twenty six
It's you, it's you, it's all for you
Everything I do, I tell you all the time
Heaven is a place on earth with you
Tell me all the things you want to do
~ Lana Del Rey - Video Games
Toquei com gentileza a pequena fechadura gelada e prateada da porta, girando-a enquanto inspirava profundamente a brisa abafada que entrava pela janela aberta no corredor. Meus dedos tremiam levemente, um sentimento de fracasso se aflorava em meu peito e pensamentos inseguros invadiam minha mente. Sentia-me insuficiente e por um momento, pensei em sumir para poder recolocar a cabeça no lugar, porém o cansaço das longas horas de ensaios e apresentações tomava conta de meus músculos, que ao contrário de meu coração, pediam pelo descanso necessário em uma cama aconchegante.
Empurrei lentamente a porta escura, tendo a iluminação amarelada de um abajur batendo em minha face cansada. Uma carismática melodia soava pelo quarto bagunçado, almofadas jogadas pelo chão, uma
pilha de roupas no canto perto da cama, sutiãs pendurados em cabeceiras, cadernos de desenhos empilhados e tintas por cima da escrivaninha faziam parte das características marcantes de minha colega de quarto. Quando suas orbes verdes e grandes se encontraram com os meus olhos cansados, a francesa deu um pulo de seu colchão, dando um tapa na pessoa adormecida ao seu lado.
— Ivy! - se aproximou, seus linhas expressivas estavam apreensivas, curiosas e ansiosas - E então?
Atsumu me encarou de cenho franzido, processando qual era seu nome e de onde vinha. Ele coçou os olhos e logo voltou a prestar atenção no que eu diria.
— Eu... - inspirei, tornando realidade as palavras que recebi há alguns minutos - Não passei por falta de técnica, deveria ter ensaiado mais para conseguir o papel principal.
Desde o início do segundo bimestre, passei uma boa parte de meus dias treinando para pegar o protagonista na próxima peça do clube de teatro, porém por devaneios acabei me perdendo no caminho escolhido por mim. Situações em que me meti haviam causado o fracasso hatual. Me sentia insuficiente, me perguntando se o que eu estava fazendo era o certo para minha profissão futura.
— Que blasfêmia! - Tsumu inspirou o ar fortemente, causando um barulho estranho - Recusaram uma deusa como você! Essa peça é uma merda, por isso não permitiram um ser celestial como tu participar de tal vergonha.
Louise entrou na onda, concordando fortemente enquanto segurava meus ombros.
— Sim - me encarou - Você é perfeita demais para algo tão medíocre!
Soltei um riso, achando graça da indignação deles. O gêmeo se aproximou de nós, usando uma calça moletom cinza e um cropped verde escuro. Seu cabelo descolorido estava bagunçado e o rosto amaçado.
— Não fique triste, Ivy - ele falou - Você vai conseguir um dia.
Miya passou o braço por meus ombros e pela cintura de Louise, gerando um abraço triplo. Me aconcheguei nos dois, me sentindo um pouquinho melhor, apesar de ainda estar decepcionada comigo mesma. Iria me esforçar mais.
— Bom, agora preciso te perguntar uma coisa - o garoto mudou o tom de voz, ficando sério.
— Sim? - joguei a mochila em minhas costas no chão, andando até minha cama e me sentando.
— Você está pegando meu irmão e o Suna? - foi direto.
— Não - mudei o rumo de meus olhos, mentindo friamente para Atsumu, não sabendo se ele reagiria negativamente por estar tendo algo com Samu.
— Vagabunda! Louise, você viu isso? Ela mentiu na minha cara - o loiro ficou indignado - Piranha, Osamu me contou.
Senti um travisseiro ser jogado em meu rosto, batendo levemente em mim.
— Ah, foi mal - decidi abrir o jogo - Eu geralmente não gosto de ficar contando sobre minha vida amorosa, ainda mais quando se trata de seu irmão.
Não subi meu olhar para sua face, ficando um pouco envergonhada por minha dificuldade em contar as coisas. Me sentia confortável em dizer, porém às vezes minhas paranóias falavam mais alto e não me permitiam desabafar. Tinha medo de como ele reagiria ao saber que o gêmeo platinado havia me chupado e estava interessado em mim.
— Relaxa, gata, eu não ligo muito - Atsumu flexibilizou suas reações - Eu estava brincando contigo.
— Você é muito intenso, Tsumu - a francesa se sentou ao meu lado - Agora conta para a gente, vocês estão namorando ou o quê?
Era difícil responder aquela pergunta, afinal, aquela relação confusa não tinha rótulos e muito menos sentimentos sinceros. Nenhum
dos três deixava claro suas verdadeiras intenções.
— Não temos rótulos, apenas ficamos - respondi.
Os dois soltaram uma onomatopeia, um silêncio se instalando desconfortavelmente logo após o ato. Eu encarava o chão, desejando fugir daquela situação constrangedora, então arrumei uma desculpa válida para mudar o foco da conversa.
— Irei tomar um banho - dito e feito, me tranquei no banheiro rapidamente.
*
A meia lua que estava no céu iluminava a represa de água em minha frente, o vento levava todas as impurezas que haviam no ambiente, batendo sobre o líquido escuro e causando pequenas ondinhas. O reflexo da extensão celestial fazia com que a bela paisagem contaminasse meus sentimentos e aprofundasse ainda mais minhas reflexões desgastantes. Eu jogava pedrinhas no lago amplo, vendo o formato que a água tomava quando algum objeto pesado caía sobre si.
Meus pés batucavam na grama verdinha, os demais dentes-de-leão eram soprados pela brisa amena e meio abafada, uma característica única do final da primavera e início do verão no Japão. As temperaturas costumavam a subir e nessa época, os japoneses aproveitavam o tempo quente para irem à praia ou então saírem para tomarem sorvetes. As férias de meio de ano chegavam e essa disponibilidade se tornaria parte da rotina dos alunos. Como não participaria do festival de final do bimestre, poderia me considerar livre uma semana antes do recesso esperado.
Uma pedrinha foi jogada ao lado da minha no lago, ao mesmo tempo em que arremessei a que estava em minha palma. Virei o rosto para a direita, encontrando ali a estrutura de um belo jovem que usava uma calça jeans clara um pouco gasta, tênis surrados, camiseta preta e uma touca cinza cobrindo os fios marrons de sua cabeleira. Ele olhou para baixo, encontrando meu rosto pálido que era iluminado pela lua diáfana e cintilante. Um sorriso mínimo preencheu seus lábios rosados.
— O que está fazendo aqui sozinha? - Rintarou perguntou, sua voz angelical com um tom baixo e preguiçoso soou amplamente por nós.
O maior se sentou ao meu lado, observando meu rosto enquanto eu ainda absorvia sua beleza descomunal. Ficamos por alguns segundos em silêncio.
— Hum? - instigou.
O ventou bateu novamente pela planície da lagoa — que eu apenas conhecia por conta do piquenique que tivemos há algumas semanas. Suna tinha as duas pernas levantadas, os braços se apoiavam nos joelhos e a cabeça estava entortada em minha direção com leveza. Ele esperava por minha resposta.
— Vim pensar - peguei mais uma pedrinha e joguei na água escura - E você?
— Vim pensar - respondeu de forma igualitária. O moreno viu seu rosto para frente, observando a paisagem encantadora da lua pela metade e seu reflexo na represa do internato.
— Sobre o que você pensa? - Suna ficou silencioso, suas orbes amareladas estavam vidradas nas ondas pequenas que se formavam.
O maior deu um sorriso nasal, voltando os olhos para mim e logo respondendo:
— Segredo. E você?
— Estou pensando sobre meu fracasso - dramatizei a situação.
— Como assim? - seu tom ficou levemente preocupado.
— Não consegui o papel principal na peça de teatro do clube, então não faço oarte dessa próxima apresentação - confessei, observando meus pés brincarem com a grama.
— O que te disseram?
Inspirei fortemente o ar, me lembrando das palavras duras da professora que nos orientava.
— "Ainda lhe falta técnica, deveria ter ensaiado mais" - repeti como foi dito para mim - Foi o que escutei.
Rintarou novamente ficou em silêncio, contemplando a vastidão do horizonte escuro da noite.
— Desculpe - sussurrou - Eu meio que te atrapalhei nisso.
Fiquei confusa, esperando que ele continuasse o que começou. Imaginei o pior dos cenários, que Suna havia sabotado o meu talento ou algo do tipo.
— Sempre que você ia ensaiar no auditório, eu estava lá tocando guitarra e fazia você perder tempo - o moreno jogou uma pedrinha no lago - Perdão por isso.
— Ah - era verdade, porém nunca o culpei por tal ato - Sem problemas, eu nunca me importei com isso.
O único barulho que preencheu o espaço entre nós fora o das folhas batendo-se contra as outras, o ar abafado passava de forma limpa e rápida por nós, meus fios negros voavam pela imensidão do céu enquanto eu lutava contra a vontade de me aproximar de Suna. Eu queria estar perto dele, fazia semanas desde nosso último encontro. A forma em que o garoto me abraçou quando estava em seu momento mais sensível havia mexido brutalmente comigo e desejei ser seu suporte por mais vezes.
— Ivy - sussurrou depois de alguns minutos calado.
— Oi - encarei seu rosto.
— Posso te beijar? - arregalei os olhos com a pergunta súbita, virando a face para outro lado.
— O que você está dizendo? - lutei para não gaguejar, corando intensamente.
Meu peito subia e descia descontroladamente, minha respiração desandou e o coração bateu mais forte que o normal. As bochechas ardiam e queimavam, as pálpebras tremiam e os lábios eram mordidos fortemente. Suna estava brincando comigo?
— Posso? - os dedos gélidos dele passaram por meu queixo, trazendo o mesmo para perto.
Encarei bem as suas orbes âmbares com toques esverdeados. Ele estava sério, observava meus lábios e passava seu dedão por minha boca, trazendo-me para si mesmo lentamente.
— Pode - sussurrei, inspirando fortemente.
Rintarou se aproximou de mim, enfiando sua mão por meu contorno e massageando meu cabelo negro. Seus dígitos gélidos causavam arrepios intensos por meu corpo e consequentemente, gerava formigamentos ansiosos em meu estômago. Sua respiração bateu fraca em minha bochecha, seu nariz fino roçou pelo meu e sua boca úmida preencheu a minha, dominando minhas extremidades com a língua quente. O piercing frio que Suna tinha no músculo interno raspava por meus dentes, arrepiando meus pelos com calafrios profundos e fazendo com que eu me sentisse cada vez mais drogada por seus toques.
Ele era gentil, segurava meu rosto com suavidade e beijava-me carinhosamente. Rintarou não usava maliciosidade em seus atos, apenas apreciava o gosto de meus lábios assim como eu me embriagava com o seu. Quando sua saliva se misturava com a minha, eu me apaixonava pelo gosto de goma que tomava sua boca quente, sentindo a dormência que era ter-lo para mim. Eu segurava seu pescoço enquanto me aproximava tão lentamente que era difícil dizer se ainda estava parada ou me mexendo. O piercing em sua língua fazia uma exploração divertida por meu interior, deixando gelado onde era caloroso. Se não fosse pela falta de ar que senti, continuaríamos nos tocando até que cansássemos.
Quando os lábios dele saíram dos meus, me senti sozinha e vazia como antes eu estava. Minha respiração estava ofegante e os dedos trêmulos, meus olhos fechados sem coragem alguma de o encarar no momento. Depois se segundos em silêncio, recebi um beijo singelo em minha testa e logo escutei os passos pesados de Suna se afastarem. Quando finalmente abri as pálpebras, me vi sozinha naquela vastidão de águas escuras e frias, apenas sua silhueta caminhava por entre o caminho para os dormitórios.
*
oi gente!! como vocês estão bbs?
dêm a estrelinha de vocês :(
beijocas gays, até mais! Obrigada por todo apoio aqui em nervous <3
cap sem revisão!!! [02/08/21]
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