei por eles, igual a todo mundo. Eu mantive os meus olhos virados para frente e fiquei aliviada quando finalmente estava livre da estrada principal.
O Walmart não ficava longe da cabana da tia Morgan, só algumas ruas ao sul, fora da estrada. Era bom estar dentro do supermercado; parecia normal. Em casa, eu fazia as compras com a minha mãe, e me moldei aos padrões da tarefa familiar alegremente. A loja era grande o suficiente pra me fazer não ouvir a chuva no telhado e esquecer de onde eu estava.
Quando eu cheguei em casa, eu descarreguei as compras, enfiando elas em qualquer espaço vazio que consegui achar. Eu esperava que Chan não se incomodasse. Eu embrulhei batatas em papel alumínio e coloquei no forno pra assar, cobri bifes com molho marinado e equilibrei-os em cima de uma caixa de ovos, dentro da geladeira. Quando terminei, subi com a minha mochila.
Eu decidi ler O Duque e Eu - o romance que estamos estudando atualmente em Inglês – mais uma vez só pela diversão, e era isso que eu estava fazendo quando a tia Morgan chegou em casa. Eu perdi a noção do tempo, e corri para tirar as batatas do forno e colocar o bife pra grelhar.
— Jennie? — Minha tia me chamou quando me ouviu descer as escadas.
— Oi, tia, bem vinda ao lar.
— Obrigada, querida. — Ela pendurou o seu casaco molhado e tirou as botas enquanto eu entrava na cozinha. — Eu não sabia que você cozinhava — disse ela, surpresa e sorridente ao ver a cena que eu tinha montado na cozinha. Ela parecia ter medo, sempre que minha mãe inventava algo na cozinha, ela conseguia queimar.
— Bem, alguém precisava fazer isso, e eu pensei que seria bom cuidar dessa parte enquanto estou aqui — respondi, rindo. — Espero que você goste de bife e batata assada.
— Eu adoro — disse ela, aproximando-se para dar uma olhada nas panelas. — E devo dizer, estou impressionada. Parece delicioso.
Enquanto eu terminava de preparar o jantar, tia Morgan se dirigiu até seu pequeno escritório, que na verdade era apenas uma grande mesa de mogno no meio da sala, cheia de documentos da sua funerária e livros antigos e grossos os quais estávamos estudando antes da chegada de Chan. Ela parecia entretida, então não a chamei naquele instante.
Eu fiz uma salada enquanto os bifes grelhavam, e pus a mesa.
Eu enfim a chamei, assim como Christopher quando o jantar estava pronto, e ela cheirou apreciativamente enquanto entrava na cozinha.
— O cheiro está bom, Jenn.
— Obrigada, tia.
Nós comemos em silêncio por alguns minutos. Não era desconfortável. Nenhum de nós estava incomodado por estar quieto. Em alguns sentidos, nós servíamos para morar juntos. O silêncio era confortável.
— Então, você gostou da escola? Você fez amigos? — Chan perguntou como que pra passar o tempo.
— Bem, eu tenho algumas aulas com uma garota chamada Jisoo. Eu sento com as amigas dela no almoço. E tem essa garota, Rosé, que é muito amigável.Todos parecem ser muito legais — Com uma grande exceção.
— Essa deve ser Roseanne Park. Boa garota, boa família. O pai dela é dono da loja de suplementos esportivos que fica fora da cidade. Ele faz um bom dinheiro com os mochileiros que passam por aqui. — Minha tia respondeu.
— Você conhece a família Kim? — Eu perguntei hesitante.
— A família do Dr. Kim? Claro. O Dr. Kim é um ótimo homem.
— Eles... as crianças são um pouco diferentes. Eles não parecem se adequar muito bem na escola.
Tia Morgan me surpreendeu parecendo um pouco irritada.
— As pessoas dessa cidade... — Ela murmurou. — O Dr. Kim é um cirurgião brilhante que poderia provavelmente trabalhar em qualquer hospital do mundo, ganhando dez vezes mais do que o salário dele aqui. — Ela continuou, falando mais alto — Temos sorte por tê-lo, sorte que a esposa dele quis viver numa cidade pequena. Ele é um bem para a nossa comunidade e todos aqueles garotos são bem comportados e educados. Eu tive as minhas dúvidas quando eles vieram pra cá, com todos aqueles adolescentes adotados. Eu pensei que teríamos problemas com eles. Mas eles são todos muito maduros- eu nunca tive qualquer espécie de problema com nenhum deles. Isso é mais do que eu posso dizer de algumas crianças cujas famílias viver aqui há gerações. E eles ficam juntos do jeito que uma família deve ficar, acampando ás vezes nos finais de semana... Só por que eles são novos na cidade, as pessoas têm que ficar falando.
Foi o discurso mais longo que eu já vi a minha tia fazer sobre alguma família da cidade. Ela deve ser fortemente contra o que quer que as pessoas estejam dizendo.
Eu dei pra trás.
— Eles pareceram bons o suficiente pra mim. Eu só reparei que eles ficam muito sozinhos. Eles são todos muito atraentes. — Eu adicionei isso tentando parecer mais cortês e menos julgadora.
— Você devia ver o doutor— Tia Morgan disse, rindo. — Que bom que ele é feliz no casamento, mas ele é um pedaço de mal caminho!
Eu ri junto a ela, e Chan se juntou.
Nós continuamos em silêncio até terminarmos de comer.
Ele limpou a mesa enquanto eu comecei a lavar os pratos. Tia Morgan voltou para o escritório e depois que eu terminei de lavar os pratos á mão - nada de máquina lava-louças - eu subi a contragosto pra fazer o meu dever de Matemática.
A noite finalmente estava quieta. Eu caí no sono rapidamente, exausta.
No dia seguinte, Taehyung não apareceu na aula, para o meu desgosto. Mas seus irmãos estavam ali, presentes no mesmo canto de sempre, fingindo estar com comida em suas bandejas, mas não comendo realmente.
Jisoo e Rosé conversavam afoitas na mesa sobre algum assunto que eu não ouvi direito, encarando descaradamente os Kim.
— Jen, você tá bem? — Rosé perguntou, me tirando de meus devaneios. Voltei o olhar para ela, sorrindo levemente.
— Ah, tudo bem... o que vocês estavam falando mesmo?
— Houve mais uma morte na cidade, um pescador foi encontrado morto em seu barco essa madrugada.
Meu coração disparou. As mortes continuavam, e a ligação com os vampiros parecia cada vez mais óbvia. Tentei não demonstrar a ansiedade que crescia dentro de mim, quando claramente eu parecia desesperada por fora.
— Isso é terrível — respondi, tentando manter a voz calma. — Vocês sabem quem era?
— Não disseram o nome ainda — respondeu Jisoo, parecendo preocupada. — Mas é assustador. Quem será o próximo?
Rosé assentiu, mordendo o lábio.
— Parece que essas coisas só começaram a acontecer depois que os Kim chegaram na cidade...
Eu engoli em seco, tentando não pensar nas implicações. Precisava descobrir mais sobre essa família, mas também precisava ser cuidadosa, para não causar desconfianças. Olhei para o canto onde os irmãos Kim estavam sentados, conversando em voz baixa. Seus olhares esporádicos em minha direção não ajudavam a acalmar meus nervos.
— Precisamos ser cuidadosas — disse, voltando minha atenção para as meninas. — Não sabemos quem está por trás disso, e criar teorias não vai ajudar.
Elas assentiram, concordando, mas a tensão no ar era palpável. Terminamos o almoço em um silêncio desconfortável, cada uma perdida em seus próprios pensamentos.
Decidi dar uma volta pela cidade depois das aulas, na esperança de clarear minha mente um pouco. Caminhei pelas ruas tranquilas de Crescent Hollow, observando as lojas e as poucas pessoas que passavam. A cidade parecia pacífica, mas a calmaria escondia vários segredos sombrios.
Passei pela clínica do Dr. Kim, onde sua placa brilhava imaculadamente na luz do dia. A ideia de entrar e conversar com ele passou pela minha mente, mas rapidamente a descartei. Precisava de mais informações antes de confrontar qualquer um deles diretamente, e eu não poderia fazer aquilo. Seria loucura.
Continuei andando até chegar ao cais. O local onde o pescador foi encontrado morto estava isolado, com fitas de segurança ao redor. Alguns policiais ainda estavam lá, conversando entre si e tomando notas. Observei de longe, tentando absorver qualquer detalhe que pudesse ser útil para a minha pesquisa. A atmosfera estava extremamente tensa.
Enquanto observava, senti uma presença ao meu lado. Virei-me e, para a minha surpresa, vi Taehyung, parado a poucos passos de distância, com as mãos nos bolsos e uma expressão indecifrável.
— Oi, você deve ser a Jennie, não é? — disse ele, com a voz suave. — O que você está fazendo aqui? É perigoso.
Meu coração pulou uma batida. Ele era ainda mais intimidante de perto, sua presença carregava um peso que eu não conseguia explicar. O que ELE estava fazendo ali, não eu!
— Eu... só estava caminhando — respondi, tentando soar casual. — E você? O que faz aqui?
— Também — ele disse, dando de ombros. — É um lugar tranquilo para pensar.
Nós dois ficamos em silêncio por um momento, olhando para a cena do crime. Aquilo era horrível, o barco estava todo quebrado, quase afundando se não estivesse amarrado.
— Você ouviu sobre o pescador? — Perguntei, tentando sondar suas reações.
Ele assentiu lentamente.
— Ouvi. É trágico.
— Você acha que tem algo a ver com os outros incidentes? — Continuei, tentando parecer inocente. Afinal, eu sou.
Taehyung me olhou, seus olhos escuros avaliando minhas intenções.
— Não sei, Jennie. Mas todos na cidade estão preocupados. Espero que descubram logo quem está por trás disso.
Assenti, sentindo a tensão aumentar. Ele não parecia estar me dando muitas pistas, mas havia algo em seu olhar que me deixava desconfiada.
— Bem, espero que sim — disse, dando um passo para trás. — Eu deveria voltar para casa... Está ficando tarde.
Ele assentiu, dando um meio sorriso.
— Cuidado no caminho de volta.
Enquanto me afastava, senti seus olhos me seguindo.
Quem raios é você, Kim Taehyung?
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