#OO3 ── Nossa 𝗵𝗲𝗿𝗱𝗲𝗶𝗿𝗮 𝗹𝗲𝗴𝗶́𝘁𝗶𝗺𝗮 é ela


Havia aquele estranho silêncio por um breve período de tempo na Fortaleza Vermelha, todos pareciam aninhados em seus quartos e os portões estavam fechados, a população lá fora sabia a verdade, sabia que havia algum problema e em todo esse tempo ninguém viu Aemon Targaryen, ninguém soube do herdeiro do trono, pelo menos até o retorno do príncipe Baelon, junto dele um homem com um semblante caído e rosto sério, era Boremund Baratheon, Lord de Ponta Tempestade.

── Então os boatos são ... ── Foi a rainha Alyssane que começou a conversa, aninhada ao ladod e Jaehaerys sentado em sua cadeira do pequeno conselho.

── Sim, majestade. ── Foi Boremund que falou, olhando de canto para o príncipe Baelon.

── Aemon está morto, trouxemos seu corpo para ser velado como um Targaryen. ── O loiro respondeu aos pais. ── Precisamos pensar como comunicar ao povo.

── Como isso foi acontecer? ── O velho rei quis saber. ── Quem o matou?

── Foi envenenamento e não sabemos. ── Boremund olhava as próprias mãos. ── Quem o fez, foi planejado, majestade, sabia que em uma batalha contra o príncipe Aemon e Caraxes nunca venceria.

── Não importa! O herdeiro do trono está morto. ── O rei vociferou com o lorde. ── Matar quem fez isso não trará meu filho de volta.

── Não descansarei até que seja punido, majestade. ── Boremund replicou logo em seguida, dando alguns passos atrás.

── Príncipe Baelon se juntará a você nisso. ── Alyssane dirigiu o olhar a Boremund e depois ao outro filho calado. ── Arrume essa bagunça, agora é responsabilidade sua, como filho mais velho.

── Certo ... ── O loiro mais jovem se limitou a dizer.

Não foi fácil para ninguém fazer aquele comunicado,  dizer a todos que o príncipe Aemon estava morto, desde que a notícia foi revelada não se via Jocelyn de outra forma se não chorando, Rhaenys tinha até deixado de lado suas atribuições como mãe para consolar e cuidar da mãe, já que a maior parte do tempo ela não parecia apta o suficiente para fazer qualquer outra coisa, a jovem princesa era o suporte que a mãe precisava naquele momento, enquanto cabia a Corlys em muitas vezes vigiar e cuidar dos gêmeos recém nascidos.

O velório e a cremação do príncipe foram silenciosas, nem o velho rei quis falar alguma coisa, foi Vermithor que acendeu a pira que transformou o corpo de Aemon em cinzas, já que Caraxes seguia desaparecido desde quando seguiu Vhaegar e Baelon pra longe da Fortaleza Vermelha, em certo ponto o príncipe perdeu o dragão de vista e não o encontrou nem mesmo em Pedra do dragão.

Nas semanas que se passaram as coisas não pareciam mais amistosas, Jocelyn parecia minimamente mais calma, mas ainda sim irritadiça e chorosa, dedidcava-se a cuidar de Laenor e Laena para que Rhaenys pudesse descansar e Corlys pudesse resolver seus assuntos como Senhor de Driftmark, isso acalmava o coração da viúva que depois da morte de seu marido só vestia preto em todas as ocasiões, sem excessão.

Murmúrios, no entanto, logo se levantavam, para alguns parecia óbvio que Rhaenys agora fosse a primeira na linha sucessória e que fosse subir ao trono quando Jaehaerys descansasse, ele tinha um carinho pela neta e ela já entrava na idade adulta, sempre fora instruída com as melhores professoras, conhecia o reino e montava um belo dragão muito bem, ela era o puro sangue da antiga Valíria, também parecia certo dizer que era considerado que Laenor suscederia a mãe e a Laena, por enquanto, pertencia o trono de madeira de Driftmark do seu pai, mas para alguns, bom ... Alguns levantavam outra questão, talvez Rhaenys não deveria ser a primeira na linha suscessória, isso irritava a boa rainha Alyssane.

── Não quero saber de boatos sobre a suscessão de meu marido. ── Ela disse diretamente a Otto Hightower, que servia como mão do rei. ── Jaehaerys não precisa ou vai decidir isso agora, Lord Mão. Ele está passando pelo luto de perder um filho.

── Mas alteza ... O rei, ele ... ── Otto procurava as palavras pra dizer isso a ela.

── Se você estiver pensando em chamar o meu marido de velho, quero lembrar-lhe que meu dragão sempre tem fome, Otto. ── Ela o ameaçou, se virando para olhá-lo com raiva.

── Não é isso, alteza. Mas causaria uma crise pela suscessão do rei, é algo que deve ser evitado. ── Otto prendia a respiração, tinha alçado a aquele posto a pouco tempo, lidar com Targaryens era ... Perigoso. ── O rei Jaehaerys precisa vir a público e declarar um novo herdeiro.

── A príncesa Rhaenys é a herdeira, ela é a única filha do Aemon, não sei porque a dúvida. ── Parecia claro como água aos olhos da rainha.

── A princesa? Mas uma mulher nunca se sentou no trono de ferro como sua governante. ── Otto ousou dizer, se afastando alguns passos. ── As pessoas estão falando sobre ser mais prudente que o rei declare o príncipe Baelon como seu herdeiro, ele é mais velho, experiente e ...

── E homem? ── Alyssane riu caminhando rumo a Otto enquanto ele se afastava. ── Saia da minha frente, eu mesma falarei com Jaehaerys.

── Como desejar, alteza. ── O Hightower deu espaço para que a rainha passasse.

Em outro ponto do castelo, dias depois do rompante de Alyssane, havia uma mulher vestida de preto, seus olhos estavam inchados e seu rosto vermelho, deveria seria a milésima vez ou talvez mais que Jocelyn estava chorando, não estava nenhum pouco arrumada ou perto de ser a mulher imponente que costumava ser, os cabelos desalinhados e o perfeito reflexo da destruição pelo amor perdido, Jocelyn havia sido criada junto de Aemon desde que tinham 7 anos, agora o amor de uma vida tinha sido tirado dela.

Rhaenys eram quem respondia pela mãe, apesar de jovem e recém dado a luz aos gêmeos, ela se dividia em cuidar para que Jocelyn estivesse minimamente confortável, isso fez com que Corlys tivesse que estender a sua estadia na Fortaleza Vermelha também, ele era extremamente apegado aos filhos e a esposa, não os deixaria por nada e enquanto Rhaenys acolhia a mãe em seus braços, aguentando uma nova sessão de lágrimas ou gritos de dor, era o Senhor das Marés que ninava as crianças em seus braços, normalmente ele dividia essa tarefa com Madlyn e Aemma, a jovem Arryn amava cuidar de Laena e Laenor quando podia, a Baratheon no entanto não tinha tanta certeza.

Naquele dia, no entanto, Rhaenys cansada adormeceu com os gêmeos, Corlys precisou se reunir com o pequeno conselho e Aemma estava em mais em uma de suas aulas, Madlyn estava sozinha, quando terminou o que tinha que fazer, ouvindo os gritos altos e choro de Jocelyn em mais um de seus rompantes, ela não sabia o que seria de si ou da irmã quando o período de luto acabasse, elas voltariam para Ponta Tempestade, morariam lá? Sabia que Rhaenys voltaria para Driftmark, lugar onde morava com seu marido e em breve com os filhos. Tentando não pensar nisso Madlyn espiou ela porta pouco aberta de Jocelyn, tempo suficiente para não ser vista, pelo menos até querer.

── Irmã? ──  Ela chamou a mulher mais velha sobre a cama. ──  Vim te fazer companhia.

──  Eu não quero a companhia de alguém como você. ──  Ela vociferou. ──  Vá embora.

──  Eu sei como a tristeza está te consumindo, mas ...

──  NÃO! Você não sabe. ──  Jocelyn gritou saltando da cama na direção dela, com o dedo esticado em sua face. ──  Não ouse dizer que sabe o que é perder o amor da sua vida, você é só um ser insignificante, uma criança que não conhece o amor ou o seu lugar.

──  Se eu não deveria estar aqui, me mande de volta para Ponta Tempestade, me deixe viver com a minha família. ──  Madlyn gritou de volta, seu lábio inferior tremia. 

──  Eu teria o enorme prazer de fazer você sumir, Madlyn. ──  Jocelyn arrumou o cabelo atrás das orelhas. ──  Mas lá não é sua casa, Boremund te mandou para King's Landing porque não suporta olhar pra sua cara, então você se tornou o meu problema.

──  Porque você me odeia tanto, o que eu te fiz? ──  Os olhos de Madlyn estavam molhados quando ela sussurrou com medo.

──  Ele não precisava de você e da sua mãe dornesa suja. ──  Jocelyn cuspiu para a garota de pouco mais de 11 anos. ──  Mas ele abandonou toda a razão quando colocou os olhos em vocês, eu avisei a ele que seria sua ruína, ele morreu, sua mãe morreu e você vai definhar sozinha, coisinha asquerosa.

── Só porque ele preferiu seguir a vida dele? É isso? ──  Madlyn riu incrédula. ──  Só porque ele não ficou chorando a morte da sua mãe? Que tal ser mais como ele?

Os cinco dedos da destra de Jocelyn ficaram marcados no rosto de Madlyn quando ela deu um tapa forte, a garota foi jogada no chão com a força, era uma criança, contra uma adulta, Madlyn ficou atordoada, nunca tinha apanhado na vida, então levantou correndo, quanto pode e saiu correndo do quarto, Jocelyn ficou a olhando e depois voltou a se aninhar na cama, seguindo com seu luto, raiva e dor, que a seguiria por muito tempo mais. 

Madlyn nunca correu tão rápido quanto corria agora, seja pro medo, seja por dor, seja por qual for o sentimento que a movia naquele momento, ela só corria, pra longe da irmã que a odiava, pra longe da dor que sentia por suas palavras ou do sentimento conflituoso dentro de si, as lágrimas molhavam seu pranto jovem, a dor na face era algo mínimo perto do coração trincado que estava agora, nunca quis ou almejou ser próxima da irmã que a rejeitava, entendia que muito do que Jocelyn falava era guiado pela dor pela perda de Aemon, mas ainda sim era cruel demais com ela, Madlyn nunca pediu nada daquilo.

No jardim ela se escondeu entre os arbustos, sentada com as pernas encolhidas, como fazia quando tentava se esconder de Aemma de uma forma que só ela conseguia, ficou ali por muito tempo, mais do que o normal, mas ninguém tinha ido atrás dela, o que na sua cabeça jovem só provava que o que Jocelyn falara era verdade, Boremund não a queria lá, ninguém deveria se importar com ela na capital. Em um ponto dos jardins, fugindo de suas responsabilidades e do seu irmão, Daemon a encontra de longe, fica a observando chorar, mas com as coisas atribuladas recentemente ele não sabia se deveria intervir, parte de si queria. Antes que pudesse decidir, de fato, ele sentiu as mãos em seu ombro.

── Achei você! ──  O mais velho disse segurando Daemon pelos ombros. ── Para de fugir do seu treino de espadas e vai.

──  Você não foi ao seu. ──  O menor resmungou olhando pra cima e encarando Viserys. ──  Não pode me deixar em paz um momento.

──  Nosso pai pediu para que eu garantisse que você siga seus deveres. ──  Viserys empurrou o irmão e notou depois pra onde ele olhava. ──  Você sempre se atrasa, vá! Eu vou encontrar você lá.

──  Eu duvido. ──  Daemon riu indo na frente.

Viserys ficou olhando para Madlyn por um tempo, pensando em ir falar com ela, não eram exatamente próximos, ela ficava mais com Aemma que com ele ou outra pessoa, mas ainda sim estava com o coração apertado. Ele seguiu seu caminho, atrás do irmão, mas antes - já conhecendo a rotina da maioria das pessoas na Fortaleza Vermelha - interceptou lady Aemma Arryn, relatando a ela sobre o que tinha visto, sua preocupação e pediu que a loira fosse até Madlyn e visse como ela estava, mas que depois contasse a ele, Viserys era cuidadoso e gentil, queria o bem estar de todos. 

Naquela tarde, depois de um sono não tão reparador quanto deveria, Rhaenys levou os gêmeos para ver a avó, Jocelyn parecia mais calma e menos triste na presença dos recém nascidos, ela ninava Laena nos braços em silêncio, enquanto Rhaenys amamentava Laenor, a princesa insistir em não deixar que uma ama fizesse isso, ela mesma queria alimentar seus filhos. O silêncio perdurava por mais tempo do que deveria, a jovem Rhaenys não deixava de pensar no que havia ouvido das criadas, sobre sua mãe e sua jovem tia.

── Fiquei sabendo que você gritou com a Madlyn, o que ela fez? ── Rhaenys quis saber enquanto olhava para Laenor. ── Ela está crescendo e ficando cada vez mais independente.

── Ela veio me importunar, desrespeitar meu luto. ── A face de Jocelyn ficou imutável enquanto pensava. ── Se eu pudesse, me livraria dela.

── Mãe ... ── Rhaenys realmente se preocupava com a mais jovem. ── Ela não tem culpa nenhuma das escolhas do Lord Rogar.

── Você virou defensora dela agora? ── Jocelyn ralhou.

── Ela não representa nenhum perigo a nós, não vai herdar o trono de ferro, não vai ser lady de Ponta Tempestade, com sorte tem um casamento mediano. ── Havia um certo lamento no tom de voz de Rhaenys. ── Mas talvez possamos usá-la.

── Não podemos colocar nosso futuro nela, minha filha.

── Não. ── Rhaenys reinterou. ── Usá-la, ela será a irmã da rainha em algum ponto, quando o rei me declarar sua herdeira, a idade dele não o levará muito longe, Madlyn ainda vai ser jovem e uma jovem solteira muito valiosa, irmã de um lorde de uma grande casa, irmã da rainha.

── Talvez seja hora de trazer os dorneses para mais próximo da coroa. ── Jocelyn sugeriu entregando Laena a mãe e pegando Laenor.

── A mãe dela era irmã mais nova do Príncipe de Dorne, duvido que eles queiram imitar algum costume valiriano e casem-na com alguém influente, seriam parentes próximos. ── Houve uma careta de dor quando Rhaenys colocou Laenor junto ao seio contrário ao que a irmã mamava antes, alimentá-los também era um pouco doloroso. ── Teremos tempo de pensar em algo, talvez casá-la com o Daemon ou Viserys, fortaleceria os laços entre nossas famílias e uma criança deles poderia se casar com Laenor ou Laena.

── Quer mesmo misturar seus genes aos dela? ── Havia mágoa e desgosto na fala de Jocelyn.

── Já está misturado, somos todos um pouco Baratheon, não? ── Rhaenys sugeriu e deu um leve sorriso. ── Seja gentil com ela, por favor.

── ... Jocelyn fez um silêncio incômodo. ── Por você, querida.

Aqui havia ficado na cabeça de Daemon, mesmo com o treino de espadas que fazia doer seus braços jovens, a cena da garota chorando no jardim, ela não era alguém que caía em prantos fácil, então era estranho, não que ele se importasse com Madlyn, não, ele não se importava, mas hora ou outra ele teria que ficar na companhia dela e não queria choro, não queria Viserys reclamando, pois Aemma reclamou, ele sabia.

No fim da tarde ele foi até a cozinha, pedindo a cozinheiro algo em específico, uma coisa que Daemon havia herdado de Alyssa era como se importava sem parecer que de fato importava, não gostava que as pessoas vissem muitas coisas boas nele, eles começariam a esperar sempre aquilo e isso o tornaria frágil, então ele fazia coisas como aquela, como aprendeu com a mãe, deixando doces para que ela se sentisse melhor.

Era sempre assim, a noite, ele deixava lá na porta dela e pedia segredo ao guarda que estava mais próximo, ninguém ousava delatar alguém da família real, já Madlyn passava pela mesma situação quase toda manhã, vendo as bolachinhas com recheio de limão a sua porta, as vezes com bilhetes com pequenos poemas que pareciam ter sido rasgados de algum livro da biblioteca, ela não sabia quem fazia isso, mas ao questionar Aemma e vê-la com os olhos arregalados pelas páginas do livro arrancado, ela sabia que não era a amiga, mas não fazia a menor ideia de quem poderia ser.

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