𝕮𝖆𝖕 2
Cap 2: Festa na fogueira
A noite já havia se instalado sobre a clareira, e o céu escuro era pontilhado por estrelas brilhantes, contrastando com a luminosidade da fogueira que dançava ao longe. Lívia, dentro de sua tenda, olhou ao redor, tentando acalmar a mente confusa. Pegou a roupa que havia vindo junto na caixa e a vestiu. Era simples, mas confortável, e, de certa forma, parecia adequada para a ocasião. Ela soltou os cabelos, arrumando-os com cuidado, mesmo sem ter um espelho para se guiar. Cada movimento era uma tentativa de se sentir mais à vontade em meio àquele ambiente tão estranho.
Enquanto ajustava os últimos detalhes, um barulho do lado de fora chamou sua atenção. Era o som de passos se aproximando, quebrando o silêncio. O coração dela disparou, e Lívia virou-se rapidamente para encarar a entrada da tenda. Por entre as sombras, uma figura surgiu: Newt. Ele estava parado ali, quieto, observando-a com uma expressão que ela não conseguiu decifrar.
Por alguns segundos, ele permaneceu imóvel, o olhar fixo nela, como se estivesse perdido em pensamentos. Lívia sentiu-se constrangida, não sabendo exatamente como reagir àquela situação inesperada.
- Newt? O que foi? - perguntou, sua voz hesitante, chamando a atenção do loiro.
Ele pareceu despertar do transe, piscando algumas vezes antes de finalmente se mover.
- Ah... não é nada. Só queria saber se está pronta pra festa... - disse ele, com um sorriso leve, tentando disfarçar o momento.
Lívia desviou o olhar por um instante, apertando os dedos nervosamente.
- Bem, ainda é estranho tudo isso. Não sei se vou me acostumar... - confessou, sua voz baixa e cheia de incertezas.
Newt deu um passo à frente, inclinando a cabeça como se quisesse tranquilizá-la.
- Relaxa, todo mundo se acostuma.
- Não sei não... - respondeu ela, ainda com dúvidas.
Antes que a conversa pudesse avançar, outra presença surgiu, quebrando o clima de introspecção. Minho, com seu jeito descontraído, apareceu na entrada da tenda com um sorriso estampado no rosto.
- Tá todo mundo perguntando de você. A festa é sua, não é? - disse ele, olhando diretamente para Lívia.
Ela ergueu as sobrancelhas, surpresa.
- Todo mundo? - questionou, incrédula, lembrando-se da quantidade de garotos que havia visto durante o dia.
Minho deu uma risada curta, balançando a cabeça.
- Claro. Não é todo dia que uma garota aparece aqui. Isso se torna uma comemoração dupla.
Lívia tentou retribuir com um sorriso, embora seu nervosismo fosse evidente. Sentia como se todos os olhos estivessem voltados para ela, e isso só aumentava sua ansiedade. Mas o tom leve de Minho ajudou a aliviar um pouco a tensão.
Respirando fundo, Lívia se levantou, ajeitando a roupa uma última vez antes de seguir os dois. Enquanto caminhavam em direção à fogueira, os sons de risadas e vozes animadas ficavam cada vez mais altos. Ao chegarem ao local, Lívia pôde ver os clareanos espalhados, conversando e se divertindo. A fogueira no centro lançava uma luz quente que parecia tornar o ambiente mais acolhedor, e o cheiro de comida assada preenchia o ar.
Ela parou por um instante, observando aquela cena tão estranha e, ao mesmo tempo, tão viva. Mesmo com toda a confusão dentro de si, Lívia percebeu que, de algum modo, já fazia parte daquele lugar.
[...]
A festa seguia animada, com risadas e vozes altas ecoando ao redor da fogueira. Lívia, no entanto, sentada em um canto mais afastado, observava o movimento com um misto de curiosidade e desconforto. Era difícil acreditar que todos aqueles garotos, presos em um lugar cercado por um labirinto mortal, ainda conseguiam encontrar momentos para se divertir. Eles pareciam tão à vontade, como se nada os preocupasse, mas para ela, tudo aquilo ainda era estranho demais.
De repente, um garoto se aproximou, interrompendo seus pensamentos. Ele tinha bochechas rosadas, cabelos cacheados e um sorriso inocente. Parecia ter uns 12 anos e tinha um jeito adorável que imediatamente deixou Lívia mais à vontade.
- Oi - disse ele, sentando-se ao lado dela com um sorriso amigável. - Eu me chamo Chuck.
Lívia retribuiu com um sorriso tímido.
- Oi... sou a Lívia.
Os olhos de Chuck brilharam, e ele riu suavemente.
- Que legal, já sabe seu nome! Isso mostra que você é bem mais avançada que os garotos daqui.
Ela não pôde deixar de rir também, achando graça no comentário.
- Você está aqui há muito tempo?
- Não, eu fui o último que chegou antes de você. Mas já estou me acostumando com a clareira - respondeu ele, balançando a cabeça de leve.
Lívia suspirou, olhando para as chamas da fogueira ao longe.
- Não sei se vou me acostumar. É tão estranho não saber literalmente nada da minha vida além do meu nome.
Chuck sorriu compreensivo.
- Normal, também me senti assim. Confesso que ainda me sinto. Se precisar de alguma coisa, pode me chamar, tá bom? Sei que é complicado no começo, mas posso te ajudar.
Ela assentiu, tocada pela gentileza dele.
- Obrigada...
Chuck se levantou, ainda com o sorriso no rosto, e voltou a se juntar a alguns meninos que estavam mais próximos da fogueira. Lívia o seguiu com o olhar, sentindo-se um pouco menos sozinha naquele momento.
Não demorou muito para que outra figura familiar aparecesse. Newt se aproximou, segurando um copo com um líquido de cor duvidosa. Ele tinha uma expressão tranquila, mas seu sorriso malicioso logo a deixou desconfiada. Sentando-se ao lado dela, ele estendeu o copo.
- Quer provar? - perguntou com um tom provocativo.
Ela arqueou uma sobrancelha, analisando tanto ele quanto o líquido.
- Acho que não...
- Tá com medo, novata? - desafiou ele, o sorriso crescendo no rosto.
Lívia estreitou os olhos, cruzando os braços.
- Não, não estou com medo. Só não acho uma boa ideia tomar qualquer coisa que me oferecerem.
Newt riu, balançando o copo de leve.
- Relaxa, não é veneno não. Prova.
Hesitante, ela pegou o copo e levou à boca. Assim que tomou um gole, sentiu sua garganta queimar como fogo. O líquido desceu rasgando, e ela precisou de toda a força para não cuspir. Tossindo, colocou o copo de lado enquanto Newt gargalhava descontroladamente.
- O que era aquilo? Você disse que não era veneno, mas parecia que eu ia morrer a qualquer momento! - exclamou, irritada, dando tapas no braço dele.
- Pelo menos você engoliu. O último vomitou a noite toda - respondeu ele, ainda rindo.
- E o que tinha nisso?
- Não sei. É uma receita misteriosa do Gally.
Lívia revirou os olhos, cruzando os braços.
- Ah, tá explicado. Ele tá querendo matar vocês, estou avisando. - Ela se levantou, olhando para a fogueira. - Vou ver o que está rolando ali.
Newt a observou enquanto ela se aproximava da movimentação perto do fogo. Gritos e aplausos vinham daquele lado, e, ao chegar mais perto, Lívia viu Gally lutando com alguns clareanos. Ele derrotava um após o outro com facilidade, permanecendo invicto.
- O que está acontecendo? - perguntou, virando-se para Minho.
- É meio que um desafio. Você tem que se manter dentro desse círculo por alguns segundos. Mas já vou avisando, não é tarefa fácil - explicou Minho.
- E por que não?
- É bem difícil quando se trata do Gally.
Ela observou por um momento antes de murmurar:
- Pra mim parece fácil...
Lívia começou a se aproximar do círculo, chamando a atenção de Newt.
- Ei, o que está fazendo? Não acho que é uma boa ideia você se meter nessa agora.
Ela virou-se para ele com um sorriso confiante.
- Relaxa, Newt. Eu só quero ver como isso funciona.
- Quer brincar também, fedelha? - provocou Gally, aquecendo-se.
- Até que não é uma oferta de se recusar. - Lívia sorriu, empolgada.
Newt tentou intervir.
- Melhor não, Lívia.
- Então a fedelha já sabe o nome? Foi mais rápido do que pensei. Aposto que não vai se dar tão bem quanto lembrar do próprio nome - zombou Gally.
Antes que Newt pudesse impedi-la, ela entrou no círculo. A confiança de Lívia, no entanto, desapareceu assim que Gally deu uma rasteira, derrubando-a no chão.
- Ai... até que não vai ser fácil... - murmurou, tentando se levantar.
- Achou que eu ia pegar leve com você, fedelha? - zombou ele, circulando-a.
- Meu nome é Lívia!
- Prefiro te chamar de fedelha, a menos que você prove ser chamada pelo nome.
Lívia avançou novamente, tentando derrubá-lo, mas Gally bloqueou o ataque e quase a empurrou para fora do círculo. Ela fincou os pés no chão, resistindo. Quando conseguiu contra-atacar, quase o derrubou, mas ele a surpreendeu com outra rasteira, desta vez com mais força.
Ela caiu pesadamente, batendo a cabeça no chão. A visão escureceu rapidamente, e a última coisa que viu foi Newt correndo em sua direção, seu rosto carregado de desespero.
Continua...
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