𝕮𝖆𝖕 10

Cap 10: Presos no labirinto

A névoa da manhã ainda pairava sobre a Clareira quando Lívia e Minho se preparavam para entrar no labirinto. O ar estava fresco, mas carregado de uma tensão silenciosa. O som das botas contra o chão úmido ecoava enquanto eles organizavam seus equipamentos, ajustando os cintos e verificando se tudo estava no lugar. Dessa vez, porém, não iriam sozinhos.

Alby também iria entrar. Ele tinha um plano, um propósito.

Newt os acompanhou até o portão, sua expressão fechada, claramente preocupado. Seus olhos percorreram Lívia, como se quisesse gravar cada detalhe dela antes que partisse.

— Se cuida, tá? — disse ele, sua voz mais baixa do que de costume.

Lívia sustentou seu olhar por um instante. Ela sabia que, por trás daquela frase simples, havia muito mais sendo dito.

— Tá. Cuida das coisas aí também — respondeu, sua voz carregada de seriedade. — E garanta que ninguém mais morra.

Os olhos de Newt brilharam por um breve momento, refletindo o peso das palavras dela. Ele assentiu lentamente, demonstrando que compreendia.

Lívia respirou fundo, desviou o olhar e deu as costas, seguindo em direção ao labirinto ao lado de Minho e Alby.

Assim que cruzaram o portão e adentraram o ambiente frio e claustrofóbico do labirinto, a luz da manhã se tornava mais difusa, filtrada pelas paredes de pedra gigantescas. O silêncio era interrompido apenas pelo som de seus passos contra o chão de terra e pelas batidas ritmadas de seus corações.

O plano de Alby era simples, mas carregado de riscos: seguir os rastros de Ben e tentar descobrir como ele havia sido picado.

Eles correram. Cada curva do labirinto era um novo mistério, cada corredor, uma incerteza. Lívia tentava manter o foco na missão, mas algo dentro dela a corroía.

Ela não conseguia afastar a pequena fagulha de esperança que queimava dentro de si. E se Ben estivesse vivo? E se, de alguma forma, ele tivesse conseguido escapar?

Mas, conforme eles avançavam, passando por corredores escuros e trechos que pareciam nunca ter fim, a esperança se tornava cada vez menor.

O labirinto era cruel. Não perdoava.

A realidade começou a pesar em seus ombros, apertando seu peito de uma forma sufocante. A cada nova entrada que verificavam, a cada rastro quase apagado pelo tempo, a verdade se tornava mais inevitável.

A esperança que restava dentro dela estava se dissolvendo, como uma chama prestes a se apagar.

[...]

O tempo passava e, apesar da busca incessante, nenhuma pista concreta era encontrada. O labirinto se estendia à frente deles como um pesadelo sem fim, seus corredores estreitos e altos parecendo se fechar ao redor dos três. Cada novo caminho verificavam, cada curva analisavam, mas tudo levava ao mesmo resultado: nada.

O silêncio, quebrado apenas pela respiração controlada e os passos cuidadosos deles, tornava-se cada vez mais pesado.

Até que, de repente, um barulho ecoou pelo ambiente, alto e metálico, reverberando nas paredes do labirinto.

Lívia sentiu seu coração disparar. Ela trocou um olhar tenso com Minho e Alby, ambos já em posição de alerta. O som não deixava dúvidas: não estavam sozinhos.

E então, da penumbra de um dos corredores, uma criatura grotesca emergiu.

Era um Verdugo.

Mesmo sob a luz do dia, o monstro se movia, desafiando a lógica. Seus apêndices mecânicos retorciam-se, seu corpo pulsava de maneira repulsiva, e o barulho de suas engrenagens rangendo misturava-se a um som úmido e borbulhante.

Lívia sentiu um frio na espinha.

— Droga... temos que voltar. — Sua voz saiu firme, mas por dentro, o pânico começava a se instalar.

— Eu concordo. Vamos, Alby? — Minho perguntou, pronto para bater em retirada.

Mas Alby hesitou, seus olhos varrendo o ambiente, talvez tentando encontrar uma rota de fuga ou apenas processando o que via.

Foi nesse instante que a criatura se revelou por completo, suas partes se desenrolando em um movimento grotesco, como uma armadilha prestes a se fechar.

— Não dá tempo... — Alby concluiu, sua voz carregada de tensão.

— Ah, merda! — Lívia exclamou, o desespero crescendo dentro dela.

Sem escolha, os três começaram a correr. Seus pés martelavam contra o chão do labirinto, enquanto o Verdugo os perseguia, seus movimentos estranhamente rápidos para algo tão grande e disforme.

O som das engrenagens e dos estalos mecânicos ecoava, cada vez mais perto.

Então, em um segundo que pareceu se estender por toda a eternidade, o Verdugo atacou.

Seu ferrão afiado como uma lâmina perfurou Alby, arrancando um grito de dor dele. O impacto fez com que seu corpo caísse pesadamente no chão, suas mãos tremendo ao pressionar o ferimento.

O monstro preparava-se para atacar de novo.

Minho agiu rápido, agarrando Alby pelo braço e o puxando para cima, tentando sustentá-lo. Lívia, sem hesitar, fez o mesmo, colocando o outro braço de Alby sobre seu ombro.

Mas a criatura ainda estava muito perto.

Pensando rápido, Lívia arrancou o colete que usava e o jogou contra a criatura. O tecido voou pelo ar e caiu direto na boca grotesca do monstro, que imediatamente começou a se debater, tentando se livrar do obstáculo.

Foi o tempo que precisavam.

Aproveitando a distração, Lívia e Minho correram o mais rápido que podiam, carregando Alby entre eles. Suas pernas ardiam com o esforço, seus pulmões queimavam com a necessidade de ar, mas eles não pararam.

Viraram em um corredor estreito e continuaram correndo, dobrando mais algumas partes do labirinto até finalmente não ouvirem mais o som ameaçador da criatura.

Lívia arfava, seu coração batendo contra as costelas como um tambor descontrolado.

— Precisamos ir... — disse entre fôlegos.

Minho olhou para Alby, que ainda estava apoiado neles, mas parecia fraco.

— Alby, consegue correr? — perguntou, tentando sacudir o amigo levemente. Mas Alby não respondeu. — Alby? Ah, merda!

Lívia sentiu um aperto no peito ao ver o estado dele. Seu rosto estava pálido, gotas de suor deslizavam por sua testa, e sua respiração era irregular.

— Alby, por favor, tenta ficar acordado! — insistiu, tentando puxá-lo para continuar, mas ele parecia cada vez mais pesado.

Foi então que, de repente, Alby se jogou no chão, livrando-se do suporte deles.

Lívia e Minho pararam abruptamente, trocando olhares assustados.

— Vão embora... me deixem aqui. — A voz de Alby saiu rouca e entrecortada pela dor.

— Alby, não vamos fazer isso! Vamos logo! — Lívia insistiu, o pânico transbordando de sua voz.

Então, a chuva começou.

As primeiras gotas caíram sobre eles, frias e pesadas. O som da água batendo contra o chão ressoava pelo labirinto.

Alby começou a se levantar lentamente, mas quando virou-se para encará-los, algo estava errado.

Seus olhos estavam diferentes, escuros, vazios. Seus movimentos eram rígidos, como se algo estivesse assumindo o controle de seu corpo.

Lívia engoliu seco.

— Alby?.. — sua voz saiu em um sussurro trêmulo.

De repente, sem aviso, Alby avançou sobre ela.

Seu corpo colidiu contra o de Lívia com força, derrubando-a no chão. Seu peso a prensava contra o chão molhado, e ela sentiu a terra úmida contra suas costas enquanto lutava para empurrá-lo.

Os olhos de Alby estavam cheios de algo que não era ele.

Lívia usou toda sua força para afastá-lo, pressionando as mãos contra o rosto dele, tentando criar alguma distância.

Minho não hesitou. Pegou um objeto pesado do chão e, em um movimento rápido e preciso, bateu contra a cabeça de Alby.

O impacto fez com que Alby perdesse a consciência imediatamente. Seu corpo desabou de lado, imóvel.

Lívia ofegava, o peito subindo e descendo rapidamente. Minho estendeu a mão, ajudando-a a se levantar.

— Ei, você tá bem? — Minho perguntou, seus olhos cheios de preocupação.

Lívia assentiu, ainda tremendo.

— Será que ele vai sobreviver? — perguntou, olhando para Alby desacordado no chão.

Minho mordeu o lábio inferior, seu olhar sério.

— Eu não sei... — admitiu. — Ele acabou de ser picado, ainda não deve estar na fase avançada...

Lívia olhou para o céu nublado, a chuva escorrendo por seu rosto misturando-se com o suor.

— Não podemos deixar ele aqui, então. — afirmou, decidida.

Minho assentiu.

— Tem razão...

Os dois se abaixaram, pegando Alby novamente.

Colocaram um braço dele sobre cada um de seus ombros. Lívia de um lado, Minho do outro.

Com passos pesados, determinados a não deixá-lo para trás, começaram a caminhada de volta.

O céu começava a escurecer. O ar estava pesado, úmido, carregado do cheiro da terra molhada após a chuva que cessara há pouco. O chão ainda estava escorregadio, e cada passo de Lívia e Minho exigia esforço redobrado para não tropeçarem.

Lívia só conseguia focar em uma coisa: continuar andando, seguir em frente o mais rápido possível. O tempo era precioso e qualquer segundo perdido poderia ser fatal. Seus músculos estavam exaustos, o corpo todo doía, mas ela se recusava a parar.

Por sorte, já estavam próximos dos portões. A imponente estrutura metálica se erguia à frente, um refúgio seguro... ou quase isso. Mesmo tão perto, a sensação de perigo ainda pairava no ar. Alby, nos ombros de Lívia e Minho, tornava a caminhada mais difícil. Ele era pesado, e o esforço conjunto dos dois mal era suficiente para sustentá-lo.

— Pode ir, Lívia. Eu dou um jeito com ele aqui — Minho disse entre arfadas, o suor escorrendo pela testa.

Lívia olhou para ele, indignada.

— Não, Minho. Eu não vou deixar vocês. Se for para morrerem, que eu morra junto!

Minho fechou os olhos por um instante, frustrado. Ele sabia que discutir com Lívia era perda de tempo. Ela era teimosa, e não havia nada que a fizesse mudar de ideia. Resignado, ele apenas assentiu e continuaram a avançar, com Alby ainda nos ombros.

A cada passo, o peso de Alby parecia dobrar. Os braços de Lívia tremiam, as pernas pareciam feitas de chumbo, mas ela se recusava a desistir. O suor misturava-se com a umidade do ambiente, deixando-a desconfortável, mas nada disso importava.

Viraram uma esquina do labirinto e, finalmente, puderam ver claramente os portões. Do outro lado, os clareanos estavam reunidos, ansiosos, observando-os com expressões de puro alívio e desespero ao mesmo tempo. Alguns murmuravam entre si, apontando, mas suas vozes eram abafadas pela distância.

Por um instante, parecia que tinham conseguido. Mas, de repente, um som metálico ecoou pelo labirinto, reverberando como um trovão. Os portões estavam começando a se fechar.

O pânico tomou conta. Os clareanos gritavam desesperadamente, alguns incentivando-os a correr mais rápido, outros, mais práticos, diziam para abandonarem Alby e salvarem a si mesmos. Mas Lívia e Minho estavam exaustos, suas forças quase no limite. Ainda assim, apertaram o passo, ignorando a dor, ignorando a exaustão.

— Vai, Lívia! Corre!! — Minho gritou, puxando Alby com toda sua energia restante.

— Eu já disse, não vou deixar vocês! — ela retrucou, tentando acelerar.

Mas os portões se fechavam rápido demais. O barulho ensurdecedor do metal rangendo ecoava pelo ar, e a visão do mundo seguro do outro lado ia sumindo pouco a pouco. Era o fim.

Exaustos, Minho e Lívia não conseguiram mais sustentar Alby e o deixaram cair no chão. Lívia olhou por uma fresta do portão que ainda estava aberta e viu Newt. Seu rosto estava pálido, aflito, os olhos arregalados, como se fosse ele quem estivesse prestes a morrer.

O chão debaixo de Lívia pareceu sumir. O coração martelava contra o peito, e ela caiu sentada, completamente sem forças. Minho fez o mesmo, largando os braços ao lado do corpo, esperando o inevitável.

Então, no último segundo antes do fechamento completo dos portões, uma silhueta passou correndo pelo vão estreito. O baque do corpo contra o chão foi seguido pelo estrondo final dos portões se trancando.

Thomas.

Lívia arregalou os olhos.

— O quê?! O que você fez, Thomas? Quer morrer?! — ela exclamou, tentando recuperar o fôlego.

— Bom trabalho, você acaba de se matar — disse minho com a voz rouca.

Thomas se ergueu, confuso, respirando pesadamente.

— Pera aí... o quê?

— Não sei se você percebeu nossa situação, mas a gente está preso. Já era. A única chance que resta é corrermos de todos os perigos do labirinto — Lívia respondeu, ainda ofegante.

Thomas olhou ao redor, tentando absorver a situação. Então, viu Alby desmaiado no chão. Seu rosto estava pálido, o peito subindo e descendo com dificuldade.

— O que aconteceu com ele?

— O que parece que aconteceu? Ele foi picado — Minho respondeu, a expressão sombria.

Thomas franziu o cenho, observando melhor.

— O que houve com a cabeça dele?

— Fizemos o que pudemos — Lívia disse, sem entrar em detalhes.

Antes que Thomas pudesse dizer mais alguma coisa, um novo som preencheu o ar. Um barulho alto, metálico, quase grotesco.

Os verdugos estavam próximos.

O labirinto estava mudando.

O instinto de sobrevivência falou mais alto, e Lívia e Minho se levantaram de imediato.

— Me ajudem a levantar ele — Thomas pediu.

— Temos que ir, o labirinto está mudando — Minho alertou, a tensão evidente.

— Espera, vamos deixar ele aqui mesmo?! — Lívia questionou, o coração apertado.

Minho suspirou, irritado.

— Não temos nem como nos proteger, como vamos proteger ele?

Lívia mordeu o lábio. Ela sabia que Minho estava certo, mas a ideia de abandonar Alby ali a deixava nauseada.

— Não podemos deixar ele aqui — Thomas insistiu.

— Ele tem razão, Minho. Temos que tentar pelo menos — Lívia apoiou.

Minho hesitou por alguns segundos, observando os dois. Então, soltou um suspiro pesado e concordou com um aceno de cabeça.

Juntos, começaram a carregar Alby. Lívia segurava um dos braços, Thomas o outro, enquanto Minho levantava as pernas. O esforço era imenso, mas a presença de Thomas tornava a tarefa um pouco menos impossível.

A noite já havia caído completamente. Sombras longas se projetavam pelas paredes do labirinto, tornando tudo ainda mais sinistro.

De repente, Minho parou.

— Deixem ele aqui. Coloquem ele sentado. — Sua voz estava tensa.

Lívia e Thomas obedeceram, abaixando Alby com cuidado. Mas antes que pudessem pensar no próximo passo, o som gutural dos verdugos se aproximou novamente.

— Isso não vai funcionar... — Minho murmurou, tenso. — Temos que ir.

— O quê?! — Thomas franziu o cenho.

— Temos que ir! — Minho repetiu, mais firme.

— Do que está falando? Temos que fazer alguma coisa! — Thomas protestou.

— Andamos tudo isso com o Alby pra nada? Ficamos presos aqui no labirinto para simplesmente abandoná-lo?! — Lívia argumentou, indignada.

— Vamos esconder ele! — Thomas sugeriu de repente.

— O quê?! — Lívia piscou, surpresa.

— Pensa! Não tem um lugar seguro pra deixar ele?!

Minho, irritado, avançou contra Thomas, segurando-o pela gola da camisa e o empurrando contra a parede.

— Escuta aqui, seu merdinha, tá bom?! Olha ao nosso redor! Não temos para onde ir! — Ele o soltou, respirando fundo. — Você não entendeu? Já estamos mortos.

Os verdugos estavam cada vez mais próximos.

Thomas teve uma ideia. Olhou para cima, para as trepadeiras e cipós que cobriam as paredes do labirinto.

— Vamos pendurá-lo nas plantas — sugeriu.

Sem alternativas, colocaram o plano em ação. Trabalhando rápido, começaram a puxar Alby para cima, segurando os cipós para mantê-lo elevado.

Minho parou abruptamente, ouvindo o som crescente do verdugo. O monstro estava perto. Perto demais.

— Temos que ir! — Minho alertou.

— Espera, Minho, temos que terminar de puxá-lo! — Lívia insistiu.

— Não dá tempo! Ele está chegando! — Minho soltou o cipó e começou a correr.

O verdugo estava ali.

Lívia e Thomas se esconderam embaixo de algumas plantas, segurando o cipó para impedir que Alby caísse.

A respiração de Lívia estava presa na garganta quando uma sombra grotesca passou bem em frente a eles. Ela tampou a boca, impedindo qualquer som de escapar.

A morte estava a centímetros de distância.

Continua...

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