eleven

When you look at me like that
My darling, what did you expect?

~ Arctic Monkeys - 505

   Meus passos eram apressados e longos, eu tentava aproveitar o resto da tarde já que não tive tempo a manhã inteira. Uma pasta roxa com vários papéis se encontrava abaixo de meu braço esquerdo e em mãos eu tinha uma garrafinha de água transparente. Eu vestia uma calça da adidas petra com duas listras brancas na lateral, uma arregata vinho e tênis normais para poder dançar com facilidade. Revisava mentalmente as falas da peça de teatro e os passos da coreografia, mordendo as cutículas de minhas unhas vez ou outra.

   Era uma tarde ensolarada de sábado, ainda faltava duas horas para o entardecer, as nuvens cobriam o céu azul e o sol iluminava o campus cercado de árvores do internato. Não estava frio e nem quente, o tempo estava suave e úmido, com uma pitada de quentura no ar, porém nada que um ar-condicionado não resolvia. Ao andar pelos corredores vazios do edifício escolar, escutei o barulho de um instrumento vindo justamente de onde era meu objetivo: o auditório. Aumentei os passos, chegando na porta dupla de madeira, ouvindo uma melodia ao som de uma guitarra. Tinha a impressão de que conhecia a música, porém minha memória não correspondia com este pressentimento.

Resolvi entrar no local, abrindo a porta devagar e olhando para a pessoa dentro do auditório. Ele estava em cima do palco, a guitarra conectada com o som perto das cortinas vermelhas enormes, uma balinha de tubinho em sua boca rosada e os cabelos caídos pelos olhos amarelados, que me encaravam entrar pelo local. Eu encarava Suna de volta, revoltada por sempre ter meu dia estragado pelo maldito garoto. As mãos do maior eram envoltas por faixas brancas, alguns anéis de prata enfeitavam os dedos finos e esguios, que seguravam uma palheta amarela, parecida com o tom de mostarda. Cruzei meus braços, parando na entrada do auditório.

— O que você está fazendo aqui? - perguntei o óbvio.

— Tocando? - cerrou as sobrancelhas.

— Você pode tocar no seu quarto - andei, chegando perto do palco, onde o garoto se encontrava.

— Se eu pudesse, não estaria aqui - revirou os olhos, ajustando algumas coisas que eu não entendia no instrumento cor de vinho em seus braços.

— Sai daqui então, eu preciso ensaiar - coloquei minhas coisas em um canto da enorme sala.

— Não - comeu mais uma balinha, dando o dedo para mim.

— Nojento.

Amarrei meu cabelo, fazendo um rabo de cavalo alto, deixando alguns fios rebeldes soltos por não chegarem até o prendedor.

— Sebosa - Suna voltou a tocar sua guitarra, a melodia preenchendo a atmosfera.

Eu me esforçava para lembrar de onde eu conhecia a música, porém era difícil me recordar. Sentia uma leve irritação pelo xingamento do garoto, porém seria hipocrisia não deixar o mesmo me ofender. Suna virou-se para mim, dando algumas tocadas no instrumento, os olhos amarelados me encarando firmemente. Observei a roupa dele, uma calça jeans preta, tênis e uma camiseta escrito "PainHub".

— Qual foi a da blusa? - apontei com a cabeça.

   O moreno parou de tocar a guitarra e suspirou, tirando o cabelo dos olhos.

— É uma forma de representar o que sinto quando te vejo: dor - bufei, revirando os olhos e saindo de perto do garoto.

   Sentei-me na escadaria que subia para o palco, buscando por minha pasta onde se encontrava o roteiro da peça teatral. Busquei pelos papéis certos, lendo as narrativas e diálogos que tinham na mesma, a música voltando a ser tocada no fundo por Suna. Tentava me concentrar, mesmo sabendo que era impossível com o garoto ali, me atrapalhando de todas as formas possíveis.

Desisti de tentar, me levantando e indo até o aparelho que estava conectado na guitarra cor de vinho, tirando o fio que fazia conexão entre os dois. O barulho cessou, deixando uma calmaria no ar, porém Suna parecia estressado com o que fiz e me olhou incrédulo, deixando o instrumento pendurado em seu pescoço. Nos encaramos, o garoto andando até mim com preguiça e tirando de minhas mãos o seu fio precioso.

— Te odeio - disse, voltando a conectar a guitarra no som.

— Eu também - abaixei o volume sem que Suna visse.

Ele tocou uma melodia, percebendo o que eu fiz, mas não dando muita importância. Pelo menos isso.

— Por quê? - perguntou e eu fiquei confusa.

Suna se importava com o que sentia em relação à ele?

— Você me irrita - justifiquei, observando sua guitarra enquanto o maior ajustava algumas coisas no aparelho perto das cortinas - E qual o seu motivo?

— O mesmo que você - voltou para a posição anterior, virando seu rosto pálido para o meu.

Nossos olhos se encontraram e por um momento eu me perdi em seu amarelo meio esverdeado, quebrando nosso contato visual logo após isso. Suna viu os papéis em minhas mãos, algumas frases marcadas por marca texto verde. Ele pegou uma das folhas, lendo com cuidado o roteiro escrito ali e então me encarou novamente com uma sobrancelha levantada, a boca repuxada em um sorriso debochado.

— Quer ser atriz? - indagou.

   Puxei o papel de sua mão, emburrada pelo garoto ser intrometido e nem mesmo pedir para olhar minhas coisas.

— Não. Quero ser modelo - olhei uma última vez para Suna, rumando para a escadinha do palco, onde me sentei.

   O maior me acompanhou, deixando sua guitarra de lado enquanto sentava-se comigo nos degraus de madeira meio alaranjada. Eu estranhei os movimentos do moreno, perguntando-me o porque dele querer ficar perto de mim tão de repente. Observei seus dedos enfaixados, pensando se eram consequências do vôlei ou do seu esforço tocando guitarra, apesar de Suna usar palheta.

— Por que modelo? - olhou-me de soslaio, os olhos amarelados encarando os meus.

— A profissão me interessa - respondi, simplista - E você, o que quer ser?

   Tentei continuar o assunto, aproveitando dos únicos momentos em que Suna era sociável comigo. O moreno inspirou fundo o ar, pensando por um tempo antes de responder-me.

— Não sei.

— Não quer continuar jogando vôlei? - fiquei curiosa, achando que o garoto já tinha um futuro planejado.

   Deu de ombros, jogando os fios castanhos escuros para trás, que caíram novamente pelos olhos, por serem lisos demais. Suna usava argolas de prata bem finas em sua orelha, o que lhe dava um ar charmoso e atraente. Os lábios eram levemente rosados, nas pálpebras encontravam-se um fino delineado, que deixava seu olhar mais puxado e feroz. Combinava com o mesmo. Uma ideia se passou por minha mente, para que nossa conversa continuasse.

— E uma banda? - seu rosto virou para mim, pensativo.

— Dá muito trabalho ter uma banda - respondeu-me entediado.

— Já fez parte de uma? - questionei isto. Pelo jeito que o maior disse, parecia que sim.

— Por pouco tempo, eu sai quando percebi que o vôlei consumia muito minha energia.

   Um barulho de notificação veio do bolso de Suna, acompanhado de mais três. O garoto pegou seu celular, vendo mais mensagens chegarem em sua tela de bloqueio, um número desconhecido e não salvo ligava, e o moreno fazia questão de desliga a chamada. Fiquei quieta, fingindo não me importar com a ignorância que o maior tinha com tal pessoa que o mandava milhões de mensagens. Suna levantou-se, guardando o telefone em sua calça escura, um olhar cansado se instalava no rosto pálido com algumas olheiras abaixo das orbes amareladas.

— Vou indo, pode ensaiar em paz agora - caminhou em direção à sua guitarra avermelhada.

   Voltou para meu lado assim que pegou todas suas coisas e organizou o que bagunçou.

— Nos vemos por ai.

*
hi babys, é a nanda ^^

desculpem a demora aksksk estava focando na minha outra fic

queria agradecer por todos que estão acompanhando e curtindo a fic!! vocês são tudo para mim ^^

beijocas da tia nanda

cap sem revisão!! [12/05/21]

Bạn đang đọc truyện trên: AzTruyen.Top