𝕮𝖆𝖕 33
Cap 33: Strangers to friends
O lugar estava silencioso, a não ser pelo som das respirações controladas de Samantha e Tory. Hana caminhava ao redor das duas, seu olhar atento a cada movimento enquanto analisava suas posturas.
— Certo. — Ela disse, cruzando os braços. — Quero ver o que vocês têm. Comecem.
Samantha e Tory se curvaram em respeito antes de assumirem suas posições de luta. Tory deu o primeiro passo para frente, testando a defesa de Samantha com um chute alto. Samantha bloqueou com facilidade, desviando para o lado e contra-atacando com um soco direto, que Tory mal conseguiu evitar.
— Você está hesitante, Tory. — Hana apontou. — Pare de pensar demais. Reaja.
Tory assentiu, apertando os punhos com mais firmeza. Dessa vez, quando Samantha tentou um chute giratório, Tory abaixou-se rapidamente e deslizou para o lado, revidando com um chute lateral na altura do tronco. Samantha tropeçou um passo para trás, mas logo se recuperou e voltou à ofensiva.
Hana caminhou ao redor, observando com atenção.
— Tory, você confia demais na sua força, mas precisa ser mais estratégica. Samantha é rápida e precisa. Não tente vencê-la na força bruta, use o que tem ao seu favor.
Tory respirou fundo e absorveu as palavras. No instante seguinte, Samantha avançou com uma sequência de socos rápidos, tentando pressionar Tory contra a parede. Em vez de tentar bloquear todos, como antes, Tory começou a se mover de forma mais fluida, desviando ao invés de resistir.
— Isso! — Hana incentivou. — Você está começando a entender.
Samantha, vendo que Tory estava mais ágil, decidiu mudar a abordagem. Fingiu um chute para o lado direito, mas no último segundo girou o corpo e atacou com a perna esquerda. O golpe pegou Tory de surpresa, e ela foi derrubada no tatame com um baque.
Hana se aproximou.
— Você não pode confiar só no que vê, Tory. Sinta os movimentos dela. A luta não é só sobre força e velocidade, mas sobre leitura.
Tory se levantou rapidamente, limpando a poeira do uniforme. Seu olhar agora estava ainda mais focado.
— De novo. — Disse, firme.
Samantha sorriu de lado e assumiu sua posição de combate novamente. Dessa vez, Tory esperou.
O primeiro ataque veio de Samantha, um chute frontal rápido, mas Tory já antecipava e desviou para o lado. Samantha tentou um soco, mas Tory bloqueou e segurou o pulso da adversária, tentando desequilibrá-la. Samantha usou o impulso para girar e puxar Tory junto, as duas quase caindo no tatame.
— Use o desequilíbrio dela a seu favor! — Hana gritou.
Tory entendeu na hora. Em vez de tentar resistir, ela seguiu o movimento de Samantha, mas no último instante, usou o próprio peso para girar e arremessar Samantha no chão.
Samantha caiu de costas no tatame, surpresa.
Tory ofegava, olhando para Hana, que sorriu satisfeita.
— Muito melhor.
Samantha riu, ainda deitada.
— Ok... Essa foi boa.
Tory estendeu a mão, ajudando-a a se levantar.
Hana se aproximou e cruzou os braços.
— Se vocês continuarem treinando assim, terão grandes chances no Sekai Taikai. Mas isso foi só o começo.
Tory e Samantha se entreolharam antes de assentirem. Nenhuma delas queria perder. E agora, com Hana como sensei, sabiam que estavam mais fortes do que nunca.
Samantha quebrou o silêncio, ajeitando os cabelos enquanto olhava para Hana com admiração.
— Você é muito boa, deve ser bem maneiro treinar com a Sensei Kim.
Hana soltou uma risada baixa e inclinou levemente a cabeça para o lado.
— É... eu não diria que passar a noite acordada treinando ou escalar montanhas seja tão maneiro. — Ela disse com um tom brincalhão, fazendo Tory e Samantha rirem. — Mas confesso que tudo que eu sei, devo a ela. Ela me ensinou tudo que é preciso para vencer.
Tory, ainda recuperando o fôlego, olhou para Hana com um misto de curiosidade e lembranças incômodas.
— Quando ela foi para Los Angeles treinar o Cobra Kai do Kreese, confesso que achava ela uma vaca, ainda mais quando fez eu quebrar minha mão. — Sua expressão endureceu por um momento, mas logo relaxou. — Mas, por incrível que pareça, eu vi humanidade nela nesses últimos dias. Principalmente com você, Hana.
Hana desviou o olhar por um instante, como se estivesse refletindo sobre as palavras de Tory. Respirou fundo antes de responder.
— Nem sempre foi assim. Mas acho que desde que nos conhecemos, criamos algo diferente. Acho que, no fundo, ela viu ela mesma em mim.
Por um breve momento, um silêncio pairou entre elas, como se todas estivessem pensando em suas jornadas até ali. Mas Hana logo quebrou a atmosfera séria, batendo levemente as mãos nas pernas antes de se levantar.
— Enfim, vamos voltar ao treino. Vocês têm uma luta para concluir naquele torneio. — Disse com um sorriso desafiador, fazendo Tory e Samantha rirem novamente.
Tory ergueu uma sobrancelha, olhando para Hana.
— Vai ficar pra assistir a volta do Sekai Taikai?
Hana soltou um suspiro antes de balançar a cabeça negativamente.
— Bem que eu queria, mas tenho muitos assuntos para resolver na Coreia. Tenho que dar notícias de mim para meus amigos lá.
Samantha sorriu e esticou as pernas, ainda sentada no tatame.
— Um dia ainda vou visitar aquele lugar que parece ser tão legal.
Hana deu um sorriso mais aberto dessa vez.
— Vocês serão muito bem-vindas. Ainda mais agora que a Sensei Kim vai comandar o dojang.
Tory e Samantha se entreolharam, e pela primeira vez parecia que, apesar de todas as rivalidades e conflitos do passado, estavam construindo algo novo. Algo que, talvez, fosse além do tatame.
[...]
O sol da manhã pairava suavemente sobre a rua enquanto Hana permanecia em frente à casa de Tory, suas malas já posicionadas ao seu lado, prontas para sua viagem de volta à Coreia. O vento leve balançava seus cabelos, e, por um momento, ela apenas observou a amiga à sua frente, absorvendo aquele instante de despedida.
Tory, com as mãos nos bolsos da jaqueta, olhava para Hana com um misto de admiração e gratidão. Apesar de seu jeito durão, havia uma sinceridade rara em sua expressão.
Hana deu um passo à frente e a abraçou, sentindo a força do abraço ser retribuída. Era um gesto simples, mas carregado de tudo o que haviam vivido juntas.
— Mais uma vez, muito obrigada. — Tory disse, afastando-se um pouco e encarando Hana nos olhos. — Eu não costumo agradecer tanto assim, mas você realmente merece. Você é uma pessoa incrível, espero que agora seja feliz junto com seus amigos... e o Kwon.
Hana sorriu, sentindo o peito aquecido pelas palavras.
— Eu que agradeço por tudo, Tory. Você me fez abrir os olhos antes que fosse tarde. — Ela cruzou os braços e ergueu uma sobrancelha com um sorriso brincalhão. — E não perca tempo em quebrar a cara da Zara na final. A Sam é boa, mas ela não teve os ensinamentos da melhor do mundo.
Tory riu ao perceber de quem Hana estava falando.
— Deixa eu adivinhar, Sensei Kim?
— Exatamente. — Hana respondeu.
As duas sorriram uma para a outra, e por mais que aquele momento marcasse uma despedida, não parecia algo definitivo. Era apenas uma pausa, um até logo.
Tory assentiu.
— Nos vemos em breve, ok?
Hana segurou a alça da mala e concordou, seu sorriso sereno.
— Com certeza. Assim que conseguir, prometo passar por aqui.
Tory deu um último aceno enquanto Hana se afastava, entrando no táxi que a levaria ao aeroporto. Quando a porta do carro se fechou, ela olhou pela janela e viu Tory ainda parada ali, observando-a partir.
Enquanto o veículo se movia pelas ruas de Los Angeles, Hana encostou a cabeça no banco e suspirou. Apesar de todas as mudanças, de tudo que estava deixando para trás, apenas um pensamento ocupava sua mente naquele momento.
Ela mal podia esperar para ver Kwon novamente.
[...]
O cheiro do ar ao desembarcar na Coreia fez Hana fechar os olhos por um instante. Era familiar, reconfortante. A brisa fresca trazia consigo memórias de sua infância e dos dias árduos de treinamento. Aquele lugar sempre seria seu lar.
Assim que atravessou o saguão do aeroporto, seus olhos encontraram a figura imponente de Sensei Kim, que a esperava com os braços cruzados e a expressão séria de sempre. No entanto, havia um leve brilho de satisfação em seu olhar. Sem muitas palavras, apenas um aceno de cabeça, ela guiou Hana até o carro que a levaria de volta ao dojang.
O caminho foi rápido, mas a ansiedade fazia seu coração martelar no peito. Seus dedos tamborilavam impacientemente sobre a perna, e sua mente estava apenas em uma coisa—ou melhor, em uma pessoa.
Quando o carro finalmente parou diante do dojang, Hana sentiu um aperto no coração. O gramado ao ar livre, a estrutura sólida do lugar, o silêncio respeitoso daquele lugar... fazia tanto tempo que não voltava para casa.
Assim que entrou, soltou suas malas no chão, sentindo a nostalgia tomar conta de seu corpo.
— Eu levo suas malas para seu quarto. Pode ir atrás dele. — A voz firme de Sensei Kim a trouxe de volta à realidade.
Hana assentiu rapidamente e, sem hesitar, virou-se e seguiu apressada pelo lugar do dojang. Seus passos eram rápidos, quase impacientes, enquanto seu coração batia acelerado. Cada passo a aproximava mais dele.
Quando finalmente chegou à porta do quarto de Kwon, não pensou duas vezes antes de entrar.
O ambiente estava silencioso, iluminado apenas pela luz suave que entrava. Kwon estava deitado na cama, distraído, olhando para o teto. Ele já havia recebido alta, mas ainda precisava de repouso. Seu semblante estava calmo, até que seus olhos se voltaram para a porta.
Por um instante, ele congelou. Seu coração pareceu parar por um segundo antes de disparar novamente. Ele piscou algumas vezes, como se duvidasse da própria visão.
— Hana? Eu pensei que... A sensei Kim me disse que o Kreese...
Hana caminhou em sua direção, seu olhar suave, mas determinado.
— Eu desisti. Eu dei minha faixa para a Tory. — Ela parou ao lado da cama, olhando-o nos olhos. — Eu estou com você, Kwon. Nos seus momentos difíceis, e vou estar sempre com você.
Ela ergueu o punho, o símbolo da amizade deles. Kwon engoliu em seco, sentindo os olhos marejarem. Sem hesitar, ele ergueu o próprio punho e o encostou suavemente contra o dela.
Um silêncio se instalou entre os dois, mas não era desconfortável. Era carregado de significado, de tudo que haviam passado juntos.
Então, Kwon ergueu a mão e tocou o rosto de Hana com delicadeza. O toque quente de seus dedos fez um arrepio percorrer o corpo dela, e seu coração acelerou ainda mais.
Por um momento, apenas se olharam. O tempo parecia ter parado.
Hana sentiu a respiração de Kwon se tornar irregular quando ela se inclinou ligeiramente para mais perto. Ele fez o mesmo. Os centímetros entre eles desapareceram, até que seus lábios finalmente se encontraram.
O primeiro toque foi hesitante, como se ambos quisessem prolongar aquele momento. Mas logo o beijo se aprofundou, carregado de tudo que haviam guardado por tanto tempo.
Os lábios de Kwon eram quentes contra os dela, e seu toque era gentil, mas intenso. Hana fechou os olhos, entregando-se à sensação. As mãos de Kwon deslizaram devagar para os ombros dela, segurando-a com firmeza, como se tivesse medo de que aquele momento desaparecesse.
O mundo ao redor sumiu. Nada mais importava além do calor daquele beijo.
Hana levou as mãos até os fios escuros de Kwon, sentindo-os entre os dedos enquanto inclinava levemente a cabeça para aprofundar ainda mais o contato. O coração de ambos batia descompassado, suas respirações se misturavam, e o tempo parecia não ter mais significado.
Quando finalmente se afastaram, apenas o suficiente para se olharem novamente, Kwon manteve o rosto perto do dela, seu sorriso trêmulo e emocionado.
— Você não faz ideia do quanto esperei por isso de novo... — Ele sussurrou, sua voz rouca.
Hana sorriu suavemente, seus dedos ainda acariciando a nuca dele.
— Então não precisa esperar mais.
E naquele instante, eles souberam que não importava o que acontecesse—eles sempre estariam um ao lado do outro.
Continua...
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