#𝟒𝟔 - 𝖬𝗈𝗋𝗋𝖾𝗋𝖾𝗂 𝗉𝖾𝗅𝖺 𝖱𝖺𝗂𝗇𝗁𝖺 𝖣𝗋𝖺𝗀𝖺̃𝗈

Não havia uma só palavra murmurada ou dita por Drasilla durante os três dias após em que esteve em Winterfell, cercada de pessoas preocupadas, mas presencialmente ainda muito solitária, a Princesa pouco reagia perante aos esforços dos Stark para mantê-la ativa de alguma forma, como se sua mente divagasse por algum campo que eles não conseguiam entender, seu corpo parecia bem, mas sua mente parecia tão machucada quanto possível.

Cadmus permanecia sentado ao lado dela sempre que possível, levando comida, fazendo companhia, estando lá por ela, mas até ele parecia precisar descansar um pouco, então convencido por Cregan trocou de lugar com Sara, que era quem comandava as coisas no lugar dele ao lado do irmão. Na ocasião, em uma noite fria como só Winterfell poderia proporcionar, a filha mais velha do falecido Lorde Rickon se acomodou na poltrona acolchoada que ficava próxima a cama de Drasilla, enquanto a Princesa encarava a janela.

━━ Princesa? ━━ Ela chamou, vendo o olhar perdido da amiga. ━━ Drasilla ... Se precisar falar alguma coisa, qualquer coisa, eu posso ser sua ouvinte.

━━ Eu ... ━━ A voz dela parecia rouca, moveu o rosto lentamente na direção de Sara. ━━ Não sei colocar em palavras como eu me sinto. As pessoas esperam que eu faça algo, mas eu não sei para onde seguir, pela primeira vez minha mente parece só uma tela branca.

━━ A guerra tem acabado aos poucos com todos nós. ━━ Sara se levantou devagar, sentando ao lado dela e trazendo Drasilla para um abraço. ━━ Você pode ficar aqui pelo tempo que precisar, vamos mandar corvos a Campina e garantir que seus filhos estão a salvo.

━━ Não posso deixar a Rhaenyra. ━━ Ela falou baixo, apoiando a cabeça em Sara. ━━ Ela não sabe sobre o Daemon. Tem alguma notícia de King's Landing?

━━ Dois dragões despencaram do céu no Olho de Deus. ━━ Sara falou calmamente. ━━ Ela sabe de alguma forma, talvez não saiba sobre você, mas não, nada da capital ainda.

A porta se rompeu, fazendo um rangido baixo, a figura de Cadmus tinha em mãos uma tigela que expelia uma fumaça calma, trazia comida para Drasilla e emitiu um curto sorriso quando percebeu que Sara estava sentada com ela, tendo algum tipo de conversa que fosse, temeu não a ouvir por semanas e sabia que efetivamente não ouviria de forma tão efetiva, mas com certeza saber que ela decidiu compartilhar algo com alguém o alegrava.

Sara se levantou devagar, sem falar nada, apenas pegando o casaco grosso que havia ficado sob o móvel que sentava antes e os deixando a sós, a princesa acompanhou a lady com os olhos até que a porta se fechasse e então olhou o guarda, se afastando um pouco para o lado, para que ele sentasse. Cadmus caminhou em passos largos e ocupou o espaço vazio, mantendo o calor deixado por Sara e dando a Drasilla a comida que havia trago, a qual ela ficou olhando por alguns segundos, esquentando as mãos no recipiente.

━━ Essa cara é a de quem está pensando alguma coisa. ━━ Ele a encarou olhando o próprio reflexo na sopa. ━━ Eu não gosto quando isso acontece demais, pois sempre vem antes de uma sequência de problemas.

━━ Cadmus ...

━━ Você prometeu que era a última vez. ━━ Ele soltou o ar pesado, desviando o olhar dela. ━━ Olha como você está.

━━ Olha como o reino está. ━━ Ela olhou para ele, mas o Stark não a encarava.

━━ Seu dragão foi embora, voou para sei lá onde, mas não está mais nas terras do Norte. ━━ Ele a encarou de volta. ━━ Lugar nenhum vai estar perto o suficiente e não temos homens para invadir a capital, levaria semanas.

━━ Vamos para o Vale, você, eu e a Sara. ━━ Ela pousou a mão sob a dele. ━━ Jeyne vai nos receber e poderemos pensar com calma lá.

━━ Você só quer uma desculpa para voltar para o caos. ━━ Ele se desvencilhou dela, se levantando da cama. ━━ Eu e você já não temos mais forças para lutar nisso, nós não somos jovens.

━━ É, porque os jovens estão quase todos mortos. ━━ Ela se virou pra ele, se mantendo sob a cama. ━━ Já fomos longe, perdemos muita gente. É necessário apenas consolidar a legitimação da Rhaenyra.

━━ Para onde vamos depois disso? Viver em torno dela e das rachaduras que essa guerra causou na rainha?

━━ Vamos? ━━ A princesa molhou os lábios.

━━ Eu disse que não iria deixar você. ━━ Os ombros de Cadmus relaxaram. ━━ Onde você for, eu vou e se permitir ...

━━ Não faça isso. ━━ Ela o censurou com a mão. ━━ Não porque não deva ou que eu não queira, mas não é assim que você quer fazer.

━━ Você tem medo ...

━━ Não. ━━ Ela se arrastou na cama devagar. ━━ Só quero que seja especial. E então ... Vamos para o Vale?

━━ Vamos ... ━━ Ele se sentou ao lado dela, segurando sua mão esquerda e trazendo aos lábios, para dar-lhe um beijo longo. ━━ Vou comunicar ao Cregan e falar com a Sara.

Drasilla ainda sentia o corpo dolorido, ela tomou sua sopa e aninhou-se a Cadmus para dormir, o cheiro dele era familiar, mesmo que ela não pudesse distinguir realmente o que era, só sabia que era dele e o reconheceria. Enquanto a tempestade da guerra devastava Westeros longe dos olhos da Princesa no Norte, Sor Addam Velaryon, montado em Seasmoke, planava nos céus nas proximidades de Tumbleton, às suspeitas sob sua lealdade e a de seu irmão cresciam após Corlys escolhê-los em vez de sua rainha, mas a índole de Addam não o permitia apenas dar as costas e se esconder em Driftmark.

Conseguindo unir um exército de quatro mil homens, ele marchou para Tumbleton, disposto a se sacrificar para dissipar os preconceitos que recaiam sobre os bastardos, desafiando as acusações que pairavam sobre sua lealdade à Rhaenyra, tudo para acabar com um,a guerra que já havia ceifado muitas vidas. O avanço foi meticulosamente planejado, a chegada em meio a noite conferiu ao ataque a vantagem do elemento surpresa, permitindo que os homens liderados por Addam caíssem sob os Verdes enquanto estes ainda repousavam em suas tendas, despreparados para o assalto mortal que os aguardava.

Nos céus acima do campo de batalha, Seasmoke investiu contra Silverwing, que fora a primeira a notar os ataques, o dragão que havia servido à bondosa rainha Alyssane, agora forçado a lutar sob o comando de um dos traidores, era esperta e silenciosa, muitas vezes pacífica, mas ficara agitada com Seasmoke e tantos homens. Vermithor, o imponente dragão de bronze, não tardou a intervir, sua presença ameaçadora transformando o duelo em um espetáculo de terror e destruição, Seasmoke era rápido e experiente em batalha, apesar de jovem, Alyssane nunca tinha efetivamente levado Silverwing para batalhas. a dragão poderia ser maior que o dragão de Addam, mas ele era mais esperto, teria levado isso sem grandes problemas, se não fosse Vermithor.

Enquanto Seasmoke e Vermithor se envolviam em uma luta selvagem, Silverwing, mais ágil e guiado pelo instinto de sobrevivência, aproveitou o caos para fugir, desaparecendo na vastidão dos céus da Campina, ali seria a última vez que ela seria vista em Westeros.

━━ Viver e morrer pela minha rainha. ━━ Addam gritou entre as chamas. ━━ DRACARYS SEASMOKE!

O confronto entre Seasmoke e Vermithor atingiu seu clímax em uma colisão devastadora que lançou ambos os dragões, - além de Addam e Hugh - emaranhados em uma massa de escamas e fogo, ao chão. A queda foi tão violenta que o impacto esmagou Ulf, o Branco, bêbado demais em uma das tendas que sequer tentou montar Silverwing, além de destruir boa parte do acampamento Verde, deixando um rastro de destruição que ecoou por toda a planície.

Quando a fumaça começou a se dissipar e os gritos de agonia dos soldados se misturaram ao silêncio mortal que se seguiu, o corpo de Sor Addam foi encontrado ainda preso à sela de Seasmoke, mas sem vida e com várias queimaduras, a armadura com símbolo do cavalo-marinho Velaryon que usava parecia ter se fundido com parte da sua pele negra devido ao calor das chamas de Vermithor.. Ele havia cumprido sua promessa de lealdade à Rhaenyra, mas o custo foi imensurável: a perda de sua vida, de seu dragão e de um soldado extremamente leal à rainha.

Embora a vitória sob os Verdes tenha sido conquistada, as forças de Rhaenyra estavam destroçadas, incapazes de capitalizar o momento para retomar Tumbleton, agora reduzida boa parte a cinzas e sofrimento. A batalha, que deveria ser um triunfo, tornou-se um epitáfio sombrio para Addam Velaryon, cujo sacrifício, embora glorioso, não foi suficiente para encerrar a guerra.

Dias após o conflito, os corvos se espalhavam pelo reino, guiados pelas notícias de que Tumbleton tinha sido em parte banhada pelas chamas, os Tyrell se negavam a ajudar aqueles que permaneciam ao lado dos verdes, obrigando muitos a ceder em prol da escolha de seus suseranos, a decisão de Alys Tyrell, a nova Senhora de Jardim de Cima, oficialmente alçada ao posto após a morte de seu irmão Leo, não parecia disposta a mudar, os murmúrios sobre ela ter envenenado ele pareciam correr por debaixo dos panos, o que lhe deu a alcunha de Dália Negra, a envenenadora.

Próximo a capital, em Driftmark, Baela era quem se sentava no Trono de Madeira do avô enquanto Corlys estava no mar e resolvia os pequenos problemas que chegavam até ela, vez ou outra ela via Corlys, ou Alyn, não se preocupava com isso, lidava com uma gravidez que se desenhava como complicada, não tinha mais seu dragão, nem Rhaenys, aquele lugar que parecia banhado de felicidade por anos, agora era quase como um mausoléu macabro.

━━ Lady Baela... ━━ Uma ama veio até ela, no alto de seus quase 16 anos e com uma barriga de poucos meses, enquanto Baela observava a enseada pela janela. ━━ Os corvos chegaram.

━━ Mensagens de meu avô? ━━ Ela quis saber se virando. ━━ Ou da Rhaena? Da Rainha?

━━ Do Lorde Corlys sim, ele retornará a Driftmark em breve, Sir. Alyn chegará antes. ━━ A ama mantinha as mãos as costas. ━━ Vossa irmã disse que continuam esperando notícias da rainha, mas que a vossa tia Drasilla chegará ao Vale em algumas semanas. Já da Rainha não há nada, quer escrever novamente?

━━ Não... ━━ Baela abanou a mão, voltando a olhar a enseada. ━━ Apenas isso?

━━ Há uma carta também vinda da Campina. ━━ Ela esticou a mão a entregando. ━━ Veio da Senhora Alys Tyrell, os dizeres eram sobre que deveria ser aberto apenas pelo Lorde das Marés, como vosso avô não está, eu pensei que ...

━━ Deixe comigo Tyla. ━━ Baela olhou a carta entre os dedos. ━━ Pode se retirar.

Baela ficou olhando a ama em silêncio, encarando a carta, parecia pequena, não deveria ser algo muito extenso, poderia deixar com Corlys esse tipo de problema, mas ela era a pessoa sentada no Trono de Madeira, enquanto Corlys estava no mar com Alyn, ela era a Senhora das Marés e cuidava para que o legado Velaryon seguisse como sua família gostaria.

A jovem Targaryen não sabia sobre Joffrey, Rhaenyra havia mandado uma carta, contando a ela, não havia pedido ajuda do exército ou da esquadra marítima dos Velaryon, sabia que Corlys viraria as costas, mas Baela merecia saber, só que as amas acharam o contrário, pelo bem da gestação dela que parecia delicada em momentos, elas seguiram a única orientação que Drasilla havia deixado quando soube que Baela foi levada a Driftmark para sua segurança: A manter longe de possíveis estresses maiores, para o bem do futuro herdeiro do trono, sem Jace lá, após a morte de Rhaenyra era o bebê que Baela carregava que deveria se sentar no Trono de Ferro.

Mas as coisas às vezes se desenham de formas suspeitas e incertas, quando ela se sentou para ler a carta de Alys os dedos pinicaram, as palavras que ela havia lido fizeram seus dentes baterem e seu coração acelerar, não eram notícias sob seu querido Joffrey, Baela ainda levaria tempos para saber sobre isso, mas eram notícias sobre Tumbleton e a morte de Addam Velaryon, como Alys bem o chamou, ela achou prudente que Corlys soubesse, mas Baela se preocupava com outra pessoa.

A chegada de Alyn, dias depois daquela notícia, fazia a mente de Baela cozinhar com as possibilidades, parte dela ainda era filha de Daemon em muitos sentidos, mas no momento em que estavam na guerra com pessoas morrendo e famílias ficando cada vez menores, ela lembrava de Laena e como sua mãe se preocupava com os detalhes, então em vez de chamar Alyn até a sala do Trono de Madeira, pediu que fosse preparado um jantar para ambos em um dos salões privados do castelo.

━━ Não era necessária uma refeição como essa. ━━ Alyn mexia no prato, havia se acostumado com a comida simples e viver a bordo. ━━ Só algo simples.

━━ Nós recebemos as pessoas bem nessa casa. ━━ Ela cortava o peixe. ━━ Ainda mais Velaryons.

━━ Baela ... ━━ Ela parou o que fazia, a olhando. ━━ Eu não queria.

━━ Mas meu avô fez. ━━ Ela ponderou com a cabeça. ━━ Você é o irmão mais velho, possivelmente vai ser o Senhor das Marés depois dele, o Joffrey é muito jovem e é o herdeiro da rainha.

━━ Eu não quero... ━━ Ele balançou a cabeça, uma herança que nunca foi sua, ele sentia. ━━ Talvez meu irmão devesse ficar no meu lugar, se casar com você, manter o sangue Velaryon no Trono de Madeira.

Os dedos de Baela formigavam enquanto ouvia Alyn, ficou em um longo silêncio pensando em como prosseguir, ela tinha perdido Lucerys e Viserys que eram como irmãos para si, também havia Joffrey que ela não sabia, mas tinha em mente que perder um irmão ou alguém que considerasse tão próximo dilacerava alguém, não saber era pior ainda, não se imaginava perdendo Rhaena, seu lábio inferior tremia e formigava também, então ela deixou os talheres sob a mesa, estava movida entre a necessidade e a dor de contar.

━━ Eu sou uma Targaryen, sentada em um trono Velaryon que muitos falam que não é meu a maioria do tempo e talvez se não fosse a guerra eu nunca teria essa chance. ━━ Ela se lembrava de Luke, era dele aquilo, mas foi sua morte que começou tudo. ━━ Sei o que é não querer algo que pareça ser seu, quando eu fui feita noiva do Jace, as pessoas falavam de mim e dele como os próximos Alyssane e Jaehaerys, o futuro do reino, mas o trono é da Rhaenyra e agora o Jace já não está aqui.

━━ Lamento por sua perda e ... ━━ Ele não sabia o quão delicado era aquele assunto. ━━ Lorde Corlys falou sobe o bebê, aposto que meu irmão será um bom pai para ele na ausência do Principe Jacaerys.

━━ Alyn eu realmente não queria que as coisas acontecessem assim... ━━ Os olhos dela estavam marejados, olhando para ele do outro lado da mesa. ━━ Addam se foi, em Tumbleton, em uma disputa de dragões contra Vermithor.

━━ Não ... ━━ Alyn balançou a cabeça, arrastando a cadeira. ━━ Você está mentindo, não, o meu irmão vai voltar, ele prometeu isso, só deve estar atrasado, o Addam nunca foi muito pontual.

━━ Alyn ... ━━ Baela mais do que ninguém sabia como era perder alguém, a dor de Rhaenys era tão latente quanto possível, a perda que mais sentiu junto a Jace. ━━ Eu sei como você se sente, mas ...

━━ Se me der licença, milady ... ━━ Ele ergue-se, dando as costas a ela.

Baela apenas observou, olhando o rapaz se afastar e depois afundando a cabeça entre as mãos, ela sabia mais do que ninguém como o luto podia agir de maneiras diferentes, dilacerando você por dentro, ela foi rasgada tantas vezes que só sabia que se mantinha de pé devido ao bebê que carregava no ventre ou já teria cometido algumas outras loucuras. Ela daria espaço a Alyn para viver sua perda, o luto consome como fogo de dragão e sufoca como o mar que te engole entre as ondas.

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