Contagem Regressiva |20|


O time inteiro estava nervoso com o anúncio dos dez times que passariam para a segunda fase do campeonato, mas eu era o único tranquilo. Quer dizer, fora o Liam, que é o cara mais calmo que conheço.

Nós somos a única equipe invicta do campeonato.

Era mais que óbvio que seríamos classificados, ganhamos todos os adversários sem nem precisar de um jogo de desempate. Minha irmã estava muito orgulhosa, – mas é claro que ela não deixaria isso tão óbvio, foi engraçado de vê-la tentar esconder mesmo assim -, e minha mãe mal se continha de felicidade por mim, e sendo sincero, saber disso me deixava muito feliz.

- Porque não anuncia logo, eu estou morrendo de ansiedade! – Ray estava roendo as unhas.

- Relaxa, idiota, seremos os primeiros do ranking, estamos invictos.

- Sim, mas temos que saber quem serão os outros nove times. – James comentou.

- Acho que tenho um palpite de qual será o segundo time.

Todos me encararam.

- Então fala, Atticus, queremos saber! – Noah indagou.

O time inteiro me encarava. Estávamos na sala do treinador, no horário do treino, esperando o anúncio.

- Saiu! – O treinador Scott gritou enquanto encarava a tela do notebook a sua frente. Todos correram.

– Nós fomos... – eu analisava a tela descer cada vez mais com o rolo do mouse. Me atentei aos nomes dos times, e lá estava o nosso. – O primeiro colocado!

- ISSO!

- AEE!

- EU SABIA, PORRA!

Todos gritaram eufóricos.

Eu sabia.

- O segundo time é a "Furacões da Folha" de Oasis Azul. – James comentou, lendo as informações na tela do computador.

- Mas esse não é... – Assenti para a dúvida do tatuado. – Eu soube que eles tinham perdido dois jogos, pensei que não tivessem se classificado.

- Aparentemente conseguiram.

- Galera... os "Bone Cracker" se classificaram. – senti minha veia da testa saltar depois de ouvir James.

Troquei um olhar com Ray e Noah, eu tinha uma suspeita de que eles conseguiriam, mas não queria ter certeza.

Só de pensar em cruzar meu caminho com aquele sujeito, minha mão chega a coçar e o arrependimento de não ter quebrado sua cara me invade com força. Suspiro para manter a calma e não me estressar. O importante era que éramos os primeiros do ranking de classificação, e eu faria de tudo para que continuássemos assim.

- Treinador, já sabemos quem vamos enfrentar na segunda fase? – perguntei.

- Ainda não, vão sortear e, provavelmente, devem anunciar amanhã ou depois. Por hora, estão liberados, sem treino hoje.

A maioria dos jogadores do time ficaram aliviados pela folga, e mesmo tendo que admitir, também fiquei. E o motivo para isso se encontrava sentada na arquibancada, conversando com Naomi e Stella.

- Pensei que teriam treino. – Stella comentou e correu para abraçar Noah.

- O treinador nos liberou depois do anúncio dos times classificados para a segunda fase do campeonato. – Ray explicou depois de beijar o topo da cabeça de Naomi. – Primeiríssimo lugar, senhoritas.

- Parabéns, mas eu sabia que conseguiriam, meu gatinho é o melhor jogador do time. – Stella se vangloriou.

- Sinto muito em te informar, Stella, mas se seu namorado fosse o melhor do time, ele seria o capitão. – Zarah comentou, zombando.

Eu e Ray gargalhamos com a cara de choque de Stella e Noah.

- Caralho, Zarah, não precisava humilhar. – Noah comentou.

- Desculpe, não consegui me segurar. – Ela deu um sorriso sem graça e se levantou da arquibancada, vindo em minha direção. Sorri abobado, abraçando-a e beijando o topo de sua cabeça.

- Como eu amo minha namorada! – gritei.

Algumas pessoas à minha volta olharam como se me julgassem, mas eu não me importava.

Zarah escondeu seu rosto na curvatura de meu pescoço, provavelmente com vergonha.

- A senhorita está defendendo demais o Atticus. – Stella semicerrou os olhos para a ruivinha. – Primeiro no jogo onde vocês revelaram que fizeram uma tatuagem secreta.

- E que você ainda não me disse onde fez. – Ray acrescentou. Ele ainda estava bravo porque fiz a tatuagem primeiro que ele.

- E que não contou nada para sua melhor amiga! – Stella estava brava, também. – E agora isso. Virou advogada do namorado?

- Assim como você é do seu. – Zarah sorriu desafiadora. Eu estava achando divertido, mesmo sabendo que a Green Hill só estava zoando com a cara da platinada. – Relaxa, Stella, só estou brincando. E por falar em tatuagem...

- O que foi? – questionei quando seu olhar caiu em mim.

- Falei com Amelia sobre o que aconteceu, ela quer dar uma olhada na sua tatuagem.

Revirei os olhos.

- Fala sério, Zarah. Minha tatuagem está ótima. – Levantei a camisa para que ela pudesse ver. Apesar do que aconteceu, a tatuagem continuava linda do jeito que tinha sido feita. – Viu? Continua linda do jeito que Amelia fez.

- Ah, vamos lá. Quero fazer a minha também. – Ray sorriu, se levantando. – Temos tempo livre, de qualquer maneira.

- Enquanto a Amelia analisa sua tatuagem, Juliet e Marcus podem tatuar Ray e Noah.

- É uma ótima ideia. – Noah concordou com a ruivinha.

- Agora você está do lado dela?

- Para de drama, idiota, e vamos logo.

- Ei, onde pensam que vão sem mim? – viramos para trás ao ouvirmos a voz de James. – Não acredito que iam fazer as tatuagens e não iam me chamar, seus traidores.

- Pronto, chegou mais um. – Reclamei. Respirei fundo olhando para Zarah, depois Ray e por último Noah. – Certo, vamos logo. – Me rendi entregando a chave do carro para Zarah, que sorriu vitoriosa e trocou um 'hifive' com Ray.

Ray, Noah e James nos seguiam enquanto Zarah guiava o caminho. Seu sorriso animado não me deixava olhar para o caminho, e eu não conseguia não sorrir ao ver a quão animada ela estava para apresentar suas novas amigas àquela que foi sua única amiga por tanto tempo.

Quando paramos em frente ao estúdio, Noah, James e Ray se entreolharam enquanto Zarah entrava na frente. Noah deu de ombros e foi atrás da ruivinha.

- Nem pensem em amarelar agora. – Avisei para os outros dois antes de entrar também.

Assim que cruzei as portas, vi Marcus conversando com uns caras, e depois de rir de alguma coisa, ele então nos percebeu.

- Ei, Atticus, Zarah! Voltaram mais cedo do que eu imaginava.

Marcus saiu de trás do balcão de atendimento e veio até nós. Marcus iria abraçar Zarah, mas a minha garota é bem treinada e apenas deu um aperto de mão. O sorriso que se instalava no rosto do homem desapareceu em instantes e veio para a meu. Eu sorria vitorioso, porém discreto. Depois, também o cumprimentei com um aperto de mão.

- Olha só, trouxeram amigos. Se soubesse que trariam mais clientes, teria tatuado vocês dois muito antes.

- Para de bancar o empreendedor, Marcus. – Zarah zombou.

- Ei, alguém tem contas pra pagar, sabiam? – ele arqueou a sobrancelha. – Mas e aí, quem vai se sentar na cadeira?

- Zarah!!

Amelia veio correndo erguendo a ruivinha do chão num abraço apertado. Zarah agarrou a morena pelos ombros enquanto as duas matavam a saudade, como se não houvessem se visto há duas semanas.

- Se eu soubesse que você viria me ver mais vezes, já tinha te arranjado um namorado novo.

- Ei! – protestei.

- Desculpe, Atticus. – Ela sorriu sem graça. – E aí, vieram fazer outra tatuagem juntos? Acho isso tão bonito, adoro tatuar casais.

- Quem sabe mais pra frente. – Encarei a ruivinha com um sorriso de lado. Ora, ora... – Na verdade, eu te falei sobre o que aconteceu com a tatuagem do Atticus, por isso viemos para você dar uma olhada.

- Mas não porque ele quis. – Ray comentou. – Praticamente o arrastamos para cá. - Revirei os olhos.

- E de quebra, os três vieram tatuar algo que lembrasse o time. – Zarah completou, apontando os três.

- Ah, os bonitinhos são do time... – Amelia sorriu, observando descaradamente Ray, James e Noah de cima à baixo. – Entendo. Bom, é um prazer conhecer os amigos de Zarah, eu sou Amelia, para quem não me conhece, e aquele é o Marcus. – O moreno cacheado acenou do balcão, um sorriso frouxo era notável.

- Esses são Ray, Noah e James. – Apresentei e eles a cumprimentaram. – E as meninas são Naomi e Stella.

- É um prazer conhecer todos vocês. – Amelia sorriu verdadeiramente agora. – Bom, quem quer ser o primeiro? – a loira cacheada perguntou e os três se entreolharam. – A não ser que queiram ir juntos. Nesse caso, temos que esperar Juliet terminar o cliente que está atendendo, mas ela não deve demorar, então fiquem à vontade. Se estiverem nervosos, temos cerveja como apoio emocional. Mas precisamos ver suas identidades, Claro.

- Ah, eu vou aceitar. – James se pronunciou pela primeira vez desde que chegamos.

- Nervoso? – arqueei a sobrancelha o olhando.

- Ah, relaxa, isso é normal. Mas vou logo te dizendo: nada do que você ouviu sobre fazer uma tatuagem é verdade. – Amelia o tranquilizou e eu ri. – Hum... gostei da tatuagem, garanhão. É Noah, certo?

Amelia se aproximou perigosamente do rosto do ruivo para observar a tatuagem em sua testa. Troquei um olhar com Zarah para depois olhar para Stella, seus olhos azuis estavam arregalados com a ousadia de Amelia, e sendo sincero, eu também estava.

- Hum... seu tatuador fez um belo trabalho. Boa fixação de tinta e cicatrização excelente.

Ouvimos um pigarreio e Noah sendo puxado para trás.

- Acredito que esteja invadindo o espaço pessoal do meu namorado. – E Stella deu um passo à frente dele.

- Oh, é a namorada... – a morena sorriu de canto e observou a loira de cima à baixo. – Não se preocupe, lindinha, é mais fácil eu dar em cima de você do que dele. – e deu uma piscadela para Stella.

Stella ficou paralisada no lugar, seu rosto foi ficando tão vermelho que nem eu, Ray ou James não conseguimos segurar a risada.

- Amelia, pare de brincar com as crianças, está assustando a garota. – Marcus falou, achando graça da situação.

- Relaxa, gato, estou só brincando. – A morena piscou para a loira a sua frente antes de se afastar.

Espero sinceramente que seja apenas a personalidade dela, não propositalmente.

- Fiquem calmos, é só a personalidade dela, ela não faz de propósito. – Zarah comentou. – Ela é assim mesmo.

Bom, não era a primeira vez que Zarah 'lia meus pensamentos'.

- Você me conheceu assim, meu bem, e eu nunca disse que valia. – Eu a acompanhei na risada. – Pelo menos alguém aqui é divertido. Eu já disse como adoro o namoro de vocês?

- Já, e eu realmente adorei te conhecer. Quem sabe não te convidamos para ser madrinha do nosso casamento. – Sorri travesso para os olhos arregalados de Zarah.

- Atticus!

- Ah, e eu vou cobrar! Não aceito menos que isso! – Amelia riu e trocou um cumprimento comigo. – Vou ver se a Juliet já terminou, sentem-se. Marcus, pega a cerveja pro amigo do cabelão, por favor.

Eu e Ray gargalhamos enquanto nos sentávamos e víamos Amelia sumir estúdio adentro.

- Amigo do cabelão? – James arqueou as sobrancelhas. – Ela é bem animadinha, né?

- Animadinha demais para o meu gosto. – Stella reclamou sentada no colo do Noah. – E ela não vai tomar nossos lugares como madrinhas, né, Nina?

- Exatamente!

Nossa, até Naomi parecia determinada. Eu e Ray rimos ainda mais.

- Ai! Por que me bateu? – reclamei ao ser agredido.

- Você e suas brincadeiras... Amelia não vai me deixar em paz, agora, Atticus!

- Relaxa, ruivinha, era só brincadeira. – A puxei para o meu colo e lhe dei um beijo no ombro. – Mas se ela quiser mesmo ser madrinha do nosso casamento eu não vou me opor. – Sussurrei em seu ouvido e gargalhei com o arrepio que acometeu seu corpo e a vermelhidão de seu rosto.

- Ah, seu filho da...

- Opa, olha a boca! Você não teria coragem de xingar a sua sogrinha querida, teria? – apelei e sorri com seu bico de indignação.

- Aqui está a cerveja. E sua identidade. – Marcus apareceu e entregou a cerveja e o documento para James.

[...]

<3

- Ainda não me ultrapassaram? Eu saí do colegial tem seis anos, gente. – Marcus riu divertido.

Tínhamos acabado de descobrir que ele fez parte do time há alguns anos.

O cara era muito conhecido no colégio, alguns o consideravam uma lenda!

- Ah, mas tem tempo!

– Han está amolecendo com vocês.

- Han? – questionei.

- Sim, o treinador. Não treinam mais com o Han? – ele perguntou confuso.

- Não, nosso treinador é Scott, filho dele. – Noah explicou.

- Caralho, o cara é idêntico ao pai, realmente achei que ele continuaria fazendo jus ao apelido de "eterno treinador".

- Espera, você o viu? Então foi a algum jogo nosso. – James se aproximou.

- Ele foi no jogo contra os Furacões. – falei, atraindo os olhares.

- O Atticus se jogando em cima do posto médico para impedir o turnover foi sensacional, o ponto alto do jogo. – Ele sorriu para mim, mostrando todos os dentes.

- Fala isso porque não foi você que teve que limpar o sangue. – Zarah o encarou.

- São consequências, Zarinha. Você quer ser médica, não? – Marcus deu de ombros. Não gostava muito desse cara, lá no fundo. – Ah, olha ela aí.

Viramos para ver Amelia aparecer com Juliet, que terminava de falar com um cliente antes de nos encarar.

- Estão prontos? – Amelia perguntou sorrindo.

- Vamos lá, meninos, vamos transformá-los em verdadeiros raposas. Quem sabe não tiramos um dia para uma partida, que tal? – os olhos de James e Ray brilharam como faróis e concordamos veementemente.

James, Ray e Noah seguiram Marcus, Amelia e Juliet para dentro da sala e ficamos sentados esperando que acabassem de se marcar.

[...]

<3

Stella estava folheando um álbum de fotos de clientes e suas tatuagens recém feitas junto de Naomi. Zarah estava encostada em mim, quase deitada sobre meu peito enquanto eu lhe fazia um cafuné.

- Uma coisa não sai da minha cabeça. – Ela sussurrou.

- O que é? – perguntei.

- Você dizendo que iríamos nos casar. – Olhei para seu rosto, sem parar o carinho. – Não sei se estou parecendo uma boba, mas inconscientemente fiquei feliz com isso.

Sorri com seu desabafo. Eu e Zarah sempre falávamos o que estávamos pensando, queríamos ser sinceros um com o outro, e a revelação dela me pegou desprevenido, porque logo fiquei feliz em imaginá-la caminhando na minha direção vestida de noiva.

- Você ficaria maravilhosa com um vestido de noiva. Ainda mais comigo esperando por você.

- Eu também acho. Eu ia me segurar muito para não chorar e borrar a maquiagem que, provavelmente, Stella se ofereceria para ela mesma fazer. – Não pude deixar de rir.

- Mesmo de maquiagem borrada, ainda continuaria linda. – Beijei o topo de sua cabeça.

- É um belo sonho.

- Que pode virar realidade, se você quiser. – Seu olhar mirou em mim. – Nunca escondi o quão bem você me faz, e não gostaria de te perder. Quem sabe daqui uns anos, depois de nos formarmos na faculdade, talvez...

Seus olhos brilhavam com as lágrimas contidas, e não menti em nenhuma palavra dita. Se Zarah realmente quisesse continuar comigo, eu me casaria com ela sem nem pensar.

- Obrigada, mas vamos deixar o tempo agir. Acabamos de completar um mês de namoro, vamos esperar completar um ano e depois decidimos.

Dei um beijo em sua testa.

- Como você quiser.

[...]

<3

Estava abraçado a Zarah do lado de fora do vestiário, pela primeira vez desde o início do campeonato eu não estava com um bom pressentimento. Conseguíamos ouvir o barulho do ginásio lotado de torcedores dos dois times, e a julgar que parecia que o lugar ia ao chão a qualquer momento, a coisa não deveria estar nada bonita.

- Você me parece preocupado. – Zarah interrompeu nosso silêncio confortável.

- Não estou com um bom pressentimento em relação ao jogo.

- Por isso queria ficar à sós comigo antes da partida? – seu olhar se encontrou com o meu. Em parte, sim. Zarah me acalmava de uma maneira que nem eu sabia.

- Eu só precisava tranquilizar a mente, e você é o meu calmante natural. Além de eu amar te ter em meus braços. – Sorri com a coloração vermelha que se espalhou por suas bochechas. – Obrigado por ser minha calmaria.

- A calmaria gostaria de pedir que você não se jogue em cima de outra mesa. – Não pude deixar de rir. – Estou falando sério, Atticus, não me assuste mais daquele jeito.

Deixei um beijo em sua testa.

- Pode deixar, minha vida, sem pular em cima de mesas. – Sorri divertido e lhe beijei.

Seus braços circularam meu pescoço, uma de suas mãos se aprofundou em meu couro cabeludo, causando-me um arrepio bom.

- Idiota... opa! Desculpa interromper. – Nos separamos depois que Ray basicamente escancarou a porta. – Está na hora, capitão.

Assenti e o esperei sair.

- Boa sorte, e cuidado. – Assenti e lhe dei alguns selinhos antes de deixá-la ir.

Respirei fundo e voltei para o vestiário. Observei cada um dos jogadores daquele time, e mesmo que meu pressentimento ruim ainda esteja aqui, decidi que vou confiar em meus companheiros.

Entramos em quadra determinados, com ambas as torcidas alvoroçadas. O jogo seria em nosso colégio, então imagine o caos.

Estalei o pescoço e troquei um olhar com Noah, aquele pressentimento ainda não havia passado, e me posicionando, acompanhei o juiz jogar a bola para o alto e quando ela desceu, meu olhar cruzou com o armador adversário. Branquelo, cabelo acinzentado e olhos castanho-escuros, mas o olhar dele... eu não gostei nem um pouco.

Liam conseguiu pegar a bola do pivô, um cara alto, forte e com um topete exagerado. A bola caiu nas mãos de Ray, que logo lançou para mim e foi para o ataque. Eu mal cheguei no meio da quadra e o armador veio me interceptar.

Um arrepio passou por minha espinha, esse cara não olhava para a bola nas minhas mãos, ele encarava a mim. Seu olhar era opaco e sua feição, apática.

Ele não é normal. Tenho que estudá-lo melhor.

Eu o encarava com certa curiosidade a seu respeito, mas como o tempo estava correndo, teria que estudá-lo no decorrer do jogo. Tentei passar por ele com alguns dribles leves, mas o cara conseguia me acompanhar.

Interessante, vamos ver até onde você vai.

Abri um sorriso de lado e aumentei a velocidade. Eu conseguia ouvir as vozes de Noah e Ray, mas queria saber até onde ele conseguiria me acompanhar. Forcei uma entrada pela direita, e como previ ele tentou me fechar, mas passei a bola por debaixo das pernas e fui para a esquerda, ele parou a passada e tentou me acompanhar, porém, voltei novamente para a direita, mas sua perna esquerda não conseguiu acompanhar e travou, fazendo-o cair de joelho na minha frente. Dei um passo atrás e lancei a bola na direção da cesta.

Três pontos.

Enquanto o ginásio explodia em gritos, eu retornava para a defesa ainda mantendo contato visual.

- Pessoal, venham aqui, rápido! – chamei apressado. – Escutem, quero que deixem aquele armador para mim.

- Mas, Atticus...

- Ray, confia em mim. – O encarei sério. – Não tenho um bom pressentimento em relação a ele, então deixem ele comigo. Agora vão!

- Tem certeza, Atticus?

- Tenho, confia em mim. E outra coisa, mantém contato visual comigo o tempo todo, tenho a impressão que ele não vai largar da minha cola. – Noah assentiu e batemos os punhos antes de irmos marcar nossos adversários.

Liam estava colado no pivô do topete, o cara era grande, mas era ágil. Noah marcava um cara de olheiras profundas e expressão indiferente, e tirando eles dois e o armador, os outros dois jogadores não pareciam grande coisa.

A bola caiu nas mãos do armador e eu entrei em sua frente. Eu estudava cada possibilidade de movimento que ele poderia fazer e já pensava em uma encurralada.

- Devo admitir, você é melhor do que me disseram. – Me surpreendi com sua fala. – Porém, este será seu último jogo do campeonato.

Quase gargalhei.

- Para isso você terá que me tirar desse jogo na marra. – Me aproximei. – Porque eu não vou perder para você.

Sorri com seu desafio, e tive que me movimentar rápido para interceptá-lo pela esquerda. Consegui bloquear todas as suas tentativas de arremessar e ele teve que passar a bola para um colega, sem escolha.

Eu acompanhava seus passos ao mesmo tempo que prestava atenção na movimentação da bola. O primeiro quarto terminou acirrado, apenas dois pontos de diferença que nos davam vantagem.

E apesar de só ter passado o primeiro quarto, meu corpo parecia pesado. Marcar aquele cara estava consumindo mais energia do que imaginava, estava me cansando rápido e isso não era bom.

Eu ouvia o treinador ditar jogadas ao fundo, mas tudo que conseguia ouvir eram meus batimentos acelerados e minha respiração parcialmente ofegante. Joguei mais um grande gole de água na boca e sequei o suor da testa com a toalha.

- Atticus, vai começar o segundo quarto no banco para descansar. – Scott determinou. Olhei para o banco dos Bone Cracker e o armador estava se levantando para voltar a quadra.

- Não, eu vou jogar. – Todos me encararam. – Eu vou marcar aquele armador sozinho.

- Qual é a sua, está maluco? Precisa descansar. – Noah tentou me fazer sentar no banco novamente, mas empurrei sua mão.

- Não vou deixar aquele cara jogar sozinho. Eu vou marcá-lo, e acho que não preciso lembrar a ninguém que não adianta tentar me fazer mudar de ideia.

Encarei os olhos verdes de Noah. Ele me conhece bem o suficiente para saber que não adianta tentar me fazer mudar de ideia, porque não vou. E seu suspiro resignado foi a resposta de sua pergunta.

- Mas é melhor começar a contar mais com seu time, capitão. – Seu punho veio de encontro ao meu peito antes dele se virar para voltar a quadra.

Joguei a toalha no banco e deixei a garrafa de água no chão pronto para entrar em quadra, mas senti mãos macias agarrarem meu braço e não precisei pensar muito para saber que era Zarah. Quando me virei para olhá-la, quase reconsiderei minha decisão de voltar para a quadra.

Aquele olhar preocupado acabava comigo.

- Sei o que vai pedir, mas não posso fazer isso. Preciso marcá-lo. – me doía vê-la tão preocupada.

- Sei que mesmo se pedisse para descansar um pouco, você não faria. Então não exagere, por favor.

Sorri de lado e me aproximei, deixando um beijo em sua testa.

- Minha promessa de não pular em mesas ainda está valendo.

- Acho bom mesmo. – Seu sorriso me encheu de energia e entrei em quadra revigorado.

Antes da bola rolar, puxei Ray, James, Noah e Liam para falar um plano rápido.

- Escutem, James, Ray e Noah, vamos precisar de rapidez e precisão. James, fique preparado para lançar qualquer bola de três que eu te der; Ray, vai ter que colocar essas pernas para correr; Noah, pode colocar força nos braços para as enterradas. Vamos decolar com esses pontos. E Liam, continua segurando aquele pivô. – Eles assentiram e batemos os punhos.

Liam estava fazendo um ótimo trabalho em marcar o pivô, sem o cara mais alto da equipe, todos os outros tinham quase a mesma altura, não seria nem um pouco difícil cuidarmos deles.

James e Ray eram mais rápidos que seus adversários, Noah claramente era mais forte. Eu cuidando do armador, a equipe deles não teria a menor chance.

Encarei aqueles olhos apáticos com meu olhar mais assustador. Eu ia mostrar quem é o capitão das Raposas.

Passados cinco minutos do segundo quarto, o armador dos Bone Cracker já queria me assassinar. Se seus olhos pudessem lançar raios laser, eu já teria sido atravessado.

Eu não o deixei lançar a bola uma vez sequer.

O marquei tão de perto que já conseguia sentir sua raiva emanar, e nada me deixava mais satisfeito. Entendam, com Zarah eu tento ser a melhor pessoa e o melhor homem para ela, mas em quadra, eu não me importava de ser o maior babaca, um grande filho da puta e um completo imbecil.

Depois de analisar meu adversário, conseguir irritá-lo e desestabilizá-lo foi mais fácil do que imaginava. Ele queria dar sempre a primeira ordem, o primeiro passe para a jogada, ou então finalizá-la. Tudo que fiz foi impedi-lo de fazer as jogadas, o resto ele fez sozinho.

No desespero de pontuar ou passar a bola, Ray estava sempre lá para roubá-la, e vê-lo quase espumar de raiva depois do ginásio inteiro vibrar com nosso ponto é muito satisfatório.

Faltava dez segundos para o fim do jogo e eu estava com a posse da bola. O jogo estava empatado e meu corpo pedia por descanso. Tentei passar pela direita, mas fui bloqueado, recuei e olhei novamente para o relógio, vendo a contagem regressiva.

5...

Eu não estava em condições de orquestrar uma jogada com tão pouco tempo, e assim como eu, todos também estavam cansados.

4...

Eu teria que avançar sozinho e pontuar, ou iríamos para prorrogação, e nenhum de nós estava em condições de aguentar mais cinco minutos de jogo.

3...

- Não vou deixá-lo passar. – O armador sentenciou.

Respirei fundo e avancei. Fui pela esquerda, forçando minhas pernas a correrem. Troquei um olhar rápido com Ray, parei e fui para a direita, passei a bola para a mão esquerda e joguei por trás do corpo para o tatuado.

2...

Ray pegou a bola e foi na direção da cesta. O lançador e o armador tentaram bloqueá-lo, mas ele não lançou a bola para a cesta. Ele a lançou para mim.

Eu estava desmarcado.

1...

A bola caiu em minhas mãos, arrumei a postura e pulei, lançando a bola. O som do fim do tempo ecoou pelo ginásio, mas todos permaneceram em silêncio observando a bola bater no aro, rodopiar, e com lentidão, cair para dentro da cesta.

Caí sentado e me permiti deitar, suspirando aliviado, mas logo senti o peso dos corpos de Ray, James, Noah e o restante do time.

- SEU FILHO DA MÃE! CARALHO, IDIOTA, NO FINZINHO?! SÉRIO? QUER ME MATAR DO CORAÇÃO, DESGRAÇADO?!

- Ray, para de gritar no meu ouvido, porra! Saiam de cima de mim!

A galera começou a sair de cima de mim e Ray me ajudou a levantar. O ginásio inteiro gritava o nome do time, uma festança sem tamanho, com as líderes pulando e gritando com a nossa vitória.

Sorri olhando para minha mãe. De repente, tive uma breve visão de meu pai ao lado dela. Eu ainda sinto falta de uma figura paterna presente.

Em minha visão, meu pai sorria orgulhoso enquanto mamãe chorava emocionada.

Voltei para a vida real e engoli em seco, com os olhos um pouco lacrimejados. Afastei as lágrimas com as mãos.

Na arquibancada 'da vida real', meus amigos faziam uma algazarra, Amelia abraçava Juliet enquanto a mulher cheia de piercings tentava afastá-la, Diana pulava em cima do banco, e mamãe realmente chorava emocionada.

No minuto seguinte quase fui ao chão com o choque de um corpo pequeno se agarrando ao meu pescoço, se não fosse por Liam me segurando. Eu nem mesmo precisava ver para saber quem era.

- Meu Deus, Zarah, quase nos derrubou. – Ri e abracei sua cintura para sustentá-la melhor em meu corpo.

- Desculpe, eu estava preocupada. Você está bem? – seu rosto levantou e seus olhos encontraram os meus, eles estavam marejados, mas seu sorriso era imenso.

- Cansado, mas estou bem. Ainda mais com uma recepção dessas da minha namorada.

- Vamos comemorar quando estiver descansado. – Meu sorriso se tornou malicioso e suas bochechas coraram. – Agora ponha-me no chão, você precisa falar com sua mãe, Diana e seus amigos. Depois, vê se toma um banho para irmos para casa e eu poder fazer aquela massagem que eu sei que te relaxa.

Sorri e balancei a cabeça em negativa. Seu cenho franziu, e senti meu sorriso aumentar.

- Você não vai me pôr no chão, né?

- Não. – Lhe dei um selinho. – Vou aproveitar você assim por mais um tempinho.

- Que coisa feia, capitão. Causando inveja nos solteiros com seu relacionamento sólido. – Ela sorriu, balançando a cabeça em negação.

- Azar o deles. – Dei de ombros e sorri, para logo depois capturar seus lábios num beijo saudoso no meio da quadra.

Seus braços ao redor de meu pescoço apertaram mais, assim como suas pernas em volta de minha cintura.

De repente o barulho a minha volta havia sido abafado, minha audição apenas captava as batidas de meu coração. Todos os meus sentidos estavam voltados para meu momento com Zarah, como se ela fosse o centro de todo o universo.

E sinceramente, ela era. Zarah era o centro do meu universo.

[...]

<3

Sai do box com o corpo molhado a agarrei uma toalha.

Todos já haviam ido embora, sobravam apenas as faxineiras que limpavam o ginásio – quando muito.

Aquele mal pressentimento do início do jogo já havia passado.

O jogo havia ocorrido tudo dentre os conformes, nós ganhamos, eu não entendia o porque daquele pesar nos pulmões.

Me vesti.

Ao lado da pia, agarrei uma toalha e passei a mesma em minha face afim de tirar a água que escorria pelos meus olhos. Olhei-me no espelho.

- Hoje é o dia, grandalhão. Que tal um jantar com minha namorada perfeita? Seria ótimo, não? – comentei comigo mesmo. – Vamos comemorar!

Enquanto cantarolava em assovios, esfreguei o sabão em minhas próprias mãos até virar espuma e passei em meu rosto. O que causou que eu não pudesse abrir meus olhos.

Antes que eu pudesse enxaguar, escutei passos firmes e um leve tremor.

Não era Zarah.

Mesmo se fosse, ela não pode entrar no banheiro masculino.

Também não era nenhum de meus amigos, eles não tinham um passo tão pesado.

- Quem?

Criei coragem para perguntar, desligando a torneira logo em seguida.

Não havia quase nenhuma pessoa por aqui, praticamente todos haviam ido embora. Então quem seria?

Ninguém respondeu, e os passos pararam.

Talvez tenha sido coisa da minha cabeça.

Liguei a torneira novamente.

Então, repentinamente, antes que eu pudesse fazer qualquer outro movimento, senti um forte empurrão. Bati minhas costas no box, o que causou um estardalhaço enorme, e cai sentado no chão.

Os passos haviam retornado, e eles vinham em minha direção. Era o que eu sentia conforme o tremor no chão se fortalecia.

Tentei afastar o sabão de meus olhos. Mas assim que os abri, tudo o que pude ver foi um punho fechado em alta velocidade me atingir violentamente.

- Porra! – Xinguei quando senti a batida, fechando os olhos novamente e pressionando meu nariz, eu tinha certeza que estava sangrando.

A pessoa quem me socou agora me agarrava pela gola da camisa. Porra, era novinha!

Eu ainda me mantinha de olhos fechados.

- Escuta aqui, idiota! – era uma voz masculina, ríspida e ameaçadora. – Disso você não sairá ileso, tenha certeza. – Pude escutar um risinho irônico. – Na próxima, não vou deixá-lo passar.

Espera... eu reconhecia aquela voz.

O homem me soltou e os som daqueles passos firmes lentamente se cessavam, até eu não os ouvir mais.

"Não vou deixá-lo passar."

PORRA! Foi o que o armador sentenciou durante o jogo.

Ergui-me e lavei meu rosto, levando embora tanto a espuma quando o sangue que escorria de meu nariz.

E o mal pressentimento, agora voltara.

[...]

<3

Não. Falo. Nada.

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