𝕮𝖆𝖕 5

Cap 5: Miyagi-do

Era uma manhã fria, o sol tímido iluminava as ruas enquanto Maya caminhava com passos firmes. A decisão estava tomada, embora soubesse que não deveria estar ali, a urgência a guiava em direção ao reformatório. Ela não hesitou ao se aproximar dos policiais à entrada, sua determinação visível em cada movimento.

— Olá, o que deseja? — Um dos policiais perguntou, interrompendo o som do ambiente.

— Eu quero ver o Robby Keene — Maya respondeu de forma direta, sem rodeios, seu olhar firme e determinado.

— Só um instante — ele disse, antes de se afastar, indo buscar a autorização necessária.

O tempo parecia se arrastar enquanto Maya aguardava na sala de visitas, o silêncio pesado preenchendo o ar. Ela ficou sentada, suas mãos apoiadas no colo, o olhar distante. A porta se abriu, e Robby entrou, parecendo diferente da última vez que a viu. Seu semblante estava marcado pelo cansaço e pela tensão, como se o peso dos últimos acontecimentos tivesse deixado suas marcas.

— Vocês têm cinco minutos — o policial informou, antes de sair e deixar os dois sozinhos.

Robby olhou para Maya, a surpresa evidente em seus olhos. Ele franziu a testa, como se a presença dela ali não fizesse sentido.

— Maya? — Sua voz era baixa, quase incrédula.

— E aí... — Maya respondeu de forma fria, sem demonstrar emoções.

— O que você está fazendo aqui?

— Robby, eu vim ser direta. Quero que saiba que eu sei o que fez com o Miguel. Sabia que, quando terminamos, você não iria muito longe daquele jeito. Mas agora, empurrar ele foi demais! — A voz dela estava firme, como se cada palavra carregasse o peso de suas acusações.

Robby parecia se esquivar das palavras dela, seu rosto se contorcendo em frustração.

— Se veio me dar lição de moral, pode ir, já fizeram isso demais. — Ele resmungou, o tom de sua voz aumentando, misturado com a irritação.

— O Miguel pode nunca mais andar, sabia? — Maya retrucou, seu olhar intensificando a dor e a raiva que sentia.

Robby, furioso, não conseguiu conter a explosão.

— E desde quando você se importa com ele? Você simplesmente some da cidade, termina nosso relacionamento só por causa de não aguentar perder um torneio! — Ele gritou, a raiva transbordando em suas palavras.

— Você não sabe o que eu passei! E agora, quem está passando por um momento difícil é ele! Olha, se você vai querer continuar desse jeito, vai em frente. Mas não me procure depois que se der mal — Maya disse, levantando-se de maneira resoluta, sua postura ereta e impassível.

— Vai aonde? — Robby perguntou, a voz cheia de frustração.

Mas Maya já estava saindo, ignorando-o completamente. A porta se fechou atrás dela com um som seco, e Robby permaneceu ali, bufando de raiva, a tensão no ambiente ainda palpável.

[...]

O sol brilhava intensamente sobre o dojo do Miyagi-Do, refletindo a calma serena do lugar. A brisa fazia as folhas das árvores se mexerem suavemente enquanto Maya Barnes estava no centro do dojo, sozinha. A jovem estava concentrada, ajustando sua postura, seus golpes fluindo como se fosse uma coreografia cuidadosamente ensaiada.

Seus movimentos eram precisos, mas não perfeitos, e a expressão em seu rosto deixava claro que ela estava buscando algo – talvez controle, talvez uma conexão consigo mesma. Daniel LaRusso observava de longe, de braços cruzados, escondido atrás de uma das colunas. Ele ficou surpreso ao vê-la ali, tão envolvida no treino. Ele havia visto centenas de lutadores em sua vida, mas havia algo em Maya que o fazia hesitar, como se enxergasse uma faísca que não via desde... desde os tempos de Robby e Sam.

Maya deu um giro rápido, tentando um chute lateral, mas perdeu o equilíbrio e tropeçou levemente, soltando um suspiro frustrado. Foi quando ela ouviu a voz de Daniel.

— Seu equilíbrio está bom, mas você está esquecendo de girar o quadril junto com o golpe.

Ela se virou rapidamente, os olhos arregalados. Não esperava companhia.

— Senhor LaRusso? — disse ela, ajeitando a postura e tentando parecer casual. — Não sabia que o senhor estava aqui.

Daniel sorriu, saindo da sombra da coluna e caminhando em direção a ela.

— Eu estava lá dentro resolvendo algumas coisas, mas ouvi o som dos golpes. Fiquei curioso.

Ela baixou os olhos, envergonhada.

— Ah, eu só... precisava de um lugar para treinar. Não queria atrapalhar.

— Atrapalhar? — Ele balançou a cabeça. — Maya, você não está atrapalhando. Pelo contrário, você está usando este lugar exatamente como deveria ser usado.

Ela olhou para ele, confusa.

— Como assim?

Daniel apontou para o pátio ao redor.

— Este dojo não é só um lugar para aprender caratê. É um espaço para crescer, para entender a si mesmo. Foi o que o Sr. Miyagi me ensinou. E pelo que acabei de ver, você tem muito talento.

Maya soltou uma risada nervosa.

— Não acho que seja tanto assim... Só estou tentando melhorar. Não posso perder outra luta.

Daniel inclinou a cabeça, sorrindo gentilmente.

— Não subestime o que você já sabe. Seus movimentos são bons, mas você tem algo mais importante: a vontade de aprender. Isso é algo que não se ensina.

Ela ficou em silêncio, absorvendo aquelas palavras.

— Obrigada... Acho que nunca pensei desse jeito.

Daniel deu um passo à frente, olhando nos olhos dela.

— Você deveria. Quem sabe o que pode alcançar se continuar assim?

— Bom, eu devo ir agora... Não quero tomar mais do seu tempo.

Daniel assentiu, mas enquanto ela se afastava, ele ficou parado, observando. Quando ela finalmente sumiu de vista, ele cruzou os braços novamente, olhando para o chão do dojo como se estivesse perdido em pensamentos.

— Talvez... — murmurou para si mesmo, franzindo a testa. — Talvez seja hora de reabrir o dojo.

Ele olhou para o céu, respirando fundo, sentindo o mesmo espírito que o Sr. Miyagi sempre transmitia. O Miyagi-Do ainda tinha muito a oferecer, e Maya acabava de plantar a semente que ele precisava para reconsiderar seu futuro.

[...]

O quarto de Sam tinha aquele toque familiar e aconchegante, com as paredes lilases decoradas por fotos e pequenos pôsteres. A luz do fim de tarde entrava pela janela, refletindo no tapete macio onde Maya Barnes estava sentada, de pernas cruzadas. Maya examinava distraidamente um dos troféus de Sam, enquanto a própria Sam estava jogada na cama, mexendo no celular.

— Impressionante como você consegue ganhar tanto troféu e ainda ter espaço pra colocar mais. — Maya falou, sua voz carregada de um tom casual.

Sam ergueu os olhos do celular e sorriu.

— Talvez eu deva começar a empilhar. Ou doar um pra você, já que voltou às competições agora.

Maya arqueou uma sobrancelha e devolveu o troféu para a prateleira.

— Se eu quisesse um troféu seu, eu mesma tirava de você no tatame. — Ela deu um sorriso de canto.

Sam riu, jogando uma almofada na direção dela.

— É, vou fingir que acredito!

Maya pegou a almofada no ar com reflexos rápidos e a jogou de volta na cama.

— Você vai ver na próxima competição. Não fica muito confortável com esses troféus, hein? Posso acabar roubando o lugar de número um de volta.

— Ambiciosa como sempre. — Sam cruzou os braços, mas havia uma leveza na expressão dela.

Maya se sentou no canto da cama, olhando pela janela, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas. Sam percebeu o momento de hesitação.

— Ei... — Sam falou suavemente, se sentando ao lado dela. — Como você tá? Faz meses que a gente não se via. Sei que você não é muito de falar sobre essas coisas, mas eu senti sua falta.

Maya desviou o olhar, os lábios apertados, como se estivesse segurando alguma resposta emocional.

— Eu tô bem. — A resposta veio rápida, mas o tom era mais sério do que Maya gostaria. Ela suspirou e, finalmente, olhou para Sam. — Só... foi estranho ficar tanto tempo longe. Parece que eu perdi um monte de coisas.

Sam sorriu, tocando de leve o ombro dela.

— Não perdeu nada. Estamos aqui agora, e isso é o que importa.

— É, eu sei... — Maya soltou um leve sorriso, o tipo que parecia raro, mas genuíno. — Mas, por mais que eu odeie admitir, senti sua falta também.

Sam abriu um sorriso largo, claramente surpresa.

— Uau, eu nunca achei que ouviria isso saindo da sua boca. Eu devia gravar!

— Não exagera. — Maya rolou os olhos, mas a leveza na sua voz era inconfundível. — Você sabe que eu não sou dessas.

— Não, você definitivamente não é. — Sam riu, encostando-se à cabeceira da cama. — Mas isso só torna o momento ainda mais especial.

Por um instante, as duas ficaram em silêncio. Era confortável, sem a necessidade de palavras. Sam foi a primeira a quebrar o momento, com um sorriso travesso.

— Então... quando é que a gente vai treinar juntas de novo?

Maya deu de ombros, mas havia um brilho competitivo nos olhos dela.

— Quando você estiver pronta pra perder.

— Ah, é assim? — Sam riu, pegando outra almofada para jogar em Maya. — Se prepara, porque eu vou acabar com você!

Maya desviou da almofada com um reflexo ágil e deu um sorriso desafiador.

— Quero ver tentar.

As duas começaram a rir, trocando provocações e jogando almofadas, como se os meses de distância nunca tivessem acontecido. Por mais que Maya tivesse dificuldade em demonstrar seus sentimentos, naquele momento, a amizade entre elas falava mais alto que qualquer palavra dita.

Continua...

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