Prologue
HANA HAVIA ACABADO de chegar ao local, sentindo-se desconectada de tudo ao seu redor. O ambiente era escuro, iluminado apenas pela luz fraca de algumas lanternas no acampamento improvisado. Ela observava de longe, com as pernas encolhidas e os braços cruzados, as crianças da sua idade brincando juntas, aparentemente despreocupadas. O som de risadas e gritos animados ecoava pelo ar, mas Hana se sentia deslocada, incapaz de encontrar coragem para se juntar a eles.
Sentada em uma pedra próxima, ela mexia nervosamente nos dedos, o olhar hesitante voltado para os garotos que pareciam tão diferentes dela. Aquele grupo de meninos corria e interagia como se já fossem velhos amigos, algo que Hana nunca teve.
De repente, passos suaves a alertaram, e ela instintivamente recuou um pouco, estreitando os olhos na direção de uma mulher que se aproximava. A figura dela, mesmo imponente, carregava uma certa serenidade. Percebendo o nervosismo da garota, a mulher ergueu as mãos de forma tranquilizadora.
— Ei, calma — disse com um sorriso contido, sua voz firme mas sem ameaças. — Você é a Hana, né? Meu avô falou sobre você e sua história.
Ela sentou-se ao lado da pequena com movimentos controlados, como se quisesse mostrar que estava ali para conversar, não intimidar.
— Eu sou a sensei Kim Da-Eun. Eu irei treinar vocês para um futuro onde todos serão fortes para sobreviver nesse mundo — ela completou, olhando diretamente nos olhos de Hana, que permanecia em silêncio.
Hana apenas assentiu com um pequeno movimento de cabeça, ainda desconfiada, desviando o olhar de volta para as crianças que brincavam juntas.
— Está com medo? Por que só fica longe deles? — Da-Eun perguntou, inclinando-se ligeiramente em sua direção.
Hana demorou um momento antes de responder, sua voz baixa e hesitante:
— Eu...não conheço ninguém... Por que me querem aqui?
A sensei pareceu refletir por um instante, como se também buscasse as palavras certas.
— Bem, eu também não sei o que meu avô viu em você — admitiu, com um leve sorriso de canto que fez Hana abaixar a cabeça, insegura. — Mas... sei que posso transformá-la em alguém que ninguém nunca viu. Você pode ser forte. Sabe aquelas crianças que estão te excluindo? Você pode ser mais forte que eles. Mais forte que todos.
Hana olhou para ela, confusa, mas intrigada.
— Mas... eu mal consigo lutar. Eu só tenho 6 anos... como posso ser forte?
Da-Eun inclinou a cabeça, seus olhos escurecendo ligeiramente com a lembrança de algo.
— Eu também era fraca igual a você. Mas aprendi que a vida não vai ter piedade de mim enquanto eu for fraca. E nem de você. E você sabe bem disso com o pouco que viveu.
Por um momento, Hana ficou encarando aquela mulher, como se tentasse absorver cada palavra que ela dizia. Havia algo em seu tom, na confiança absoluta em suas palavras, que despertava algo dentro da pequena garota. Sem saber exatamente por que, Hana começou a acreditar.
Daquele momento em diante, algo mudou em sua mente. A pequena criança solitária decidiu que, de alguma forma, ela seria forte. Ela não sabia como, mas algo em suas palavras ecoou fundo, plantando a semente de uma determinação que moldaria seu futuro.
[...]
No dia seguinte, Hana finalmente reuniu coragem para se aproximar dos outros meninos, que conversavam animadamente em um canto próximo ao dojang. Seus passos eram hesitantes, o coração disparado pela incerteza do que enfrentaria. Assim que se aproximou, os olhares dos garotos recaíram sobre ela. Eles cochichavam entre si, trocando risadas maldosas, o que fez Hana se sentir ainda mais deslocada.
— Oi... eu sou a... — começou Hana, tentando soar confiante.
Antes que pudesse terminar sua frase, um dos meninos deu um passo à frente. Ele era magro, mas tinha uma postura que transbordava arrogância, algo que parecia não combinar com a idade.
— Eu sou o Yoon Do-Jin. Apesar de sermos novos, eu sou o melhor daqui. E não precisamos de garotas, por que ainda está aqui? — disse ele com um tom desdenhoso, a voz carregada de provocação enquanto os outros riam em coro.
Aquelas palavras atingiram Hana como um golpe. Sem responder, ela deu meia-volta, os olhos marejados, e correu até um canto sob a sombra de uma árvore próxima. Ali, se encolheu, deixando as lágrimas caírem enquanto abraçava os joelhos. O choro silencioso ecoava sua solidão e rejeição.
De repente, uma voz suave, mas firme, a tirou daquele momento de tristeza.
— Olá, acho que deixou isso cair — disse o garoto que agora estava diante dela, estendendo uma pequena pulseira.
Hana levantou os olhos, surpresa. O garoto era um pouco mais alto que ela, com um rosto gentil que contrastava com os outros meninos. Ele segurava a pulseira com cuidado, como se fosse algo precioso.
— Obrigada... — respondeu Hana, pegando o objeto. — Foi a única coisa que meus pais me deixaram antes de me abandonarem na rua...
O garoto pareceu hesitar por um instante, a expressão suavizando ao ouvir aquelas palavras.
— Caramba... que história triste. Enfim, não liga pra eles não, estão só te zuando. Fazem isso com todos. Acho que, com você, é mais pesado por ser uma garota — disse ele, em um tom quase casual, mas com uma sinceridade que acalmava Hana.
Ela enxugou as lágrimas com a manga da blusa, ouvindo atentamente.
— Eu sou o Kwon Jae-Sung, mas me chame só de Kwon — apresentou-se, um sorriso iluminando seu rosto. Era um sorriso tão genuíno que fazia seus olhos se fecharem ligeiramente, algo característico de sua origem asiática.
— Eu sou a... Hana Mizuky... — respondeu ela, a voz ainda fraca, mas com um toque de gratidão.
— Prazer em conhecê-la, Hana. Se quer que eles parem com as zoações, vê se não fica chorando por aí. Mostra pra eles que é forte — disse Kwon, o sorriso permanecendo enquanto ele dava meia-volta para se juntar aos outros meninos.
Hana ficou parada, o coração um pouco mais leve. Kwon havia sido uma das poucas pessoas que mostraram gentileza com ela em sua curta vida. Observando-o retornar ao grupo, ela percebeu que aquelas palavras a tocaram profundamente. Talvez, apenas talvez, ela pudesse encontrar força dentro de si para enfrentar tudo aquilo.
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