# 𝟒𝓞 - 𝖤𝗆 𝗍𝗈𝗋𝗇𝗈 𝖽𝗈 𝗅𝖺𝗀𝗈 𝐛𝐮𝐬𝐜𝐚𝐦𝐨𝐬 𝐚 𝐜𝐚𝐩𝐢𝐭𝐚𝐥!
A princesa não se orgulhava do que havia feito, tinha rendido um homem velho, roubado sua montaria e uma adaga mal afiada, mas seu corpo se alimentava de sua missão, a próxima, como uma lista mental do que tinha que fazer para sentir que estava caminhando para o lugar certo e não para uma chance, mesmo que remota, de se sentir bem, ela não conseguiria - de forma alguma - ficar bem, desde o começo da guerra. Ela podia reconhecer, lá no fundo, que mesmo queimar a sede dos Hightower não tornou aquilo melhor.
Ela teve que parar no caminho, não dava para passar horas sob o dorso da mula mirrada até Bailepedra, seu corpo doía, mas naquela primeira parte ela sequer dormiu, não conseguia fechar os olhos sem repassar a cena. Chegando no novo ponto, ela teve que se livrar de todas as insígnias Targaryen de sua roupa, além de roubar uma capa no mercado, tornar um guarda seu refém e tomar seu cavalo, quando ela disse a Carmine, dias antes, que ela não tinha mais tanta força para sair no braço com alguém, não era algo apenas daquela ocasião, seu corpo estava cobrando o preço desde a morte de Rasmus, ela tinha que pensar mais antes de agir.
No dorso da montaria, ela cavalgou veloz para Ponta Tempestade, enquanto o vento batia frio em seu rosto o que ela via era que tudo soava como um círculo, sua mente por breve pensou: E se eu entrar no castelo e matar Borros Baratheon? Se eu me vingar por ele ter nos expulsado e não abrigado o filho da rainha? Esse pensamento a assolou até nas duas vezes em que parou para dormir, em uma delas acordou assustada, achando que havia dormido demais, mas era só a sua barriga, roncando de fome.
Chegar próximo à região onde a família Baratheon comandava lhe deu outro problema, ela precisou se esquivar até o porto, via um navio com bandeiras Martell abaixadas, nada Velaryon, isso a levou a pensar se Corlys e Alyn haviam sobrevivido, visto que estavam a mando da rainha. A morena se espreitou, ajudando marinheiros carregarem coisas para dentro do navio, em troca de comida e um lugar para se encostar no convés, durante os próximos três dias, até navegarem para Lançassolar, ela viveria entre delírios e tormentos sobre onde a guerra tinha os levado, enquanto engolia seu choro demasiado, não poderia chamar a atenção.
Em outro ponto do reino, mais precisamente em Dragonstone, o cenário era de completo desolamento e confusão, Corlys tinha parado em Driftmark, mas corvos chegaram poucas horas depois do conflito em Dragonstone, para contar a Rhaenyra que eles haviam perdido Jace e Drasilla, junto de seus dragões, além do príncipe Viserys, aquele foi o maior baque para a rainha dos pretos, sem Daemon para ampará-la ou Corlys para liderar o conselho, Rhaenyra viveu seu luto trancada em seu quarto, enquanto só recebia visitas de Elinda Massey.
Em torno da mesa, os conselheiros de Rhaenyra tinham a companhia de lady Baela e o pequeno Joffrey, que ficava olhando a prima de lado, ainda em silêncio, foi Baela, em meio ao próprio luto, que escreveu cartas para Winterfell, o Ninho, Jardim de Cima e Harrenhall, ela sabia que Cadmus, Rhaena, os Tyrell e Daemon precisavam não só saber que eles tinham perdido Jacaerys, mas também que Drasilla e Flarion tinham sido derrubados, aquele foi um dos maiores baques para os pretos, seu herdeiro e outra montadora experiente, eles agora só contavam com o Daemon. Naquele instante todos queriam se reunir em Dragonstone, mas dias depois, somente Daemon e Cadmus estavam juntos aos demais em torno do mapa de Westeros, enquanto a rainha se recuperava de mais uma perda e integrava a mesa, agora mais silenciosa, séria e atormentada por desconfiança e medo.
── Não podemos ir até a Capital. ── Daemon olhou para o mapa, com uma peça na mão. ── Aemond continua em King's Landing com Vhagar.
── O rei não consegue montar, não temos vantagem com isso? ── Baela olhou para Joffrey e colocou a mão em seu ombro, como se impedisse o menino de fazer alguma loucura. ── Mandar dois dragões até lá.
── Nós precisamos afastar o príncipe da capital. ── Rhaenyra falou baixo, olhando o mapa. ── Posso me juntar a vocês em um cerco.
── Não, você precisa continuar segura aqui. ── Joffrey falou, fazendo olhares caírem sobre ele. ── Eu, você e Baela temos que ficar protegido, mã...majestade.
Baela olhou de lado para Joffrey, ela tinha dificuldade de voar desde o ocorrido com Rhaenys e passava a maior parte do tempo lidando com as partes burocráticas do reino, em torno da mesa, mas também tinha Joffrey como sua companhia constante, ela sempre se lembrava de Lucerys e Jacaerys quando olhava seu irmão mais jovem, acabou por tomá-lo como seu irmãozinho também, Baela pensava que se sua mãe não tivesse morrido no parto, seu irmão teria uma idade próxima a do príncipe.
── Precisamos de algo grande, para atrair Aemond e parte do exército para fora dos portões, ele é o herdeiro aparente do Aegon, o jovem Maelor é uma criança muito pequena. ── Cadmus foi ouvido por todos em um curto silêncio.
── Vamos atrair eles para uma emboscada em Harrenhall. ── Baela sugeriu, dando uma volta na mesa. ── Os Stark nos apoiarão com homens em terra, mas podemos pedir a Lady Jeyne para mandar soldados do Vale direto para lá, escreverei a minha irmã.
── Pelo céu eu estarei lá os esperando. ── Daemon olhou a filha. ── Mas alguém precisará voar comigo, como suporte.
── Eu vou. ── Baela falou, encarando não o pai, mas Joffrey, como se censurasse o menino de 11 anos. ── Você precisa de alguém experiente, os montadores de Vermithor e Silverwing já estão patrulhando o perímetro em outros lugares do reino, o Addam pode vir de Driftmark para Dragonstone com o Seasmoke e se junta ao Príncipe Joffrey, protegendo a rainha.
── Certo. ── Rhaenyra soltou o ar pelos lábios. ── Vamos enviar os corvos e esperar as respostas do Lorde Cregan e de Lady Jeyne.
Em outro ponto do reino, agora muito mais quente do que se pensava, Drasilla desembarcava em Dorne, pronta para falar com o príncipe Qoren, mas não era exatamente a tarefa mais fácil, se esgueirar pela cidade que não conhecia o rosto de uma princesa Targaryen era fácil, chegar até a realeza de Dorne, no entanto, não era. Quando ela tentou entrar em um dos santuários próximos do castelo ela foi contida pela guarda real, sem sua espada e após uma viagem cansativa, ela só pode tentar se soltar e argumentar quem ela era.
Normalmente, Morys Dayne - chefe da guarda real do Príncipe Qoren - não dava alguma abertura para ninguém, muito mais uma mulher que se dizia princesa, em Dorne eles só reconheciam uma princesa atualmente, a filha de Qoren, Aliandra, mas quando seus homens avisaram Qoren de boatos sobre ela, o regente dornês teve pressa ao pedir que eles trouxessem a forasteira até seu encontro, o Martell estava pronto para mandarem matá-la, uma impostora, mas quando colocou seus olhos nela, ele soube que era Drasilla, mesmo visivelmente abatida, suja e sem a pompa que ser uma Targaryen lhe proporcionava.
── Você está péssima. ── Ele se enrolava em camadas de roupa, mesmo no calor, fumava um cigarro enquanto servia algo em uma xícara para si. ── Já fez entradas mais memoráveis.
── Pela sua cara eu não sou a única péssima. ── Drasilla respondeu, se levantando do chão que os soldados dele tinham a jogado, quase aos pés do príncipe. ── Parece que envelheceu décadas em anos.
── Todo o reino está uma bagunça não é? ── Ele se sentou em uma poltrona, onde a luz batia menos, com a xícara que saía fumaça, deixando o cigarro sob o móvel lateral. ── Não me notificaram sobre um dragão voando pelo céu.
── Eu não viria com um para Dorne. ── Ela se aproximou, se sentando sob suas pernas, perto de Qoren.
── Mas viria com escolta real, Rhaenyra não te deixaria vir aqui assim. ── Ele ponderou com a cabeça. ── Do que você está fugindo?
── As notícias não chegaram até aqui?
── Sim, dragões enfrentando dragões. ── Ele tossiu, colocando a xícara ao lado do cigarro. ── Irmãos matando irmãos, só não achei que você tinha caído do céu também, incrivelmente sobrevivendo, você é peculiar.
── Eram arpões Martell. ── Ela inclinou a cabeça. ── Você está financiando o usurpador?
── Me sinto ultrajado por ... ── Ele tossiu de novo, dessa vez se inclinando.
── Você está morrendo. ── Ela sorriu, tombando o corpo para trás. ── O poderoso Príncipe Qoren, foi veneno?
── O sarcasmo é um bom escudo contra o luto, mas seus olhos entregam a sua dor. ── Ele passou a língua nos lábios, sentindo o gosto férreo do sangue. ── Se veio pedir ajuda, desista, eu neguei ao Aegon e também vou negar a Rhaenyra.
── Você prometeu ajuda a mim a um tempo, já se esqueceu? ── Ela se apressou a se ajeitar, se ajoelhando a frente dele.
── Sim, com uma proposta de casamento para Aliandra, mas a minha filha não quer mais o seu filho. ── Ele ponderou com a cabeça, pegando o cigarro novamente. ── Fiquei sabendo que ele será Lorde.
── Se Aegon ganhar essa guerra, o que você acha que vai impedir que ele e os lordes se Westeros marchem contra Dorne? ── Os olhos lilás de Drasilla tremiam. ── Eles tem mercenários de Essos, tem a Coroa, Lannisporto e Vila Velha ao seu lado e por muito pouco não terão o Banco de Braavos.
── Não é meu problema.
── Mas vai ser da Aliandra. ── Drasilla se levantou devagar. ── E não vai adiantar arpões apontados para o ceú, dragões serão o menor dos problemas.
Qoren não queria aceitar que ela estava certa, mas numa guerra como aquela, em que ele torcia para que ambos os lados estivessem derrotados quando a poeira abaixasse, não dava apenas para assistir, enquanto eles brigavam todos sabiam que um ia prevalescer, ele não queria ou teria forças para iniciar uma nova guerra civil contra quem ficasse milagrosamente de pé depois disso tudo, então ele precisava apostar suas fichas.
Em Dragonstone o grupo dos negros se organizava para partir, o exército de Jeyne Arryn já estava migrando para Harrenhall, enquanto os Stark tiveram que fazer um desvio, o que fez com que o plano original de migrar até Harrehall fosse adiado, Daemon impaciente partiu primeiro, ficou então acordado que Baela partiria depois para encontrá-lo, enquanto Joffrey e Addam patrulhavam pelos céus de Dragonstone e Driftmark e Cadmus fazia a proteção da rainha, já que semanas antes, em uma tentativa de assassinato por parte dos verdes, Rhaenyra perdeu seu leal guarda, sir. Erryk.
Drasilla, por sua vez, tinha entrado em um dos navios Martell, Qoren tinha mandado cinco mil homens para reforçar o lado de Rhaenyra e eles levaram alguns dias para chegarem em Dragostone, Joffrey foi o primeiro a ver as velas amarelas com um sol dos Martell, os barcos dos Velaryon cercaram o grupo, preparando para um confronto no porto, mas uma bandeira branca foi asteada, o jovem príncipe até mesmo avisou a mãe, mas os soldados do porto reconheceram uma pessoa, era Drasilla.
Quando Rhaenyra foi comunicada ela sentiu como se uma aura gelada estivesse permeando por todo o seu ser, não queria acreditar naquilo, ordenou que trouxessem quem eles diziam ser Drasilla imediatamente para ela, a escolta contou não só com seis guardas da rainha, mas também vinha seguida de outros quatro guardas da casa Martell, quando os homens se afastaram e a rainha finalmente pode vê-la, por alguns segundos Rhaenyra apenas ficou paralisada.
── Por favor, que isso não seja um delírio. ── Os olhos da rainha estavam marejados.
── Irmã... ── A voz embargada de Drasilla mal conseguia dizer algo. ── Deixem-nos a sós, guardas.
O silêncio permeia enquanto os homens deixam a rainha e a princesa a sós em torno da mesa onde o Conselho dos Negros se reúne, Rhaenyra parecia receosa, ela sequer acreditava que era real, depois de ter seus filhos e outras pessoas importantes tiradas de si, ter alguém voltando a seus braços era quase impossível, então era óbvio que ela ainda se sentisse paralisada, foi a princesa que avançou a ela, passando seus braços em torno de Rhaenyra e a apertando com força, foi só ali que a rainha percebeu o que estava a frente dos seus olhos, ela não tinha perdido Drasilla.
── Me perdoa, por favor. ── A morena suplicava, já molhando o ombro da loira. ── Me perdoa por perder o Jace também, eu tentei salvá-lo, mas eu não consegui.
── Você perdeu o Flarion. ── Rhaenyra abraçou Drasilla, mesmo que quase sem força. ── Eu não poderia te odiar quando você sacrificou um pedaço seu para tentar salvar o meu filho.
── Mas eu me odeio. ── Drasilla sentia seu corpo falhar as forças entre os braços de Rhaenyra, dessa vez a loira a segurou firme. ── Por não ter os matado, todos eles, quando tive chance.
── Você fez o que achou que era certo. ── Rhaenyra a afastou, limpando as lágrimas da tia. ── É um alívio ter você de volta, um ar fresco em meio a tanta dor.
── Eu não vou sair do seu lado. ── Ela apertava as mãos da rainha. ── Nós vamos fazê-los pagar.
E de fato Drasilla não saiu de perto de Rhaenyra nos dias em que se passaram, a princesa estava sempre ao lado de Baela e da rainha em torno da mesa, corvos foram mandados para Daemon, Rhaena, Cregan e Cadmus, para avisar que Drasilla estava viva, mesmo sem um dragão, ela ainda era uma força que os negros não podiam ou queriam abrir mão. De Winterfell e do Vale, as respostas foram rápidas e todas pareciam externar o alívio por ela não ter sido morta, mas tanto Daemon quanto Cadmus não haviam respondido, mas ambos acabaram retornando a Dragonstone de seus afazeres externos praticamente juntos.
Eles andavam lado a lado, agora dentro das paredes escuras do castelo da ilha, Cadmus tinha que andar mais rápido, Daemon tinha pernas maiores, cobria mais terreno rapidamente, ele ainda usava a sua armadura de montaria quando buscava com os olhos a notícia que a própria rainha tinha lhe dito na mensagem do corvo, essa só comprovada quando as portas para o grande saão foram abertas e os dois a viram. Drasilla usava um vestido preto, com desenhos vermelhos, normalmente ela estaria com roupas de montaria também, mas Flarion era um assunto delicado e seu corpo doía, mesmo que ela tentasse se recuperar.
Os dois ficaram parados por um tempo, a olhando como se fosse uma fantasma, pairando perto de Rhaenyra e Mysaria a sua esquerda, foi a rainha que chamou a atenção da morena para ver a dupla, Drasilla não sabia como reagiria ao encontrar com Daemon e também com Cadmus, mas foi o primeiro deles que tomou a frente, ignorando todo protocolo que pudesse existir ou o que qualquer pessoa pudesse achar, apenas tomando a irmã nos braços e a apertando com certa força, querendo ter certeza de que ela estava viva, que não era miragem.
── Você vai quebrar meus ossos. ── Ela resmungou, sentindo a respiração dele no seu pescoço. ── Quem não conhece você vai achar que está com saudades.
── Fica calada, só um pouco. ── Ele rosnou baixo. ── Como você pode fazer algo tão idiota?
── Também estou aliviada em saber que você está vivo. ── Ela sussurrou, só para ele. ── Eu não iria embora antes de ganhar essa guerra para ela.
── Não achei que você fosse. ── Ele a soltou de leve, tocando a testa com a da irmã. ── Eu não conseguiria viver em um mundo sem você, eu já perdi a Madlyn.
── Eu estou aqui, ok? ── Ela tocou o rosto dele de leve.
── Acho que tem mais alguém que quer saber se você está viva de verdade. ── Daemon falou baixo, a olhando nos olhos e depois inclinando a cabeça.
O tempo parecia suspenso enquanto Cadmus e Drasilla se olhavam, seus olhares cruzando o abismo de dor e saudade que os separava, a guerra tinha desenhado em suas carnes mais do que apenas cicatrizes. O moreno, com seus olhos de um azul claro intenso, estava levemente inclinado, como se temesse que o simples movimento pudesse dissipar a visão diante dele e ele nunca mais a visse com seus olhos.
Seus cabelos caíam em cachos desordenados quase até o queixo, e a barba curta escondia parcialmente as cicatrizes que ainda cicatrizavam em seu rosto, mesmo que fossem só duas, conseguidas bem antes daqueles tempos nebulosos. Cada batida de seu coração era um eco surdo de medo e esperança, lutando contra a possibilidade de que ela fosse apenas um delírio. Ele havia temido perdê-la para sempre, e a visão dela agora, de pé diante dele, era quase irreal, sua mente lembrava de como se sentiu com a notícia que ela havia perecido no mar junto a Jacaerys, nem mesmo assistir Daemon abraçá-la o trouxe para realidade.
Drasilla, com seus olhos lilás brilhando por causa das lágrimas que segurava, sentia uma avalanche de emoções, a culpa, o medo, a dor, tudo isso fazia com que seu corpo parecesse endurescer como pedra, sem saber qual o próximo passo. O aquela sombra pairava ao seu redor, se intensificara pela perda de Jacaerys e pela dor que causara aos outros, acreditando que estava morta, apertava seu coração, como se ele pudesse sair de sua garganta. No entanto, a visão de Cadmus, quase curado dos machucados, despertava nela uma mistura de arrependimento e alívio, ele estava vivo, aparentemente bem e completamente leal a Rhaenyra. Ela queria tocá-lo, assegurar-se de que ele era real, e que, apesar de tudo, estavam juntos novamente, mas seu corpo não sabia como fazê-lo.
── Oi ... ── Ela sussurrou, todos faziam um silêncio estranho.
── Você está aqui? De verdade? ── Ele deu alguns passos a frente, a olhando de cima a baixo.
── Eu prometi qu voltaria, não foi? ── Ela esboçou um sorriso curto, havia melancolia grudada em sua pele.
── Eu olhei para o céu, todo dia. ── Ele se aproximou mais. ── Esperando ver você chegar.
── Eu perdi as minhas asas. ── As lágrimas escorreram do pranto dela.
A menção a Flarion, mesmo que indireta, doía tanto que fez a princesa levar as mãos ao rosto, tmpando a face e sentindo as lágrimas caindo, Daemon pensou em avançar alguns passos até ela, mas Baela segurou o braço do pai, não era preciso que ele fizesse algo, já que Cadmus a segurou em seus braços, a confortando por aquela dor. Depois daquele reencontro as pessoas voltaram a se mover para seus afazeres, retornando a sua rotina, para os Negros e seus aliados em Dragonstone, aquela noite foi um sopro de alívio entre toda a dor que eles estavam enfrentando.
Em outro ponto do reino, próximo as Terras Fluviais, os homens Stark lidavam com um problema em meio a seu caminho para Harrenhall para executar o plano do Príncipe Daemon. Por mais que Cregan quisesse liderar seus homens, os problemas do Norte e além da muralha não paravam só porque havia um briga pelo trono, com isso era Sara que dava ordens aos nortenhos na ocasião. O cerco em torno do exército Lannister fez revelar a primeira verdade que os Stark não sabiam, não era seu Lorde Jason Lannister que comandava os homens do Rochedo, como normalmente acontecia, as notícias de que ele estava machucado tinha se espalhado pelo reino, enquanto os Stark se organizavam em um esconderijo improvisado, um dos seus homens havia se infiltrado para descobrir mais informações, isso atrasou Sara e seus homens em um dia de avanço.
── É o Lorde Humfrey Lefford, milady. ── Um homem mais velho falou ao lado de Sara, em um cerco improvisado. ── O reconheceria a distância, ele é o subcomandante dos exércitos Lannister, o pai dele era tão vigarista quando o filho.
── Certo Lorde Karstark. ── Ela confirmou com a cabeça, se virando para o escudeiro entre os outros homens. ── E o que você ouviu?
── Lorde Jason está morto. ── Ele falou e o silêncio pairou entre eles. ── Alguns acreditam que foi por seus ferimentos, mas há quem acredite em envenenamento.
── Onde está o irmão dele? Porque Tyland não lidera o exército Lannister? ── Sara o pressionou, mas ouviu uma risada de um de seus homens. ── O que é tão engraçado, soldado?
── Lorde Tyland é péssimo nas espadas, milady. Só viria a campo se necessário. ── O homem respondeu, levando as mãos atrás do corpo.
── Ele está na capital, como Mestre da Moeda do usurpador, ele tomou o lugar que era de Otto Hightower, pelo que eu ouvi o Lorde Lefford falar. ── O escudeiro parecia um pouco cansado e ofegante. ── Otto não se deu bem no conselho após perder o posto de Mão, saiu da capital e o Tyland que era Mestre dos Navios, agora está cuidando do tesouro real. Também ouvi que Aegon se gaba por eles terem em seu poder as três cidades mais ricas do reino, Kings Landing, Lannisporto e Vila Velha, mesmo parcialmente estruída.
── Certo ... Vamos comunicar isso a rainha após terminar aqui. ── Sara olhou seus homens, pensando por breve. ── Se reagrupem e descansem, partiremos pelo amanhecer.
Os primeiros raios de sol tinham os atingido quando os Stark cercavam os Lannister prontos para o ataque, os homens de Humfrey Leffond estavam tentando chegar até Criston Cole e Aemond no leste, mas eles não contavam com a revestida Stark em maior número e sem passar por nenhum embate. A vantagem fez com que Sara e seus homens facilmente conseguissem levar a melhor, o poderio Stark e sua experiência fez dos homens cansados de Lefford, assim como ele mesmo, uma presa e naquela manhã, próximos ao Olho de Deus, os lobos se banquetearam com os leões.
Após aquela vitória, Sara fez questão de procurar abrigo para ela e seus homens, antes de marcharam para Harrenhall, como havia prometido a Daemon e Rhaenyra, dois corvos foram enviados pela comandante das tropas do Norte, o primeiro deles chegou a Pedra do Dragão, contando o que sabiam a rainha, noticiando sua vitória e seu estado após a batalha. O segundo corvo, no entanto, foi mandado e solidariedade até a Campina, Sara sabia que Jason era irmão de Carmine, que ela merecia saber que ele tinha perecido, mesmo que sua lealdade tenha ficado bem clara com sua decisão de apoiar Rhaenyra e permenecer com os Tyrell, a Stark julgou que a loira iria querer saber, ela também iria, mesmo se odiasse Cregan.
A derrota do exército Lannister deixou o Conselho Verde enfurecido, Aemond e Criston Cole passaram a mobilizar tropas para um novo movimento, eles não poderiam avançar muito se a presença de Daemon Targaryen ainda lutasse pelo lado dos negros. A notícia de que era visado pelo sobrinho e pelo Mão do Usurpador deixou Daemon – de certa forma – feliz, os Stark mal tinham chegado próximos de onde haviam combinado com o príncipe, quando foram avisados de que havia uma mudança nos planos.
Antes de partir para Harrenhall, ele mandou um corvo para Dragonstone, avisando Rhaenyra e Drasilla sobre a movimentação de seus inimigos, para se aproveitar que ambos os líderes dos verdes tinham se ausentado da capital, não haveria outra oportunidade como aquela para tomar um dos centros de poder mais importantes de Westeros. Enquanto Daemon já migrava para King's Landing, no covil dos negros outra pessoa se preparava para voar até lá, mas isso não deixava Drasilla minimamente mais tranquila.
── Isso é uma insânia. ── A princesa andava atrás da loira insistentemente. ── Expor você desse jeito, se for uma emboscada? O Daemon não poderá te proteger, Syrax não tem experiência de combate.
── Mas eu tenho voando com ela. ── A rainha ajeitou a armadura que usava. ── Fique aqui em Dragonstone, você é a Senhora de Pedra do Dragão, está nas leis do reino, enquanto o rei não designar abertamente um novo senhor, o anterior ainda tem sua posse, proteja o castelo.
── Rhaenyra me escute, pelos deuses. ── Drasilla passou à frente da loira, a impedindo de seguir. ── Você é nossa autoridade máxima, não podemos perder você, não agora.
── Vários reis e rainhas antes de mim foram para a guerra, eu não vou deixar que outras pessoas continuem morrendo enquanto eu me escondo aqui. ── Os olhos de Rhaenyra brilhavam por causa das lágrimas. ── Alguém precisa voar até King's Landing com o Daemon, alguém que também evite que ele faça algo errado.
Drasilla soltou as mãos de Rhaenyra que tinha pego com tamanha pressa, o formigamento e o nervosismo se tornaram algo natural para ela desde que tinha voltado, ela sempre pertenceu ao céus, mas agora estava presa no chão como todos os outros, suas asas lhe foram tiradas, sem Flarion ela era inútil a aquela causa, ela se sentia como um pássaro que voou por toda uma vida, mas agora era castigado com o chão, a morena sentia o choro na garganta e a loira conseguia ler isso nela.
── Quando você voltou, eu não pode estar mais feliz, você é a pessoa em quem eu mais confiei em toda a minha vida. ── Rhaenyra deu um passo a frente, Drasilla dois atrás. ── Você lutaria e morreria por mim todos os dias e fez isso, você me protegeu, agora eu preciso proteger você.
── Eu não vou conseguir seguir forte se perder você também, Rhaenyra. ── As lágrimas marcavam o rosto de Drasilla. ── Não tem uma pessoa por quem eu lutaria mais pelos sonhos do que os seus.
── Eu sei, nós faríamos tudo uma pela outra, porque por mais que os deuses tenham nos mandado como tia e sobrinha, você é a minha irmã de alma, sempre foi. ── A rainha avançou mais uma vez, mas a princesa não recuou. ── Você sempre esteve lá por mim, todos os dias, sem hesitar. Agora eu preciso que você cuide do que é mais precioso para mim, o meu legado.
── Nyra ...
── Você é a pessoa que eu mais confio para cuidar dos meus filhos e dos filhos do Daemon, para instruir, para zelar, para manter a nossa memória viva e a dos nossos antepassados. ── A loira capturou as mãos da morena e as fez ficar perto. ── Para guiar o reino se preciso.
── Não! ── Drasilla foi categórica, tentando puxar as mãos, mas Rhaenyra foi mais forte. ── Eu não vou tomar o direito de nascença do Joffrey ou de qualquer um dos meus sobrinhos.
── Eles são crianças, eles precisam ter a vida de uma criança, mesmo com toda a dor. Aceite ... ── Os olhos lilás da rainha olhavam os da mesma cor da outra. ── Seja minha herdeira, pelo menos até que o Joffrey tenha a idade adequada, instrua e proteja ele, os outros, todos a recomeçar sem nós aqui.
── Como eu vou recomeçar sem vocês? ── Parecia absurdo a Drasilla pensar aquilo, ela não teria forças.
── Você é incrivelmente forte quando precisa ser. ── A Rinha então trouxe o rosto da tia para perto segurando em suas mãos os e beijou a sua testa de forma demorada.
Por mais que Drasilla não concordasse com a decisão de Rhaenyra, a loira era a rainha, ela tinha a decisão mor, como sua mais fiél aliada apenas decidiu obedecê-la. Poucas eram as pessoas que sabiam que Drasilla estava viva de fato e o único pedido que ela fez a Rhaenyra fosse que abertamente, Baela fosse considerada como sua herdeira e tutora de Joffrey até sua maioridade, para que a falsa morte da morena fosse usado como arma pelos negros.
A partida de Rhaenyra para capital deixou um clima tenso em Dragonstone, os negros só podiam torcer para que as coisas na capital fossem prósperas e eles recebessem corvos comprovando isso. Para Drasilla parecia que a dor psicológica era de fato uma dor física, enquanto ela embebia no próprio pranto, chorando sem conseguir se conter, se isolando, primeiro em seu quarto, depois saindo por uma das passagens do castelo para tomar um ar. Estar sem Flarion não era algo que Drasilla tinha pensado tanto, sua mente agia no automático, sempre correndo para o próximo objetivo, agora tendo que esperar era como ter o corpo frio, era quando as dores a atingiam mais forte.
Sua dor e cansaço a faziam agir sem pensar o suficiente, subindo o descampado, indo em direção a Montanha Dragão, podia ver, bem distante, os dragões selvagens, ela só se sentou na relva abraçando as próprias pernas, chorando novamente. Flarion tinha nascido com ela, sua mente ainda lembrava fresca das primeiras vezes em que ela esteve com ele, da primeira vez que, aos 3 anos, no colo de Baelon, ela gritou Dracarys, isso foi duas semanas antes do príncipe falecer, era sua memória mais antiga, uma das poucas realmente felizes. Sua mente ainda navegava na primeira vez em que voou com seu dragão, ela tinha seis anos, Rhaenyra tinha sete, enquanto ela crescia estar no dorso de Flarion significava estar bem, independente do que tinha acontecido.
A princesa abaixou a cabeça, a tocando nos joelhos, chorando um pouco mais, naquele momento ela desejou que seu corpo apenas se desfizesse e ela não existisse mais, mas as coisas não eram tão fáceis assim, ela ainda estava ali, sentindo a dor por não ter protegido Luke e Jace, por não estar lá quando Rhaenys se foi ou por não ter feito algo antes de tudo aquilo começar, seu corpo se consumia de culpa que nem notou a aproximação de um dos dragões, não até que o solo tremesse um pouco com o impacto, o que assustou a princesa e a fez se afastar desesperada.
Ela não sabia como lidar com Sigmis as vezes, de início não a reconheceu, mas os chifres em sua cabeça, mesmo em meio a noite, faziam com que a princesa soubesse que era ela, Drasilla ainda sentia o coração na boca, a dragão de escamas escuras urrou, em direção a princesa, de início poderia parecer um aviso claro de que ela deveria sair de lá, mas Sigmis ergueu a cabeça, soltando chamas para cima, só ali que Drasilla percebeu que outros dragões a cercavam, Sigmis havia a protegido, o seu urro a expulsava, mas justamente por sua segurança, foi exatamente o que ela fez, ainda assustada, correndo em direção de onde tinha vindo, querendo confiar que não seria atacada.
Na capital, Daemon e Rhaenyra se aprovietaram da ausência de Aemond e Criston Cole, ao pousarem na Fortaleza Vermelha não houve resistência, os dragões já chamavam atenção e sua investida inesperada aimpediu que a guarda preparasse os arpões, o que não contavam é que eles não acharam três figuras entre as paredes do castelo, Otto Hightower não foi localizado pelos apoiadores da rainha, assim como Larys e Strong e o usurpador, Aegon II, a guerra que poderia ter acabado ali, ainda buscava pelo rei que fugira e deixara aliados para trás.
Nas Terras Ocidentais, Tyland Lannister finalmente tinha ido a frente do seu exército, com seu irmão morto, Lord Lefford também, coube a Tyland deixar seu posto no Pequeno Conselho de Aegon para liderar seus homens, deixando sua cunhada Johanna, a viúva de Jason, para cuidar das coisas em Rochedo Casterly. As forças das Terras Fluviais, apesar de melhor treinadas, sofriam com o fato de estarem em menor número em relação aos Lannister, sendo empurrados no cruzamento do Ramo Vermelho, em três tentativas eles conseguiram repelir os aliados dos verdes em cruzar o rio, na última delas, de forma mais agressiva, seu comandante - Lorde Tyland - foi acertado por uma besta, em seu pescoço, caindo sem vida de cima de seu cavalo, a partir dali o homem no comando se tornou Sor Adrian Tarbeck.
Sob o comando de Adrian, muito mais experiente em combate que Tyland, centenas de cavaleiros Lannister largaram suas armaduras e nadaram pelo Ramo Vermelho, surpreendendo as forças de Tristan Vance por trás. A resistência dos homens do rio colapsou de fato quando Adrian matou Tristan em um confronto direto, permitindo que o restante de seus homens, das Terras Ocidentais, cruzassem o Ramo Vermelho, dando uma nova vantagem aos Verdes.
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