𝕮𝖆𝖕 24
Cap 24: Palavras para consolar
A recepção estava lotada, tomada por uma mistura de emoções que preenchia o ar. Havia a energia vibrante dos lutadores que avançaram para a próxima fase, comemorando suas vitórias, e a melancolia silenciosa daqueles que, como Hana, carregavam o peso da derrota em seus ombros. A movimentação constante de malas e vozes fazia o ambiente parecer ainda mais sufocante.
Hana estava sentada em um banco no canto, com as malas cuidadosamente posicionadas à sua frente, como uma barreira invisível entre ela e o resto do mundo. Seu olhar estava perdido, fixo no chão, enquanto os pensamentos a assombravam. Tudo o que ela havia se esforçado para conquistar parecia agora tão distante, como um sonho que escorregou por entre seus dedos. Ela sentia o peso do fracasso como capitã, como lutadora, como alguém que não conseguiu dar seu melhor.
Enquanto mergulhava em sua reflexão, o som de passos a tirou de seus devaneios. Ela ergueu os olhos, surpresa ao ver Taeyang se sentando ao seu lado. O sorriso acolhedor que ele carregava contrastava com a tristeza que ela sentia.
— Hana... — Taeyang chamou, a voz dele era suave, como se quisesse aliviar sua dor.
Hana desviou o olhar novamente, respirando fundo antes de responder:
— Eu falhei, falhei com vocês, Tae... me perdoa... — Sua voz soava pesada, carregada de arrependimento.
Taeyang balançou a cabeça levemente, os olhos cheios de compreensão.
— Não, você me ajudou quando eu achei que não conseguiria. Você me mostrou que eu podia. Demos nosso melhor, quem sabe temos mais sorte da próxima vez. — Ele disse, sorrindo, como se quisesse dividir um pouco de sua força com ela.
Hana tentou sorrir de volta, embora fosse um gesto tímido, quase hesitante. Seu olhar se desviou para outro ponto da sala, onde Kwon estava. Ele estava afastado, sozinho em um canto, com os braços cruzados e a cabeça baixa. A visão dele fez seu coração apertar ainda mais.
— Acho que perder o torneio não é a sua única dor, não é? — Taeyang observou, estudando o rosto dela.
Hana suspirou profundamente, a verdade daquelas palavras atingindo-a em cheio. Era como se olhar para Kwon aumentasse a confusão que ela já sentia. Ela queria se aproximar, mas as dúvidas ainda a seguravam.
— Hana, para com isso. Vai lá. Desta vez, de verdade, chega até ele. — A voz de Taeyang era firme, mas encorajadora.
— Eu... não posso, eu não sei como fazer isso... — Hana respondeu, a insegurança clara em cada palavra.
Taeyang soltou uma risada baixa, quase divertida.
— Você sabe liderar uma equipe em meio ao caos, com certeza sabe resolver um probleminha do seu coração.
Hana fechou os olhos por um momento, respirando fundo enquanto tentava reunir coragem. Quando os abriu, fechou as mãos com força, tentando controlar a ansiedade que disparava em seu peito. Lentamente, ela se levantou, sentindo os pés hesitarem, como se cada passo fosse um desafio maior que o anterior.
Ainda assim, ela não parou. Mesmo com a respiração acelerada e a mente cheia de dúvidas, Hana continuou avançando em direção a Kwon.
Quando pensou em voltar, era tarde demais. Hana já estava diante de Kwon, que ergueu o olhar ao perceber sua presença. Com um movimento lento, ele se levantou, ficando à sua frente, a proximidade tornando o ar ao redor denso e carregado de emoções não ditas.
— Hana... — Ele murmurou, a voz baixa, quase hesitante.
— Kwon. — Ela respondeu, com um tom suave, mas firme, como se reunir coragem para dizer seu nome fosse o primeiro passo.
Eles ficaram assim, frente a frente, em um silêncio que dizia mais do que qualquer palavra. O olhar de um para o outro era intenso, carregado de sentimentos que ambos haviam reprimido por tempo demais. Era como se o mundo ao redor tivesse desaparecido, deixando apenas os dois. O silêncio, porém, se tornou insuportável, e Hana resolveu quebrá-lo, sua voz levemente trêmula.
— Kwon, me perdoa.
Ele franziu o cenho, um misto de surpresa e confusão passando por seu rosto.
— Não tem do que se desculpar. Você não fez nada.
Ela balançou a cabeça, desviando o olhar por um momento antes de encará-lo novamente.
— Eu só... não entendo. Não entendo a sua raiva por mim. Você esteve tão distante e, agora... mesmo perto, parece que estamos a quilômetros de distância...
Os olhos de Kwon suavizaram, e ele respirou fundo antes de responder:
— Hana... olha, me desculpa, tá legal? Eu sei que disse coisas babacas e que eu sou um. A culpa é minha, toda minha.
— Kwon...
Ele continuou, a voz mais baixa agora, quase quebrando.
— Eu só... entrei em pânico. Naquele dia... quando você me beijou. Eu sempre senti algo por você, mas nunca consegui entender o que era. E quando aconteceu... simplesmente não soube o que fazer. Eu vi que era recíproco, e... eu estava tão concentrado em ganhar que perdi o controle...
Hana sentiu o peso de cada palavra dele, mas antes que pudesse responder, Kwon interrompeu seus pensamentos.
— Tá tudo bem... eu também não fui a melhor pessoa do mundo. Pensei só em mim, quando deveria pensar em todos. Mas agora... — Ela parou, a voz quase falhando. — Eu me sinto completamente inútil. Estou cansada, cansada de lutar. Eu me rendi a isso e...
Antes que ela pudesse terminar, as mãos de Kwon se ergueram, segurando delicadamente o rosto dela. Seus olhares se encontraram por mais um breve instante, e, então, ele a beijou.
Foi diferente dessa vez. Não havia mais dúvidas ou hesitação. O beijo foi profundo, carregado de tudo que haviam deixado de dizer, de todo o sentimento acumulado durante o tempo que estiveram separados. A língua dele pediu passagem com suavidade, e a dela cedeu, ambos encontrando um ritmo natural, como se estivessem em perfeita sincronia.
A mão de Kwon permaneceu no rosto dela, seus dedos acariciando suavemente sua pele, enquanto a outra mão desceu para sua cintura, segurando-a com uma firmeza delicada, como se temesse que ela pudesse escapar. As mãos de Hana foram para o peito dele, um toque suave, mas que cedia completamente àquele momento.
Era como se o tempo tivesse parado. Tudo que haviam reprimido agora vinha à tona, preenchendo o espaço entre eles. O mundo exterior não existia mais; eram apenas eles, naquele instante perfeito, selando tudo que sentiam.
Quando a falta de ar finalmente os alcançou, os dois se separaram, os rostos ainda próximos, enquanto tentavam recuperar o fôlego. As respirações ofegantes e os olhos que ainda se encaravam diziam tudo: ali, naquele beijo, não havia mais barreiras.
Kim Dae-un estava afastada, mas seus olhos percorriam o espaço até encontrarem Hana. A jovem estava diante de Kwon, os dois próximos, compartilhando algo que a sensei não precisava ouvir para entender. Um pequeno sorriso curvou os lábios de Kim, discreto, mas carregado de orgulho. Ela havia treinado Hana com rigor e carinho, e agora, observá-la tão determinada e confiante era a maior recompensa. Com esse pensamento, Kim voltou sua atenção para Kreese, retomando a conversa como se nada tivesse acontecido.
Hana sentia como se estivesse flutuando. Tudo aquilo – as lutas, os olhares, as confissões – parecia um sonho. Mas, como em todo sonho, sempre havia espaço para o inesperado. A surpresa veio quando, de repente, a voz do apresentador ecoou pelo ambiente, chamando todos os lutadores para a recepção.
O burburinho tomou conta do local enquanto os competidores se reuniam, trocando olhares curiosos e apreensivos. Hana se posicionou ao lado de Kwon, sentindo a tensão crescente ao redor. O apresentador, com um semblante sério, olhou para o público reunido antes de falar:
— Peço desculpas por convocá-los assim. Mas, dadas as circunstâncias, foi necessário.
O silêncio caiu sobre o espaço.
— O Sekai Taikai tem uma longa e honrosa tradição. Lutamos duro, mas lutamos limpo. Por isso, é triste anunciar que um dos dojos aqui manchou essa tradição com trapaça.
O impacto das palavras foi imediato. Murmúrios começaram a surgir entre os presentes, rostos confusos e indignados se viraram para todos os lados. Hana trocou um olhar com Taeyang, ambos tentando entender o que estava acontecendo.
— Sensei Ivan! — O apresentador falou com firmeza, direcionando o olhar para um homem no canto. — Quatro dos seus alunos testaram positivo para substâncias que melhoram o desempenho. Estão eliminados do torneio!
O dojo inteiro congelou. O Sensei Ivan, um homem com uma expressão sempre carregada, deu um passo à frente, sua voz transbordando raiva.
— Do que você está falando? — Ele gritou, seus olhos faiscando.
— Estão fora da competição! — Reafirmou o apresentador, sua postura inabalável diante da indignação.
Ivan deu um passo agressivo, sua voz se elevando ainda mais.
— Palhaçada! Por que você não vem até aqui e me tira pessoalmente?
O apresentador não se intimidou. Ele ergueu a mão em um gesto para interromper o avanço de Ivan e falou com firmeza cortante:
— Sensei Ivan! Considere-se com sorte o seu dojo não ter sido banido para sempre! Mas continue agindo assim, e daremos um jeito nisso facilmente!
O confronto visual entre os dois foi tenso. O sensei parecia prestes a explodir, mas, percebendo que não tinha saída, cerrou os punhos e deu um passo para trás. Com um movimento brusco, ele fez um gesto para seus alunos, ordenando que saíssem.
A cena foi desconfortável para todos. Os membros do dojo deixaram o local cabisbaixos, e Ivan saiu por último, seu olhar ainda repleto de ira. O ambiente ficou em silêncio, como se todos estivessem digerindo o que acabara de acontecer.
Hana observou tudo com atenção. Ao seu lado, Kwon estava igualmente imóvel, os olhos fixos na porta por onde Ivan havia desaparecido. Uma mistura de alívio e desconforto pairava no ar, mas o torneio continuava. E agora, sem mais interrupções, era hora de seguir em frente.
— O dojo com a próxima maior pontuação vai substituir o Tiger Strike.
Hana sentiu o coração acelerar. Seus olhos imediatamente buscaram Tory ao seu lado, encontrando nos dela um reflexo de esperança. A tensão era palpável, cada segundo parecendo uma eternidade.
— Cobra Kai!
As palavras ecoaram pela recepção, e Hana não conseguiu conter a explosão de alegria que tomou conta dela. Um sorriso largo iluminou seu rosto enquanto ela girava para abraçar Tory com entusiasmo.
— Conseguimos! — Hana exclamou, a emoção transbordando em sua voz.
Mas ela não parou ali. Sem hesitar, virou-se e lançou-se nos braços de Kwon, envolvendo-o em um abraço apertado, quase esmagador.
— Conseguimos... estamos de volta. — Ela sussurrou baixinho, próxima ao ouvido dele, sua voz carregada de alívio e felicidade.
Kwon sorriu, um sorriso sincero que ele raramente mostrava. Suas mãos seguraram firmemente as costas de Hana enquanto ele inclinava levemente a cabeça em direção ao ouvido dela.
— Eu sabia. Somos os melhores. — Ele respondeu no mesmo tom, a confiança em sua voz aquecendo o momento.
Quando Hana finalmente se afastou do abraço, seus olhos encontraram os de Kim Dae-un. Pela primeira vez, sua sensei demonstrou uma afeição rara e genuína. Sem dizer uma palavra, Kim deu um passo à frente e envolveu Hana em um abraço firme, algo que Hana jamais esperaria.
— Não perca o foco. Você consegue vencer esse torneio. — Kim disse com seriedade, mas havia um leve sorriso nos lábios quando se afastou, como uma silenciosa demonstração de orgulho.
Hana assentiu, sentindo o peso das palavras da sensei. Mas, antes que pudesse processar tudo, a voz do apresentador voltou a ecoar, chamando a atenção de todos.
— E agora, uma notícia boa! Vamos anunciar o sorteio para as semifinais.
Uma mulher elegante aproximou-se do apresentador, entregando-lhe uma série de papéis. Ele os analisou rapidamente antes de começar a leitura, sua voz projetando-se pela sala.
— Na chave feminina, a primeira semifinal será... Maria Álvares contra Zara Malik!
Hana observou enquanto algumas competidoras murmuravam entre si, mas manteve sua postura firme.
— E... na segunda luta, nós teremos Hana Mizuky contra... Samantha LaRusso!
O nome de Samantha fez Hana imediatamente lançar um olhar em sua direção. O olhar foi correspondido, intenso, mas sem hostilidade, apenas uma compreensão mútua de que a luta seria um teste de habilidade e força.
— Na chave masculina — continuou o apresentador —, a primeira disputa da semifinal será... Diego Aguilar contra... Kwon Jae-sung!
Ao ouvir o nome de Kwon, Hana instintivamente estendeu a mão, pegando discretamente na dele. Foi um gesto pequeno, mas cheio de significado. Kwon apertou a mão dela com firmeza, sem dizer nada, mas o olhar que trocaram dizia tudo: eles estavam juntos nessa, em espírito e em apoio.
— E a nossa segunda disputa colocará Axel Kovačević contra... Robby Keene! — O apresentador finalizou. — Boa sorte a todos os semifinalistas. Esperamos ver vocês amanhã na arena.
Com um último cumprimento formal, ele deixou a sala, e o burburinho entre os lutadores recomeçou.
Hana permaneceu ao lado de Kwon, sua mente girando com os próximos desafios. Era uma nova chance, mas também a última. Não havia espaço para erros, e ela sabia disso. Era tudo ou nada.
Continua...
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