𝕮𝐚𝐩í𝐭𝐮𝐥𝐨 𝐜𝐢𝐧𝐜𝐨.

O sinal tocou, marcando o fim do intervalo. Soo-ah e Sophia se levantaram do banco, pegando suas bandejas e caminhando juntas de volta à sala. Soo-ah falava animadamente sobre algo que Tae-hoon havia feito, sua risada leve preenchendo o corredor.

— E aí ele simplesmente tropeçou na própria sombra! — Soo-ah contou entre risos, cutucando Sophia de leve no ombro.

Sophia apenas assentiu, com um sorriso quase imperceptível nos lábios. Sua mente, no entanto, estava a quilômetros dali. Ela mal percebia o que a amiga dizia, perdida em pensamentos desconexos que se misturavam às lembranças do pesadelo e à expressão de Seo-jun no refeitório.

— Sophia! — Soo-ah parou de andar, colocando as mãos nos quadris. Ela estralou os dedos na frente do rosto da amiga. — Sophia! Você tá me ouvindo?

Sophia piscou, parecendo finalmente notar a presença de Soo-ah.

— Ah... desculpa, o que você disse?

— Você tá bem? Tá com uma cara péssima! Han Seo-jun! — Soo-ah virou para trás, chamando o rapaz que caminhava alguns metros atrás delas. — Vem cá, acho que a Sophia tá passando mal!

Seo-jun arqueou as sobrancelhas ao ouvir o chamado, mas caminhou até elas, as mãos nos bolsos do uniforme e a expressão levemente desinteressada.

— O que foi agora? — Ele perguntou, lançando um olhar de cima a baixo em Sophia.

Soo-ah fez um gesto em direção à amiga.

— Olha pra ela! Tá branca feito um fantasma e parecia que ia desmaiar. E nem tava me ouvindo!

Seo-jun inclinou a cabeça, franzindo o cenho enquanto examinava o rosto de Sophia.

— Tá morrendo ou é drama?

Sophia ergueu os olhos devagar, claramente irritada com o comentário.

— Tô ótima, só dei uma viajada na maionese, beleza? Não precisa fazer cena.

Ela passou por eles, apertando o passo em direção à sala. Seo-jun a seguiu com o olhar, depois deu de ombros.

— Se ela desmaiar, não digam que não avisei.

— Seo-jun! — Soo-ah o repreendeu, mas ele apenas deu um meio sorriso, divertido.

Sophia entrou na sala e se jogou na cadeira, jogando a bolsa no chão ao lado. Ela pegou o celular, deslizando os dedos pela tela enquanto a sala lentamente se enchia de alunos. Por mais que tentasse, ainda não conseguia afastar aquela sensação de inquietação.

Seo-jun apareceu logo depois, parando ao lado da mesa dela. Ele puxou uma cadeira próxima, sentando-se casualmente ao lado dele com um ar provocador.

— Tá de cara fechada por quê? Ficou com raiva porque eu salvei sua vida lá fora?

Sophia ergueu os olhos lentamente, apoiando o queixo na mão.

— Me salvou? Você não fez nada e tá se achando agora?

Ele sorriu de canto, inclinando-se um pouco mais perto.

— Só tô dizendo. Você tava pálida e aérea... Não é o padrão da Sophia sarcástica que adora me infernizar. Isso é estranho.

Sophia soltou um suspiro pesado, fechando os olhos por um momento antes de falar.

— Seo-jun, eu não tô com paciência hoje. Pode me deixar em paz?

Ele se inclinou para trás, cruzando os braços, mas não parecia disposto a sair.

— Tá bom, princesa. Vou te dar um descanso... por enquanto.

Seo-jun se levantou, indo para seu lugar, mas ainda lançava olhares ocasionais na direção dela, como se estivesse tentando decifrar algo.

Enquanto isso, Sophia tentou focar no celular, mas sua mente ainda estava um turbilhão. Era como se todas as emoções mal resolvidas do dia estivessem se acumulando, deixando-a mais confusa a cada segundo. Quando o professor chegou, ela respirou fundo, tentando se concentrar, mas sabia que seria difícil.

A sala mergulhou em um misto de surpresa assim que o professor de português entrou, mas não começou a aula. Ele ajeitou os óculos no rosto enquanto observava os alunos.

— Bom dia, turma. Antes que me perguntem: não, não vou passar matéria agora.

Os burburinhos se intensificaram. Su-ho, sempre o mais centrado, ergueu a mão.

— Professor, creio que tenha se confundido de sala. Agora é a nossa aula de Química, correto?

O professor esboçou um sorriso breve.

— Não me confundi, Su-ho. Só vim avisá-los que vocês terão um período livre. O laboratório está sendo preparado para um experimento da turma seguinte. Então, aproveitem o tempo, mas com juízo, por favor.

Os alunos comemoraram com entusiasmo contido, e o professor deixou a sala.

Sophia, que estava com a cabeça apoiada na mão, suspirou aliviada. Finalmente, uma pausa. Soo-ah, no entanto, estava cheia de energia.

— Sophia! Vamos lá pra fora? Aproveitar o sol e o ar fresco? — Ela perguntou, puxando a mão da amiga para incentivá-la.

Sophia fez um gesto preguiçoso, recusando.

— Não tô no clima, Soo-ah. Vai lá com o Tae-hoon. Aproveita.

— Tá mesmo estranha hoje... — Soo-ah murmurou, franzindo a testa. Mas logo Tae-hoon apareceu na porta, chamando por ela. Soo-ah se animou novamente, despedindo-se com um sorriso. — Qualquer coisa, me chama, tá?

— Vai logo. — Sophia sorriu de canto, acenando para a amiga.

Assim que ficou sozinha, Sophia colocou os fones de ouvido, procurando um vídeo de ASMR no YouTube. Com a cabeça apoiada nos braços cruzados na carteira, fechou os olhos, deixando a voz suave do vídeo embalar seus pensamentos até que eles se apagassem.

Seo-jun retornou a sala, vendo Sophia apagada ele caminhou até ela, as mãos no bolso com olhar de desinteresse, inclinou-se sobre a mesa de Sophia, observando-a com um olhar curioso enquanto ela ainda descansava a cabeça sobre os braços. Ele tocou sua testa com as costas da mão, sentindo a pele quente.

— Tá com febre ou isso é só o seu jeito esquisito de ser mesmo?

Sophia abriu os olhos lentamente, piscando algumas vezes enquanto o encarava, com a paciência se esvaindo a cada segundo.

— Seo-jun, sério, não tô com humor pra isso hoje. Só vai.

Ele soltou uma risada baixa, afastando-se um pouco, mas mantendo o olhar nela.

— Nossa, você tá pior do que eu pensei. Nem uma patada decente. Isso sim é preocupante.

Antes que ele pudesse provocar mais, Tae-min entrou pela sala com pressa, os olhos imediatamente procurando Sophia. Ele cruzou o espaço até ela, ignorando completamente Seo-jun.

— Sophia, tá tudo bem? Ouvi a Soo-ah dizer ao Tae-Hoon que você não estava bem...

Seo-jun levantou uma sobrancelha, recostando-se na sua mesa, ao lado da de Sophia enquanto observava a cena com um sorriso sarcástico.

— Olha só, o príncipe chegou. Vai salvar a princesa adormecida, é?

Tae-min ignorou a provocação inicial e abaixou-se ao lado de Sophia, colocando uma mecha de cabelo atrás da orelha, sua expressão preocupada enquanto examinava a prima.

— Você tá com febre? Tá sentindo alguma coisa?

Sophia soltou um suspiro cansado, levantando a cabeça o suficiente para encará-lo.

— Não tô morrendo, Tae. Só tô cansada, e todo mundo decidiu hoje que precisa cuidar de mim.

Seo-jun riu de canto, claramente se divertindo com a interação.

— Cansada? Isso aí é cara de quem tá prestes a virar estatística. Sério, ela sempre fica assim ou hoje é um caso especial?

Tae-min finalmente olhou para Seo-jun, um sorriso cínico curvando seus lábios.

— Ela fica assim quando tem idiota demais por perto. Coincidência, não acha?

Seo-jun arqueou as sobrancelhas, recostando-se ainda mais casualmente na mesa.

— Idiota ou atento? É sempre bom manter os olhos abertos, especialmente quando a "princesa" aqui tá prestes a desmaiar.

Tae-min bufou, cruzando os braços enquanto analisava Seo-jun.

— E você tá preocupado por quê? Quer uma medalha por se meter onde não é chamado?

Seo-jun deu um sorriso provocador.

— Medalha não, mas posso aceitar um agradecimento por estar aqui, já que o enfermeiro oficial demorou pra chegar.

Sophia revirou os olhos, levantando-se de repente e empurrando os dois para longe.

— Vocês dois já terminaram com essa competição idiota ou querem que eu saia pra dar espaço?

Ambos recuaram, mas Seo-jun ainda parecia disposto a provocar.

— Relaxa, estranha. Só tô garantindo que você não vai cair morta aqui e me dar trabalho.

Tae-min ignorou o comentário e voltou-se para Sophia, um tom mais leve na voz.

— Tenho que voltar para minha sala... Qualquer coisa, me chama. E tenta não deixar esse cara te irritar mais do que o necessário.

— Quem disse que ele me irrita? Claramente ele só tá querendo atenção. — Sophia rebateu com um sorriso preguiçoso, antes de se jogar de volta na cadeira, claramente tentando ignorar os dois.

Enquanto Tae-min saía, Seo-jun deu um último olhar para ela, inclinando-se casualmente sobre a mesa.

— Pelo menos agora você tá parecendo a Sophia de sempre. Ainda chata, mas com um pouco mais de vida - Ele se aproximou dela -. E que jeito informal de falar com o Tae, não e? - ele caçoou imitando a forma que ela chamava o rapaz.

Sophia ergueu os olhos apenas para lançá-lo um olhar mortal.

— Se quer vida, Seo-jun, tenta não ser o motivo para eu querer arrancar a sua.

Ele deu um sorriso despreocupado e saiu assobiando, como se nada tivesse acontecido.

Sophia suspirou, recostando-se na cadeira. Por que aqueles dois sempre tinham que transformar aquilo em um show? Ela fechou os olhos, deixando as vozes ao redor se tornarem ruído enquanto tentava recuperar um pouco de paz. Sophia sentiu o peso do corpo, como se cada músculo tivesse sido esticado além do limite. A dor na cabeça começava a se intensificar, uma pressão desconfortável que parecia irradiar das têmporas. Ela pegou o celular, sua visão embaçada, e digitou uma mensagem rápida para Tae-min:

"Não tô legal não, tô querendo ir pra casa. Será que me liberam?"

A resposta dele não demorou a chegar, e, ao vê-la, um pequeno sorriso escapou dos lábios de Sophia, aliviada pela presença do primo, sempre atencioso quando mais precisava.

"Eu resolvo, me espera na saída da secretaria."

Ela guardou o celular na mochila com um suspiro de gratidão e, com a cabeça pesada, começou a reunir seus livros e materiais. Seus movimentos eram lentos, como se cada tarefa fosse um esforço. No entanto, uma presença ainda estava ali, observando-a. Quando ela olhou para o canto da sala, seus olhos encontraram Seo-jun. Ele estava ali, encostado na mesa, olhando para ela com uma expressão vaga, como se ainda não tivesse intenção de sair.

Sophia franziu o cenho e, sentindo uma pontada de frustração, decidiu falar.

— Tá aqui ainda por quê? Vai atrás dos seus amigos, cara.

Seo-jun deu de ombros, não demonstrando pressa. Seu olhar ainda estava fixo nela, como se o simples fato de estar ali fosse parte de algum jogo que ele não estava disposto a abandonar.

— Não quero.

Sophia respirou fundo, tentando conter o sarcasmo que surgiu em sua voz, mas não conseguiu.

— Porque? Acha que eu sou uma diversão? Pra ficar me pentelhando? Que saco.

Ele a encarou com um sorriso preguiçoso, como se estivesse se divertindo mais com a situação do que ela gostaria.

— Devo admitir que é divertido, sim. Porque?

Ela se levantou rapidamente, irritada, e jogou os livros na mochila com mais força do que o necessário. O movimento foi um pouco brusco, fazendo a dor na cabeça piorar, mas Sophia não se importava.

— Vai se ferrar.

Sua voz estava baixa, mas a irritação era evidente. Ela não queria mais ser o alvo das provocações, ainda mais naquele estado. Ao terminar de guardar as coisas, ela passou por Seo-jun, sem dar muita importância para sua presença. Caminhou até a porta, ignorando o peso nos ombros e a sensação de estar sendo observada.

— Aonde vai? — a voz dele veio de trás, uma pergunta simples, mas carregada de um tom de curiosidade.

Sophia parou por um momento, virando o rosto para ele, um sorriso sarcástico curvando seus lábios.

— Fazer churrasco. — Ela respondeu com rapidez, a resposta sem nenhum indício de preocupação. — Tô indo embora, tá vendo, não?

Seo-jun a observou por um momento, e, com um sorriso de canto, se aproximou um pouco mais da porta, ainda parecendo querer provocar.

— Sozinha?

Ela não respondeu de imediato. Só deu de ombros e continuou a caminhar, já passando pela porta.

— Não. Tae vai me levar.

Seo-jun franziu a testa, a curiosidade agora clara em seus olhos.

— Qual é a sua com ele?

Ela parou na entrada do corredor, olhando-o de forma desinteressada, sem paciência para mais conversas.

— Qual é a sua comigo? — respondeu na defensiva, não querendo dar mais margem para o jogo de perguntas.

Ela caminhou sem mais palavras, não querendo prolongar a conversa. Seu coração estava acelerado, sua mente cansada e a dor na cabeça não dava sinais de ir embora tão cedo. Mas a presença de Tae-min lá fora era o que a fazia seguir em frente. Quando ela o encontrasse, tudo pareceria um pouco mais fácil. Ao menos por agora.

Sophia caminhava pelos corredores da escola com passos largos, tentando ignorar o zumbido constante em sua cabeça. Cada movimento parecia pesar mais do que o anterior, como se o ar ao redor tivesse se tornado mais denso. Ela desceu as escadas lentamente, sentindo a pressão na testa aumentar a cada degrau que descia. Seus pés estavam pesados, e o som de suas botas batendo contra os degraus ecoava na quietude do ambiente. A escola, geralmente barulhenta, parecia agora um espaço distante e vazio.

Enquanto descia, pegou o celular novamente. Sua tela brilhava com as mensagens recebidas. Sophia rapidamente digitou uma mensagem para Soo-ah, tentando não se perder nas palavras que ela mesma estava escrevendo:

"Tô indo embora, Soo-ah. Não tô muito bem, Tae vai me levar pra casa. Beijo, nos falamos depois."

Ela apertou "enviar" e, ao olhar a resposta imediata de Soo-ah, um pequeno sorriso involuntário surgiu nos lábios dela. Soo-ah sempre tão preocupada, tão intensa em suas mensagens, fazia com que até os dias mais difíceis parecessem um pouco mais leves.

Mas o sorriso desapareceu rapidamente quando ela virou a esquina e avistou a porta de saída da escola. Ela sentia o peso daquilo tudo se acumulando dentro de si – as conversas, as interações e até as provocações de Seo-jun.

Assim que chegou à saída, viu Tae-min esperando por ela, encostado no carro. Ele estava vestido de forma casual, com um olhar preocupado que, mesmo disfarçado, não passava despercebido.

— Você demorou um pouco. — ele disse, com a voz baixa, enquanto observava a expressão cansada de Sophia.

Ela balançou a cabeça, tentando disfarçar a dor que ainda martelava.

— Desculpa, a cabeça tá uma bagunça. Vamos logo.

Tae-min abriu a porta do táxi para ela, e, sem mais palavras, ela entrou. O táxi estava vazio, exceto por eles dois, e a sensação de estar ali, em silêncio, foi um alívio. A cidade parecia estar em movimento, mas tudo ao seu redor parecia mais distante, como se a dor em sua cabeça tivesse criado uma barreira invisível.

Tae entrou logo depois e deu a direção ao motorista. A viagem seguiu tranquila, com o som suave do rádio preenchendo o vazio entre eles. Sophia não dizia muito, suas palavras eram escassas e seus olhos focados na rua, observando as luzes passarem pela janela. Ela queria descansar, mas ao mesmo tempo sentia uma inquietação crescente, como se a sensação de estar em movimento não fosse o suficiente para acalmar os pensamentos que continuavam girando em sua mente.

O carro se afastava cada vez mais da escola, e, apesar do cansaço, Sophia se sentiu aliviada ao estar longe daquele ambiente, ainda que o peso em seu peito permanecesse.

O táxi começou a se mover e, imediatamente, Sophia se sentiu desconfortável. O assento não parecia confortável o suficiente, e ela ajustou a posição várias vezes, tentando encontrar uma postura que aliviasse a sensação crescente de desconforto. O cheiro do estofado de couro misturado com o perfume doce do ar-condicionado não ajudava a diminuir a leveza da sua respiração, que parecia cada vez mais superficial.

A cabeça latejava, e ela se permitia fechar os olhos, mas até isso parecia desconfortável, como se o movimento do carro apenas aumentasse a pressão em sua cabeça. A janela estava fechada, e ela podia sentir o calor abafado dentro do carro. Tentava não pensar muito, mas o som do motor e o barulho contínuo do trânsito nas ruas tornavam a experiência mais claustrofóbica.

Ela olhou para Tae-min, ao seu lado, mas evitou fazer contato visual. O silêncio entre os dois se arrastava, e Sophia se sentiu estranha, como se não fosse totalmente ela mesma ali. A sensação de estar isolada de tudo e todos, com a cabeça ainda girando, a fazia querer sair do carro e simplesmente caminhar até o fim da cidade, onde o movimento frenético do mundo pudesse talvez distraí-la do peso que ela carregava. O desespero de estar dentro do carro só aumentava.

Ela mexeu os dedos nas roupas, tentando se distrair, sentindo a tensão acumulada na nuca. Tentou respirar fundo, mas parecia que o ar dentro do carro ficava mais espesso a cada respiração. Era um tipo de desconforto físico e mental, que se entrelaçava de forma implacável.

Tae-min parecia alheio a tudo isso, com o olhar fixo a paisagem na janela, ele era meio distraído. Ela não queria preocupar ainda mais o primo, então apenas se permitiu fechar os olhos por alguns segundos, tentando achar uma forma de se sentir mais leve. Mas mesmo com os olhos fechados, a sensação ruim, não a deixava.

Sentindo-se cada vez mais sobrecarregada, Sophia se curvou ligeiramente para frente, apoiando os cotovelos nos joelhos. Sua respiração estava mais irregular, e ela sabia que Tae estava observando a mudança em seu comportamento. Ele não disse nada de imediato, mas o silêncio entre os dois ficou mais denso, como se ele estivesse pesando suas palavras antes de falar.

Finalmente, depois de alguns segundos, Tae-mim se virou para ela. A expressão no rosto dele estava séria, mas a suavidade do olhar dizia mais do que ele imaginava. Ele não precisou de mais do que um olhar para saber que ela estava mal. Sem hesitar, ele colocou uma mão nas costas dela, em um gesto tranquilo e reconfortante.

— Sophia... você vai ficar bem, tá? Não precisa se preocupar, só relaxa. – Sua voz estava suave, quase como um sussurro, tentando acalmá-la.

Ela não respondeu, mas a maneira como ele a tocou fez com que o nó em seu peito começasse a se afrouxar. Ela não estava acostumada com esse tipo de atenção, mas sentia um certo alívio na presença de Tae. Ele sempre soubera ser o tipo de primo protetor, mas naquela situação, parecia estar além disso. Ele estava cuidando dela de uma maneira que ninguém mais faria, sem julgamentos.

O carro fez uma curva e, sem querer, o corpo de Sophia cedeu, e ela se acomodou nos ombros de Tae. O movimento suave do carro a embalava, e logo ela começou a sentir um sono pesado tomando conta de si. O calor confortável da sua mão nas suas costas e a voz tranquila dele a deixaram relaxar mais do que ela imaginava. Sem perceber, seus olhos se fecharam completamente, e ela adormeceu profundamente, o peso de todo o dia e da febre sumindo aos poucos.

Quando o táxi finalmente estacionou na frente da casa de Sophia, Tae não hesitou. Ele a pegou no colo com facilidade, como se ela fosse a coisa mais delicada do mundo. A sensação do seu corpo leve contra o dele fazia com que ele se sentisse ainda mais protetor. Apesar de ser algo simples, carregá-la assim significava muito para ele. Ele a cuidaria até o fim.

Sophia, ainda adormecida, se aninhou em seus braços, e Tae sorriu suavemente, percebendo o quão vulnerável ela estava naquele momento. Ele não queria acordá-la, então, com todo o cuidado do mundo, atravessou a entrada da casa, passando pela porta e levando-a para dentro.

Quando ele a deitou no sofá, com a ajuda de uma almofada para apoiar sua cabeça, Tae puxou uma manta de lã e a cobriu, garantindo que ela estivesse confortável. Ele deu um suspiro aliviado e se sentou ao lado dela, observando-a por um momento. A febre ainda estava lá, mas ele sabia que ela ia melhorar. Só precisava de um pouco de descanso.

Ele ajeitou o cabelo dela de forma cuidadosa, sentindo um carinho inesperado pela prima. Ela era forte, mas todos precisavam de um pouco de cuidado às vezes. E ele estava ali, como sempre esteve, para garantir que ela estivesse bem.

Tae-mim se sentou ao lado dela, olhando-a adormecer, com um sorriso pequeno e protetor no rosto. Sabia que, no fundo, era isso que ela precisava: um pouco de tempo para se recuperar do trauma.

Tae-mim olhou novamente para o celular em suas mãos, e a data brilhante na tela parecia quase gritar: 13. Um dia que não precisava de explicações. Ele suspirou profundamente, sentindo o peso daquele número, e finalmente compreendeu por que Sophia estava tão abatida.

Ele desviou os olhos para a prima, que dormia no sofá. Seu rosto parecia sereno, mas ele sabia que isso era apenas uma fachada temporária. Ele se lembrava do olhar perdido dela enquanto estavam no táxi, das mãos apertando o assento, da respiração entrecortada. Ela havia tentado esconder, mas ele percebeu. Tae sempre percebia.

"Então é por isso que ela ficou tão desconfortável", ele murmurou para si mesmo, sentindo um aperto no peito. As peças finalmente se encaixavam. Não era apenas o dia em si que a afetava, mas também o fato de estar dentro de um carro, algo que certamente reabria feridas ainda não cicatrizadas.

Ele se lembrou de como ela desviava o olhar das janelas, preferindo encarar o próprio colo, das mãos inquietas sobre os joelhos, e até mesmo do silêncio incomum que preenchia o espaço entre eles. Aquilo não era a Sophia que ele conhecia. Era alguém ferida, presa a memórias que não deveria carregar sozinha.

Tae-mim passou a mão pelos cabelos dela, seus dedos leves enquanto afastava algumas mechas do rosto. Ele não conseguia imaginar o peso que ela carregava. Não só pela perda, mas pela forma como ela parecia enfrentar isso sozinha, como se fosse um fardo que só ela pudesse carregar.

Ele suspirou, sentindo uma mistura de culpa e determinação. Não estava lá no dia do velório, algo que o atormentava desde então. Mas agora ele estava aqui, e isso precisava contar para alguma coisa.

"Você vai ficar bem, Soph," ele sussurrou, sua voz quase inaudível, mas cheia de certeza. Ele prometeu a si mesmo que nunca mais deixaria que ela enfrentasse algo assim sozinha.

Pegando o celular novamente, ele mandou uma mensagem rápida para sua mãe:
"Sophia está aqui comigo. Está descansando. Ela não está muito bem, mas vou cuidar dela. Não se preocupe."

Depois de enviar, ele colocou o aparelho de lado, voltando sua atenção totalmente para ela. Ele sabia que a recuperação dela não seria fácil, e que, mesmo em um dia comum, as memórias voltariam para assombrá-la. Mas Tae-mim também sabia que Sophia era mais forte do que ela mesma acreditava.

"Eu percebi, sabe," ele murmurou, como se ela pudesse ouvir. "Percebi como você ficou no carro. Mas não precisa se preocupar com isso. Não vou te pressionar. Só quero que saiba que eu tô aqui, tá bom?"

Ele apoiou os cotovelos nos joelhos e suspirou novamente, ainda acariciando os cabelos dela com cuidado. Tae sabia que sua presença não apagaria as cicatrizes, mas também sabia que estar lá por ela era o mínimo que podia fazer. Mesmo que ela nunca pedisse, ele estaria lá, do jeito que ela precisasse.

Sophia se mexeu levemente, mas não acordou. Tae-mim sorriu de leve, percebendo que ela estava finalmente relaxada. Ele se ajeitou melhor no sofá, decidido a ficar ao lado dela.

"𝓥𝖔𝖈ê 𝖘𝖊𝖒𝖕𝖗𝖊 𝖆𝖕𝖆𝖗𝖊𝖈𝖊 𝖖𝖚𝖆𝖓𝖉𝖔 𝖒𝖊𝖓𝖔𝖘 𝖊𝖘𝖕𝖊𝖗𝖔, 𝖇𝖆𝖌𝖚𝖓ç𝖆𝖓𝖉𝖔 𝖒𝖊𝖚 𝖒𝖚𝖓𝖉𝖔 𝖉𝖊 𝖚𝖒 𝖏𝖊𝖎𝖙𝖔 𝖖𝖚𝖊 𝖘ó 𝖛𝖔𝖈ê 𝖈𝖔𝖓𝖘𝖊𝖌𝖚𝖊..."

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