𝕮𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐭𝐫ê𝐬.
Sophia estava deitada em sua cama, as costas apoiadas na cabeceira e as pernas cruzadas, abraçando o colchão com um conforto absoluto. O quarto, envolto por um manto de penumbra, parecia imerso em uma calma quase etérea. As cortinas fechadas permitiam apenas que a luz suave de um abajur iluminasse o ambiente, criando sombras delicadas que dançavam nas paredes. O ar estava impregnado de tranquilidade, a serenidade do espaço contrastando com os turbilhões que se passavam em sua mente.
O cabelo de Sophia estava preso de qualquer jeito em um coque alto e bagunçado, com algumas mechas teimosas caindo ao redor de seu rosto. A simplicidade do seu visual, longe da perfeição, apenas intensificava sua beleza natural. Ela usava um moletom grande e folgado, que parecia pertencer a alguém bem maior que ela, mas que se adequava perfeitamente ao seu desejo de aconchego. O short jeans preto escondido sob o tecido do moletom, mal se mostrava, mas dava um toque de despreocupação ao conjunto.
Em suas mãos, um livro descansava sobre suas coxas, a capa já um pouco gasta, mas a leitura era o que a prendia ali. Seus olhos se moviam rapidamente pelas palavras, mas sua mente estava distante, ocupada com os ecos das palavras da professora. A indignação de ser comparada a Han Seo-jun fervia em seu peito, e ela se pegava repetindo, mentalmente, as palavras que soavam quase como um insulto:
"Como assim, dizer que eu sou parecida com aquele metido... E ainda por cima, me comparar a ele?! Cada uma."
O quarto, normalmente silencioso, foi subitamente quebrado por um grito vindo do andar de baixo. A interrupção foi tão abrupta que Sophia quase deixou o livro cair.
— Sophia! Desça agora! — A voz de sua tia ecoou pela casa.
Sophia soltou um suspiro longo, marcando a página do livro com um marcador colorido antes de fechá-lo, e colocou o óculos por cima da capa.
— Que foi agora? — murmurou, arrastando os pés pelo chão enquanto saía do quarto.
Ao descer as escadas, a claridade do andar de baixo fez seus olhos piscarem algumas vezes para se ajustarem. No entanto, ao alcançar os últimos degraus, ela parou de repente, e seu queixo caiu.
— Não acredito... — murmurou, a surpresa estampada em seu rosto.
Ali, parado no meio da sala, estava seu primo Tae-Min. Ele carregava uma mala de rodinhas ao lado, com uma bolsa em cima, e vestia uma jaqueta preta com jeans rasgados, como se tivesse saído diretamente de um editorial de moda casual. O sorriso fácil que ela conhecia tão bem estava em seus lábios enquanto ele abria os braços para ela.
— Surpresa! — Tae-Min exclamou, o sotaque coreano um pouco afetado pelo inglês, carregado no tom divertido.
Sophia ficou paralisada por um momento, tentando processar o que via. Tae-Min era praticamente seu irmão, mas estava estudando no exterior há dois anos. Ela achava que ele não voltaria tão cedo.
— O que você tá fazendo aqui? — perguntou, descendo os últimos degraus com passos apressados.
— Meu intercâmbio acabou. Resolvi voltar pra casa de surpresa. — Ele deu de ombros, como se fosse algo comum, mas o brilho nos olhos denunciava sua empolgação.
Sophia não conseguiu segurar o sorriso e correu para abraçá-lo.
— Não acredito que você voltou! Eu senti tanto a sua falta, seu idiota.
— Eu também senti a sua, puta — Ele riu, tirando a piranha e soltando o coque desarrumado dela, só para irritá-la.
Ela revirou os olhos, afastando-se ligeiramente, o cabelo caindo sobre os ombros.
— Vamos, temos tanta coisa pra conversar! Pega essa mala logo e vem — ela disse em um tom mandão característico.
Tae-Min gargalhou, pegando a mala e subindo as escadas com ela.
Sophia riu alegremente, seus olhos iluminados pela energia contagiante de Tae-Min. Por um breve momento, a saudade do Brasil, dos amigos e de tudo que deixara para trás foi abafada pela presença familiar e calorosa do primo. Era como se Tae-Min trouxesse um pedaço do conforto que ela tanto ansiava.
— Você não mudou nada, hein? Continua aquele bobo de sempre, — Sophia provocou, empurrando de leve o ombro dele enquanto segurava uma de suas malas.
— E você continua implicante, como sempre,— Tae-Min rebateu com um sorriso malicioso. Ele agarrou o braço dela, e juntos subiram as escadas em meio a risadas, empurrões e provocações.
Quando chegaram ao quarto de Tae-Min, ele abriu a porta de forma dramática e se virou para ela.
— Bem-vinda ao meu humilde refúgio! Ele e meio bagunçado, mas é porque sou um gênio criativo, tá? — brincou, gesticulando para o cômodo.
Sophia revirou os olhos, jogando-se na cama dele com um suspiro exagerado.
— Refúgio? Isso aqui parece um campo de guerra. Você mora aqui ou sobrevive aqui? — Ela provocou, afinal o quarto estava perfeitamente arrumado.
Ele soltou uma gargalhada e começou a arrumar suas coisas, seu quarto estava exatamente igual como havia deixado, ele começou a organizar alguns livros na escrivaninha. E enquanto fazia isso, não parava de falar. Ele estava radiante ao contar sobre sua experiência nos Estados Unidos: o intercâmbio, as festas malucas organizadas pelos americanos, as aulas intensas e como a cidade de Washington era completamente diferente da Coreia.
— Você tinha que ver, Sophia! Os caras são muito loucos. Um dia fizeram uma festa só com tema de super-heróis. Adivinha quem foi de Homem-Aranha? — Tae-Min perguntou com um sorriso largo, enquanto dobrava uma camiseta.
— Você, claro, — Sophia respondeu sem hesitar, sabendo do fanatismo do primo pelo herói.
— Errou! Foi o professor de física! Eu fui de Thor. Mas sério, até o professor tava curtindo! — Tae-Min falou, os olhos brilhando de entusiasmo.
Sophia riu, imaginando a cena. O entusiasmo dele era contagiante, e por um momento ela se esqueceu de toda a melancolia que a acompanhava desde que chegara ali.
— Desculpa não ter conseguido ir... pro enterro, — Tae-Min disse de repente, seu tom mais sério, mas ainda carregado de ternura. Ele se virou para olhar Sophia, que estava sentada na cama. — O intercâmbio me prendeu lá, mas... eu queria estar aqui com você.
Sophia balançou a cabeça e sorriu de leve, compreendendo a sinceridade dele.
— Tá tudo bem, Tae. Eu sei que você teria vindo se pudesse. O importante é que você tá aqui agora.
Tae-Min assentiu, claramente aliviado, antes de se deixar cair ao lado de Sophia na cama. Ele encarou-a com curiosidade enquanto ela ajeitava os cabelos e tomava fôlego para contar sobre seu primeiro dia na escola.
— Foi um caos, Tae — começou ela, balançando a cabeça, como se ainda tentasse processar os eventos. — Primeiro, quase fui atropelada por um idiota na entrada da escola. Mas, preciso admitir, a Ducati dele era linda.
Tae-Min ergueu uma sobrancelha, surpreso.
— Ducati? Nossa, o cara já chegou mostrando status, hein. E aí, o que aconteceu depois?
Sophia cruzou os braços, inclinando-se para trás na cama.
— Bom, assim que entrei na escola, fui recebida por uma garota muito gentil, a Soo-Ah. Fiz amizade com ela logo de cara.
— Já fez uma amiga? Rápida como sempre. — Tae-Min sorriu.
— Pois é, mas aí começou a bagunça. — Sophia suspirou, com uma expressão cansada, mas divertida. — Soo-Ah insistiu em me mostrar a escola, e a gente acabou perdendo uma aula inteira. No recreio, tudo parecia tranquilo... até um grupo de garotas veio me cercar.
— Cercar? — Tae-Min arqueou as sobrancelhas, interessado.
— Sim, Tae! Tudo porque uma delas insistia que eu tinha dado em cima do tal cara da Ducati, o Han Seo-Jun. Você acredita nisso? Mal falei com o sujeito!
Tae-Min gargalhou, jogando-se para trás na cama.
— E você, com seu gênio pacífico... Imagino que acabou com a menina, né?
Sophia revirou os olhos, mas um sorriso travesso brincava em seus lábios.
— Bom, eu não deixei barato. Falei umas boas verdades pra ela.
— Isso tem cara de confusão. E aí?
Sophia endireitou a postura, como se estivesse prestes a revelar o clímax da história.
— Então, Tae... ela veio pra cima de mim, agarrando meu cabelo — Ela dizia com entonação.
— E o que você fez? — Tae-Min perguntou, já rindo em antecipação. — Aposto que meteu um soco na garota.
— Não... — Sophia hesitou por um segundo, antes de admitir, com um sorrisinho culpado. — Tá, eu meti um soco nela.
— Meu Deus, Sophia! — Tae-Min exclamou, rindo tanto que lágrimas surgiram em seus olhos. — Você tá lá pra estudar ou pra arrumar barraco? Tinha que ser brasileira!
Sophia deu de ombros, rindo junto com ele.
— E você? Foi fazer intercâmbio pra estudar ou pra ir em festas, hein?
Tae-Min apontou para ela, ainda rindo.
— Touché.
Quando o riso finalmente diminuiu, Sophia continuou, agora com um tom mais divertido, mas também com uma pitada de incredulidade.
— Descobri que coreanos fazem um drama por coisa que na minha antiga turma no Brasil, seria motivo de zoeira. Tem uma garota na minha sala que sofria bullying antes, aí ela mudou de escola e aprendeu a se maquiar. Depois de um tempo, começou a namorar um cara. Até aí, tudo bem, né? Só que a amiga desse cara, que conhecia ele há dez anos e também era amiga dela, ficou revoltada. Espalhou pra todo mundo que a menina usava maquiagem, como se fosse o maior crime do mundo!
Tae-Min fez uma careta, tentando acompanhar.
— Espera... maquiagem? Só isso?
— Só isso. Todo mundo começou a jurar que ela parecia outra pessoa sem maquiagem, como se fosse um escândalo. A menina ficou super mal, sabe? — Sophia balançou a cabeça, incrédula. — No Brasil, a gente ia rir, chamar ela de reboco de parede, mas ninguém ia fazer esse drama todo. Tipo, lá essa zoação e normal, pelo menos na minha escola. Eu entendo o lado da garota óbvio. Mas não estou acostumada com isso sabe.
Tae-Min caiu na gargalhada de novo, batendo a mão na cama.
— Meu Deus, Sophia, eu consigo imaginar. A menina não ia durar nem um dia no Brasil!
Os dois riram juntos, deixando o peso das preocupações de lado por um momento. A conexão entre eles era como uma âncora em meio às tempestades da vida, trazendo conforto e familiaridade.
— Espera aí, você disse que o cara da Ducati se chama Han Seo-jun? — Tae-Min perguntou, pegando o celular e abrindo o Postagram. Ele rolou algumas postagens e virou a tela para Sophia. — Esse aqui?
Sophia inclinou a cabeça para analisar a foto. Era ele, inconfundível, com sua jaqueta preta e a expressão levemente desafiadora.
— Esse mesmo. Você segue ele?
— Ah, sim. — Tae-Min deu de ombros. — Estudamos juntos desde o sexto ano. Somos amigos, na verdade.
— Vocês são amigos? — Sophia arqueou as sobrancelhas, surpresa.
— Eu fazia parte do grupo de amigos dele depois que ele brigou com o Su-ho. — Tae-Min coçou a nuca, parecendo pensativo,e ao ver a expressão curiosa da prima continuou. — Ele era o melhor amigo do Su-Ho, e o Se-Yeon. Eram um trio inseparável. Mas depois que o melhor amigos deles... o Se-Yeon, se suicidou, os dois se afastaram. E começaram uma rivalidade bizarra. Como fui para os Estados Unidos, não sei como as coisas estão entre eles agora.
Sophia ouviu com atenção, absorvendo a informação. Era muita coisa para digerir.
— Su-Ho? — ela perguntou, franzindo o cenho. — Ele e da minha turma também... E o namorado da Ju-Kyung, a garota da maquiagem.
— É sério? Ele tá namorando ela? — Tae-Min parecia genuinamente surpreso — Ele não era do tipo que se relacionava muito bem com pessoas.
— Uhum. Você conhece ela?
— Não. — Ele balançou a cabeça.
Sophia ficou pensativa, mastigando as informações. "Os dois eram amigos, depois de uma tragédia começaram a se odiar. E agora o Su-Ho tá com a Ju-Kyung... Mas o jeito que o Han Seo-jun olha pra ela... será que é isso? Será que ele gosta da Ju-Kyung e não pode fazer nada porque o melhor amigo dele tá namorando com ela? Mas o Tae disse que eles são rivais... Não, não deve ser isso, devo estar ficando louca."
— Tá pensando em quê? — Tae-Min interrompeu os pensamentos dela, rindo. — Você sempre faz essa cara quando tá pensando em alguma coisa.
Sophia piscou, tentando disfarçar.
— Hum? Nada não... só tô pensando que tô com fome. — Ela mentiu, levantando-se da cama com um sorriso despreocupado. — Vem, vamos ver o que a tia fez pro jantar.
Tae-Min se levantou num salto, empolgado.
— Bora! Que saudade da comida da minha mãe.
Os dois desceram as escadas ainda rindo, suas vozes misturando-se ao som de panelas tilintando na cozinha. O aroma de comida caseira, um misto de temperos tradicionais coreanos e o toque especial da tia de Sophia, envolvia o ambiente com uma sensação de conforto.
Na sala de jantar, a tia deles estava terminando de organizar a mesa, enquanto o tio lia algo no tablet com um sorriso discreto no rosto. Ao perceber a chegada dos jovens, a mulher abriu um sorriso caloroso.
— Finalmente! Achei que vocês iam passar o dia trancados lá em cima — disse ela, fingindo um tom de reprovação, mas com uma expressão afetuosa.
— Estávamos colocando o papo em dia, mãe. — Tae-Min sorriu e puxou uma cadeira, indicando que Sophia se sentasse.
— E como foi seu dia na escola, Sophia? — perguntou Tae-Seok, levantando os olhos do tablet e cruzando os braços sobre a mesa.
Sophia ajeitou o cabelo, ainda se adaptando à formalidade gentil dos tios.
— Foi bom. Um pouco confuso no começo, mas a Soo-Ah, uma garota da minha sala, foi superlegal comigo. Ela me mostrou a escola e me ajudou com algumas coisas.
A tia de Sophia colocou tigelas fumegantes na mesa enquanto ouvia.
— Isso é ótimo, querida. Fazer amigos sempre ajuda a se adaptar mais rápido. E as aulas? Difíceis?
— Não exatamente. Algumas matérias são bem parecidas com as do Brasil. Mas confesso que vou precisar me esforçar com o coreano técnico... Tem uns termos que nunca ouvi na vida. — Sophia riu, levando os tios a rirem junto.
— Isso é normal — disse o tio. — Em pouco tempo, você vai se sentir em casa. E ter o Tae-Min por perto vai ajudar também.
— Você vai tirar isso de letra, tenho certeza — disse a tia, dando um tapinha reconfortante no ombro dela. — Você sempre foi determinada.
Tae-Min sorriu para Sophia, apoiando o queixo na mão.
— Determinada? Essa aí sempre foi mais teimosa do que determinada, mãe. — Ele provocou cutucando a costela dela — Não é, Sophia?
— Cuidado com o que fala, Tae-Min, ou vai dormir do lado de fora hoje — Sophia retrucou com um sorriso travesso, fazendo todos na mesa rirem.
O jantar prosseguiu com conversas animadas. Tae-Min compartilhava histórias das festas e confusões do intercâmbio, enquanto Sophia falava sobre as diferenças culturais entre o Brasil e a Coreia. A tia e o tio ouviam atentos, ocasionalmente adicionando comentários ou provocando os dois jovens com histórias da infância deles.
— Tae-Min, lembra daquela vez que vocês dois tentaram cozinhar sozinhos e quase incendiaram a cozinha? — perguntou , Tae-Hwa rindo.
— Não foi minha culpa, mãe! Foi ela quem disse que sabia acender o fogão — Tae-Min se defendeu, apontando para Sophia.
— Sabia mesmo! Você que jogou óleo quente na chama e fez aquela explosão! — Sophia retrucou, gesticulando dramaticamente.
Os tios riram, balançando a cabeça. Sophia lançou um olhar curioso para Tae-Min, e depois para seu tio.
— Ele vai estudar na mesma escola que eu?
— Sim — confirmou Tae-Seok sorrindo. — Ele já vai amanhã. Não é bom?
Tae-Min se remexeu na cadeira, fingindo indiferença.
— Não que eu tenha escolha, né?
Sophia riu, percebendo a ponta de sarcasmo no tom dele.
— Vai ser ótimo! Assim você pode ser meu guia oficial.
— Ótimo pra você, talvez — Tae-Min retrucou com um sorriso zombeteiro.
Tae-Hwa interrompeu, colocando a última tigela na mesa.
— Chega de brincadeiras. Vamos comer antes que esfrie.
Enquanto comiam, a tia de Sophia começou a contar histórias hilárias da infância dele.
— Você sabia, Sophia, que esse menino aqui tinha um medo terrível de patos? — disse ela, apontando para o filho com os hashis, um sorriso travesso no rosto.
— Medo de patos? Sério? — Sophia arqueou as sobrancelhas, interessada.
— Mãe, por favor... — Tae-Min suspirou, envergonhado.
— Sim! Uma vez, fomos ao parque e um pato o perseguiu porque ele estava segurando um pedaço de pão. Ele saiu correndo tão rápido que tropeçou e caiu na lama! — A tia ria tanto que precisou parar de comer, enxugando as lágrimas com um guardanapo.
Sophia não conseguiu conter a gargalhada, batendo na mesa.
— Isso é ouro puro! Vou guardar te zoar com essa história pra sempre.
— Ótimo, agora tenho duas pessoas pra me atormentar — Tae-Min resmungou, mas havia um sorriso no canto de seus lábios.
— Ah, você sabe que é tudo com amor, meu filho — respondeu a mãe, piscando para ele.
O jantar continuou com mais histórias engraçadas e momentos acolhedores. Quando terminaram, Tae-Min e Sophia ajudaram a limpar a mesa antes de subir para seus quartos.
Ao entrar em seu quarto, Sophia soltou um suspiro satisfeito. A cama de lençóis brancos impecáveis parecia incrivelmente convidativa após o longo dia. Ela abriu sua mala, pegou um pijama confortável e foi até o banheiro.
Depois de lavar o rosto, escovar os dentes, e passar seu sérum noturno, ela voltou para o quarto, sentindo-se mais relaxada. Com os cabelos ainda presos, soltou-os, deixando as ondas caírem livres sobre os ombros, e sentou-se na cama, olhando para o teto por alguns segundos.
Seus pensamentos voltaram para o que Tae-Min havia mencionado antes do jantar. "Han Seo-jun e Lee Su-ho eram melhores amigos... E agora, rivais? Será que já fizeram as pazes?" A ideia a intrigava.
— Por que será que eles brigaram de verdade? — murmurou para si mesma.
Lembrou-se do olhar que viu em Seo-jun quando ele encarou Ju-kyung naquele breve momento.
— Não era só raiva. Parecia... mágoa? Ciúmes?
Ela franziu o cenho, tentando juntar as peças. "Será que ele gosta dela? Mas, se gosta, por que não falou nada? E por que o Su-ho parece tão tranquilo com isso? Ou será que eles brigaram justamente por causa dela?"
Quanto mais pensava, mais perguntas surgiam. Sophia sacudiu a cabeça, rindo baixinho de si mesma.
— Tá parecendo drama de novela coreana, meu Deus....
Ela puxou as cobertas e se deitou, ajeitando o travesseiro enquanto o turbilhão de pensamentos continuava. "Ele tem aquele jeito durão, mas parece que tem muito mais por trás daquela expressão fechada... Será que ele também guarda suas dores em silêncio?"
Os olhos de Sophia começaram a pesar, o cansaço finalmente vencendo sua teimosia. Ela se encolheu sob os cobertores, enquanto os últimos pensamentos sobre Seo-jun rodopiavam em sua mente, como folhas sendo arrastadas pelo vento. O silêncio do quarto foi preenchido pelo som ritmado de sua respiração, até que o sono a envolveu.
Mas o descanso deu lugar à tormenta.
De repente, ela estava de volta àquela noite.
O carro avançava pela estrada deserta, cercado por sombras inquietantes de árvores balançando sob o vento. As gotas de chuva eram pesadas e rápidas, deslizando pelo vidro como lágrimas. Ela estava no banco traseiro, ajustando o vestido que havia usado no jantar. Era seu aniversário de 18 anos. Uma noite que deveria ter sido memorável por outros motivos.
— Foi uma noite incrível, não foi, meu anjo? — disse sua mãe, virando-se para ela com um sorriso caloroso.
— Claro, foi perfeita, mãe — respondeu Sophia, sentindo o calor reconfortante daquela lembrança.
Seu pai, firme ao volante, fez um comentário brincalhão sobre como a filha agora era oficialmente adulta. Eles riram, o som aconchegante preenchendo o interior do carro.
Então, o céu parecia desabar.
Um trovão ressoou tão alto que fez Sophia estremecer. O carro derrapou levemente, e seu pai segurou o volante com força, tentando manter o controle. A música suave que tocava no rádio foi abafada pelo barulho da chuva torrencial, que parecia querer engolir o mundo.
De repente, um brilho ofuscante rompeu a escuridão à frente.
— Pai, cuidado! — Sophia gritou, o pânico apertando sua garganta.
Os faróis de um caminhão vinham diretamente em direção a eles, cruzando a faixa errada. Tudo aconteceu rápido demais. Seu pai virou o volante, tentando desviar, mas as rodas deslizaram na estrada encharcada.
O som do impacto foi ensurdecedor. Metal contra metal. Vidros estilhaçando. O carro girou violentamente, jogando Sophia contra o cinto de segurança.
— Sophia! — a voz de sua mãe ecoou, desesperada, enquanto estendia a mão para protegê-la.
E então, silêncio.
A escuridão tomou conta.
Sophia acordou de repente, o coração martelando no peito como se quisesse escapar. Sua pele estava coberta de suor frio, e as lágrimas escorriam sem que ela percebesse. Ela passou as mãos tremulas pelo rosto, tentando afastar o horror daquele momento.
— Foi só um sonho —, repetiu para si mesma, embora soubesse que não era verdade.
Sophia sentou-se na cama, abraçando os joelhos. Por um momento, deixou que as lágrimas caíssem livremente. Não era a primeira vez que aquele pesadelo a assombrava, e provavelmente não seria a última.
Depois de algum tempo, ela respirou fundo, enxugou o rosto e olhou para o relógio ao lado da cama. Ainda era madrugada, mas sabia que não conseguiria dormir de novo.
Lá estava ele, Seo-jun, novamente invadindo seus pensamentos. Ele era tão irritante, tão arrogante... Mas havia algo nele. Algo que a fazia querer entender. Talvez, de alguma forma, ele também soubesse como era carregar um fardo tão pesado.
Sophia balançou a cabeça, afastando a ideia.
— Que besteira —, murmurou.
Ainda assim, o cansaço e o vazio dentro de si permaneciam, como uma sombra que se recusava a ir embora.
"𝓥𝖔𝖈ê 𝖘𝖊𝖒𝖕𝖗𝖊 𝖆𝖕𝖆𝖗𝖊𝖈𝖊 𝖖𝖚𝖆𝖓𝖉𝖔 𝖒𝖊𝖓𝖔𝖘 𝖊𝖘𝖕𝖊𝖗𝖔, 𝖇𝖆𝖌𝖚𝖓ç𝖆𝖓𝖉𝖔 𝖒𝖊𝖚 𝖒𝖚𝖓𝖉𝖔 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖏𝖊𝖎𝖙𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖘ó 𝖛𝖔𝖈ê 𝖈𝖔𝖓𝖘𝖊𝖌𝖚𝖊..."
꧁༒☬𝕽𝖎𝖉𝖉𝖑𝖊☬༒꧂
Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top