𝟬𝟬. 𝖽𝗂𝖺 𝖽𝗈 𝗇𝗈𝗆𝖾

ᝰ 𝓢ELAENA 𝓣ARGARYEN
❛ 𝗣𝗢𝗜𝗡𝗧 𝗢𝗙 𝗩𝗜𝗘𝗪 ◝


( 𝗜 ) —— 𝐄𝐏𝐈́𝐋𝐎𝐆𝐎.
olhe ao seu redor

O décimo sexto dia de seu nome teria chegado, o dia em que a princesa Targaryen atingiria sua maioridade, o momento em que passaria a desempenhar seus deveres como dama da corte. Selaena sempre soube que esse dia chegaria de forma abrupta, assim como sabia que o destino de gerar herdeiros havia sido selado desde que deixou o ventre acolhedor de sua amada mãe.

Mas isso nunca a abalou; pelo contrário, a jovem prateada sempre fora educada para ver o próprio corpo como um lar temporário para um pequeno e inocente ser. A perspectiva de criar uma família a animava profundamente, mas algo enchia seu coração de apreensão.

A curiosidade sobre seu futuro marido despertava em Selaena breves questionamentos: se perguntava se o homem seria bonito, como seria sua personalidade e, o mais importante, se ele a admiraria tanto quanto ela esperava admirá-lo.

——— Querida? —— A voz que tanto lhe era familiar interrompeu os devaneios da princesa, trazendo-a de volta à realidade.

Os olhos arredondados e curiosos direcionaram-se através do espelho para a fonte da voz que agora penteava seus cabelos com delicadeza.

——— Disse algo, mamãe?

——— Sim, notei que estava especialmente distraída esta manhã durante o desjejum —— continuou a matriarca com seu sorriso habitual. ——— Gostaria de compartilhar?

Selaena, um pouco envergonhada e receosa, hesitou em revelar suas inquietações. Olhando ao redor do quarto, tomou um profundo fôlego antes de começar a falar.

——— Estou com medo —— murmurou, olhando para o colo e brincando com seus anéis dourados. ——— E se meu marido não gostar de mim? Ou eu não conseguir satisfazê-lo?

A mais velha, espantada, olhou para a filha.

——— Não diga isso, meu amor!

——— Mas e se acontecer?

——— Não seja tola. Olhe ao seu redor; as pessoas adoram a sua companhia. Você tem a capacidade de iluminar até os dias mais sombrios com seu lindo sorriso. —— Enquanto finalizava o penteado da filha, Aemma percebeu que suas palavras não haviam sido tão reconfortantes quanto esperava. ——— E não se preocupe, não será necessário casar-se imediatamente. Além disso, está sempre será sua casa.

Selaena se virou em seu assento em direção à mãe e a envolveu em um abraço apertado, agradecida. Sentindo o conforto dos braços maternos, ela respirou fundo, aliviada e verdadeiramente em casa.

——— Agora, permaneça sentada. Eu e Rhaenyra temos um presente para você —— exclamou com entusiasmo ——— Irei buscá-la.

Quando a Arryn deixou o aposento, Selaena aproveitou o momento para admirar o belo penteado que sua mãe havia feito. Uma trança elaborada adornada com pérolas, uma obra de arte que Aemma costumava criar para ocasiões especiais. Desta vez, no entanto, uma parte do penteado estava solto, permitindo que as longas ondas de cabelo da jovem caíssem suavemente sobre suas costas.

Seu pai havia preparado um banquete especial para comemorar seu dia. Convidando lordes e ladies de renome, não era surpresa, vindo de um rei que, junto com a rainha, tinha um gosto por extravagâncias e celebrações. Eles sempre afirmavam que a verdadeira grandeza estava em ser um excelente anfitrião, e, de certa forma, Selaena concordava.

Uma ou duas vezes por mês, o Red Keep se transformava em um cenário de festas vibrantes, com danças, bolos e bebidas. Essa atmosfera festiva sempre fora bem-vinda pela família.

Com o rangido da porta, a metade do corpo de Rhaenyra apareceu na abertura.

——— Feche os olhos, é uma surpresa —— disse ela, com um sorriso animado. A irmã mais velha, obedecendo sem hesitar, fechou os olhos imediatamente.

Com os olhos fechados, a audição da Targaryen tornou-se mais aguçada, captando os passos apressados e os sussurros atrapalhados entre mãe e filha, discutindo o que fazer a seguir. Sentindo os pés nervosos batendo levemente contra o chão, ela ouviu um silêncio estranho e, em seguida, sentiu um peso repousar sobre seu colo.

——— Você pode abrir os olhos agora —— disse a matriarca com gentileza. Quando Selaena abriu os olhos, viu uma grande caixa adornada com entalhes dourados sobre seu colo. Curiosa, ela colocou a caixa no chão buscando por apoio para abri-la e descobrir o que havia dentro, mas Rhaenyra segurou sua mão brevemente.

——— Espero que goste, foi feito com muito carinho.

Ao abrir a caixa e afastar o tecido branco que a envolvia, Selaena revelou um vestido encantador. As mangas eram levemente bufantes, que pareciam cair suavemente pelos braços, conferindo-lhe uma graça etérea. O corpete era adornado com intrincados bordados dourados, que formavam delicados padrões de flores e vinhas, subindo em espirais elegantes até os ombros. Na cintura, uma faixa dourada cintilava discretamente, o que acentuaria a silhueta esguia da jovem princesa.

O tecido violeta do vestido era de uma seda finíssima, que brilhava sob a luz com um brilho perolado, dando a impressão de que o vestido havia sido tecido com fios de luar. A saia fluía para baixo em ondas suaves, com camadas quase imperceptíveis de tule que davam volume e movimento, sem perder a leveza. Nas extremidades, pequenas pérolas estavam meticulosamente costuradas, refletindo a luz em pontos delicados e sutilmente destacando o dourado dos bordados.

Mesmo antes de vesti-lo, Selaena sabia que aquele era o vestido mais lindo que já tinha visto.

——— Pelos Deuses! —— exclamou, segurando o vestido sobre o colo e saltitando pelo quarto com a leveza de uma dança. A platinada parou por um momento, olhou para a mãe que possuía um sorriso radiante e para a irmã com um olhar admirado.

——— Eu escolhi as cores, e mamãe ajudou com o bordado —— Saber que ambas dedicaram seu tempo e cuidado na criação daquele presente tornou-o ainda mais especial para ela. Sentindo os olhos lacrimejarem de emoção, Selaena abraçou as duas com força, como se dependesse daquele gesto.

——— Vista-se, certo? Chamarei as damas para ajudá-la, e estaremos esperando por você lá embaixo

——— Mãe! Rhaenyra! —— Ambas se voltaram curiosas com o repentino chamado. ——— Obrigada por tudo.

O grande banquete já estava em andamento, mas o ambiente pareceu parar por um momento quando as portas do salão se abriram com um estrondo. A entrada da família real fora um evento à parte, um espetáculo coreografado que exalava prestígio.

O rei Viserys foi o primeiro a entrar, seguido de perto por sua esposa, ambos envoltos em trajes luxuosos que refletiam a luz das tochas, projetando uma aura quase divina. A princesa entrou em seguida, com Rhaenyra ao seu lado, as duas irmãs caminhando em perfeita harmonia, seus vestidos parecendo flutuar à medida que avançavam pelo salão. Selaena não pôde deixar de notar os olhares inquietantes e desconfortáveis que recaíam sobre ela — olhares que variavam entre admiração, desejo e, em alguns casos, inveja.

A melodia suave dos músicos preenchia o ambiente, criando um clima festivo, enquanto os convidados conversavam e bebiam em seus lugares. A família real avançou lentamente, passando por uma fileira de lordes e ladies que se curvavam respeitosamente, até alcançar a mesa elevada onde se sentariam. Subindo quatro ou cinco degraus, em uma mesa no alto do salão, Selaena agora sentada, com a cabeça baixa escondia uma risada por trás da mão.

À sua direita, Rhaenyra, que brincava e fofocava com a irmã sobre os últimos rumores acalorados a respeito de algumas ladies. À sua esquerda, a matriarca observava as duas, tentando repreendê-las por suas atitudes insolentes. E, sucessivamente, ao lado da consorte, o patriarca da família, bebericando e beliscando pedaços de carne, enquanto levava o garfo de prata à boca. A atmosfera, agora mais descontraída, contrastava com a solenidade da entrada da família, mas os olhares ainda permaneciam fixos, especialmente na Targaryen, que, com seu vestido encantador e postura graciosa, parecia o próprio retrato da realeza.

Com um baque firme, as grandes portas do salão se abriram mais uma vez, revelando uma nova figura que capturou instantaneamente a atenção de todos os presentes. Um homem que passaria mais de seu tempo em prostíbulos da capital do que ao lado de sua própria família. O príncipe rebelde, caminhava pelo corredor central, ladeado por olhares de reprovação e curiosidade, como se o mesmo soubesse que carregava em suas veias o fogo de um verdadeiro herdeiro de sangue Targaryen.

Com passos firmes e deliberados, avançava, sua presença exalando confiança e desdém pelas convenções da corte. Quando seus olhos se conectaram aos de sua sobrinha, ele esboçou um breve sorriso de desafio, forçando Selaena a se reposicionar em seu assento, um misto de desconforto e fascinação invadindo-a. Diferente da jovem, o tio sempre apreciou ser o centro das atenções, suas entradas eram deliberadamente extravagantes, quase ensaiadas, para garantir que todos no salão se lembrassem de quem ele era.

Ao alcançar a mesa principal, ele se deteve diante da família real, oferecendo uma reverência breve e provocadora. Viserys, enfurecido pela constante insubordinação do irmão, respondeu apenas com um estalo de dedos, sinalizando a um criado que rapidamente colocou uma cadeira ao lado dos membros da família, junto com novos pratos para o rebelde recém-chegado. A tensão no ar era palpável, e mesmo em meio ao som da música e das conversas, era impossível ignorar a forte presença disruptiva de Daemon Targaryen.

Selaena sentia constantemente do outro lado da mesa de madeira o olhar provocativo do tio sobre ela, acompanhado de um sorriso arrogante, que fazia com que a mesma mexesse em seus cabelos, desconfortável com a atenção. Tentando afastar o desconforto inquietante, ela desviou os olhos para a multidão que dançava em um ritmo frenético de giros e pequenos pulos. Sua irmã, rapidamente pegou sua mão delicada e, sem hesitar, puxou a mais velha para a dança.

A princípio, a princesa parecia hesitante, mas em poucos minutos se soltou na agitação, girando com graça e despreocupação. Seu vestido rodopiava ao seu redor, refletindo a luz quente das tochas, ela exibia um sorriso empolgado e descontraído enquanto ria com Rhaenyra dos passos de dança descoordenados que, ocasionalmente, aconteciam entre elas.

Foi então que, em uma troca de pares, ela se viu diante daquele homem. O principe, com sua aura carregada de mistério e perigo, exalava uma confiança quase predatória que envolvia a jovem em uma teia de fascinação irresistível. Como uma tempestade à distância, linda e aterrorizante ao mesmo tempo, algo que a mesma gostaria de observar atentamente, mas sabia que poderia destruí-la se chegasse muito perto.

Enquanto os músicos intensificavam a melodia, Selaena sentia o próprio coração bater em compasso com os tambores. O ar parecia pesar ao seu redor quando Daemon, com o semblante que mesclava desafio e algo mais que ela não conseguia decifrar, se aproximou. Cada passo dele era um alerta para seus sentidos, e a antecipação que se formava em seu peito era quase sufocante.

Quando a mão do príncipe deslizou para sua cintura, o contato inesperado a fez prender a respiração. A mão era firme, mas havia uma intenção velada na maneira como ele a tocava, como se reivindicasse algo que já era dele por direito. Sua outra mão envolveu delicadamente os dedos da princesa, e o contraste entre a suavidade daquele gesto e a intensidade de sua presença a deixou completamente desnorteada.

——— Não fique nervosa, sobrinha —— ele murmurou próximo à sua orelha, o hálito quente provocando arrepios em sua pele ——— Afinal, não faz tanto tempo que não nos víamos, lembra-se?

O calor do toque de Daemon ainda a queimava através do tecido do vestido, e a proximidade crescente entre eles fazia com que o perfume amadeirado do príncipe se misturasse ao ar, deixando-a ainda mais tonta.

Quando chegou o momento de trocar novamente os pares, e outro homem solicitou a mão de Selaena para dançar, o mais alto recusou. Continuando a dançar em um ritmo deliberadamente lento, quase agonizante, como se estivesse prolongando uma caçada silenciosa.

Com um movimento calculado, Daemon levou uma de suas mãos até a bochecha corada da platinada, o toque firme, mas cheio de complexidade, enquanto seu dedão deslizava pela pele macia. A outra mão permanecia estática em sua cintura, e seus olhos a analisavam, absorvendo cada detalhe da jovem à sua frente.

——— Apesar de não ter sido há tanto tempo, você me parece um pouco mais... madura —— a voz dele saiu baixa, rouca, audível apenas para ela.

Selaena, com seus olhos brilhantes e confusos, fitava os traços valirianos de Daemon, incapaz de formular uma resposta coerente. Apenas assentiu, perdida demais em seus próprios pensamentos para compreender o verdadeiro significado das palavras dele.

O homem, igualmente hipnotizado, sentiu uma necessidade incontrolável de tocá-la, de reivindicá-la como sua. Ele se inclinou e depositou um beijo de lábios abertos e molhados em seu pescoço, o gesto carregado de possessividade. Selaena estremeceu, sentindo um forte arrepio percorrer seu corpo, do pescoço aos ombros e descendo pelas costas, enquanto ofegava suavemente, um som doce e melódico escapava de seus lábios, ressoando ao pé do ouvido do príncipe.

Por um momento, parecia que ambos haviam esquecido do mundo ao redor, imersos em seu próprio mundo. Mas, à distância, no alto do salão, o rei observava a cena com uma fúria crescente, como se fumaça estivesse saindo de seus ouvidos. A raiva pelo irmão fermentava em seu peito, não apenas pela ousadia tão conhecida, mas também pela incerteza do que aquilo significava para sua pequena e inocente menina. Mesmo desta forma, Viserys sabia, com um ressentimento doloroso, que Daemon estava determinado a, a todo e qualquer custo, reivindicá-la como dele, e apenas dele.

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top