𝕮𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐪𝐮𝐚𝐭𝐫𝐨.

Sophia acordou com o toque suave do despertador. A melodia de "Magic Shop" do preenchia o quarto, e a voz calma dos meninos parecia um sussurro reconfortante, ela era apaixonada pelo Bts desde os dez anos, e aquela música tinha muito significado pra ela e aprecia descrever sua situação.

Ela abriu os olhos lentamente, ainda sentindo o peso do pesadelo que a tinha envolvido durante a noite. O teto branco acima parecia opressor, como se a realidade a estivesse esmagando. Sophia permaneceu deitada por um momento, ouvindo a música enquanto o brilho pálido do amanhecer entrava pelas cortinas.

Suspirando profundamente, afastou as cobertas e se levantou, tampando um bocejo com a mão, caminhou até o banheiro com passos arrastados. A água morna do chuveiro escorreu por seu corpo, e ela fechou os olhos, deixando que a sensação de conforto substituísse a tensão. Mas flashes do sonho ainda a assombravam: o brilho dos faróis, a chuva torrencial, o grito desesperado de sua mãe...

Ela esfregou o rosto com as mãos, tentando afastar os pensamentos. Quando saiu do banho, o vapor preenchia o banheiro, embaçando o espelho. Sophia se enrolou na toalha e voltou ao quarto, onde tudo parecia meticulosamente organizado - como se a ordem ao seu redor fosse uma tentativa de controlar o caos dentro de si.

No armário, pegou o uniforme que havia deixado separado: uma camisa branca impecável, saia plissada cinza e blazer ajustado. As roupas tinham um toque simples, mas em Sophia pareciam elegantes. Vestiu-se com cuidado, ajustando cada peça para que ficasse perfeita.

Sentou-se à penteadeira e começou a se arrumar. Passou o rímel levemente nos cílios e traçou um delineado fino nos olhos. Por fim, pegou o batom vermelho, que já era uma marca registrada, cor que usava desde criança. A cor destacava seus lábios, dando-lhe um ar confiante.

Sophia penteou os cabelos, deixando-os soltos, e aplicou um perfume floral discreto, colocou os brincos de prata e uma pulseira berloque, o colar com pingente de S no pescoço, nunca tirado. Quando terminou, olhou para o reflexo no espelho. Sua beleza natural dispensava exageros, mas havia algo nos olhos que revelava uma luta interna.

Pegou o celular, os fones de ouvido e jogou a bolsa de escola no ombro antes de sair do quarto. Desceu as escadas lentamente, o som de seus passos ecoando na casa ainda silenciosa.

- Bom dia, tia - disse, forçando um sorriso sonolento. Aproximou-se para beijar a bochecha da mulher, que estava organizando a mesa do café da manhã.

- Bom dia, meu amor. Está cheirosa como sempre - respondeu a tia, ajeitando uma bandeja de pães frescos.

Sophia sorriu de leve e sentou-se à mesa. Não demorou para Tae-min aparecer, descendo as escadas com passos rápidos e um sorriso alegre no rosto.

- Bom dia, pirainha! - ele disse, pegando um pedaço de pão antes mesmo de se sentar.

- Bom dia.... cê não cansa de ser irritante, não? Olha a hora - rebateu Sophia, mas o tom descontraído suavizou as palavras.

- Bom dia, mãe! - Tae-min deu um beijo na bochecha da mais velha, que respondeu com um sorriso afetuoso.

- Bom dia, meu amor, aí que lindo todo arrumadinho! - disse ela, apertando as bochechas dele, para seu aparente desgosto.

- Mãe, para, isso é constrangedor! - reclamou Tae-min, ajeitando o uniforme enquanto Sophia soltava uma risadinha discreta.

- Anda logo, ou vamos nos atrasar - disse Sophia, pegando uma xícara de café e bebendo um gole longo.

- Tá mandona logo cedo, hein? - Tae-min provocou, mas também apressou-se, passando geleia de morango em uma torrada e mordendo.

Após terminarem o café, Sophia e Tae-min ajudaram a Sra. Tae a tirar a mesa. Entre brincadeiras e risadas, organizaram os pratos na pia e pegaram as bolsas, caminhando até a sala de estar. Tae-min, sempre um passo à frente, abriu a porta com um floreio exagerado.

- Depois de você, Vossa Alteza - ele disse, fazendo uma reverência cômica.

- Muito engraçado, palhaço - Sophia respondeu com um sorriso de canto, enquanto saía.

O ar fresco da manhã os envolveu, e os dois seguiram pela calçada. O caminho até a escola era curto, mas repleto de provocações divertidas. Tae-min soltava piadas e Sophia rebatia com sarcasmo, fazendo com que ambos rissem mais alto do que deveriam.

Ao chegarem, o portão da escola já estava movimentado. Bicicletas eram estacionadas em um lado, enquanto carros e ônibus deixavam grupos de alunos no outro. O som das conversas animadas misturava-se ao das rodas das bicicletas e às portas dos carros batendo. Sophia parou por um instante, observando o cenário. Era uma rotina que se repetia todos os dias, mas que, de alguma forma, parecia tranquilizá-la.

- Vou procurar a Soo-ah. E você, vai pra onde? - perguntou ela, ajustando a alça da bolsa no ombro.

- Vou procurar meus friends - respondeu Tae-min, já se afastando com seu habitual sorriso despreocupado. Ele começou a andar de costas, apontando para ela. - Se comporta, viu?!

- Digo o mesmo, pirralho! Tô de olho! - provocou Sophia, cruzando os braços com uma expressão falsamente severa.

Tae-min riu, girando nos calcanhares e indo em direção ao grupo de amigos que o aguardava perto da entrada. Sophia o observou por alguns segundos, um pequeno sorriso se formando em seus lábios. Ter ele por perto era um alívio. Sua energia e jeito descontraído traziam leveza à sua rotina.

Suspirando, Sophia atravessou o campo da escola até a entrada principal. Passou pelo corredor movimentado, onde alunos conversavam e guardavam livros em seus armários. Ela subiu as escadas até a área reservada para o terceiro ano, onde o movimento era mais calmo, mas não menos animado.

Ao entrar na sala, avistou Soo-ah sentada em sua habitual cadeira ao lado do namorado, ambos rindo de algo que pareciam estar compartilhando no celular. A luz natural que entrava pelas janelas amplas iluminava a sala, destacando o sorriso brilhante de Soo-ah.

- Sophia! Você chegou! - exclamou Soo-ah, acenando entusiasmadamente.

Sophia sorriu de volta, caminhando até seu lugar habitual para deixar a bolsa sobre a cadeira. Depois, dirigiu-se até a mesa da amiga.

- Bom dia - disse Sophia, sua voz carregada de suavidade, mas com o tom confiante de sempre.

- Bom dia! - Soo-ah respondeu animadamente, segurando o braço de Sophia e puxando-a para mais perto. - Estávamos falando de você!

Yoo Tae-Hoon apenas assentiu, lançando um sorriso amigável para Sophia antes de voltar ao celular. Sophia não pôde deixar de sorrir. Momentos como aquele, de simplicidade e amizade, eram um alívio em sua rotina tão cheia de pensamentos e lembranças.

- Sobre mim? Que tipo de fofoca vocês andaram espalhando? - brincou Sophia, arqueando uma sobrancelha enquanto cruzava os braços.

Soo-ah riu.

- Só coisas boas, prometo!

Sophia arqueou uma sobrancelha, fingindo desconfiança.

- Só coisas boas? Isso me deixa ainda mais desconfiada.

Soo-ah riu, cruzando os braços com um sorriso travesso no rosto.

- Relaxa, Sophia. Eu só estava comentando com o Tae-hoon como você dá um show de sarcasmo nas aulas e deixa os professores sem palavras.

Sophia soltou um pequeno riso, balançando a cabeça.

- Não exagera, Soo-ah. Eu só... gosto de ser objetiva.

- Ah, claro. Objetiva. Tipo ontem, quando o professor Kim tentou explicar aquele conceito maluco de física e você desmontou a teoria dele na frente de todo mundo - Tae-hoon interveio, olhando para ela com um sorriso divertido.

Sophia deu de ombros, fingindo modéstia.

- Eu só perguntei onde estava a lógica. Não é minha culpa se ele ficou sem resposta.

Soo-ah e Tae-hoon riram, e Sophia sentiu seus ombros relaxarem um pouco mais. Era sempre assim com eles: fácil, leve e, de alguma forma, sempre engraçado.

- Mas, falando sério - continuou Soo-ah, inclinando-se ligeiramente para frente -, eu estava dizendo para o Tae-hoon que você deveria ser menos misteriosa. Você nunca conta nada sobre você mesma!

Sophia desviou o olhar por um segundo, fingindo observar a movimentação na sala. Por dentro, sentiu o peso da afirmação da amiga. Não era como se ela quisesse ser misteriosa. Simplesmente, carregar suas dores e memórias era algo que ela preferia manter só para si.

- Não é mistério, Soo-ah. Minha vida é bem entediante, na verdade - respondeu, com um sorriso que não chegava aos olhos.

Soo-ah estreitou os olhos, claramente não convencida, mas Tae-hoon interveio antes que ela pudesse insistir.

- Entediante? Por favor. Com seu cérebro e esse sarcasmo afiado, você poderia dominar a escola se quisesse.

Sophia riu, grata pela mudança de assunto.

- Eu passo. Prefiro só sobreviver ao terceiro ano e seguir em frente.

Soo-ah suspirou dramaticamente.

- Tudo bem, senhorita "misteriosa", você venceu. Mas saiba que eu ainda vou descobrir tudo sobre você, um dia.

- Boa sorte com isso - rebateu Sophia, lançando um olhar brincalhão.

A conversa foi interrompida pelo som da porta se abrindo. O professor de literatura, Han Joon-Hoon, entrou com um sorriso brilhante e uma pasta de couro debaixo do braço. Ele parecia sempre animado, mesmo às custas do desânimo geral da turma.

- Bom dia, pessoal! - ele cumprimentou, parando no centro da sala com as mãos nos quadris. - Vamos começar o dia com uma frase bonita, o que acham?

Um coro uníssono de "ahhh..." ecoou pela sala, carregado de preguiça e desinteresse. Alguns alunos bufaram audivelmente e se debruçaram sobre as mesas, como se quisessem desaparecer no momento em que ele abrisse a boca.

O professor soltou uma risada genuína, acostumado à recepção fria. Ele abriu a pasta com calma, fingindo ignorar o clima na sala, enquanto escolhia uma citação.

De repente, o silêncio foi quebrado por um estrondo alto. Hee-kyung, que estava sentado ao lado de Sophia, levantou-se de forma exagerada, empurrando a cadeira com tanta força que ela bateu contra a parede.

- Todo dia a mesma coisa, professor! - exclamou, erguendo o punho no ar, como se estivesse liderando uma revolução. - Ninguém gosta dessas frases!

A sala irrompeu em risadas, inclusive Sophia, que abaixou a cabeça e apoiou a testa na mão, tentando conter o riso. Soo-ah e Tae-hoon também estavam rindo, enquanto o professor Han apenas balançava a cabeça, divertido com o pequeno teatro de Hee-kyung.

- Ah, Hee-kyung, meu jovem rebelde... - disse o professor, sorrindo de canto. - Se ninguém gosta, por que é que você sempre participa?

Hee-kyung hesitou, sua boca abrindo e fechando como se estivesse tentando encontrar uma resposta. Isso apenas fez a turma rir ainda mais.

- É o espírito da contestação, professor! - ele respondeu, finalmente, sentando-se de novo com uma pose dramática.

- Certo. Enquanto você contesta, vou iluminar suas mentes com sabedoria literária. - Han Joon-Hoon ajustou os óculos e leu a citação em voz alta:

"Mesmo nas noites mais escuras, a lua ainda brilha para aqueles que se permitem olhar para cima."

O silêncio caiu sobre a sala, e alguns alunos olharam para ele com curiosidade, embora a maioria ainda parecesse entediada. Sophia, no entanto, sentiu um arrepio leve. As palavras a tocaram de uma forma que ela não esperava.

O professor sorriu novamente, percebendo o impacto.

- Pensem nisso, pessoal. Às vezes, a luz está lá, mas vocês precisam levantar a cabeça para vê-la.

Sophia olhou para a janela por um instante, observando a luz suave da manhã que entrava pela sala. Talvez fosse só coincidência, mas sentiu como se aquelas palavras fossem direcionadas a ela.

- E agora, abram os livros na página 43. Vamos continuar com nosso estudo sobre poesia romântica - anunciou o professor, voltando ao tom animado.

A turma começou a se mexer, pegando os livros e ajustando os cadernos. Sophia abriu o dela, mas ainda pensava na frase. Algo sobre aquilo a fez refletir mais do que queria admitir.

Soo-ah cutucou seu braço.

- Tá tudo bem? Você tá pensativa demais pra uma aula de poesia.

Sophia sorriu de leve, tentando disfarçar.

- Só pensando no quanto esse professor gosta de frases motivacionais.

Soo-ah riu, balançando a cabeça.

- Você é muito misteriosa, sabia?

Sophia deu de ombros, mas não respondeu. Em seu interior, as palavras do professor ainda ecoavam, como se fossem uma mensagem que ela precisava entender.

A aula continuava, mas para Sophia, era como se o mundo ao seu redor estivesse em silêncio, reduzido às melodias suaves do BTS que preenchiam seus ouvidos. Ela estava debruçada sobre a mesa, o queixo apoiado na mão, os olhos fixos na janela. Uma mecha de cabelo pendia sobre seu rosto, enquanto outra estava cuidadosamente presa atrás da orelha. Entre os dedos, uma caneta girava incessantemente, quase como se ela precisasse daquele movimento para manter a mente ocupada.

Mas não funcionava. O pesadelo ainda estava fresco, como uma sombra insistente na sua memória. Ela revivia a chuva torrencial, o brilho ofuscante dos faróis e a sensação esmagadora de impotência. O som de pneus deslizando na pista molhada ecoava em sua mente, misturando-se às notas suaves da música.

De repente, uma bolinha de papel atingiu sua bochecha, tirando-a do transe. Ela piscou, confusa, enquanto tirava os fones e olhava ao redor. Seu olhar pousou em Seo-jun, sentado um pouco à frente, inclinando-se em direção a ela com um sorriso provocador.

- Oh, esquisita, cê tá bem? - ele perguntou, com aquele tom desinteressado que só ele sabia usar, mas com um brilho nos olhos que indicava o contrário.

Sophia franziu o cenho, ainda processando a interrupção.

- Hum? Tô sim - respondeu, sua voz mais baixa e sem o costumeiro sarcasmo que geralmente o enfrentava de imediato.

Seo-jun arqueou as sobrancelhas, claramente intrigado com a resposta. Ele se inclinou ainda mais sobre a mesa, estreitando os olhos para observá-la melhor.

- Nenhuma patada? Nenhum "vai se ferrar, Seo-jun"? Não vai me chamar de Ducati?

Ela suspirou, apoiando a testa na mão enquanto olhava para ele de lado.

- Não tô afim hoje. Só me deixa quietinha, tá?

Ele ergueu uma sobrancelha, seu sorriso agora mais de canto, quase desafiador.

- Ah, mas aí que tá. Eu não sou muito bom em deixar as pessoas quietas.

Sophia soltou um som frustrado, jogando a bolinha de papel de volta nele, mas sem muita força.

- Só por hoje, Seo-jun. Não tô no clima pra lidar com você.

Ele pegou a bolinha no ar, brincando com ela entre os dedos, e inclinou a cabeça ligeiramente, como se estivesse tentando decifrá-la.

- Certo, você tá diferente. Tipo... muito diferente.... Cadê as palavras afiadas e o tom sarcástico?

- Só me deixa - repetiu Sophia, olhando para a janela novamente, evitando o olhar dele.

Seo-jun a observou por mais alguns segundos antes de dar de ombros, embora o sorriso não saísse de seu rosto. Ele não era do tipo que insistia, mas também não era do tipo que deixava algo passar despercebido.

- Tá bom, esquisita. Mas eu vou descobrir o que tá pegando - disse, jogando a bolinha de volta na mesa dela antes de se debruçar sobre a mesa.

Sophia suspirou e balançou a cabeça, mas, por dentro, uma pequena fagulha de alívio a atingiu. Por mais irritante que Seo-jun fosse, sua presença tinha algo de constante, algo que, naquele momento, ela não sabia que precisava.

Ela recolocou os fones e voltou a encarar a janela, mas agora, o pensamento de Seo-jun persiste em sua mente, competindo com as lembranças do pesadelo.

Sophia não conseguiu nem afundar-se novamente em seus pensamentos porque a voz estridente de Hee-Kyung irrompeu na sala, interrompendo a explicação do professor com um tom dramático que capturou a atenção de todos.

- Ei! A Sophia tá de fone! - ele praticamente gritou, apontando para ela como se tivesse descoberto um crime hediondo. - Olha aqui, professor!

A sala explodiu em risos abafados, enquanto Sophia, incrédula, ergueu o olhar para Hee-Kyung, com uma expressão que misturava cansaço e irritação. Ela inclinou a cabeça para o lado, lançando-lhe um olhar estreito, carregado de ameaça silenciosa.

- X9 morre cedo, sabia? - disparou, sua voz carregada de sarcasmo.

O professor Han Joon-Hoon, que já estava prestes a retomar sua explicação, ergueu a cabeça e apoiou as mãos na mesa, olhando para Hee-Kyung com uma paciência quase paternal.

- O que já conversamos sobre fofoca, Hee-Kyung? - perguntou com um suspiro, o tom mais divertido do que repreensivo.

Hee-Kyung encolheu os ombros, mas manteve o dedo apontado para Sophia.

- Mas é sério, professor, ela tá com os fones!

O professor balançou a cabeça e virou-se para Sophia, que se ajeitava na cadeira, cruzando os braços como se já soubesse o que estava por vir.

- Sophia - ele começou, o tom firme, mas sem perder a suavidade. - Pode tirar o fone?

Ela inclinou-se levemente para a frente, um sorriso despreocupado brincando em seus lábios.

- Estou prestando atenção, professor, juro.

- Então vamos testar isso. - O professor sorriu, cruzando os braços. - Se souber dizer o que eu estava falando, deixo você continuar com os fones. Mas, se errar, você os guarda e se concentra na aula.

Os colegas soltaram murmúrios animados, todos atentos ao desafio. Sophia endireitou-se na cadeira, lançando um olhar rápido para a janela como se estivesse organizando seus pensamentos.

- O senhor estava explicando a relação entre a literatura clássica e o contexto social da época. - Ela começou, a voz firme, mas descontraída. - Mencionou que escritores usam suas obras para questionar normas culturais e trazer à tona temas polêmicos. Ah, e também falou sobre Dom Casmurro, né? Disse que até hoje as pessoas debatem sobre Capitu.

A sala caiu em silêncio, enquanto todos aguardavam a resposta do professor. Han Joon-Hoon arqueou as sobrancelhas, claramente impressionado.

- Muito bem, Sophia. - Ele assentiu com um sorriso genuíno. - Parece que você realmente estava prestando atenção.

Ela deu um sorriso vitorioso e recostou-se na cadeira.

- Eu disse, professor. Consigo fazer duas coisas ao mesmo tempo.

- Mas, pra evitar que a sala toda ache que pode fazer o mesmo, vou pedir que você tire os fones, só por hoje. Pode ser? - Ele piscou para ela, arrancando risadas dos colegas.

Sophia suspirou dramaticamente, mas tirou os fones, enrolando-os com cuidado antes de guardá-los na bolsa.

- Tudo bem, professor. Só porque o senhor pediu com jeitinho.

O professor balançou a cabeça, rindo baixinho, enquanto voltava a atenção para o quadro.

- Agora, se não houver mais interrupções... - Ele lançou um olhar rápido para Hee-Kyung, que resmungou algo inaudível. - Vamos continuar.

Sophia virou-se para Hee-Kyung com um sorriso provocador.

- Valeu pela tentativa, X9. Foi divertido.

- Vai se ferrar, Sophia. - Ele respondeu baixinho, mas com um sorriso brincalhão.

Do outro lado da sala, Seo-jun observava tudo com um sorriso de canto, os olhos brilhando de diversão enquanto lançava um olhar significativo para Sophia, que o ignorou com perfeição.

A aula continuou, e Sophia até tentou focar, mas o peso do pesadelo ainda pairava em sua mente, mesmo que agora fosse mais fácil lidar com ele.

Conforme a aula prosseguia, Sophia tentava manter o foco, mas seus pensamentos logo voltaram ao mesmo ciclo de antes. Sem perceber, debruçou-se sobre a mesa, o rosto apoiado na palma da mão, a expressão exausta e distante. Foi então que algo atingiu sua cabeça de leve: uma bolinha de papel.

Ela ergueu os olhos, piscando devagar, e encontrou Seo-jun olhando diretamente para ela, com um sorriso sarcástico no rosto.

- Agora sim, essa é a Sophia sarcástica que eu conheço - ele provocou, inclinando-se levemente para frente, os braços cruzados sobre a mesa.

Sophia suspirou, revirando os olhos sem o entusiasmo habitual.

- Nem todo mundo tem energia pra encenar um show todo dia, Seo-jun. Me deixa quieta.

Seo-jun arqueou as sobrancelhas, surpreso com o tom abatido. Ele estava acostumado a respostas afiadas, mas aquilo? Aquilo era estranho.

- Nossa, não sabia que a rainha da ironia tinha um botão de desligar. - Ele disse, mas dessa vez seu tom era menos provocativo, quase preocupado.

Sophia deu de ombros, voltando a apoiar o rosto na mão, claramente sem ânimo para prolongar a conversa.

Logo o sinal para o intervalo soou, e a sala se movimentou rapidamente. Soo-ah foi a primeira a se aproximar de Sophia, um sorriso animado no rosto.

- Você foi incrível, sabia? - disse, sentando-se ao lado da amiga. - O professor Han nunca deixa ninguém escapar com aqueles desafios, mas você arrasou de novo!

- Não foi nada demais. - Sophia respondeu, levantando-se com a bolsa.

- Claro que foi! Você não só mostrou que estava atenta como também ainda conseguiu dar aquela resposta cheia de classe. Isso é muito você, Sophia.

Sophia esboçou um sorriso breve e seguiu Soo-ah para o refeitório. O lugar já estava cheio, o som de conversas e risadas ecoando pelas mesas. Assim que pegaram suas bandejas, elas avistaram Seo-jun e Su-ho sentados juntos, rindo de algo que parecia uma piada interna.

Sophia observou a cena por um momento, inclinando-se para Soo-ah.

- Eles parecem tão próximos. - Comentou. - Achei que fosse... diferente.

Soo-ah olhou para onde ela apontava e entendeu imediatamente a confusão.

- Ah, é porque eles fizeram as pazes recentemente. Antes, estavam brigados por causa de um acontecimento com o amigo deles o Se-Yeon e depois brigaram por causa da Ju-kyung.

Sophia arqueou as sobrancelhas, intrigada.

- Brigaram por causa dela? Por quê?

Soo-ah pegou sua bandeja e caminhou até uma mesa vazia, Sophia seguindo logo atrás.

- É uma longa história. - Soo-ah começou enquanto se sentava. - Mas resumindo, Su-ho gostava da Ju-kyung eles as conheceram antes dela se mudar para cá, e o Seo-jun também. Isso causou várias tensões entre eles, porque nenhum dos dois sabia lidar muito bem com isso, e viviam competindo pela atenção dela.

- E o que aconteceu? - Sophia inclinou-se para frente, interessada.

Soo-ah deu um sorriso leve, inclinando a cabeça.

- Bom, no final, a Ju-kyung escolheu o Su-ho, e o Seo-jun acabou tendo que aceitar  isso. Acho que ele só queria vê-la feliz. Foi aí que eles começaram a se entender de novo.

Sophia ficou em silêncio por um momento, absorvendo as informações enquanto olhava de longe para Seo-jun, que ria de algo que Su-ho tinha dito. Ele parecia tão despreocupado, mas havia algo mais profundo por trás daquele sorriso.

- E a Ju-kyung? - Sophia perguntou. - Ela não vai ficar com eles hoje, já que não está aqui?

- Hoje não. - Soo-ah respondeu, dando uma mordida em sua comida. - Ela está com a Go-Woon, a irmã mais nova do Seo-jun. Elas são amigas.

Sophia assentiu, processando tudo.

- Entendi. Parece... complicado.

- Com eles, sempre é. - Soo-ah riu.

Sophia mexia na comida com a colher, seus pensamentos girando mais rápido do que ela gostaria de admitir.

"Então é por isso... Aqueles olhares, aqueles suspiros. Ele gosta dela, mas não pode fazer nada a respeito."

Ela franziu o cenho, como se estivesse irritada consigo mesma por se importar tanto com a situação de alguém que ela mal conhecia. De repente, largou a colher e ergueu os olhos, quase indignada consigo mesma.

"Mas que droga, por que estou me preocupando com isso? Faz dois dias que conheço o cara! Para com isso, Sophia Tae-rin. Parou agora."

Ela balançou a cabeça levemente, como se pudesse sacudir os pensamentos para fora de sua mente. Mas, antes que pudesse voltar à sua comida, um movimento no canto de sua visão chamou sua atenção.

Ju-kyung e Go-woon haviam acabado de entrar no refeitório, rindo de algo que pareciam compartilhar. Sophia observou o momento em que Seo-jun, sentado ao lado de Su-ho, parou o que estava fazendo. O sorriso fácil em seu rosto desapareceu por uma fração de segundo, dando lugar a um olhar que ela reconheceu imediatamente: era um misto de anseio e resignação.

As dúvidas que Sophia tentava reprimir retornaram com força total.

"Ele realmente gosta dela."

Ela não conseguiu desviar os olhos do modo como Seo-jun olhava para Ju-kyung. Não era um olhar que ele direcionava a qualquer outra pessoa, e isso só alimentava a curiosidade que ela tentava afastar.

- Sophia, tá tudo bem? - Soo-ah perguntou, quebrando o silêncio enquanto mordia um pedaço de carne.

Sophia piscou, desviando o olhar rapidamente de Seo-jun e voltando a encarar sua bandeja.

- Ah, sim. Só pensando em algumas coisas.

Soo-ah arqueou uma sobrancelha, mas não pressionou.

- Você anda pensativa demais hoje. Relaxa um pouco.

Sophia sorriu de canto, mas sua mente continuava presa àquele olhar. Era fascinante e, ao mesmo tempo, perturbador.

"Eu preciso parar de tentar entender esse cara... Mas ele não facilita também."

Ela se forçou a focar em outra coisa, pegando a colher novamente e finalmente comendo um pouco do arroz. No entanto, parte dela sabia que aquilo ainda ia rondar seus pensamentos por um bom tempo.

"𝓥𝖔𝖈ê 𝖘𝖊𝖒𝖕𝖗𝖊 𝖆𝖕𝖆𝖗𝖊𝖈𝖊 𝖖𝖚𝖆𝖓𝖉𝖔 𝖒𝖊𝖓𝖔𝖘 𝖊𝖘𝖕𝖊𝖗𝖔, 𝖇𝖆𝖌𝖚𝖓ç𝖆𝖓𝖉𝖔 𝖒𝖊𝖚 𝖒𝖚𝖓𝖉𝖔 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖏𝖊𝖎𝖙𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖘ó 𝖛𝖔𝖈ê 𝖈𝖔𝖓𝖘𝖊𝖌𝖚𝖊..."

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