0.2

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ACHO QUE MEU DESTINO TALVEZ seja ser a menina nova esquisita, porque todos nessa escola estão me encarando como se eu estivesse carregando drogas ilícitas ou como se algum passarinho tivesse feito um ninho no meu cabelo. Deve ser o fato de eu ser nova aqui e a cidade ser extremamente minúscula, eles não devem ver pessoas novas por aqui.

Descendo do ônibus, coloquei o amuleto que a Tia Morgan me deu por dentro do meu casaco, e ajeitei a minha mochila preta nos ombros. Céus, como aqui era frio. A escola de Crescent Hollow tinha o aterrorizante total de trezentos e noventa alunos, agora trezentos e noventa e um. Só na minha série, lá no Texas, tinham mais de seiscentos alunos. Todo mundo aqui havia crescido junto, seus pais eram amigos uns dos outros.

A escola parecia um emaranhado de casinhas de tijolos, coberta por uma camada de plantas e trepadeiras que subiam seu exterior até o telhado, e uma placa escrito "Crescent High" aparecia em meio aos alunos que chegavam.

Tudo bem, era só mostrar que eu era uma garota normal, nada de bruxa, apenas uma garota comum, sem nenhuma peculiaridade, como eu sempre fiz antes de mamãe morrer e eu vir morar com a tia Morgan.

Não foi difícil de encontrar a secretaria de onde eu estava, foi só avistar uma placa logo na entrada do local. E ali mesmo eu já podia perceber os olhares sobre mim.

Perderam alguma coisa na minha cara?

Que seja. Corri rumo adentro para me esconder da fina chuva que caía sobre meus cabelos castanhos e recém lavados, cheirando a morangos e dei duas batidinhas na porta do lugar. Não queria me molhar, óbvio.

Quando a porta se abriu, pude perceber que a secretaria era pequena; tinha uma pequena sala de espera com cadeiras de plástico, daquelas que se tem em bancos, carpete laranja, alguns avisos e prêmios abarrotados pelas paredes e um grande e barulhento relógio cuco, que fazia o ambiente cheirar a madeira recém encerada. Plantas cresciam por todo o lugar em grandes vasos de plástico, como se já não houvesse verde demais lá fora, cobrindo o prédio da escola. A sala era partida ao meio por um grande balcão, cheio de cestas de arame repletas de papéis e anúncios coloridos colados na parte da frente. Tinham três mesas atrás do balcão, uma delas era ocupada por uma mulher ruiva e alta, usando óculos. Ela vestia só uma camiseta roxa, o que imediatamente me fez sentir com roupas demais. Mas eu devia admitir, estava estranhando o frio.

A ruiva olhou para mim.

— Posso te ajudar, querida? — Ela perguntou e eu me aproximei, tentando fazer aquela voz de simpatia que todos fazemos quando vamos conversar com algum desconhecido.

— Sou a Jennie... — Informei, e vi seus olhos demonstrarem reconhecimento imediato, sem que eu nem precisasse dizer mais nada. Eu era esperada, tópico de fofocas, com certeza. A sobrinha da esquisita dona da funerária da cidade.

— Ah, claro! — Ela percorreu uma pilha enorme de documentos em sua mesa até achar os que procurava. – Seu horário está aqui, e um mapa da escola.

Ela trouxe várias folhas até o balcão para me mostrar e ditou todas as minhas aulas, me mostrando no mapa a melhor maneira de chegar até elas, que era a única, por sinal, e me deu um papel para que todos os professores assinassem, que eu deveria trazer de volta no fim do dia. Ela então sorriu para mim e desejou que eu gostasse de Crescent Hollow.

Eu também desejo, dona... desconhecida ruiva.

Me apressei para fora da secretaria com meus papéis. Precisava dar uma olhada naquele mapa, meu senso de direção era horrível, mesmo a escola sendo minúscula.

Assim que cheguei no refeitório era fácil de ver o prédio três. Um grande "3" estava pintado num quadrado branco no canto do prédio. Senti minha respiração acelerar cada vez mais, rumo a uma hiperventilação, enquanto eu me aproximava da porta. Tentei segurar minha respiração enquanto seguia umas meninas porta adentro. Deus, era só uma aula, por que eu parecia que ia desmaiar?

A sala de aula era pequena. As pessoas na minha frente pararam assim que entraram na sala para pendurar seus casacos numa longa fileira de ganchos meio enferrujados. Fiz o mesmo. Elas pareciam simpáticas, uma loira com pele de porcelana, outra, também com a pele clara, tinha cabelos castanho bem escuro, quase um preto. Achei elas lindas, particularmente.

Em meio a isso, as notícias sobre a morte da professora de história, a Sra. Mullins, circulavam como um vento gelado, causando arrepios e cochichos entre os alunos atrás de mim, que não paravam de falar sobre aquilo. As especulações variavam de um ataque de animais selvagens a teorias mais sinistras, mas ninguém parecia ter certeza do que realmente havia acontecido.

Eu levei o papel para o professor, um homem alto e meio calvo. Sua mesa tinha uma plaquinha pequena que o identificava como Sr. Hunter. Ele ficou me olhando assim que leu meu nome - como se ele já não soubesse - Mas pelo menos ele me mandou sentar numa carteira vazia no fundo da sala, onde eu poderia escutar música sem ninguém perceber meu fone escondido no moletom. Era mais difícil para meus colegas ficarem me encarando enquanto eu estava no fundo da sala, mas de alguma forma eles conseguiam.

Quando bateu o sinal, uma das meninas que acompanhei anteriormente veio até mim.

— Oi! Você é a Jennie Kim, não é? — Ela era graciosa, como um cisne. — Sou a Jisoo.

— Ah, sim, prazer em te conhecer, Jisoo — Respondi, tentando ser amigável, com um sorriso. Eu não era tão ruim pra fazer amigos, mas muitas vezes me sentia nervosa. Me perguntava se eles iriam gostar de mim.

— Eu ouvi falar de você. Sua tia tem uma funerária, né? Uau, o clima lá deve estar tenso com a morte da senhorita Mullins...

— Na verdade, não...

Chegava a ser triste. Ninguém se interessou por fazer um funeral para a professora. É como se ela não tivesse familiares, ou alguém que se importasse. Nesses casos, a prefeitura quem tomava conta do corpo, o enterrando sem muitas cerimônias no cemitério municipal.

Jisoo fez uma expressão de espanto, claramente surpresa.

— Nossa, isso é realmente triste. — Ela comentou, mordendo o lábio inferior. — Eu não conhecia bem a Senhorita Mullins, mas ouvi dizer que ela era uma boa professora... Eu tinha aulas de história com outro professor.

Antes que eu pudesse responder, outra garota se juntou a nós. Ela era alta, com cabelo loiro e um sorriso caloroso. Parecia uma fada encantada direto de um filme da Tinker Bell.

— Oi, você deve ser a Jennie! Sou a Rosé. — Ela disse, sorrindo aberto.

— Oi, Rosé. Prazer em te conhecer. — Sorri de volta. As pessoas aqui pareciam mesmo serem bem calorosas, ao menos eu não iria me sentir deslocada.

Jisoo e Rosé pareciam ser amigas próximas e começaram a me fazer perguntas sobre minha antiga escola e o Texas. A conversa fluía naturalmente, e eu comecei a me sentir mais confortável ali, com elas. Durante o intervalo, elas me convidaram para sentar com elas no refeitório. Aceitei, felizmente não teria que sentar com os esquisitos que ficaram me encarando mais cedo.

Enquanto nos dirigíamos ao refeitório, as duas me atualizaram sobre os acontecimentos recentes na escola, incluindo a tragédia da noite anterior. Eu escutava e concordava, anotando as informações sobre a cidade mentalmente.

Me distraindo um pouco da conversa com as meninas, notei um grupo de garotos sentados no canto do refeitório, longe da agitação. Eles eram impossivelmente bonitos, com uma presença que fazia todos os outros parecerem apagados em comparação. Eles tinham bandejas de comida, mas não comiam nada. Era estranho.

Os garotos pareciam completamente alheios ao burburinho ao redor, como se estivessem em seu próprio mundo. Um deles, em particular, me encarava veemente e eu podia sentir uma estranha tensão no ar. Seus olhos eram profundos e sombrios, e ele estava tão quieto que parecia quase etéreo.

— Ah, você notou os irmãos Kim. — Disse Jisoo, percebendo meu olhar. — Eles são meio... reservados. Dizem que vieram de uma família muito tradicional e estrita. Mas são boas pessoas, só... misteriosos. Aquele é Taehyung. Ele não fala com ninguém, mesmo assim, as meninas vivam dando em cima dele...

— Misteriosos, é? — Murmurei, ainda observando o menino e seus irmãos. Eles eram fascinantes, de uma maneira que eu não conseguia explicar. E esquisitos.

Quando cheguei em casa, tia Morgan não estava, e a lareira continuava crepitando na sala, enquanto o gato gordo dela descansava a sua frente. Estava bem frio, então me aproximei do felino, que miou bravo em resposta, como se eu estivesse tomando todo o seu calor.

"Mas que menina folgada!" Salém, o gato respondeu, o familiar de minha tia. Ele podia ser bem prepotente às vezes. O deixei de lado, revirando os olhos e fui procurar algum bilhete da minha tia, explicando onde ela estaria.

Finalmente, eu encontrei um bilhete preso na geladeira com um ímã de abóbora, com uma bruxinha ao lado dela.

"Jennie, querida, fui resolver alguns assuntos na cidade. Volto antes do jantar. Se precisar de algo, não hesite em me ligar. Com amor, Tia Morgan."

Suspirei, sentindo a solidão da casa me envolver de uma só vez. O crepitar da lareira e o ronronar distante de Salém eram os únicos sons que preenchiam o ambiente do chalé. Fui até a cozinha e preparei uma xícara de chá de camomila e me sentei à mesa, tentando processar todas as informações do meu primeiro dia.

A morte da Sra. Mullins continuava a me intrigar. Havia algo mais naquela história, algo que não estava sendo dito. Ok, vampiros, legal, mas o que mais tinha por trás daquilo? E os irmãos Kim... A forma como Taehyung me olhava era perturbadora e intrigante ao mesmo tempo. Quem era ele?

Enquanto eu bebia meu chá, minha mente voltou aos acontecimentos do dia. A conversa com Jisoo e Rosé, os olhares curiosos dos alunos e, principalmente, a presença enigmática dos irmãos Kim. Decidi que precisava saber mais sobre eles, mas não sabia por onde começar. E nem como começar.

Mas a minha intuição dizia uma coisa; Kim Taehyung não tinha nada de normal.

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