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O MUNDO AO REDOR DE SAMANTHA PARECIA ERRADO.

O céu era de um vermelho profundo, tingido por nuvens escuras que se retorciam como se estivessem vivas. O ar era pesado, quase sufocante, e um silêncio opressor pairava sobre as ruas vazias e desoladas. Nenhum vento, nenhum som, nada além de um vazio absoluto.

Então, um grito rasgou a calmaria.

Era uma voz masculina, carregada de dor e desespero.

O coração de Samantha disparou. Seu corpo se moveu antes mesmo que ela pudesse pensar, correndo na direção do som. Seus pés descalços batiam contra o chão frio e rachado, e a cada esquina que dobrava, a sensação de perigo aumentava.

Quando finalmente parou, sentiu o ar escapar de seus pulmões.

Um garoto estava preso à parede. Não por correntes ou cordas, mas pela própria estrutura do lugar, que o envolvia como se estivesse tentando devorá-lo. Suas mãos e pés estavam subjugados por uma substância negra e pegajosa que pulsava lentamente, como se estivesse viva.

Ele estava ferido.

Sua camisa estava rasgada em vários pontos, expondo a pele marcada por cortes profundos e hematomas escuros. O sangue escorria, misturando-se à sombra grotesca que o prendia. Seu peito subia e descia com dificuldade, e seu rosto estava contraído em uma expressão de pura dor.

Sam sentiu um frio na espinha.

Ela deu um passo hesitante à frente, a mão tremendo, mas antes que pudesse se aproximar, a voz do garoto a cortou como uma lâmina.

— Fique longe!

A urgência em seu tom fez seu corpo congelar.

— O quê? Por quê? — Sua voz saiu trêmula, os olhos arregalados. — Eu posso te ajudar!

Ele apenas balançou a cabeça, os olhos enevoados pela dor.

— Não... Se afaste... Agora.

Sam sentiu um arrepio percorrer sua pele, mas não teve tempo para reagir.

O som foi baixo, mas ecoou em seus ossos. Um estalo. Como algo se partindo.

Antes que pudesse processar, uma sombra grotesca emergiu da escuridão. Rápida. Selvagem. Letal.

A criatura se lançou sobre o garoto, e, num instante cruel, uma lança negra atravessou seu peito.

O tempo pareceu desacelerar.

Os olhos dele se arregalaram. Um gemido fraco escapou de sua boca, seguido por um jorro de sangue. Seu corpo tremeu violentamente antes de ceder, as pálpebras se fechando enquanto seu último suspiro escapava de seus lábios.

Hanna abriu a boca, mas nenhum som saiu.

Suas pernas vacilaram. Ela tropeçou para trás, caindo no chão com um baque surdo.

O cheiro de ferro e morte impregnou o ar.

Seu peito subia e descia rapidamente, a respiração entrecortada pelo pânico.

E então, uma voz emergiu da escuridão.

Uma voz não-humana. Profunda. Reverberante.

— Fugir de suas origens não irá salvá-la.

Samantha sentiu um arrepio gelado percorrer sua espinha.

— Você precisa voltar para onde veio... Antes que seja tarde demais.

As sombras ao redor começaram a se mover. Elas rastejavam pelo chão, se estendendo em sua direção como tentáculos prontos para agarrá-la.

O ar ficou mais pesado. O mundo ao seu redor tremulou como um reflexo distorcido na água.

E então... tudo escureceu.

Sam acordou com um sobressalto.

Seu corpo inteiro estava coberto de suor frio, a respiração acelerada e entrecortada. O quarto ao seu redor era escuro, iluminado apenas pela luz fraca da lua que entrava pela janela. Seu coração martelava contra o peito, como se quisesse escapar.

Ela levou a mão trêmula até o rosto, tentando acalmar a si mesma, mas o terror ainda estava impregnado em sua pele. O pesadelo fora tão real.

Ela podia sentir o cheiro do sangue. O peso daquelas palavras.

Com um suspiro instável, Sam jogou as cobertas para o lado e sentou-se na beira da cama. Enterrou o rosto nas mãos, tentando organizar os pensamentos.

Isso não era só um sonho.

Ela sabia.

Algo a estava chamando de volta.

E ela não podia mais ignorar.

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