# 𝟑𝟖 - 𝖮𝗌 𝗀𝗋𝗂𝗍𝗈𝗌 que 𝗲𝗰𝗼𝗮𝗺 𝗇𝖺 𝗍𝗈𝗋𝗋𝖾

Por mais que Vila Velha e Jardim de Cima tenham erguido seus estandartes em apoio a Aegon, havia vassalos que sabiam que o velho Lyonel e Rasmus jamais ficariam do lado de Aegon e em memória a suas índoles eles seguiram mostrando seu apoio a Rhaenyra, isso criou conflitos por toda da Campina. Com Gwayne na cidadela protegendo e resguardando sede da casa Hightower, seu primo - e lorde - Ormund se juntou a Leo Tyrell em um dos campos as margens de Vinhomel, onde tropas dos negros e dos verdes se digladiavam dia e noite, em fim.

As coisas para o lado dos verdes parecia bem mais complicada, Leo estava cansado, por mais que ele fosse o irmão preparado para a batalha, ele nunca precisou de fato estar em uma, pelo contrário, vivia de torneios e coisas bem mais pacíficas. Naquela ocasião eles estavam quase sendo mortos, para sua sorte o corvo que Gwayne mandou quando eles partiram para o conflito, direto para capital, surtiu efeito. O jovem Daeron que tinha sido chamado por seu irmão para lutar na guerra com seu dragão, foi ao encontro de Leo e Ormund, planando baixo foi o salvador da dupla e de seu exército quase em frangalhos.

Thaddeus Rowan e Tom Flowers haviam os cercado a nordeste, enquanto Sor Alan Beesbury e os lordes Alan Tarly e Owen Costayne vinham do caminho oposto com a outra tropa, cortando sua rota de fuga, parecia o final de tudo, se não fossem Daeron e Tessarion. O dragão azulado planou baixo, queimando as tropas inimigas e impedindo que Leo e Ormund fossem mortos, apesar do Hightower ter sido parcialmente queimado pelas chamas de Tessarion, com isso os verdes haviam ganho mais uma batalha, dessa vez com um nível de facilidade, dragões sempre elevavam o nível e saíam por cima contra pessoas normais, exércitos não seriam páreos para eles, todos sabiam.

Em outro ponto do reino, em Pedra do Dragão, Drasilla não havia dormido direito, os raios de sol mal despontaram no céu quando ela ignorou os guardas e até mesmo Baela tentando falar com ela, caminhando silenciosa rumo a parte de fora do castelo, a jovem lady caminhava a chamando, mas a princesa não parava de andar ou a atendia, Drasilla quase alcançava o descampado quando Baela a chamou pelo nome, só aí ela parou, olhou por cima do ombro e os relaxou um pouco, se virando para a filha de Daemon.

── O que você quer dizer? ── Drasilla estava séria. ── Se quer uma dica de como eliminar a culpa, sinto lhe dizer que não sei.

── Não. ── A mais jovem falou baixo. ── Só queria me despedir de você.

── Eu não vou demorar, Baela.

── Luke e a Rhaenys também não iam. ── Os olhos dela marejavam, mas Baela os limpou logo. ── Mas eles não voltam mais.

── Cuida dos outros para mim, até que a gente se veja de novo. ── Drasilla andou alguns passos, tomando Baela entre seus braços. ── Aqui ou com os deuses da Antiga Valíria.

── Queria acreditar que vou te ver de novo, mas eu também acreditava na habilidade da Rhaenys. ── A platinada abraçava a morena forte. ── Se você cair, leve um deles com você, pode fazer isso?

── Claro. ── Drasilla se separou dela. ── Mas eles vão cair primeiro dessa vez, cansei de perder.

Drasilla tinha que voar mais alto, isso fazia com que fosse mais cansativo para ela e para Flarion, Rhaenyra sabia disso quando ordenou que ela fosse descansar, que deixasse o seu dragão estar em uma forma física que o deixasse em vantagem no combate, a princesa queria colocar fogo em tudo, mas ao descer próximo de Vinhomel ela já poderia ver o traço de destruição, ali ficou claro que havia um dragão no meio da luta, mas não dava para dizer qual dos verdes tinha se metido nisso, havia corpos carbonizados por todos os lados.

Flarion não poderia planar próximo de Jardim de Cima, ela sabia que os Tyrell não tinha bestas prontas para derrubar um dragão, como ela tinha aconselhado a Jeyne Arryn fazer no Ninho, mas ainda sim, se ela fosse vista o outro dragão poderia pegá-la de surpresa, então precisou pousar com Flarion mais longe, ao redor da floresta, saltando da cela e olhando para Flarion que quase rosnava a contra gosto, ela podia ver a fumaça saindo de sua boca, ele estava impaciente.

Ela conhecia Jardim de Cima, mas sabia que Leo estaria a espera dela, poderia deixar Flarion voando sozinho para os distrair, mas não o arriscaria como isca sem um montador para guiá-lo em certas manobras, então ela só se esquivou entre as passagens secretas, derrubou um guarda e vestiu uma armadura que não era exatamente do seu tamanho, mas que serviria como um disfarce a olho nu por alguns momentos.

Já era meio da tarde e ela poderia ouvir gritos e comemorações ao se esconder entre pilastras de um dos vários pátios, eles comemoravam, apesar de alguns parecerem machucados, eles claramente estavam em êxtase pela forma que todos tinha lidado com aquilo, de longe ela viu Léo, não estava com sorriso no rosto e nem tão pouco bebia, só estava sério, como se fosse o único a se incomodar, perto dele, sussurrando algo em seu ouvido, estava Daeron, ali Drasilla se deu conta que fora Tessarion a fazer aquele estrago, no entanto, não vira Ormund Hightower ou Gwayne, o que a levou a pensar que ambos os primos estavam em Torralta.

Queria ir lá com a Coração de Valíria e fatiar todos eles, mas seria uma causa perdida, então ela continuou caminhando, passando por guardas, procurando por onde Carmine, Alys e Aemma estariam, mas não as encontrava em lugar nenhum, correndo próxima a um dos pátios laterais ela parou, havia alguém preso, passar reto era questão se segurança, mas parecia um preso dos verdes, alguém que eles não se importavam o suficiente para simplesmente matar, eles queriam que sofresse, sua consciência pesou, mas ao se aproximar e notar quem era o homem machucado seus olhos se arregalaram.

── Cadmus? ── Ela sussurrou abaixando perto dele. ── Pelos deuses, é você.

── Drasilla? ── A vista turva dele o impedia de vê-la direito. ── É você mesmo ou é outro delírio?

── Claro que sou eu. ── Ela fazia força para soltar as correntes e Cadmus gemia de dor. ── Porque você está aqui?

── Eu achei que precisaria proteger mais a Aemma e o Lyonel. ── Ele tossiu, sentindo mais dor. ── Você sempre teve um dragão tão temperamental quanto você e uma espada.

── Claro, a merda da espada. ── Ela resmungou puxando a Coração de Valíria e usando para romper o nó da corrente. ── Ótimo!

── Ei! O que você ta fazendo? ── Uma voz grita quando Drasilla se abaixa para ajudar o guarda caído.

Drasilla virou o corpo, vendo o guarda vir na sua direção, seus olhos lilás tremem a procura de outros, mas a priori ele está sozinho, não estará por muito tempo. Cadmus se contorce de dor no chão, não tem a menor condição de ajudá-la no estado que se encontra, nem mesmo a chama, apenas geme baixo, dolorido demais para qualquer outra coisa. Drasilla saca a Coração de Valíria, se livrando do elmo sob sua cabeça e se mantendo em posição.

No pátio iluminado pelas tochas e a luz do sol que já quase se esvaía, com a aproximação do outro guarda, o silêncio era abruptamente rompido pelo som estridente de aço roçando no chão quando ele andava, pronto para impedir a ousada fuga da dupla. Sem hesitar, Drasilla ergueu sua própria espada, sentia o punho doer, a Coração de Valíria estava começando a ficar pesada. O barulho do primeiro encontro das espadas ecoou pelo pátio, enquanto eles mediaram força e ela foi empurrada para trás, muito mais cansada.

A luta era rápida e intensa, a princesa movia-se com uma agilidade, a armadura de ambos pesava contra eles, mas ela ainda era mais leve, desviando dos ataques ferozes do guarda Tyrell, que claramente reconhecia sua antiga senhora. Ele atacava com precisão, cada movimento calculado para desarmar e subjugar, havia mais raiva ainda pelo discurso que Leo fez sobre ela tempos antes, como manchou a honra da família que os acolheu, do seu irmão morto, para - agora - apoiar Rhaenyra. Um golpe traiçoeiro acertou a perna da princesa, fazendo-a cambalear e soltar um grito de dor. Ela recuou, mas não cedeu, seus olhos brilhando com uma determinação feroz, se ela vacilasse ali, tanto ela quanto Cadmus estariam mortos, não poderia dar mais erra vitória aos verdes. Com um esforço, a morena encontrou uma abertura na defesa do guarda, suas espadas entrelaçadas em uma luta de força pura, mas é hábil de se lembrar que só um deles havia sido treinado por Daemon Targaryen nas espadas e era ela.

Com um movimento final, ela girou sua espada, derrubando o guarda de joelhos. Antes que ele pudesse reagir, a lâmina da princesa encontrou seu pescoço, penetrando com precisão mortal, a fazendo usar pouco da força que ainda tinha, com os braos trêmulos. Ela não teve intenção de decapitá-lo, nem conseguiria, precisaria de mais esforço, mas a força do golpe fez com que a espada escapasse de sua mão, ficando presa no corpo do guarda. Ele caiu no chão, debatendo-se em seus últimos momentos, enquanto a princesa, respirando pesadamente e lutando contra a dor, assistia. Ela pegou a Coração de Valíria, ainda pingando sangue, não se importou com a dor na própria panturrilha, só precisava ajudar Cadmus no momento.

── Vamos Cadmus, tenho que te deixar seguro e encontrar a Aemma. ── Ela mancava enquanto tentava segurá-lo.

── Elas estão na torre. ── Ele murmurou tossindo em seguida. ── A Aemma e a Alys, o Leo as mantém lá.

── Merda. ── Drasilla mancava e ainda o segurava. ── Onde está a Carmine? Ela voltou do Rochedo?

── Sim. ── Cadmus tossiu, precisando ser amparado pela parede próxima. ── Não sei, aposentos dela?

── Vou esconder você em uma sala de chá e ir atrás dela, sozinha e não consigo chega até a Aemma e a Alys. ── Drasilla caminhava devagar o amparando.

Eles caminhavam devagar, se escondendo entre as pilastras quando passava alguém, Cadmus tremia de dor, a princesa tentou três portas, até conseguir romper uma delas, abrindo devagar o local e entrando com o guarda, sabia que Cadmus estaria melho em alguns dias, mas temia que ele não aguentasse uma viagem de carruagem até Winterfell, colocar ele, Aemma, Alys e talvez Carmine, no dorso de um dragão era algo impossível, Flarion não conseguiria carregar tanta gente assim, nem espaço seguro haveria. Após colocar Cadmus sentado em uma poltrona, a princesa sacou a própria espada, ainda tentando se manter em pé direito, havia fechad a porta, o corpo doía, mas ela precisava ir atrás dos outros.

── Me dê alguns minutos, vou me recompor e vou com você. ── Cadmus tentou se levantar, mas a dor era tamanha. ── Vou proteger vocês.

── Se escuta por dois minutos. ── Ela o censurou, limpando a Coração de Valíria na roupa. ── Você não consegue nem se manter em pé direito.

── Você vai se matar e eu não posso permitir isso. ── Ele falou sério, mas sem alterar seu tom de voz. ── Eu sou seu guarda juramentado.

── Não é como se eu não tivesse colocado a minha vida em perigos que você não podia ajudar nesses últimos anos. ── Ela sorriu nostálgica e quase fúnebre ao lembrar. ── Se eu não voltar em algumas horas, junte o máximo de si que puder e ache a Carmine, sei que vocês dois vão conseguir tirar a Aemma e a Alys daqui.

Ele ficou em silêncio a olhando, Cadmus sempre soube que nunca foi capaz de parar Drasilla quando ela queria, quando ele colocou os olhos nela a tantos anos atrás, uma garotinha não muito mais nova que ele, o Stark só quis protegê-la, tinha saído do Norte para fugir dos conflitos familiares entre sua família, só queria orgulhar Rickon sendo o melhor guarda que pudesse, se esforçou para ficar forte, para impressionar na capital, quando foi designado para cuidar de um membro da família real pessoalmente ele ficou feliz, era trabalho pra guardas experientes, mas lidar com ela era um aprendizado. Ele poderia ficar anos sem encontrar com a Princesa Drasilla Targaryen, mas ela ainda seria uma chama que queima nele.

── Eu te amo. ── Ele soltou, recostando na cadeira.

── O que? ── Ela arqueou a sobrancelhas, como se não entendesse porque aquilo estava sendo dito naquela hora. ── Porque disso agora?

── Eu não sei se vamos nos ver de novo. ── Doía até se mexer, então ele pouco o fez. ── Só quero que a última coisa que eu tenha te falado é que eu amo você.

Ela ficou em silêncio, olhando pra Cadmus, queria falar alguma coisa, seu queixo tremia, mas ela só concordou com a cabeça, pressionando os lábios com meio sorriso rápido e se afastando dele até a porta, então olhou para trás, ainda em silêncio, encarando Cadmus uma última vez, que de fato poderia ser a última de ambos, os dois esperavam que não fosse, então ela rompeu porta a fora, saindo do campo de visão dele, precisava, mais do que nunca, achar Carmine.

Enquanto Drasilla procurava por Carmine, outra pessoa fazia um chá, Alys quase nnca estava fora daquela torre, mas naquele dia em específico ela parecia cansada e abatida quando Leo foi vê-la, pediu a ele um tempo no sol, já que lá dentro tanto ela, quando Aemma pareciam definhar, o irmão negou qualquer possibilidade a sobrinha de ambos, mas deixou que Alys o fizesse, passou parte do dia sob a escolta de um guarda e quando era hora de retornar pediu a Leo que fizesse um chá para ele, Leo sabia como os chás de Alys eram bons, ela não tinha se casado, mas tinha muitos outros talentos.

── Dois torrões de açúcar ou só um? ── Alys perguntou olhando as xícaras e preparando as infusões. ── Eu prefiro três, gosto bem doce, mas você e o Ras...

── Não fale dele. ── Leo parou de olhar o mapa da Campina sob a mesa. ── Ele está morto, como nosso pai, não ficamos falando dos mortos.

── Não jogamos ao vento os nomes deles, falar é diferente. ── Ela ponderou com a cabeça, pingando essência em uma das xícaras. ── Um torrão então.

── Termine logo isso, tem que retornar a torre, estará segura lá com a garota. ── Ele ordenou, ainda atento ao mapa. ── Só quero que isso tudo termine logo.

── Todos nós queremos. ── Alys ponderou esticando uma xícara a ele e pegando outra. ── Mas como vai acabar? Dragões comandam o céu, mas Westeros resiste a eles.

── Não comece...

── Só quis dizer que ... Bom ... Aegon ou Rhaenyra, não importa para nós, todos são Targaryens, a Campina nos importa. ── Alys bebeu do próprio chá, o olhando. ── Nós decidimos quem ganha a guerra, basta se aliar melhor.

── Nós já nos aliamos ao Aegon. ── Ele tomou o chá que ela havia oferecido e o bebeu, sua cabeça doía.

── Você se aliou por comodismo ou astúcia? ── Ela ousou dizer. ── Temos muito a negociar.

── Se Vilavelha nos atacar ou fechar as estradas, nós não teremos muita coisa, precisamos dos Hightower. ── Ele explicou, bebendo mais da xícara, mas dessa vez tudo de uma vez. ── Volte para a torre, já deu por hoje.

── Certo ... ── Ela esgueirou-se até ele dando um beijo no rosto do meio irmão, ajeitou o tecido em volta dos ombros e se afastou até perto da porta, onde um guarda a esperava. ── Boa noite, irmão.

Alys retorna a sua torre, com um guarda na porta, já Drasilla, que sentia dor nas costas, tentava andar direito enquanto ia para os aposentos de Carmine, ela não era tão alta ou forte quanto um guarda deveria ser, então tinha que tomar alguns caminhos que sabia que não encontraria nenhum dos membros da guarda Tyrell. Quando aproximou dos aposentos da antiga Lady de Jardim de Cima, ela a viu conversando com um guarda, por uma das pilastras, quando ele se afastou, a princesa saiu de perto dos arbustos que cercavam o cômodo pelo lado de fora e pulou o beiral, de primeira Carmine deu dois passos para trás, agarrando um castiçal e apontando para ela.

── Você fica uma pessoa muito perigosa mesmo. ── Drasilla quase riu, erguendo o elmo que usava. ── Sou eu.

── Pelos sete! ── A loira respirou mais aliviada. ── O que raios você faz aqui?

── História muito longa, mas creio que você saiba o que houve com um dos filhos da rainha. ── O corpo de Drasilla se afastou, se sentando sob uma poltrona, a armadura pesava um bocado. ── Nós também perdemos a Princesa Rhaenys, estamos em desvantagem, preciso levar a Aemma embora, eu não confio no Léo, confio em vocês, mas não nele.

── Eu não te julgo, mas cadê o seu dragão? Porque está se esgueirando por aí e isso na sua perna é um machucado? ── Ela apontou se aproximando da nora.

── No descampado, desde quando eu levei o Lyonel eu vi que há arpões apontados para cima, não posso arriscar que derrubem o Flarion do céu. ── Drasilla olhou a própria perna, não era um grande machucado. ── Eu soltei o Cadmus, aliás, ele está na sala de chá com as flores roxas, preciso que ajude ele escapar, só você consegue fazer isso.

── Os arpões são o menor dos seus problemas, Daeron está em Jardim de Cima também, se eles souberem que você está aqui ... ── Carmine pegou uma pomada entre uma bancada de ervas que tinha em seus aposentos, se abaixando perto de Drasilla, para passar a pomada no machucado dela. ── Parte do exército Hightower vai migrar para capital, mas ainda estão aos arredores daqui.

── Ok, hm ... Mudança de planos. ── Os dedos de Drasilla estalaram e ela gemeu baixo quando a pomada tocou o ferimento. ── Você, Alys, Cadmus e Aemma vão entrar em uma carruagem para a Winterfell, onde está o sir. Harrold?

── Rochedo Casterly. ── A loira se ergueu e afastou até a bancada de novo. ── O que você está pensando em fazer.

── Vou impedir o avanço das tropas Hightower com o Flarion, isso vai diminuir o apoio do Aegon. ── Ela se levantou, conferindo a espada na cintura. ── Quando eu voltar, vou queimar Jardim de Cima e o Leo.

── Você ficou louca? ── Carmine a censurou. ── Há milhares de inocentes aqui.

── Eu vou queimar Torralta, você tem até eu voltar. ── A morena anunciou. ── Precisamos tirar a Alys e a Aemma da torre, você vem comigo.

── O que você tem em mente? ── Carmine temia pelas ideias da nora.

── Você só vai visitar a sua filha e sua neta. ── Drasilla enfim sorriu, mas era um riso que deixava Carmine com receio e medo.

Elas caminharam quase lado a lado, Carmine ia um pouco na frente, passaram por alguns guardas, haviam poucos pelo caminho que a loira escolheu até a torre, uma escadaria levava até lá em cima, Carmine conhecia a troca da guarda, então quando chegaram só havia um em pé na porta do quarto, elas se olharam, princesa e lady, fazendo um silêncio como se perguntasse mentalmente se ela queria seguir com aquele plano maluco mesmo, mas havia uma chama nos olhos da mais jovem que deixava isso bem claro.

── Vim dar uma boa noite a minha filha e neta. ── Carmine anunciou. ── Abra a porta.

── Seja breve, Lorde Leo ordenou que elas não recebem visitas além do necessário. ── O guarda tirou o molho de chaves da cintura e levou a porta.

── Eu não sou uma visita desnecessária. ── Carmine quase rugiu, erguendo as saias e subindo mais degraus ao ver a porta aberta.

Drasilla deu apenas dois passos, subindo atrás de Carmine, enquanto o guarda que estava na porta desceu um, quando já estava nas costas dele, a princesa não hesitou em empurrar o homem, com um chute nas costas, para garantir que ele não conseguisse se segurar nas paredes com o impacto e rolasse escadaria abaixo, fazendo um barulho quando o metal da armadura batia no chão. Os olhos de Carmine, ainda na porta, foram em Drasilla, como se a censurasse, a cabea de Alys apareceu logo depois.

── Você ficou louca? ── A mais velha falou baixo, comos fosse preciso. ── Era para ter uma abordagem branda.

── Eu não tenho força para sair no braço com mais ninguém, Carmine. ── Ela respondeu quase rosnando, tirando o elmo e deixando Alys a ver. ── Você não sabe como eu sonho em fazer isso com o Larys Strong um dia.

── Também é ótimo ver você, Drasilla. ── Alys riu de lado, acenando para alguém. ── Querida a mamãe chegou.

Os olhos da princesa brilhavam ao ver Aemma, ela queria pegar sua garotinha no colo, mas não podia, elas tinham um plano e sabiam que logo logo os guardas iriam cercá-las, dali para frente qualquer coisa que elas planejassem fazer precisaria ser friamente calculado, para que elas pudessem de fato escapar. Drasilla desceu na frente, ainda mancando, o guarda caído parecia desacordado, mas talvez o sangue a sua volta deixasse outra coisa clara: Ele estava morto.

── Alys, você vai descer as escadas laterais com a Aemma até o pátio, entre na primeira carruagem que encontrar e espere a Carmine no caminho da Rosa. ── Ela tirou algo do pescoço e entregou a Alys, apertava forte e olhava nos olhos da cunhada. ── Antes de descer a escadaria, perto do jardim, assopre isso, bem forte, você não vai ouvir nada, mas não se preocupe.

── O que é isso? ── Alys olhava o apito. ── E para onde minha mãe vai?

── Eu vou atrás do Cadmus, vamos partir dos estábulos e depois que eu deixar ele com vocês, eu volto. ── Carmine passou na frente, olhando o grupo.

── Não, não, não, você vai com eles. ── Drasilla censurou a sogra. ── Não vamos te deixar para trás.

── É a minha casa, eu vou tomar as rédeas das coisas, não posso ir embora. ── A mais velha puxou o grupo para sombra, alguns gurdas passavam perto. ── O que você tem em mente? O que vai fazer?

── O apito, é para chamar o Flarion, ele vai ouvir, é um barulho sensível e específico para dragões, ganhei isso em Braavos. ── Drasilla não gostava da ideia de ter Carmine longe, mas era o jeito. ── Eu vou atrair a guarda para um dos jardins suspensos, quando eles souberem que eu estou lá, o Leo vai chegar e com sorte o Flarion também, mas eles não esperam que ele venha.

── Você vai queimar inocentes... ── Carmine a censurou com o olhar.

── Não, eu vou queimar aliados dos verdes. ── Ela olhou todas e tirou uma parte da armadura, ficando só com o peitoral. ── Agora vão.

O grupo se separa, Alys e Aemma correm abraçadas por entre os arbustos que cercam as paredes de pedras, rumo aos escadas laterais pelo jardim, Carmine segue para outro ponto, dentro da residência Tyrell, por um dos corredores, já Drasilla toma uma rota parecida com a de Alys, mas virando rumo aos jardins suspensos, que naquela época do ano, por não terem passado pela poda, são quase corredores de plantas, que a noite podem esconder alguém, por breve. Antes de entrar entre as plantas ela para, olha para direção do pátio e assovia.

O que se ouve depois é uma gritaria generalizada, os guardas já estavam a procura do grupo, a princesa conhece um pouco os caminhos, ela e Rasmus costumavam correr juntos por ali, quando tinham tempo, quando estavam só os dois, terminavam quase sempre aos beijos, as vezes desciam para o labirinto vivo em um dos jardins laterais, mas agora ela não tinha tempo de pensar nisso. A guarda Tyrell era eficiente, se ela conhecia aquele lugar, eles muito mais, viviam ali. Ela tinha que se abaixar, perto das muretas de pedra, entre as árvores, se esgueirando quando eles passavam.

Já estava quase próxima ao fim do jardim, chegando perto das escadas laterais, mas do lado oposto que Alys tinha seguido com Aemma, quando uma flecha atravessou um arbusto perto de si, sendo parada pela pilastra, naquele momento Drasilla gelou, ela sabia que aquela era uma flecha de aviso, não era uma para matá-la, apesar de achar que deveria, ao se virar e ver alguém em uma parte mais alta do jardim suspenso, ela viu uma imagem um pouco obscura, cercada de tochas.

── Achei que você tinha dito que não iria mais errar. ── Ela segurava a Coração de Valíria o olhando. ── Está ficando lento, Leo.

── É, eu deveria ter matado você da última vez. ── Ele colocou mais uma flecha. ── Mas agora você está na minha mira, se sair dela, outro arqueiro vai te pegar. Acabou Drasilla.

── Você deve estar quase tendo um orgasmo achando isso não é? ── Ela riu. ── Mas vá, atire daí, você está mesmo me vendo direito?

── Claro que estou. ── Ele sentia os dedos tremerem, olhou de relance, havia um arqueiro a sua direita.

── Só tenho uma dúvida, antes da minha morte. ── Ela deu de ombros, olhando para cima, as estrelas, depois para os lados, então para ele. ── Como você nunca percebeu?

── Percebi o que?

── Que você está ficando cego. ── Ela riu anasalada. ── Vai falar que não notou? Começa com a cegueira noturna, a essa altura muito me surpreende você ainda me ver aqui, eu não deveria ser mais que um borrão para você.

── O que você fez? ── A mão dele tremia segurando o arco.

── Eu poderia negar, mas você não vai ter misericórdia, então eu quero que você saiba que fui eu. ── Ela abaixou a espada, apoiando no chão. ── Na verdade a ideia foi da Carmine e eu convenci a Alys a te envenenar, dia após dia, lento, Alys não quis matar você, mas até ela percebeu que você é fraco, não porque é um bastardo de merda, mas porque você é incapaz de fazer o que tem que ser feito, sempre chorando sobre o lugar que você merece.

── CALA A BOCA. ── Ele berrou, soltando a flecha, por pouco não acertou Drasilla, que desviou fácil. ── Acabou para você, está na nossa mira, sua vida miserável vai acabar aqui e cego ou não, eu sou o Senhor da Campina, eu sobrevivi, o bastardo de merda, não a princesa dragão, diga a meu irmão no inferno que eu mandei um oi. Você perdeu.

── Não Leo. ── Ela balançou a cabeça, sentindo um calor atrás de si. ── Você que perdeu. Dracarys ...

Emergindo das sombras, por cima de Drasilla, Flarion se apoiou na barreira de pedra atrás dela, para soltar fogo em todos os soldados da guarda Tyrell, o que incluía o seu lorde Leo Tyrell, o grande bastardo, filho de Lyonel e Aislinn Tully. Os gritos deles pareciam quase como uma melodia para Drasilla, mas ela apenas esperou que Flarion abaixasse o pescoço para montá-lo, não havia visto Daeron ou Tessarion, isso significava que isso logo poderia virar uma briga entre dragões, ela estava cansada, não queria fazer isso agora, mas não se poupou de assistir a cena, enquanto eles queimavam e gritavam.

Flarion tomou um impulso, erguendo-se nos céus, Drasilla tinha prometido uma coisa a Carmine, que a daria tempo para resolver a situação, sem Leo lá, com Alys rumo ao Norte com Cadmus e Aemma, era a Lannister a regente de Jardim de Cima, mas isso agora não era seu foco. Flarion deslizava no ar, tanto dragão, quanto montadora odiavam dois tipos de viagens: As feitas na chuva ou a noite, era imprevisível, poderia esconder mais perigos do que qualquer outra coisa, mas poderia ser usada a seu favor, uma vez que eles também não a veriam chegar.

Eles planam por Vila Velha, havia uma grande torre em um ponto quase central, o castelo de Torralta, sede da casa Hightower. Ela ficava em uma ilhota, servia para guiar os navios até os portos próximos, era um ponto de luz, havia uma ponte que a ligava a cidade, mas Flarion aninhou-se ao redor da extensão da torre, que queimava em um fogo verde vivo, perto de um dos pátios, o impacto do dragão já chamara a atenção de todos, mas foi seu urro que de fato fez todos olharam para ele, na ilha e no porto.

O susto foi tamanho pela maioria, Flarion podia não ser um dragão tão grande como Caraxes ou Meleys, mas era maior e mais robusto que Syrax, tinha uma cor azul acinzentado, algo entre Fumaresia e Fantasma-Cinzento, possuía grandes olhos amarelos e chifres próximos a cabeça, dois de cada lado, um pouco semelhantes aos da dragão de Rhaenys, ele expelia um fogo laranja palha e era extremamente rápido, seu urro ecoava, era uma fera completa, em 130 ele estava no seu auge, com quase 33 anos, como sua montadora, não era velho com outros, mas por passar anos fora do Fosso, tinha um porte considerável.

Os olhos de Ormund Hightower tremeram, ele olhou em volta, não conhecia muito de dragões, mas reconheceu a figura da Princesa Drasilla Targaryen quando ela se ergueu além do dorso de Flarion, ainda silenciosa, o dragão então - ainda agarrado a torre, avançou um pouco, abrindo a boca, todos eles podiam sentir o odor e o calor, mesmo que Flarion não demonstrasse fogo visível, outro urro, muitos se afastaram, mas Ormund parecia paralisado, a princesa procurava pela figura de Gwayne, mas não estava lá.

── Lorde Ormund... ── Ela tirou as mãos da cela, dando um aceno gentil. ── Venho pedir vosso apoio a Rainha Rhaenyra, a verdadeira herdeira do Rei Viserys, que os deuses o tenham.

── Você ousa insultar a minha casa e a minha família com essas palavras. ── O homem se apoiava em uma bengala, visivelmente machucado. ── Nós sabemos que Aegon é o legítimo herdeiro, o filho homem mais velho.

── O seu pai, Lorde Hobert, ajoelhou-se a Rhaenyra em 113, o rei Viserys nunca mudou de ideia. ── Drasilla segurou novamente na cela, ao sentir Flarion se mexer. ── Prometa lealdade e seus exércitos a rainha ...

── Ou o que? ── Ormund a desafiou. ── Vai queimar a minha família? Você não vai ficar no céu por muito tempo, garota. Não tente bancar a misericordiosa.

── Eu quero que lembre-se Lorde Hightower, que essa decisão e todas as consequências dela, são de sua responsabilidade. ── Ela então puxou a cela de Flarion, o fazendo usar a torre como impulso. ── Sōvēs (voe), Flarion!

Ormund e seus familiares correram do pátio lateral para dentro deu sua torre, diferente do que pensaram, já mirando os arpões para o céu e para Flarion, a princesa não colocou fogo em Torralta, ela se afastou, desviando dos arpões, Drasilla e Flarion tinham experiência voando juntos e os Hightower não tinham nenhuma abatendo um dragão, foi fácil até, ela então se afastou, sobrevoando a cidade e se inclinando ao planar por cima das contruções de Vila Velha, o fogo então foi expelido pelo dragão, queimando inocentes e culpados pelas ruas, destruindo barcos no porto e deixando a população desesperada.

De uma das janelas da torre Ormund assistia tudo horrorizado, vendo que aquela mulher não tinha o menor excrúpulo em matar inocentes por causa da recusa dele, com toda certeza o homem se arrependia da resposta. Quando ela se aproximou da cidadela, no entanto, Ormund prendeu a respiração, seu filho e Gwayne estavam se abrigando com os meistres, mas antes que pudesse ser queimada, Flarion deu meio volta, voando novamente em direção a torre.

O erro de Ormund foi achar que ela não era doida o suficiente para fazer aquilo, que não ousaria agir contra inocentes, ao queimar 1/3 de Villa Velha e ainda ter ódio o suficiente para queimar mais coisa, Drasilla só provou ao homem que ele deveri temê-la. Os arpões dos Hightower foram inúteis, eles foram as primeiras coisas que Flarion queimou, depois Flarion cercou o edifício, expelindo fogo, pois mais que Ormund e sua família se escondessem lá dentro, o fogo entrava pelas frestas e o calor lá dentro era infernal. Naquela noite o único barulho que emanava era os gritos na torre, momento em que 60% da casa Hightower foi dizimada.

O ódio, no entanto, é um sentimento que permeia muito forte, Drasilla estava sorrindo ao ouvir os Hightower queimarem, voou de volta para Jardim de Cima, se esquecendo por um tempo o que havia prometido a Carmine, só querendo queimar mais alguma coisa, ela estava prestes a fazer o que sempre julgou Daemon, mas o ódio e a dor por ela e pelos seus era tamanha, que não havia tanto controle em sua mente, ela só não contava com um obstáculo que havia esquecido por breve, Daeron e Tessarion.

Drasilla já planava perto da residência dos Tyrell, os primeiros raios do sol já despontavam muito distante, não demoraria tanto para amanhecer, ela poderia ver a silhueta de Tessarion, diferente de Ormund ela conhecia os dragões da casa Targaryen muito bem. Ela não queria isso, era diferente estar em uma batalha contra dragões e contra homens, ela não havia lutado com Aemond, Lucerys foi abatido, mas isso ainda lhe dava medo, mesmo sendo Daeron, então ela só apertou a fivela na cela e sem medo, ela e Flarion, decidiram que iriam enfrentá-lo, família ou não, não tinha mais tempo para tentar converter ninguém.

O amanhecer começava a despontar na região da Campina, banhando os vastos campos ao redor de Jardim de Cima com uma luz suave e dourada. No céu acima ainda havia duas figuras imponentes cortavam o horizonte: dragões. De longe, os habitantes da residência Tyrell podiam distinguir os contornos de ambos, mesmo que não pudessem dizer quem os montava, mas Carmine sabia. O menor dos dois, Tessarion, exibia escamas de um azul profundo e brilhante, montado pelo Príncipe Daeron. Ao lado dele, Flarion, maior e mais robusto, com escamas azul acinzentadas, era guiado pela Princesa Drasilla.

Os dragões se engajavam em um combate aéreo feroz, ambos um pouco cansados por suas atuações recentes em conflitos, suas bocas exalando chamas em rajadas que iluminavam o céu. Tessarion, ágil e veloz, perseguia Flarion em um movimento quase circular, suas chamas quase roxeadas, uma mistura do vermelho do fogo e seu azul, perseguindo a cauda do oponente. Flarion, apesar de sua robustez e idade, demonstrava uma velocidade e força impressionantes, ele era mais experiente. Em um movimento inesperado, Flarion girou no ar, abrindo suas asas poderosas e abocanhando o pescoço de Tessarion com uma mordida mortal, Daeron não esperava aquilo ou pensava que fosse possível. O som do pescoço de Tessarion se quebrando ecoou na cabeça de ambos os montadores, mesmo que tenha sido silencioso, e o dragão menor deixou escapar um último rugido de dor e desespero.

Com uma das asas levemente machucada, Flarion conseguiu se libertar do corpo sem vida de Tessarion. Daeron estava preso na cela de seu dragão caído, nada pôde fazer enquanto ambos despencavam rumo ao chão. O impacto foi devastador, e o peso do dragão esmagou o jovem príncipe. No alto, Drasilla conduziu Flarion, agora ferido, em um voo instável até o pátio lateral de Jardim de Cima. O pouso foi desajeitado, e tanto a princesa quanto seu dragão estavam visivelmente abalados, soldados Tyrell cercavam a dupla, Drasilla estava tensa, olhando para trás, até que alguém saiu de entre os homens, empurrando um ou dois, usando verde, diferente do vermelho de quase sempre, era Carmine.

── PARE! ── Ela gritou, ofegante. ── Por favor, pare.

── Carmine ... ── A própria Drasilla estava cansada.

── Nós nos ajoelhamos, ficamos ao lado da Rhaenyra, mas só pare. ── Os olhos da regente estavam marejados. ── Não vamos mais matar ninguém na Campina.

── Onde eles estão? ── Drasilla tremia um pouco, ignorando o pedido de Carmine. ── Onde está minha filha?

── Aemma está a caminho do Norte, com Cadmus e Alys. ── Carmine se aproximou mais, Flarion rosnou, mas ela não se afastou. ── Desça, me deixe cuidar de você, só por um dia.

── Você não vai me atrasar, Carmine. ── A princesa se inclinou para frente, pronta para voar de novo.

── Você também é minha filha, Drasilla. ── Ela a lembrou, por casamento, com Rasmus. ── Eu cuido da minha família.

Drasilla era resistente, uma muralha que tentava se manter de pé, independente de quanto isso pudesse doer, mas ela estava tão cansada, agia em automático, seguindo, lutando, matando, preparando-se para morrer, mas até Flarion reconhecia quando eles precisavam de uma pausa, se abaixando, como se ele mesmo aceitasse, como se não se negasse a ter uma boa noite de sono de cuidado, a cabeça de Drasilla berrava alto, ela precisava continuar, ela precisava lutar mais, mas seu corpo cedeu, ele precisava descansar, ele merecia ser cuidado.

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