|10| Encanto

[...]

OBS: Eu ia colocar esse capítulo junto com o anterior, mas iria ficar muito grande (mais de 10mil palavras), então leiam como se ainda estivessem terminando o capítulo 9, vai fazer mais sentido depois.

<3

DEPOIS de algumas horas de festa, quando já era de madrugada, resolvi tomar um ar do lado de fora.

E mal pude relaxar alguns breves segundos de olhos fechados que logo escutei alguma voz.

— O que está fazendo aqui? — Reconheci a voz de Zarah, e logo abri os olhos.

— Eu? Nada, só vim pegar um ar em um lugar mais silencioso, se eu ficasse mais um pouco lá dentro, Ray estaria me fazendo virar o quarto copo de bebida essas horas.

Ela riu. Porra como eu amo esse sorriso.

— Vou fingir que acredito nessa sua desculpinha esfarrapada, mas não vou insistir não.

— Estou mentindo não.

— Sei. — Riu, sentando ao meu lado.

— Então, é... e o que você está fazendo aqui? — A vi sentar ao meu lado no banco.

— Vim pegar um ar em um lugar com mais silêncio, se eu continuasse lá dentro, Clara estaria me fazendo virar o quarto copo de bebida essas horas. — Foi a minha vez de dar risada.

Ficamos em silêncio durante alguns longos segundos, até que eu lembrei de uma coisa.

— Ah, aqui... — Procurei a caixinha no meu bolso. — Talvez, mas só talvez, eu tenha comprado um presente a mais quando fomos comprar para a minha mãe.

Sua cara foi impagável, e eu mal pude raciocinar, mas Zarah já me estava me agredindo enquanto me chamava de mentiroso.

— Você me fez andar um dia inteiro para, esse tempo todo, você me contar que o presente que estávamos procurando era para ser o meu? — Dei de ombros, rindo. Recebi outro soco por isso.

— Alguém tinha que te distrair, e ninguém melhor que eu aqui, não é? — Me gabei, levantando os braços para mostrar os músculos ali existentes. — Você ficou caidinha, vai, fala a verdade. Não tem quem resista ao meu charme.

— Idiota. — E revirou os olhos outra vez, como assim havia feito hoje de manhã. — Vai me entregar o presente ou a princesa prefere usar a joia para enfeitar os músculos? — Zoou.

— Olha, não seria má ideia... — Brinquei, e pude ver a cara ofendida que Zarah fez. — Não, estou brincando, aqui.

Entreguei a caixinha aveludada, e a ruivinha a encarou curiosa.

— Atticus, isso é tão... — Sorri de canto ao vê-la arregalar os olhos, depois levar uma das mãos a boca e me olhar com os olhos brilhando. E, então, ela tirou o colar da caixa.

— Lindo, não é? — Que nem você... — Fique de costas.

Zarah se virou, e notei ela se arrepiar quando afastei seu cabelo, colocando-o de lado em seu ombro. Passei o colar para a frente, o puxando e prendendo o mesmo no pescoço da Green Hill.

— Feliz aniversário. — A parabenizei.

Fiquei petrificado quando Zarah se virou novamente de frente e senti seus braços ao redor de meu pescoço, seu corpo colado ao meu. Seu cheiro era doce, mas agradável, sua pele era quente e macia, e logo senti todos os pelos de meu corpo eriçarem quando seu hálito bateu em meu pescoço.

— Obrigada, Atticus.

Sorri de canto e retribui seu abraço, sentindo um vazio estranho logo depois que nos separamos.

— Vamos curtir sua festa. — A ruivinha abriu um enorme sorriso ao sugerir, pegando na minha mão e me arrastando.

— Não, espera! — A segurei pela mão, a puxando rapidamente até que nossos corpos estivessem colados.

Ela me encarou surpresa, com aqueles olhos maravilhosos me encarando arregalados.

— Atticus, o quê...

— Você 'tá linda. — Sussurrei enquanto meus olhos descaradamente se mantinham fixos naqueles lábios rosados e hidratados.

Não foi imperceptível quando Zarah arregalou ainda mais seus olhos. Ela abriu a boca, e não emitiu um som antes de fechá-la novamente.

Lembrei-me, então, do babaca de hoje de manhã: "Até que a nerd é bem gostosinha".

Filho da puta desgraçado. Tudo bem que a Green Hill era linda e tinha umas curvas que davam asas à imaginação, mas ela não se envolve com ninguém, e nem mesmo comigo.

Eu não entendia como ela ainda estava solteira. Me veio à mente: será que ela ainda era virgem? Será que ela já tinha sequer ficado com alguém alguma vez?

Eu não conseguia imaginar um universo onde ela ainda não havia sequer dado seu primeiro beijo.

E, às vezes, me pego comparando a Zarah com Karine. Já pude tirar umas conclusões desse passatempo. Karine tem tudo o que você precisa caso o que você esteja procurando seja uma diversão passageira, por mais contraditório isso possa parecer.

Foi em uma balada e quer alguém para passar a noite e depois simplesmente fingir que sequer conheceu? Karine. Quer alguém que não cria sentimentos fácil e, quando cria, não é daqueles duradouros? Karine. Quer alguém para namorar quando nenhuma outra garota te interessa? Karine. Quer alguém que não se importa que você saia sexta à noite com os seus amigos e volte bêbado na segunda com a camisa desabotoada, o cabelo desajeitado e fedendo à bebida? Karine. Quer alguém que pague um boquete incrível? Certamente Karine. Ou então uma garota qualquer com OnlyFans.

"Atticus..."

Mas acho praticamente impossível encontrá-la noiva, ou pior, casada. Pois esses tipos de relacionamentos são duradouros. São para pessoas que querem um "felizes para sempre". Karine nunca estaria em um conto de fadas. E, se estivesse, certamente não seria a princesa.

Mas..., Zarah?

Ela é o tipo de garota que faz você acreditar em promessas que nem sabia ter feito. Que, com um simples e singelo sorriso, é capaz de transformar sua tarde cinza em um espetáculo dourado de pôr do sol. Enquanto Karine é a tempestade que você sabe que vai acabar, Zarah é a brisa de outono que te acompanha sem alarde, mas que marca sua pele com o frescor que nunca desaparece completamente.

Não é o tipo de garota que seria a princesa do conto de fadas, porque, na verdade, ela é o conto inteiro. Zarah é a história que você lê até a última página e, mesmo assim, volta para a primeira, só para sentir de novo. E de novo, e de novo, e de novo, de novo, de novo, de novo... até que esteja completamente viciado.

"Atticus... o que você está fazendo...?"

Eu me peguei pensando em como seria beijá-la. Não o beijo apressado e faminto que filmes insistem em romantizar. Mas um beijo com peso, com significado, com palavras que não precisam ser ditas. Um beijo que dissesse "eu te vejo" em vez de "eu te desejo". Embora, sejamos honestos, com Zarah, as duas coisas viriam de mãos beijadas.

Talvez ela nunca tenha dado seu primeiro beijo — e, se fosse verdade, isso explicaria a calma que emanava dela. Não calma de quem não conhece o mundo, mas de quem o observa com cuidado, escolhendo com quem dividir o próprio universo. Eu me pergunto se ela já encontrou alguém à altura disso. Me pergunto se eu estou à altura disso.

Porque Zarah não é do tipo que se contenta com meias-mentiras ou meias-verdades. Ela não é para quem quer um coração emprestado. Ela é para quem quer plantar raízes, mesmo sabendo que, às vezes, as raízes nos prendem.

Zarah é o tipo de garota que não precisa esquentar sua cama para que você fique obcecado com ela, o tipo de garota que não precisa transar com você ou sequer te dar um selinho. Ela não precisa de nada disso, a sua presença já me deixa maluco. O seu cheiro? Viciante como droga. O seu sorriso? Seu riso? Seus olhares? Caralho, se eu tivesse palavras para descrevê-los, descreveria.

E quando à vejo no silêncio da biblioteca, com seus olhos cinzentos como a neblina sombria e misteriosa de uma floresta que, ao mesmo tempo, possui esse tom azulado que clareia e afasta toda e qualquer tempestade. Ela parecia tão intocável quanto a luz da lua refletida em um lago. Eu sabia que jamais poderia alcançá-la sem me afogar — mas talvez, só talvez, me questiono se não valeria a pena perder o fôlego.

Se Zarah fosse uma canção, seria aquela que você ouve de olhos fechados, porque só assim consegue sentir tudo o que ela carrega. Se fosse um lugar, seria aquele que você sonha em chamar de lar, mesmo sabendo quão impossível é tê-lo por completo.

"Atticus..."

E, no fundo, eu entendia. Entendia que Zarah não era uma garota que você conquistava. Ela era uma alma que você tinha que agradecer de joelhos por ter a sorte de cruzar, mesmo que fosse só por um instante. Ela era a certeza de que, no meio de tanto ruído, ainda havia beleza na simplicidade.

E, enquanto ela dançava, por mais rodeada ela estivesse, para mim só havia ela na pista. Com o aroma leve de seu perfume preenchendo o ar, eu me perguntei: será que ela tem noção do impacto que causa? Do impacto que causa em mim?

Será que ela sabe que, sem ao menos tentar, ela já me tem? Porque, naquele momento, eu tive a certeza. Se Karine era o ponto final, Zarah era as reticências — um convite para algo maior, algo eterno, algo que você nunca quer terminar.

E, por menos religioso que eu seja... Deus, como eu queria me perder nela. Nesses olhos, nesses braços, nesse corpo.

"Por que você está fazendo isso comigo...? Não... não faça..."

Eu tinha que fazê-la enxergar o que eu enxergo. Eu tinha que fazê-la enxergar que é minha. Que já era minha desde minha atenção recaiu sobre ela pela primeira vez.

Ela é o tipo de garota que te faz questionar todas as suas escolhas e, ao mesmo tempo, te dar coragem para continuar. Até por que, quer alguém que lê seus silêncios como se fossem um livro aberto e te responde com um olhar cheio de significados? Zarah. Quer alguém que não precisa de vestidos extravagantes ou maquiagem carregada para deixar todo mundo em um ambiente sem fôlego? Definitivamente Zarah.

Quer alguém que te desafie, te provoque, mas de uma forma que te faz querer ser uma pessoa melhor? Zarah. Quer alguém que não liga para aparências, mas que, mesmo assim, parece ter saído de um quadro renascentista? Zarah.

Quer alguém que, ao invés de prometer o mundo, segura sua mão e te mostra que você pode construir um universo juntos? Sempre Zarah. Quer alguém que sabe a hora de ficar em silêncio e a hora de falar, mas que, em qualquer das duas, faz você se sentir compreendido? Zarah. Quer alguém que te faz esquecer o tempo, como se o mundo parasse para assistir vocês dois existirem juntos? Zarah, sem dúvida.

Quer alguém para quem você se perde pensando "como alguém assim existe"? Zarah. Quer alguém que, mesmo com todas as suas imperfeições, parece ser exatamente o que faltava na sua vida? Zarah.

"Atticus... não chega tão perto assim..."

Quer alguém que você nunca vai conseguir esquecer, mesmo se tentar com todas as forças? Zarah. E quer alguém que você nem sabe se merece, mas que, ainda assim, deseja com todo o coração? Sempre, sempre Zarah.

E, sem que eu pudesse sequer raciocinar quanto tempo havia passado, a única coisa que me importava naquele momento era que os meus lábios estavam tocando os da ruivinha. Os da minha ruivinha.

E porra, ela beija bem para caralho!

Insinuei entrada com a língua e tive a passagem liberada. Era um beijo cada vez mais calmo e mais lento, mas que, ao mesmo tempo, fazia meu coração bater cada vez mais rápido e mais forte.

Eu puxei Zarah pela cintura fina ainda mais para perto, sentindo seu corpo paralisar no início, mas, depois de alguns segundos, acomodar-se no calor do meu, se entregando. Minha cabeça estava na lua, mas foi ao paraíso quando seus dedos se entrelaçarem na minha nuca enquanto o mundo ao nosso redor desaparecia.

Cada toque, cada suspiro dela era como uma faísca que incendiava algo dentro de mim, e eu não podia — nem mesmo queria — fazer algo para pará-la naquele momento. O beijo de Zarah se encaixava perfeitamente no meu, assim como o seu corpo. Ela era tudo e mais um pouco. Era caos e calma ao mesmo tempo.

Quando nos afastamos, apenas o suficiente para recuperar o fôlego, nossos olhos se encontraram. Ela parecia tão surpresa quanto eu, mas havia um brilho nos olhos dela que me fez ter certeza de eu queria repetir a dose.

Ficamos nos encarando em silêncio, com apenas nossas respirações relativamente ofegantes e a música que vinha de dentro distante sendo os únicos sons que eu era capaz de escutar naquele momento. O cheiro suave do perfume dela misturava-se ao meu, e eu me perguntava se aquilo era real ou apenas um sonho que minha mente havia criado.

— Eu... — Ela começou, mas sua voz soava trêmula, como se estivesse tentando encontrar as palavras certas.

— Eu também. — Interrompi, porque, honestamente, não havia nada mais a ser dito. Não conseguiria dizer nada, de qualquer forma, mesmo se quisesse e tentasse. Meu cérebro já estava ocupado demais raciocinando tudo aquilo.

Não foi um beijo comum. Eu não sentia isso quando beijava as garotas das festas. Não sentia isso quando beijava as líderes de torcida que torciam por mim nos meus jogos. Não sentia o mesmo quando beijava as garotas que me assistem a cada treino das arquibancadas.

E nunca, nunca mesmo, senti isso, nem mesmo da primeira vez, quando beijava Karine.

Zarah sorriu de leve, um sorriso tímido, mas que iluminava seu rosto de uma forma que fazia meu coração querer explodir. Era uma das melhores visões que tive durante o dia. Ela mordeu o lábio inferior e desviou o olhar, seus dedos ainda tocando a gola da minha camisa como se não quisesse soltar.

— Melhor voltarmos antes que sintam nossa falta. — A ruivinha sugeriu, mas não se moveu.

Eu assenti, embora tudo dentro de mim gritasse para que ficássemos ali, sozinhos, pelo resto da noite. Eu não queria voltar, eu queria beijá-la de novo. Se eu soubesse que ela beijava tão bem assim da primeira vez que bati meu olho em você, eu já teria feito isso antes.

— Se eu soubesse que você beijava tão bem assim da primeira vez que bati meu olho em você, eu já teria feito isso antes. — Repeti meu pensamento anterior, e pude vê-la rir.

E lá estava aquele sorriso maravilhoso e sem defeitos, pelo qual eu mataria e morreria apenas para ver uma única vez...

Agora era oficial, eu amava Zarah. Eu infelizmente a amo, quero fazê-la minha. Quero pedi-la em namoro o mais rápido possível, e a odeio isso. Por me fazer desejá-la, por se tornar o meu vício.

<3

Depois de voltar e ficar um pouco mais na festa, a porta é aberta e por ela entram três pessoas.

Isso deixou todos ali surpresos, mas o que mais me surpreendeu era que as duas primeiras eram os dois motoristas misteriosos que foram buscar Zarah em minha casa nos dois dias em que fizemos trabalho em dupla, e a terceira era uma mulher loira, de olhos castanhos e uns peitos enormes.

— Zarah! Você deu uma festa e nem nos esperou?! — O cara moreno parecido com Ray exclamou indignado, largando as bolsas que carregava no chão.

— Foi surpresa, eu também não sabia. — Ela respondeu acanhada, caminhando até eles. O moreno foi o primeiro a abraçá-la e girá-la no ar, logo em seguida o platinado, que pareceu menos agitado e por último, a mulher dos peitões, que lhe lançou um sorriso carinhoso e acolhedor, abraçando-a eternamente.

— Atticus, esses são...?

— São. — Respondi a suposição de Clara.

Porra, que gato! — E essa era a Stella. Eu e Clara a encaramos junto de Noah, o qual logo fechou a cara e entornou o copo de whisky de uma vez. — O que? — Fingiu inocência quando Sadie balançou a cabeça em negativa.

— Pessoal, quero que conheçam eles. — A ruivinha se aproximou de braços dados com os dois homens, com um sorriso gigante nos lábios. — Esses são Dan, — apontou para o platinado, que deu um sorriso de canto e fez um aceno com a cabeça — e Thomas — e então apontou para o moreno acobreado, que abriu um sorriso típico do Ray —, são meus irmãos de criação.

Aquela revelação pegou todos nós de surpresa. Será que ela contaria sobre os pais? Não, acho que não.

— E essa mulher incrível aqui é minha madrinha, Carmeline Leigh.

Porra!

Agora sim eu estava chocado. Zarah era afilhada da maior médica de NY?! Puta que pariu!

Como eu não reconheci quem era?

Depois das apresentações feitas, a festa seguiu tranquilamente. Zarah chorou na hora de cortar o bolo, e essa cena estava gravada em vídeo no celular da Stella, que depois eu pegaria para ver e rir.

Saí da sala e fui para o jardim novamente, estava precisando pegar um ar fresco e aliviar a mente dos copos de whisky que bebi. Mas parecia que não queriam me deixar em paz, pois senti quando alguém parou ao meu lado e quando olhei para saber quem era. Não me surpreendi ao ver a Green Hill.

— Precisando respirar ar puro? Ou quer fugir das bebidas de Ray? — Brincou.

— Precisava de um pouco de silêncio.

— Hm.

E mergulhamos no silêncio. Zarah sentou ao meu lado como havia feito antes de nos beijarmos mais cedo, e ficou observando o céu.

— Obrigada. — Sua voz sussurrada foi muito bem ouvida por mim. — Foi minha primeira festa depois da morte dos meus pais.

Fiquei tenso por um momento e sei que ela percebeu, já que sorriu fraco, como se me dissesse 'tudo bem'.

— Como... — Deixei a questão no ar, mas sei que ela entendeu.

— Também não sei, na verdade. — Seu rosto estava sereno, mas seus olhos pareciam estar longe. — Tento descobrir isso à anos. Eles foram dados como mortos, mas seus corpos nunca foram encontrados.

— Você não procurou a polícia? Ou algo do tipo?

— Eu tinha só onze anos na época. Minha madrinha até ligou para eles, mas não resolveu. Os policiais não encontraram nada, nenhuma prova, nenhuma pista. Sequer tinham certeza se foi realmente assassinato ou suicídio.

— Que estranho. — comentei.

— Foi tão... repentino.

— Eu sinto muito...

Sem perceber, eu já estava escondendo seu rosto em meu peito, para que ela pudesse deixar as lágrimas caírem sem ser vista.

— Eu sinto muito, Zarah. — Sussurrei novamente, pesaroso. Tocar nesse assunto deveria ser extremamente doloroso.

Eu não fazia ideia da dor que abatia seu coração, mas era doloroso só de imaginar.

— Eu sinto tanta falta deles, Atticus... tanta. — Sua voz estava embargada, suas mãos apertavam minha blusa com força e logo os soluços começaram a ficar audíveis.

Esse é, provavelmente, o som mais angustiante que já ouvi.

Com medo de alguém aparecer e vê-la daquele jeito, a peguei no colo, sentindo a mesma entrelaçar as pernas na minha cintura sem nem mesmo protestar.

Andei com ela ainda escondida em mim até o gazebo do outro lado da piscina. Deixei aqueles detalhes de lado e me sentei com ela, mantendo-a no mesmo lugar onde estava antes, e deixei que ela deixasse tudo ser liberado.

Minha mãe sempre dizia que quando quiséssemos chorar, que nos permitíssemos chorar, pois segurar aquele sentimento só nos faria ficar pior e naquele momento eu entendi o que ela quis dizer.

Ficamos ali por um tempo que eu não consegui dizer ao certo quanto, mas não era pouco. Zarah se acalmou depois de ter chorado bastante, acho que por ter guardado isso para si por muito tempo, comemorar seu aniversário sem os pais foi demais para ela suportar.

Eu só havia percebido que ela havia caído no sono quando sua respiração se tornou serena e ela nem ao menos se mexia. Tirei meu celular do bolso com cuidado quando ele começou a vibrar. Era Noah, ele estava me ligando.

— Onde você está?

— Ajudando uma pessoa. O que foi? — Estava sussurrando para que ela não acordasse.

— Por que está sussurrando? 

— O que você quer, Noah? — Eu odiava quando ele perguntava demais.

Calma, nervosinho. — E riu do outro lado, me fazendo revirar os olhos. — Só avisar que vou dar uma carona para Stella. Você está de carro, certo?

— Sim. Quando terminar, eu vou embora. Mas, aí, tem certeza de que está sóbrio para dirigir?

— Estou, fica tranquilo. Não bebi muito não. Mas, e você, é a Zarah que está com você?

— É sim. Por que?

Escutei o meu amigo rir do outro lado da linha.

— Vê se usa camisinha! — E desligou.

Idiota.

Suspirei jogando minha cabeça para trás. Todos já deviam estar indo embora, e Zarah e eu não estávamos presentes, isso poderia gerar algum mal-entendido entre os garotos, principalmente Ray — que já desconfiava — e Noah, tenho certeza disso.

Olhei para o rosto sereno da Green Hill enquanto dormia e fiquei com dó de acordá-la, ela parecia tão cansada. Eu poderia carregá-la até seu quarto, mas se fosse visto, geraria assunto até o fim do ano. Eu precisava de ajuda.

Abri minha lista de contatos e fui descendo até achar o nome de Clara, e logo apertei para ligar.

— Onde você está?!

Ela parecia exasperada logo depois de atender na terceira chamada.

— Preciso da sua ajuda. Vai para o jardim da Green Hill e dá a volta na piscina até um gazebo, diz que vai respirar ar puro ou ficar sozinha, sei lá.

Desliguei a ligação logo em seguida.

Clara conseguiria me ajudar, teria que contar para ela o que aconteceu, mas eu confiava nela, tinha certeza que ela não abriria a boca.

De longe pude vê-la se aproximar, andava em passos rápidos. Quando se aproximou, olhou de mim para Zarah e depois voltou a me encarar.

— Você tem uma boa explicação, não é? — Perguntou arqueando uma sobrancelha.

— Tenho, mas preciso da sua ajuda para levá-la para o quarto. Não quero passar pelo pessoal carregando-a para cima...

— Atticus, ela estava chorando? — Clara me interrompeu ao se aproximar da ruivinha e olhá-la atentamente.

— Sim. — falei e ela me fuzilou. — Eu vou te explicar, se ela me permitir depois, mas, por agora, será que pode me ajudar?

— Certo, eu vou expulsar o pessoal. — Deu de ombros.

— Obrigado, Clara.

A loira assentiu e saiu, voltando para dentro do mesmo jeito que veio. 

Olhei para Zarah, que ainda dormia profundamente. Eu estava amando o fato de que ela havia confiado em mim para me contar algo que ela não conta para ninguém e, ainda por cima, dormir em mim logo em seguida.

Sentei-me para ajeitá-la em meu colo, passando seus braços por meu pescoço devagar, e quando ela se mexeu, eu fiquei estático, mas ela apenas ajeitou o rosto na curvatura de meu pescoço, me fazendo respirar aliviado.

De longe pude ver Clara fazendo um sinal com a mão. Fiquei de pé com Zarah nos braços e andei de volta para a casa. Quando passei pela porta, vi que a sala estava vazia, quer dizer, quase, só havia os empregados da casa limpando as sujeiras da festa e por um momento fiquei com pena das mulheres terem que limpar nossa bagunça.

Subi a escada com a maior calma que pude, e quando entrei no quarto dela, Stella estava arrumando a cama dela para recebê-la.

— Você está parecendo um príncipe, Atticus. — Revirei os olhos e ela riu baixo. — Precisamos ser rápidos, o Noah já está me esperando lá fora, ele vai me dar uma carona. Pode deitá-la.

Coloquei a ruivinha em sua cama e me afastei, deixando Clara assumir enquanto Stella passava por mim com pressa para descer e ir até Noah. Clara tirou as botas de Zarah e as colocou ao pé da cama, depois tirou o colar que eu havia dado a ela, a pulseira, os brincos e os colocou em cima do criado mudo. A cobriu com o cobertor e depositou um beijo na testa da ruivinha, que apenas se remexeu.

— Obrigada por isso, queridos. — Virei na direção da porta ao ouvir uma voz baixa. Lá estava a madrinha de Zarah, Carmeline, encostada no batente da porta com um singelo sorriso nos lábios.

— Não precisa agradecer, senhora Leigh. — Clara se aproximou com um sorriso. — Zarah é uma grande amiga para nós. — Então se virou para olhar a ruivinha que dormia tranquilamente. — Precisa de ajuda para arrumar lá embaixo? Podemos ajudar. — Clara ofereceu. — Eu ainda estou com energia.

— Eu não sei como, por que já deve estar amanhecendo e eu estou caindo de sono.

— Não se preocupem, queridos, Ruth e as demais podem cuidar de tudo. Vão para casa descansar, amanhã ainda tem aula. — Havia me esquecido do nome da governanta.

Desejamos boa noite e saímos do quarto da Green Hill, saindo da casa logo depois. Eu estava realmente cansado, necessitava de um banho e capotar na cama. E foi exatamente o que fiz.

[...]

<3

🙊.

🙈.

🙉.

✒Capítulo escrito em: 16/02/2022
✒Capítulo publicado em: 12/07/2023
✒Capítulo corrigido gramaticalmente em: 12/05/2024
✒Capítulo reescrito em: 24/01/2025

[...]

Beijos da sua (possível) autora favorita!<3

~Jade

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