𝕮𝖆𝖕 9

Cap 9: Infectado na luz do dia

A manhã seguinte chegou trazendo uma leve névoa que pairava sobre a Clareira, tornando o clima ainda mais misterioso e incômodo. O sol mal havia surgido no horizonte quando Lívia, Minho e Ben começaram a se preparar para mais um dia dentro do labirinto. Os três estavam ajustando seus equipamentos e alongando os músculos, prontos para a corrida, quando Ben, de repente, parou e olhou para os dois com uma expressão estranha.

— Gente... podem ir na frente — disse ele, sua voz soando hesitante.

Lívia e Minho se entreolharam, claramente confusos com aquela atitude incomum.

— O quê? Por quê? — questionou Lívia, franzindo o cenho.

Minho cruzou os braços, seu olhar desconfiado fixo em Ben.

— Você sabe que não podemos nos separar — lembrou ele, a voz séria.

Ben suspirou e passou a mão pelo rosto, como se tentasse se explicar melhor.

— Eu sei, mas eu tenho experiência... Podem ir, eu já alcanço vocês — respondeu, tentando parecer despreocupado.

Lívia e Minho trocaram mais um olhar. Algo não parecia certo, mas, diante da insistência de Ben, acabaram concordando.

— Certo, mas não demora — alertou Minho antes de começar a correr.

Lívia o seguiu, sentindo uma estranha inquietação crescer dentro dela.

Assim que atravessaram os enormes portões de pedra, a sensação de urgência tomou conta de seus corpos. A corrida começou com um ritmo intenso, os pés batendo contra o chão de pedra enquanto analisavam o ambiente ao redor. Durante a noite, o labirinto havia mudado novamente, e agora precisavam mapear as novas passagens antes que escurecesse.

— Você sabe o que deu no Ben? Ele parecia estranho... — perguntou Lívia, ofegante, enquanto corria ao lado de Minho.

Minho manteve os olhos fixos no caminho à frente, desviando com facilidade dos obstáculos.

— Não sei, mas acho que não deveríamos ter saído sem ele — respondeu, visivelmente incomodado com a situação.

Lívia assentiu, sentindo o mesmo desconforto.

— Eu concordo... Vamos voltar mais cedo caso não encontremos com ele.

— Beleza — concordou Minho, encerrando a conversa.

Os dois continuaram correndo pelo labirinto, atentos a qualquer detalhe que pudesse indicar o paradeiro de Ben ou qualquer outra anormalidade. Mas, no fundo, uma preocupação persistente pairava sobre eles: algo estava errado, e eles sabiam disso.

[...]

Enquanto Lívia e Minho percorriam os últimos corredores do labirinto antes de chegar à Clareira, a garota quebrou o silêncio, ainda intrigada com a conversa da noite passada.

— Minho, você chegou a perguntar para o Newt o porquê dele estar estranho ontem? — questionou, mantendo o ritmo da corrida ao lado do amigo.

Minho soltou um suspiro pesado, desviando o olhar por um instante antes de responder.

— Perguntei, mas ele não foi totalmente sincero comigo. Ele mudava de assunto toda hora — respondeu, franzindo o cenho.

Lívia mordeu o lábio, sentindo uma inquietação crescer dentro dela.

— Isso é estranho... O Newt não costuma agir assim.

— Eu sei — concordou Minho. — Mas se ele não quis falar, deve ter um motivo.

Lívia apenas assentiu, mas no fundo, aquela resposta não a satisfazia.

Assim que atravessaram os portões do labirinto e entraram na Clareira, a cena diante deles os fez parar abruptamente.

Ben estava nas portas do labirinto, amarrado, enquanto todos os outros garotos o cercavam com expressões tensas e preocupadas. O coração de Lívia disparou.

— O que está acontecendo?... — murmurou, chocada, seus olhos arregalados diante da cena.

Sem hesitar, ela correu até Newt, que estava entre os clareanos.

— O que aconteceu? — perguntou, sua voz carregada de preocupação.

Newt manteve o olhar baixo, evitando encará-la diretamente.

— O Ben... Ele foi infectado — respondeu com um tom grave.

Lívia sentiu um arrepio percorrer sua espinha.

— O quê? De dia? — questionou, incrédula.

Newt assentiu lentamente.

— Sim, não sabemos o porquê.

A mente de Lívia girava, tentando processar aquelas palavras. O Ben, que sempre fora tão gentil e brincalhão, agora estava ali, preso e com o olhar desesperado. Era difícil acreditar que aquilo estava acontecendo. Seus olhos começaram a arder e, antes que pudesse impedir, algumas lágrimas escorreram por seu rosto.

De repente, sentiu os braços de Newt a envolverem em um abraço apertado.

— Lívia, me ajuda! A culpa não é minha, foi o Thomas! — gritou Ben, sua voz carregada de desespero.

Lívia franziu a testa, confusa com aquelas palavras.

— Minho, me escuta, por favor... — implorou Ben, sua voz trêmula e suplicante.

Mas ninguém o ouviu.

Os clareanos começaram a empurrá-lo em direção ao labirinto, usando pedaços de madeira para forçá-lo a seguir. O pânico tomava conta de Ben, que se debatia e suplicava, mas não havia escapatória. O destino já estava selado.

Lívia observou, impotente, enquanto Ben era levado para os portões. E, no instante em que ele ultrapassou a entrada, os portões começaram a se fechar, selando-o no labirinto para sempre.

Ela fechou os olhos com força, se encolhendo contra o peito de Newt, recusando-se a assistir aquela cena dolorosa.

O silêncio que se seguiu foi pesado, carregado de um luto sufocante.

— Ele pertence ao labirinto agora — declarou Alby, quebrando a quietude.

Aos poucos, os clareanos começaram a se dispersar, voltando para suas tendas, ainda abalados pelo que haviam acabado de presenciar.

Newt também começou a caminhar para longe, acompanhado dos outros, enquanto Lívia permaneceu ali, parada, sentindo um vazio tomar conta de seu peito.

Foi então que Thomas, ainda próximo dela, murmurou, sua voz carregada de culpa:

— Me desculpem... Eu não sei como isso aconteceu... Ele dizia algo sobre ser culpa minha, mas eu não sei... — lamentou, sua expressão atormentada.

Lívia respirou fundo, ainda incapaz de processar tudo aquilo.

— Tá tudo bem... Não foi culpa sua — disse, sem encará-lo diretamente.

Ela então começou a caminhar em direção às tendas, seguindo Newt.

Com passos apressados, ela finalmente o alcançou.

— Ei, Newt, espera! — chamou, ainda ofegante.

Newt parou e se virou para encará-la.

— O que foi, Lívia?

Ela hesitou por um momento, antes de soltar tudo de uma vez:

— Eu... só quero saber por que você está bravo comigo.

Newt passou a mão pelos cabelos loiros, parecendo cansado.

— Isso não é a hora...

Lívia o encarou, sentindo seu coração apertar.

— Newt, eu já perdi um amigo hoje. Por favor, não me faça ficar mais confusa.

Ele ficou em silêncio por um momento, analisando-a. Então, suspirou profundamente e finalmente a olhou nos olhos.

— Você tem razão. Não é momento para brigas qualquer... Me perdoa por ser assim.

Lívia sentiu um alívio percorrer seu corpo. Sem pensar duas vezes, ela se aproximou e o abraçou com força.

— Me desculpa se te fiz alguma coisa, Newt. Eu sou tão distraída que nem percebo quando faço alguma besteira...

Para sua surpresa, sentiu Newt retribuir o abraço, sua voz saindo mais suave desta vez:

— Tudo bem, pequena...

E assim, sem mais palavras, apenas compartilharam aquele momento, confortando um ao outro depois de um dia que nunca esqueceriam.

[...]

O entardecer caía sobre a Clareira, tingindo o céu com tons alaranjados e roxos, mas para Lívia, a beleza daquele momento não significava nada. Seu peito estava pesado, como se uma pedra estivesse alojada dentro dele, e sua mente ainda se recusava a aceitar o que havia acontecido.

Ela permaneceu ali, observando em silêncio enquanto Gally riscava o nome de Ben na rocha, um ritual que selava o destino daqueles que haviam sido perdidos para o labirinto. Cada vez que a lâmina raspava contra a superfície dura, um arrepio subia por sua espinha. O som era cortante, ecoando de forma dolorosa dentro dela.

Seu coração apertou. Era real. Ben se foi.

A dor tomou conta de seu peito de uma forma esmagadora, como se o ar tivesse sido arrancado de seus pulmões. Ela queria acreditar que aquilo não estava acontecendo, que tudo não passava de um pesadelo horrível do qual logo acordaria. Mas a prova estava ali, gravada na pedra, como um lembrete cruel e imutável.

Engolindo em seco, Lívia desviou o olhar, sentindo uma onda de tristeza e culpa inundá-la. Todos começaram a se dispersar, caminhando lentamente de volta para suas tendas, mas ela permaneceu parada por alguns segundos, tentando recuperar o fôlego.

Foi então que sentiu um toque firme em seu braço.

Ela se virou, encontrando Gally parado ao seu lado. Seu olhar não era tão duro como de costume, havia algo diferente nele.

— Ei, Lívia... Ele foi um bom amigo — disse Gally, sua voz um tanto hesitante, como se não soubesse exatamente como consolá-la.

Lívia soltou um suspiro trêmulo, sentindo sua garganta se fechar.

— É... Pois é... — murmurou, desviando o olhar. — Me sinto culpada por tê-lo deixado...

Gally franziu a testa.

— Do que está falando?

Lívia apertou os punhos, sua voz saindo mais baixa.

— Quando eu, ele e Minho íamos para o labirinto... Ele disse que ia depois e estava bem esquisito.

Gally pareceu ponderar por um instante antes de perguntar:

— Ainda de manhã?

Lívia assentiu, sentindo um nó na garganta.

— Sim... Eu não deveria tê-lo deixado.

A culpa corroía seu peito como brasas queimando sua pele. Se ela tivesse insistido para que ele fosse com eles, se tivesse perguntado mais, se tivesse percebido que algo estava errado... Será que tudo teria sido diferente? Será que Ben ainda estaria ali com ela?

Antes que pudesse afundar ainda mais na própria dor, sentiu Gally se aproximar e, de forma inesperada, ele a puxou para um abraço.

Lívia congelou por um instante, surpresa pelo gesto, mas logo sentiu a pressão reconfortante dos braços dele ao seu redor. Era um abraço firme, mas gentil, como se quisesse protegê-la daquele sentimento avassalador.

— A culpa não é sua, Lívia — murmurou Gally, sua voz carregada de uma sinceridade rara. — Eu não sei o que aconteceu, mas... depois que o Thomas chegou, tudo ficou diferente.

Ao ouvir aquilo, Lívia sentiu um estalo dentro de si. Ela abriu os olhos e se afastou do abraço, encarando Gally com um olhar irritado.

— A culpa também não é do Thomas! — retrucou, sua voz firme. — Ele é um clareano como nós!

Gally suspirou, passando a mão pelo cabelo.

— Tudo bem... Mas quando ele fizer alguma coisa que possa nos prejudicar, não diga que eu não avisei.

Lívia cerrou os dentes, sentindo a frustração crescer dentro de si. Não queria discutir, não agora. Tudo o que queria era ficar sozinha, longe daquela dor sufocante.

Sem dizer mais nada, ela se virou de costas para Gally e caminhou em direção à sua tenda. Cada passo parecia mais pesado que o outro, como se carregasse o peso da perda de Ben nos ombros.

E, no fundo, ela sabia que aquela dor não iria embora tão cedo.

Continua...

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