𝕮𝖆𝖕 5

Cap 5: Nova corredora

Na tenda principal, o ambiente estava carregado de tensão. Alby estava no centro, o líder incontestável, com sua postura firme e olhos observadores, pronto para conduzir a reunião. Todos os clareanos estavam reunidos em um círculo improvisado, alguns sentados em caixotes, outros de pé. Lívia, ainda relativamente nova entre eles, sentia o peso dos olhares curiosos e desconfiados que recaíam sobre si. Alby iniciou a conversa com a voz firme que carregava autoridade.

— Como vocês sabem, Lívia entrou no labirinto sem ser uma corredora — declarou Alby, olhando para cada rosto ao redor, antes de fazer uma pausa. — E por influência de um.

Seu tom incisivo fez com que todos os olhares se voltassem para Ben, que permanecia ao lado de Lívia, visivelmente desconfortável. Ele passou a mão pelos cabelos, respirou fundo e decidiu se defender.

— Minho precisava de ajuda. Eu não conseguiria sozinho — disse Ben com sinceridade. — Já vi Lívia correndo outras vezes, e ela é rápida. Foi a primeira pessoa que me veio à mente.

Um murmúrio se espalhou pela tenda. Gally, sentado com os braços cruzados, foi o primeiro a interromper.

— Só está dizendo isso porque está afim dela, não é? — disparou com desdém, estreitando os olhos para Ben. — Ela acabou de chegar. Não sei se devemos fazer isso ainda.

Lívia, que até então permanecia em silêncio, deu um passo à frente, determinada.

— Eu serei uma boa corredora se me derem uma chance — afirmou, com sua voz firme e desafiadora, encarando Gally diretamente.

Sua resposta fez com que os murmúrios cessassem. Ela então olhou para Newt, que estava parado próximo a Alby. Ele mantinha uma expressão séria, mas seus olhos traíam um pensamento interno que ele parecia ponderar. Após alguns segundos de silêncio, Newt finalmente falou.

— Não é o que eu queria, Alby, mas... — ele fez uma pausa breve, olhando para Lívia. — Ela tem que ter uma chance.

O sorriso que se abriu no rosto de Lívia era imediato, um misto de alívio e satisfação. Newt desviou o olhar rapidamente, mas ficou claro que sua decisão havia influenciado os demais.

— Ok — continuou Alby, retomando o controle. — Quem vota que ela não deveria ser uma corredora?

Alguns clareanos levantaram as mãos, três ou quatro no máximo. O número parecia pequeno diante da atmosfera de tensão.

— E quem vota que ela deveria ser uma corredora?

Uma onda de mãos se ergueu, incluindo a de Minho, que olhou diretamente para Lívia e assentiu de forma encorajadora. Lívia notou que Newt não levantou a mão em nenhuma das votações, mas apenas a vitória já bastava para trazer um sorriso largo ao seu rosto.

— Tudo bem — declarou Alby com um tom conclusivo. — Hoje será o teste dela. Se for bem, então será uma corredora.

Ao ouvir isso, Lívia virou-se para Ben, seu sorriso brilhando de satisfação. Ela o abraçou com força, e ele a envolveu com os braços em um gesto carinhoso.

— Obrigado, Ben. Obrigado por acreditar em mim.

— Por você, Liv — respondeu Ben, com um sorriso genuíno.

Logo em seguida, Lívia abraçou Minho, que retribuiu o gesto com entusiasmo.

Enquanto todos começavam a dispersar, Newt permaneceu no mesmo lugar. Ele observava a cena à distância, aparentemente alheio, mas internamente travando uma batalha com seus próprios sentimentos.

"Não era isso que eu queria", pensou ele, cruzando os braços. Ainda assim, algo no sorriso radiante de Lívia aquecia algo dentro dele. Mesmo que ele não demonstrasse, a felicidade dela parecia de alguma forma significativa.

Quando ela abraçou Ben novamente, Newt sentiu uma leve pontada no peito. Ele franziu o cenho, confuso consigo mesmo.

"Ciúmes? Não, isso é ridículo. Por que eu estaria com ciúmes? Não temos nada."

Mesmo tentando convencer-se do contrário, Newt desviou o olhar, decidido a manter o controle. Afinal, havia outras preocupações na Clareira... ou pelo menos era isso que ele queria acreditar.

[...]

Lívia prendeu os cabelos em um rabo de cavalo firme, afastando qualquer fio que pudesse atrapalhar sua visão. As roupas mais ajustadas e resistentes que vestia traziam uma sensação de prontidão, complementadas pelo colete pesado dos corredores que ela ajustava com determinação. Cada movimento refletia a mistura de ansiedade e empolgação que dominava seus pensamentos.

Ela sabia o que aquele teste significava. Não queria ser apenas mais uma clareana. Lívia desejava mais do que sobreviver: ela queria fazer a diferença, encontrar respostas, e, quem sabe, levar todos a um futuro além do labirinto.

Ben estava ao seu lado, observando-a com um olhar atento e um leve sorriso nos lábios. Ele se aproximou para ajudá-la a ajustar o colete, suas mãos movendo-se com cuidado enquanto apertava as tiras para garantir que ficassem firmes.

— Está pronta mesmo para isso? — perguntou ele, com sua voz carregada de preocupação e incentivo.

Lívia ergueu o olhar para ele, o brilho de determinação em seus olhos claros.

— Estou.

Antes que pudesse dizer mais alguma coisa, Minho se aproximou, cruzando os braços e observando-a de cima a baixo com um sorriso enviesado.

— Não é tarefa fácil, ainda mais para uma garota — comentou ele, seu tom carregado de uma provocação leve, mas também de um toque de desafio.

Lívia respirou fundo, mantendo o controle. Ela sabia que precisava provar a todos — especialmente a si mesma — que estava à altura do desafio.

— Não me importo — respondeu ela, encarando Minho com firmeza. — Faço o que for preciso para provar que posso ser boa nisso.

Minho arqueou uma sobrancelha, visivelmente impressionado com sua resposta direta. Ele assentiu lentamente, como se estivesse reconhecendo o espírito determinado da novata. Ben, ao lado, sorriu de forma encorajadora, um reflexo de sua confiança nela.

Enquanto ajustava os últimos detalhes do equipamento, Lívia olhou ao redor, vendo o labirinto ao longe. O gigante de pedra parecia ainda mais imponente naquela manhã, mas, ao invés de intimidá-la, alimentava sua vontade de mostrar seu valor.

"Hoje é o dia" — pensou ela . "Hoje eu provo que pertenço a este lugar."

Lívia respirou fundo ao cruzar os portões do labirinto pela primeira vez como corredora em teste. O som metálico das portas se abrindo ecoou, e a clareira ficou para trás, substituída por corredores altos e estreitos. A sensação de estar cercada por paredes de pedra viva era esmagadora, mas ela não deixou o medo tomar conta. Minho e Ben estavam ao seu lado, liderando o caminho com passos firmes e rápidos.

— Mantenha o ritmo, mas nunca ultrapasse quem está liderando — disse Minho sem olhar para trás. — Você fica no meio.

— Entendido — respondeu Lívia, ajustando o colete no corpo e acelerando para acompanhá-los.

O ar era úmido, e o cheiro de pedra molhada impregnava o ambiente. O som dos passos ecoava pelos corredores, misturado com o leve zumbido do vento que assobiava entre as passagens. Minho fazia anotações rápidas em um caderno enquanto movia-se com precisão, como se conhecesse cada canto daquele lugar.

Lívia notou que cada curva parecia mais confusa que a anterior. Era como se o labirinto tivesse vida própria, mudando ao menor descuido. Em um ponto específico, viraram uma esquina e entraram em uma área mais aberta, com paredes cobertas por musgo que brilhava levemente.

— Isso não estava aqui ontem — murmurou Ben, aproximando-se do musgo.

— Não toca — alertou Minho, segurando o braço dele. — Qualquer coisa diferente é suspeita.

Lívia se aproximou, observando os brilhos com atenção. Havia algo peculiar ali, como marcas no musgo que formavam pequenos padrões. Ela inclinou a cabeça, tentando decifrá-los.

— Isso são... números? — perguntou ela, apontando para as marcas.

Minho aproximou-se, estreitando os olhos. Ele passou a lanterna sobre o musgo, revelando mais detalhes.

— Parece que sim... e estão em sequência.

— Um código? — sugeriu Ben, inclinando-se para ver melhor.

Lívia sentiu o coração acelerar. Ela pegou um pedaço de papel no bolso e começou a anotar os números que conseguiu identificar: 7-3-1-4-2-8.

— Isso pode ser importante. Pode estar ligado às mudanças do labirinto ou a algum padrão de movimentação — disse ela, entregando o papel a Minho.

— Bom trabalho, novata — disse Minho, com um pequeno sorriso. — Mas temos que sair daqui antes que o tempo acabe.

O aviso trouxe Lívia de volta à realidade. O entardecer já se aproximava, e os portões não esperariam por ninguém. Eles retomaram o caminho em direção à saída, acelerando o passo. Minho liderava, desviando de corredores que ele sabia que poderiam ser armadilhas, enquanto Ben permanecia atento aos sons ao redor.

Enquanto corriam, ouviram um som distante, algo metálico e arrastado.

— Verdubos? — perguntou Lívia, tentando não deixar o medo transparecer.

— Não sei, mas não vamos ficar para descobrir — respondeu Ben, aumentando o ritmo.

Eles correram com tudo, as passagens estreitas e viradas constantes testando a resistência de Lívia. Seus pulmões queimavam, mas ela não desistiu. Finalmente, avistaram os portões ao longe.

— Vamos! — gritou Minho.

Quando atravessaram os portões, o sol estava se pondo, tingindo a clareira de tons dourados e alaranjados. Do lado de fora, uma multidão de clareanos os esperava, seus rostos tensos de preocupação.

Assim que Minho, Ben e Lívia saíram, os portões se fecharam com um estrondo. Lívia ofegava, suas mãos nos joelhos enquanto tentava recuperar o fôlego.

— Eles conseguiram! — alguém gritou, e um murmúrio de alívio percorreu o grupo.

Newt estava entre eles, com os braços cruzados, mas Lívia percebeu um leve sorriso em seu rosto quando ele encontrou seu olhar.

— Não foi nada mal para o seu primeiro dia, novata — disse Minho, dando um tapinha em seu ombro.

Ben aproximou-se, entregando-lhe uma garrafa de água.

— Você mandou muito bem lá dentro, Lívia — disse ele.

Ela aceitou a garrafa e sorriu, sentindo o peso da adrenalina começar a desaparecer. Ao olhar para o céu, com as primeiras estrelas surgindo, sentiu-se orgulhosa de si mesma. Havia enfrentado o labirinto e saído viva — com algo importante em mãos.

Mas, no fundo, sabia que aquele era apenas o começo. O labirinto ainda tinha muitos segredos, e ela estava determinada a desvendá-los.

Continua...

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