# 𝟐𝟔 - 𝖠 𝖿𝗅𝗈𝗋 𝗊𝗎𝖾 𝐦𝐮𝐫𝐜𝐡𝐨𝐮 𝖺𝗈 𝗇𝖺𝗌𝖼𝖾𝗋 𝖽𝗈 𝗌𝗈𝗅
O Norte se levanta, embebidos em conflitos, todos pelos quais não pensaram que enfrentariam tão cedo nos últimos anos, a saúde de Rickon piorou rapidamente, de maneira que eles acharam que o forte lobo se sobressairia, mas não acharam que o cenário seria aquele, conflitos familiares, Mormonts contra Starks e várias casas vassalas em silêncio, não querendo enfrentar os seus senhores e também preocupados com o futuro de sua morada, tudo desenhado de uma maneira que fazia os ossos dos mais otimistas doeram não só com o frio, mas com a incerteza.
Cregan era um garoto para alguns e um jovem homem para outros, o jovem lobo para a maioria não tinha cabeça para suceder o pai, enquanto Sarah tentava conter o irmão mais novo e o herdeiro, Cadmus saiu de Winterfell, indo para Pedra do Dragão, ele disse que não tomaria um lado de nenhuma maneira, não iria ficar na briga entre as suas famílias, ele escolheu servir a Princesa Rhaenyra e ao Príncipe Daemon na ilha, longe dos conflitos do Norte, longe das cartas alarmantes de Sarah.
Talvez o que devesse preocupar o guarda foi o que veio a seguir, enquanto Rosyn Mormont, mãe de Cadmus, era quem comandava o exército organizado por Manffrey Mormont, seu primo, Cregan mostrava a tia porque ele não era mais o menininho que ela pensou que não fosse um perigo, a mulher sempre achou o cunhado fraco e com o decair de Rickon via Cregan da mesma forma, ela queria apoiar a ascensão de Sarah, mas sabia que ela cederia para o irmão, então lutando pelo direito de seu filho e suas filhas, ela fez a tola ideia de deixar Bear Island desprotegida e foi numa emboscada que Cregan prendeu as primas, as irmãs de Cadmus, e com seus soldados, além de Sarah, tomaram Winterfell de volta finalmente.
Sarah gostava de ter sua casa de volta, reivindicada, do lado do irmão, mas não gostava dele usando família contra família, todas as garotas não viviam sob o nome Mormont, elas eram tão Starks quanto eles dois, quanto Cadmus era. A mulher escrevia cartas para Cadmus, mas ele não respondia, ela não podia sair do Norte, então ela fez a única coisa que achou que poderia, apelou para a única pessoa que ela achou que o primo ouviria, Drasilla, mesmo que a princesa estivesse alguns meses aproveitando seu novo bebê.
Drasilla estava feliz, as coisas estavam encaminhando bem, Aemma era um bebê saudável e amável, todos a sua volta amavam sua presença, ela não queria interferir em quaisquer questões, mas a carta de Sarah era longa, era um pedido de socorro, ela não imaginava Cadmus dando as costas a própria família, o que só aumentava a alarmante situação do conflito, além de mostrar como ela precisava interferir, mas se ele não ouvia a Sarah, ele iria ouvi-la? Qual a razão?
A princesa montou em Flarion naquela manhã nublada, Rasmus estava em viagem há dois dias, então deixou que Carmine e Alys cuidassem de Aemma, ela prometeu voltar logo, disse que iria visitar Rhaenyra e Daemon, que precisava conversar sobre coisas de dragão com eles, os Tyrell nunca questionavam quando isso era dito, então ela apenas foi se juntar a eles, numa viagem que a fez chegar encharcada em Pedra do Dragão, ela odiava voar na chuva, depois do bebê parecia que era fácil pegar uma gripe.
── Eu vou fingir que não vi o Flarion planando nessa tempestade com você no dorso dele por uma das janelas do castelo. ── A voz de Daemon ecoou pelo pátio coberto enquanto a princesa andava e apertava as roupas. ── Não foi assim que ele quase quebrou uma asa há alguns anos?
── Ele era pequeno na ocasião, agora ele é um dragão grande, quase como o Caraxes. ── Ela riu indo abraçá-lo, mas Daemon impediu.
── Você não vai molhar minha roupa. ── Ele tocou a testa dela, como se Drasilla não fosse capaz de atingí-lo mesmo assim. ── Seu dragãozinho vai precisar comer muitas ovelhas para chegar no Caraxes, querida.
── É, na odiosidade com certeza. ── Ela retrucou empurrando a mão dele. ── Cadê a Nyra e as crianças?
── Lá dentro, mas as meninas estão com a Rhaenys em Driftmark, vamos. ── Ele comentou tocando as costas dela com a palma da mão e os guiando.
Drasilla estava com um pouco de frio, Daemon olhou a irmã do lado, balançou a cabeça negativamente, tirando o casaco superior da sua roupa e colocando sob os ombros dela, sabia que não adiantaria muita coisa, mas ainda, sim, ela estaria mais protegida, a morena sorriu, sentia falta de estar com Daemon o tempo todo, agora que ele e Rhaenyra estavam casados seria perfeito viver com eles, duas de suas pessoas favoritas da vida, mas ela já não era uma menininha e tinha suas responsabilidades, como sua filha que a esperava em casa.
A imagem de uma criança correndo na direção de Drasilla quebrou qualquer seriedade que poderia estar em sua face, Lucerys não se importou com o fato da tia estar completamente molhada ao abraçar as pernas dela com um grande sorriso no rosto, a olhando de baixo para cima, timidamente Jace os olhava perto da grande mesa do salão que tinham acabado de entrar, mas antes dele vir na direção da morena uma figura menor correu também, abraçando Luke e a perna da princesa, era Joffrey, que tinha o rosto sujo do que Drasilla achava que era torta.
── Será que eu não mereço um abraço seu também, Jace? ── Ela pressionou os lábios olhando para o primogênito de Rhaenyra, não a viu a priori.
── Não tenho mais idade para abraços, sou grande agora. ── Ele falou no alto de seus oito anos, olhando para Daemon em seguida e depois para tia. ── Eles são crianças, eu não.
── Certo, entendi. ── Ela pressionou os lábios olhando o irmão que segurava o riso e se abaixando para abraçar Luke e Joffrey de 6 e 3 anos. ── Que tal irmos correndo pegar o Jace?
── SIIIIM! ── As crianças gritaram eufóricas correndo atrás do irmão.
── Por que você tem sempre que promover o caos? ── Daemon riu vendo a correria.
── Porque é mais divertido. ── Ela respondeu dando os ombros e indo atrás dos sobrinhos para pegar o mais velho.
Eles correram em torno da grande mesa de jantar por alguns minutos, mais ou menos uns cinco, até que a figura de Rhaenyra fosse vista pelos filhos e eles fossem na direção da mãe, para abraçá-la e Drasilla parasse de perseguí-los, um pouco sem fôlego já, ela esperava que Aemma fosse um pouco mais calma que os sobrinhos, perseguir crianças ficava cansativo depois de um tempo. Nyra esticou as mãos a tia, apertando seus dedos quando ela as tocou, Drasilla estava gelada, ela estreitou olhando as roupas e o cabelo molhado da morena e depois olhando para Daemon.
── A chuva está um pouco forte lá fora, não acha? ── Rhaenyra a lembra olhando sua roupa. ── O que te trouxe aqui no meio da chuva e te fez largar a Aemma?
── Eu preciso falar com ele, com urgência. ── Os olhos da princesa foram em Daemon e depois em Rhaenyra, como se pedisse a opinião dos dois de certa forma. ── As cartas do Norte chegaram até aqui?
── Chegaram. ── O príncipe respondeu, se deslocando até próximo da esposa e da irmã. ── Como devem ter chegado para ele e ele decidiu ignorar. Por quê?
── Daemon... ── Rhaenyra ralhou com o marido e depois olhou para Drasilla. ── Ficamos sabendo dos conflitos, mas respeitamos a decisão do Sir. Cadmus. Você veio para fazer com que ele mude de ideia?
── Você não está pensando em voar ao Norte com o Flarion e se meter nessa confusão. ── Daemon tocou o ombro da irmã, um pouco ansioso com o que ela planejava. ── Não é?
── Não, claro que não. Tenho prioridades na Campina, não posso fazer nada que coloque minha vida ou a minha filha em risco. ── Havia nervosismo na voz dela. ── Mas as cartas da Sarah ... Eu preciso falar com a ele, preciso tentar intervir ou só vou sentir que me pediram ajuda e eu neguei.
── Está certa... Não está numa posição de negar algo a um aliado, nenhum de nós. ── Rhaenyra sorriu de canto tocando ombro dela.
── Ainda acho que não deveria se meter. ── Dameon resmungou se afastando. ── De qualquer forma, vista roupas quentes, coma algo e durma, ele está na vila próxima levando algumas coisas em meu nome, não vai voltar até de manhã.
Eles jantaram juntos naquela ocasião, só os três, Drasilla antes colocou os três sobrinhos na cama e contou histórias, como Luke insistiu para que ela fizesse, como uma criança manhosa, ela não poderia negar um pedido tão insistente e doce de seu sobrinho favorito, não que ela fosse assumir isso em voz alta para qualquer um dos outros, Lucerys era especial. Quando os deixou eles já estavam cochilando, Joffrey foi o primeiro, Jace depois e Luke dormiu abraçado a mão dela.
O jantar com Rhaenyra e Daemon tirou muitas risadas dos três, havia um tempo em que eles não estavam juntos sendo só eles, todos queriam que Viserys estivesse ali também, só os quatro, como nos velhos tempos, mas tudo ficou tão difícil nessa passagem de anos que Drasilla quase sentia seu estômago doer. Eles conversaram em Alto Valiriano, não que precisassem esconder nada, mas eles eram sangue do dragão, porque não usar o idioma da sua terra perdida? Drasilla queria virar a noite com eles, mas os anos a deixavam mais cansada, ainda mais depois de voar na chuva, mesmo que agora estivesse seca, eles entenderam quando ela se recolheu.
Pedra do Dragão era como uma chama quando se falava de conforto, quente, amena, confortável demais, ela adormeceu como as crianças, rapidamente, numa cama quentinha e sonhando com sua família em Jardim de Cima, na manhã seguinte, no entanto, foi acordada de sopetão por alguém pulando na sua cama de forma animada e gritando por seu nome, logo uma segunda figura veio atrás, menor, mas ainda eufórica, era Joffrey, seguindo Luke que já pulava, Jace falava para os dois descerem, sem sucesso.
── ACORDA TIA, ACORDA! ── Luke pedia alto, agora pulando sobre ela. ── O sol já acordou.
── Oi pequeno. ── O corpo dela ainda acordava quando abraçou Luke e Joffrey pulou sob os dois. ── Outch!
── Vocês vão machucar a tia Drasilla. ── Jace resmungou puxando o pijama de Luke. ── Sai daí.
── A tia é minha, Jace. ── O do meio reclamou. ── Sai você!
── Crianças não briguem, tem tia Drasilla pra todos. ── A morena os acalmou se sentando na cama. ── Agora eu preciso me vestir para o café, podem me encontrar no salão?
── SIM! ── Joffrey e Luke gritaram, já Jace colocou as mãos nos ouvidos.
As crianças insistiram para que Rhaenyra e Drasilla tomassem café com elas no jardim de fora, ainda estava um pouco úmido devido a chuva e o céu estava acinzentado, não era a melhor época do ano para aquele tipo de coisa em Pedra do Dragão, mas eles conseguiram se divertir por um momento, Drasilla via os sobrinhos correndo e pensava em quando fosse ela e Aemma, queria tanto colocar a criança sob a cela de Flarion, voar com sua filha, mas ela não tinha ofertado um ovo de dragão a ela quando nasceu, então achou melhor deixar que Aemma decidisse quando fosse maior o que queria.
Eles ficaram quase duas horas ali, até que as crianças tiveram que entrar para se limpar, a situação pareceu quase sincronizada, porque enquanto Drasilla limpava as mãozinhas de Joffrey e o via correr para dentro do castelo, atrás de Rhaenyra e os irmãos, ela viu um homem parado na entrada da fortaleza de pedra, não era Daemon dessa vez que a olhava, era Cadmus. Ela não o via desde o velório de Rickon, meses antes, seu cabelo estava maior, preso num pequeno rabo de cavalo na nuca, sua barba estava começando a crescer, ele parecia mais forte, quase como Daemon.
── Princesa ... ── Ele reverenciou. ── O Príncipe Daemon disse que queria falar comigo, com urgência.
── Quando viramos pessoas que usam pronomes e não nomes? ── Ela perguntou se aproximando dele. ── Achei que quando estivéssemos só nós dois fôssemos só Drasilla e Cadmus.
── Quando eu sei que você não veio só para visitar a Princesa e seus sobrinhos. ── Ele estava receoso. ── As cartas da Sarah chegaram a Campina pelo visto.
── Por favor ... ── Ela quase implorou, indo mais passos em direção a ele.
── As pessoas tem que parar de achar que usar você vai me fazer mudar de ideia. ── Ele deu passos atrás, dando as costas a ela. ── Eu não vou a Winterfell, Drasilla.
── Pessoas estão morrendo em uma guerra que você pode ajudar a acabar. ── Ela ainda seguia parada lá. ── O seu povo está morrendo.
── Eu não sou o Lorde de Winterfell e nem o Lorde Mormont. ── Ele parou, ainda dando as costas a ela. ── Não tem o que eu possa fazer.
── Eles vão ouvir você, o Cregan vai, sua mãe vai. ── Ela caminhou na pequena colina do jardim até ele. ── Eles precisam de você lá.
── Eu não vou viver pra sempre, quando eu não estiver lá o Norte vai colapsar então? ── Ele se virou com um riso irônico. ── Eles só vão me forçar a escolher um lado, eu não quero isso.
── Convença sua mãe a parar. ── A princesa segurou uma das mãos dele entre as suas.
Cadmus olhava para Drasilla, as íris da princesa tremiam enquanto olhavam pra ele, tensa, ela não queria perder o controle da sua fala, só queria convencê-lo, ele poderia só dar as costas para ela, puxar as mãos e voltar para dentro do castelo, mas havia um nó na sua garganta. Quando falou que as pessoas deveriam parar de usá-la contra ele era sério, Cadmus não sabia quantas vezes em ainda conseguiria dizer não para a princesa de cabelos castanhos e olhos lilás.
── Ela não vai me ouvir. ── Ele respondeu com os olhos nos dela.
── Você precisa tentar, seu pai iria querer um Norte unido. ── Ela apertou a mão dele. ── Você sabe que Cregan, você e a Sarah podem dar isso a Winterfell, vocês tem o apoio da coroa, da Campina também.
── Não existe um nós nisso. ── Ele puxou a mão das dela. ── Eu não vou voltar para Winterfell e tomar qualquer posição de liderança.
── Só fale com eles, por favor. ── Ela quase suplicou. ── Pode fazer isso?
── Ok, falo. ── Ela respondeu e viu ela se aproximar, mas esticou a mão. ── Não, por favor, você sabe que ...
── Tudo bem. ── Ela ergueu as mãos. ── Obrigada, Cadmus, de verdade.
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Cadmus de fato tinha voltado para o Norte, mesmo que o Príncipe Daemon tivesse ido contra a sua decisão, a Princesa Rhaenyra apoiou que o guarda deixasse Pedra do Dragão e fosse resolver os problemas de sua família, Rhaenyra mais do que ninguém sabia como as coisas poderiam escalonar muito rápido quando esse tipo de situação se desenrola. Cadmus não efetivaqmente chegou lá e resolveu tudo, tomar uma posição branda era mais difícil do que escolher um lado, mas ele poderia reconhecer que aquela era uma guerra que não deveria acontecer.
Por um lado do Mormont achavam que Cregan era uma criança e que Sarah era louca o suficiente para ser seu braço direito, eles achavam que Cadmus, mais velho e experiente, fosse a pessoa que melhor comandaria essa situação, mas o guarda se recusava a qualquer interferência possível que o colocasse em alguma posição de liderança, ele não queria assumir as rédeas. Pelo lado Stark Cregan estava sem paciência, prendeu as próprias primas para usá-las como moeda de troca na crise política do Norte, o que irritou não só Cadmus, mas Sarah também, no fim ambos convenceram o mais novo a desistir disso e libertar as garotas.
Após longas conversas e conflitos evitados, eles entraram em acordos políticos no Norte, o que só fortalesceu a aliança, principalmente contra possíveis ataques de outras regiões de Westeros, todos concordavam que um Norte unido era um Norte mais forte, que conflitos entre eles os deixavam vulneráveis. As cartas entre Drasilla e os nortenhos também ficaram mais frequentes, o rei gostava da proximidade e da aliança deles, era propício para a coroa, apesar de algumas preocupações, Rasmus também gostava, ter o Norte e a Campina juntos, como aliados, minava qualquer chance de represálias contra ambos.
Cregan acabou por se mostrar um bom líder, mesmo com a pouca idade, com Sarah do seu lado e Cadmus como seu conselheiro exporádico, ele mantinha o Norte unido e fazia com que as tradições de seu pai e tio, homens que se orgulhava de terem liderado o Winterfell de suas formas no passado, permancessem vivas como antes, sendo uma delas o grande torneio marcando mais um ano de seu comando a frente da região, como seu pai fazia todos os anos, reunindo cavaleiros de toda Westeros.
Na ocasião era esperado que Drasilla viesse, mas a notícia de sua segunda gravidez - e dessa vez mais delicada que a primeira - fez com que a princesa mandasse alguém no seu lugar. Era Leo que competiria de novo, mas em vez de Drasilla ou Rasmus acompanharem o irmão do lorde, foi uma criança que pulou fora da carruagem, sendo acompanhada de uma mulher de cabelos loiros pedindo que a garota de quase seis anos fosse devagar, Alys parecia mais empacotada que o normal enquanto tentava acompanhar a pequena Aemma Tyrell, filha de Rasmus e Drasilla, que muito interessada em torneios - como a mãe - implorou para os tios para que a levassem, Leo não gostou da ideia, mas Alys era facilmente dobrável.
── Aemma, volte aqui! ── Alys chamou, ajeitando o vestido e o erguendo. ── Ou você não vai mais viajar comigo.
── Eu falei para não trazer ela. ── Leo resmungou dando a mão a irmã. ── Para onde ela correu?
── TIA SARAAAAAAAH. ── A voz estridente da criança foi reconhecida quando ela segurava o vestido correndo na direção da morena. ── Eu vim te ver!
── Mini Drasilla. ── Sarah riu se abaixando para pegá-la no colo. ── Com quem você veio?
── Com a tia Alys e o tio Leo. ── Ela colocou as mãozinhas no rosto de Sarah. ── Você vai lutar hoje? A mamãe disse que você ia lutar.
── Não ou eu derrubaria todos eles. ── Ela sussurrou beijando o rosto da menina. ── Vamos achar os dois e te devolver a eles.
── Ah não tia ... ── Aemma agarrou o pescoço de Sarah.
Era algo claro que Aemma preferia a companhia dos nortenhos, principalmente Sarah, do que de Leo e Alys, ela amava a tia, mas ela era cuidadosa demais e Leo não era a pessoa mais amorosa do mundo, nem com os próprios filhos, quem dirá com a sobrinha que poderia ser a próxima Lady de Jardim de Cima se a cunhada estivesse grávida de outra menina, ele tinha seus momentos, mas quando Aemma fugia correndo como uma moleca não era um deles. Sarah acenou para Cregan que ergueu a sobrancelha se aproximando quando a viu agarrada a uma garotinha que vestia roupas coloridas demais para o Norte, ele logo identificou Aemma, nos últimos anos ela itnha vindo várias vezes ao Norte com a mãe ou eles tinha ido visitar Drasilla na Campina, para Aemma os nortenhos eram sempre uma grande diversão.
Aemma abriu um grande sorriso ao ver Cregan fazendo uma careta atrás de Sarah, a morena já tinha visto o irmão - e Lorde - mas riu ao notar as gracinhas de Aemma, ela chamava todos que estavam próximos dela e era amigos fiéis de sua mãe de tios, então para ela não só Daemon, Viserys, Alys e Leo eram seus tios - como o sangue mesmo dizia - mas também Sarah, Cregan, Cadmus, Rhaenyra e Rhaenys. Sarah demorou uns minutos, mas encontrou Leo e Alys discutindo algo e viu o alívio se desenhar no rosto da loira ao ver Aemma em seus braços.
── Aí está você, Aemma! ── Alys soltou o ar pesado olhando a menina e Sarah. ── Lady Sarah, obrigada por trazê-la de volta, Aemma está ficando mais arteira com o tempo.
── Arrisco dizer que como a mãe, sorte que não deram um dragão a ela. ── Sarah riu colocando a criança no chão.
── Ainda! Mas vou ter um grande, que nem o do tio Daemon. ── A pequena respondeu.
── Sir. Leo. ── Cregan atrás de Sarah cumprimentou o moreno com um aceno de cabeça. ── Lady Alys ...
Não era um mistério para Sarah a forma como Cregan olhava para Alys desde a primeira vez que colocou os olhos nela a alguns anos e nem como ele a achava a mulher mais bonita de Westeros, uma clara mistura entre os genes Lannister de sua mãe e os genes Tyrell de seu pai, tinha os cabelois loiro escuro e os olhos esverdeados como a Campina, bochechas rosadas naturalmente que só ficavam mais acentuadas quando ela estava exposta ao vento frio, como o Norte quase sempre tinha, havia um bom tempo que ela não pisava em Winterfell e quase o mesmo tempo que Cregan não a via pessoalmente. Ele só parou de encará-la quando Sarah deu uma cotovelada no irmão e ele riu a encarando, por sorte Aemma tratava de pentelhar Leo, que não tinha percebido os olhares.
Era como Drasilla costumava sempre lembrar Cregan das vezes que conversaram sobre Alys - que não foram poucas - ela é uma flor, delicada demais para movimentos arriscados, apesar da Targaryen apoiar que Cregan pedisse a mão da cunhada ou algo do tipo, ela também se preocupava com tudo que Winterfell e essa vida significaria ou faria com ela. Uma flor sobrevive ao inverno? Era uma situação complexa, então quase sempre eles chegavam a conclusão de que era melhor deixar só que ela continuasse sendo cortejada, mesmo que todos concordassem que era um pecado que Alys - já com tal idade, quase 30 anos a se completar em semanas - fosse se tornar uma irmã silenciosa, já que os irmãos não achavam que nenhum pretendente fosse bom pra ela e ela mesma tivesse medo do casamento, se dedicando a ser uma espécie de curandeira, muito útil por sua posição na casa que possuía e pelo poderio que os Tyrell tinham.
Dessa vez as coisas pareciam ser muito mais brandas do que foram no último torneio que Cadmus se lembrava de estar em Winterfell, parecia que ele sempre dava um jeito de se ausentar, mas dessa vez - e sem a princesa - Sarah o fez ficar, mas muito mais na organização, não querendo que nenhum tipo de conflito entre o primo e qualquer outro membro da Campina acontecesse, ela ainda sentia uma pontada de dor de cabeça ao se lembrar de como teve que intervir em outra vez.
Na tribuna observando a movimentação dos cavalos estavam só Cregan e Alys, como Lorde ele decidiu não participar, elegendo outro campeão para representar os Starks, entre eles havia um lugar vazio, destinado a Aemma, que não estava lá no momento, o que só deixava Alys um pouco nervosa, a sobrinha pediu para que Sarah a levasse para dar boa sorte a Leo, mesmo que ela o achasse o tio carrancudo, fazia questão que ele ganhasse, eles eram Tyrells no fim das contas.
A pequena corria na frente, enquanto entre as cochias Sarah vinha atrás, chamando por ela, quando a pequena encontrou com Leo ela deu um grito, ele deu um riso anasalado, se abaixando perto dela, Leo tinha dois filhos, nenhuma menina, Fedora tinha a saúde frágil e ele não queria arriscar que um terceiro filho a matasse, nunca em nenhuma hipótese assumiria que queria ter uma filha e nem muito seu afeto justamente pela sobrinha, mas as vezes ele cedia.
── TIO LEO, TIO LEO! — Ela gritou parando quando o cavaleiro se virou. ── Achei você!
── Você não deveria estar lá em cima a tia Alys? ── Ele a olhou nos olhos, se levantando para encarar Sarah ── Ela não gosta de ver você com a barra do vestido sujo.
── A fúria dela dura pouco, tia Alys é doce. ── Ela sorriu. ── Abaixe, deixe-me ver se o medo mora em seus olhos.
── Aemma ande logo, já vai começar — A voz de Sarah ecoou, assitindo a cena da criança com as mãos no rosto do tio carrancudo.
── Só tem fúria em seus olhos, muito bem. ── Ela sorriu o soltando e se virando. ── Agora podemos subir, tia Sarah.
Sarah não gostava de Leo, nenhum pouco, quando o encarou ficou séria novamente, ele voltou a colocar o capacete na cabeça, mal a encarando, achava nortenhos sujos e odiava estar ali, mas tinham um compromisso com a sua casa e uma reputação como cavaleiro a zelar, como o irmão quase sempre preferia os trâmites políticos e não se metia em lutas, era óbvio que ele era um cavaleiro melhor e mais adequado, as pessoas viam, era o que Leo achava, então cabia ele ganhar aquele torneio, como não ganhava nos três últimos antes dele, Daemon não estava lá aquele ano e também estava ficando velho e lento, ele tinha uma chance.
Era sempre Daemon que lutava sob o estandarte Targaryen, mas dessa vez, um tanto quanto desinteressado em se meter em qualquer luta que fosse a pedido de Rhaenyra, o rei Viserys permitiu que seu filho Aemond competisse, juntos ele e Aegon foram - pela primeira vez sozinhos - até o Norte, junto de uma dúzia ou duas de guardas, enquanto Aegon ficava bebendo na tribuna e provocando moças, Aemond se preparava para o que oficialmente era seu primeiro torneio, aos 18 anos. Ele viu a pequena Aemma correndo na direção da saída, com Sarah ao lado dela, ele pensou em falar algo, sentindo o nó na garganta, era como se estranhamente sentisse Drasilla na criança correndo, uma energia única como sua presença, sabia sobre a princesa, sobre a gravidez, talvez pudesse ir a Campina depois de derrotar o cunhado dela para uma visita, mesmo que Viserys considerasse provocações algo além do necessário, ele era um pacifista idiota as vezes, o filho pensava.
Aemma não calava a boca, nenhum minuto sequer, ela falava com Alys e Cregan o tempo todo, mas era melhor que a pequena os entretesse e não desse tempo para que Aegon falasse alguma coisa, ainda mais por estar sentado na tribuna logo acima dos três, Aemma não gostava do primo, dos quatro filhos de Viserys, ele era o único que ela verdadeiramente não gostava, ela amava Helaena e Aemond quando pouco os via, era indiferente quando a Daeron, que quase nunca tinha visto, mas Aegon era insuportável a seus pequenos olhos, ele estava sempre cheirando a bebida e apertou a bochecha dela duas vezes, ela detestava isso.
Eles estavam atentos ao combate e aos poucos os cavaleiros iam sendo derrubados, Cregan olhava para a figura de Cadmus na arena, entre os juízes, não como participante, sabia que se quisesse o primo poderia participar, mas ambos concordaram que depois dos conflitos de anos antes entre ele e Leo, era melhor que Winterfell não fosse palco de mais uma briga, mesmo que Drasilla não estivesse lá. Na disputa final Leo e Aemond foram colocados lado a lado, Aemma se inclinou na tribuna, gritando pelo tio, como a criança luz que era, arteira, eufórica, aquilo tirava o riso de algumas pessoas.
A pequena gostava de Aemond, mas gostava mais de Leo, eles eram Tyrells, por mais que Aemma soubesse que ela era meio Targaryen como sua mãe. O sinal foi dado e os cavaleiros partiram um contra o outro, deixando todos na tribuna ansiosos e quem se aglomerava em volta da arena também, por alguns segundos o silêncio dançou no ar, deixando todos trêmulos e um pouco tensos com o que tinha acontecido a frente de seus olhos, um nó estranho na garganta dos presentes. O barulho oco da armadura batendo contra o chão quebrou o silêncio e em seguida um xingamento no degrau de cima da principal sessão da tribuna.
── Tem uma criança aqui! ── Alys ralhou com Aegon, enquanto tampava os ouvidos de Aemma. ── Não fale essas coisas!
── Não traga uma criança para um torneio, lady! ── Ele riu se sentando.
── Vamos sair daqui, já acabou mesmo. ── Cregan sugeriu se erguendo e pegando Aemma no colo.
── Vamos. ── Alys trocou um breve olhar com Aegon, o achava deplorável.
Enquanto o trio saía e Aegon conversava bêbado com alguma dama do Norte, os cavaleiros na arena se organizavam depois do fim do torneio, o príncipe Aemond limpava a armadura após a queda no chão, ele estava descontente consigo por ter sido derrotado aquela forma, Leo poderia ser mais velho, forte e experiente, mas ele tinha treinado muito e queria que Viserys o visse, mais do que isso, queria que Otto também sentisse orgulho, sua mãe, voltar para casa com uma derrota seria pário de ouvir as reclamações de Aegon por horas na carruagem, um tortura completa. Ele não tinha se erguido, quando uma mão passou a frente de seu olho, o fazendo levantar a face, encarando o homem que oferecia ajuda, mas ele só empurrou a mão.
── Eu posso me levantar sozinho, guarda! ── Ele ralhou com Cadmus entre os dentes. ── Não estou tão inválido assim.
── Não disse isso, alteza. ── Cadmus levou as mãos atrás do corpo. ── Uma pena que não pude te dar uma dica antes da luta, eu derrotei o Sir. Leo em dois torneios nos anos anteriores.
── Eu mesmo posso vencer sem nenhum tipo de ajuda. ── Aemond respondeu grosseiro andando na frente.
── Claro que pode alteza. ── Cadmus estava segurando o riso. ── Estava torcendo por você, mas ainda bem que não apostei.
── ... ── Aemond gruinhiu algo inaudível seguindo a caminhada. ── A próxima gracinha será recompensada com você sendo alimento do meu dragão.
── Perdão alteza, não quis ofendê-lo. ── Cadmus completou tomando a direção contrária.
Os nobres dispersaram-se para suas casas já no dia seguinte, por mais que Alys quisesse ficar em Winterfell e Aemma tenha chorado abraçada a Sarah quando se despediram, eles precisavam ir, Drasilla não aguentaria ficar muito tempo longe da filha e Leo - por mais que tenha ganho - queria ter ido embora daquele lugar nos momentos seguintes a final, mas Alys acabou insistindo o obrigando a ficar, só não poderia segurá-lo por muito mais tempo, uma pena.
Nas semanas seguintes a gravidez de Drasilla estava cada vez mais frágil e delicada, com sorte a saúde da princesa estava boa, mas ela chorava de dor em algumas noites, Rasmus e Alys não saíam do lado dela, o seu marido só a deixou quando precisou viajar, mesmoa contra gosto, com Leo em Vila Velha não tinha como mandar outra pessoa se não o Lorde para resolver os assuntos que agora eram seus, que não podiam esperar, aquilo parecia ser só uma viagem tranquila se transformou em algo muito mais complicado.
As carruagens Tyrell eram ornadas de ouro, tal qual a dos Lannisters, eles eram uma das famílias mais ricas de Westeros e andavam com uma guarda além do normal de tão grande, tudo para garantir que assaltos fossem minimizados, mas a medida que a segurança Tyrell aumentava, a esperteza dos ladrões também e aquele assalto fez explodir duas das quatro carruagens e jogar ouro para todo lado, mais do que isso, fez com que Rasmus ficasse gravemente ferido, um dos guardas partiu de cavalo rapidamente para Jardim de Cima, mas organizar todo o esquema de receber os machucados e os mortos.
Carmine era sempre quem ficava a frente dessas coisas, tentou poupar Drasilla da notícia, mas a ausência da sogra foi sentida e uma das criadas mais linguarudas deixou escapar o ocorrido, como Rasmus poderia estar morto ou muito machucado. Aquilo bastou para criar um clima de pânico com a princesa, era como um dejavú de anos atrás, quando perdeu o bebê em uma gravidez que ainda estava no começo, mas dessa vez estava no fim, ainda a umas duas ou três semanas para ter o novo bebê em seus braços, era o plano, se não fosse aquele ocorrido.
A bolsa de Drasilla rompeu, foi a pequena Aemma que correu para avisar Alys e Fedora, sendo a segunda responsável por cuidar da criança. A princesa entrou em trabalho de parto após sentir uma forte dor no ventre, a possibilidade de perder seu amado marido era tão forte que fez o corpo querer expulsar o bebê só para não ter nada que a impedisse de ficar ao lado de Rasmus, ela se odiaria por isso por muito tempo depois. Alys foi quem segurou a mão dela, Drasilla desejou que fosse Rasmus mais do que ninguém, mas nem sabia se ele estava vivo ou não. Enquanto o Lorde da Campina lutava por sua vida, a sua esposa colocava no mundo outro bebê, seu segundo filho.
Era um garoto grande, que deu trabalho a mãe e a deixou exausta, ele tinha bochechas rosadas e diferente da irmã, tinha cabelos escuros, como os da mãe, como os da avó, um forte traço Baratheon em seu sangue. Eles haviam discutido muitos nomes, Drasilla queria que o bebê fosse chamado de Daemon caso nascesse menino e Rhaenyra se fosse menina, Rasmus preferia nomes da Campina, mas não discutiria com ela, no fim das contas o próprio Daemon Targaryen não quis seu nome em um Tyrell e todos concordaram que Lyonel, como o finado pai de Rasmus, seria um apropriado. Após tanto esforço, não foi surpresa que a princesa adormecesse, pouco após amamentar o filho pela primeira vez, se esquecendo por breve do marido.
Na manhã seguinte o seu corpo parecia ter sido esmagado por um dragão devido as dores fortes do parto, mas sua mente logo a alerta para o mais importante, Rasmus tinha sido gravemente ferido e mesmo que ela quisesse se preocupar com outras coisas, sua mente ficava em alerta sobre ele. Tentaram contê-la, mas ela era uma força da natureza, sua mente logo percebeu isso como um sinal de alerta, além dos olhares cabisbaixos, ela tinha acabado de dar a Campina o herdeiro que tanto queriam, seu próximo Lyonel, mas todos tinham os mesmos semblantes chorosos, algo que ela logo se tocou. Rasmus estava morto.
Mesmo na manhã após o nascimento do segundo filho de Drasilla e Ramus, Jardim de Cima estava envolto em uma atmosfera de silêncio pesado. A luz do sol filtrava-se pelas cortinas, iluminando de forma suave a câmara onde a princesa descansava. No entanto, o dia reservava uma notícia trágica que iria abalar toda a alegria que o nascimento trouxera. O rumor sombrio correu pelo castelo, atingindo os corredores como uma notícia inesperada e devastadora. Drasilla, ainda fraca pelos esforços do parto, sentiu um aperto no coração quando ouviu a notícia da morte de seu marido, o Lorde Rasmus Tyrell. Um calafrio percorreu sua espinha, e as lágrimas começaram a encher seus olhos violáceos.
As dores físicas da maternidade foram rapidamente eclipsadas por uma dor emocional indescritível. Drasilla, ainda envolta na camisola de maternidade, cambaleou em direção a Rasmus. Seu coração batia forte, e a angústia se apoderou dela enquanto as palavras se desdobravam diante dela, confirmando a perda irreparável. Ao entrar no quarto, um soluço sufocado escapou dos lábios da princesa ao ver o corpo inerte dele. Uma onda de desespero e culpa a envolveu, e ela se aproximou do marido, chamando-o com uma voz embargada. Seus dedos delicados tocaram o rosto pálido dele, como se esperasse que o calor da vida ainda estivesse presente.
── Querido acorde, por favor. ── Ela se debruçou sob seu corpo já um pouco gelado. ── Nosso filho, Rasmus, nosso Lyonel, ele precisa conhecer o pai. Acorda meu amor, por favor.
O choro de Drasilla ecoou pela sala, seguido por um grito longo, um lamento doloroso que revelava a magnitude da perda. Ela se abraçou ao corpo do falecido marido, como se pudesse protegê-lo do destino implacável que havia levado seu amado. Carmine, com os olhos marejados, aproximou-se e tentou consolá-la, segurando-a com gentileza.
A cena era comovente, uma princesa agora mergulhada no luto, enfrentando a crua realidade da morte de seu esposo enquanto a Lannister tentava consolá-la e tirá-la de lá na mesma medida. A dor física do parto tornou-se quase insignificante diante da ferida aberta em seu coração, uma ferida que a vida havia infligido de maneira brutal na manhã seguinte à celebração do nascimento.
── Drasilla, você precisa se recolher. ── Carmine se abaixou conversando baixo com ela. ── Deixe-me ajudá-la.
── NÃO! ── Ela praticamente gritou com a loira, afastando sua mão. ── Eu não vou deixá-lo, ele vai voltar.
── Ele está morto, querida. ── Carmine foi cruel e necessária. ── Precisa deixá-lo ir, como eu deixei meu Lyonel.
── Eu não quero, Carmine. ── Ela soluçava, seu rosto estava vermelho. ── Eu prometi que não iria deixá-lo.
── Seus filhos precisam de você. ── Carmine pegou o rosto da nora delicadamente. ── Aemma e Lyonel não tem mais o pai, eles precisam da mãe deles, se você eles não tem ninguém. Eu sei como dói perder o homem que amou, mas você é um dragão, proteja seus filhos.
O quarto estava repleto de uma tristeza tangível, como se as paredes também compartilhassem do pesar que envolvia a princesa, o olhar dela se perdia nos olhos de uma Carmine cansada. Drasilla, ainda abraçada ao corpo de Rasmus, mal conseguia acreditar na cruel reviravolta do destino. Ela murmurava palavras incompreensíveis, uma mistura de súplicas, lamentos e questionamentos dirigidos ao marido que já não podia responder. Então ela se levantou devagar, amparada pela Lannister.
Enquanto as servas preparavam o corpo de Rasmus para os rituais fúnebres, Drasilla permanecia ali, agarrada à esperança de que, de alguma forma, o marido pudesse voltar para ela. As lágrimas continuavam a rolar por sua face, misturando-se com a tristeza que emanava de sua alma ferida. À medida que o dia avançava, Jardim de Cima se transformava em um cenário de luto, a princesa teve que se afastar, para cuidar dos filhos e de si mesma, ela sequer sabia como contaria isso a Aemma. As notícias da morte de Rasmus espalharam-se pelo castelo, lançando uma sombra sobre cada recanto.
Naquele dia Alys se dedicou a escrever cartas a próprio punho para todos os Lordes de Westeros, para amigos da família, comunicando de ambos os ocorridos, o nascimento do pequeno Lyonel e também a morte de Rasmus, uma pontada de esperança envolta numa dor muito forte. Aos poucos, nos dias seguintes, Lordes foram chegando para o velório, Drasilla parecia um zumbi, grandes olheiras, olhos cabisbaixos e face pálida, havia uma magreza estranha, mesmo que ela tivesse dado a luz a tão pouco.
Entre todas as condolências e presenças possíveis, como era quando um Lorde de uma grande casa morria, haviam duas pessoas que se destacaram das demais, a primeira delas foi Daemon Targaryen, que veio urgentemente montado em Caraxes para amparar a irmã, sem Rhaenyra graças a saúde delicada de Viserys, mas não poderia deixar a irmã sofrer sozinha, ela o amparou com as crises sobre Laena, mesmo meses depois dele já estar casado com Nyra.
A outra pessoa que Drasilla reconheceu como conforto foi Cadmus Stark. Ele tinha cortado o cabelo, feito a barba e usava roupas mais apropriadas que a de um simples guarda, ele tinha ido representar Cregan e Sarah, a princesa não quis saber os motivos do nortenhos, só queria abraçar Cadmus e era uma vontade recíproca, mas Daemon trocou olhares com ele, o avisando da prudência e a acompanhou durante todo o momento do velório, como sua sombra e não muito longe dos dois estava Cadmus, como um protetor, não que precisassem, Daemon sabia como defendê-los.
Naquela manhã Daemon e Drasilla estavam no quarto da princesa, ele a amparava em mais uma de suas crises de choro, Daemon pediu para Cadmus que ficasse na porta e não os interrompesse, o Príncipe Rebelde confiava na lealdade do guarda desde que Cadmus tinha se mudado para Pedra do Dragão e ficado ao dispor dele e de Rhaenyra. Cadmus não servia como guarda para a família real a muito tempo, como realmente um protetor, ainda mais tendo Drasilla envolvida, seu juramento era eterno e ele não se esquecia disso.
Mas a tristeza de Drasilla não poderia ser motivo para atrasar coisas importantes na Campina, como a crise de sucessão após a morte de Rasmus. O antigo Lorde era jovem, ninguém imaginava que ele fosse morrer tão cedo, Léo era uma serpente que se segurava entre as pessoas, conversando com aliados, mas ele sabia que o Conselho de Rosas precisava se reunir e não aceitariam que Drasilla não estivesse presente, ele iria intimar a princesa, mas topou com o guarda parado a frente do quarto.
── Se afaste, preciso falar com a Drasilla. ── Leo falou de forma arrogante. ── É uma ordem.
── Princesa... ── Cadmus o corrigiu prontamente. ── Ou Vossa Alteza. É assim que você deve se dirigir a ela, o título não mudou com o casamento, uma vez que ela é princesa por nascimento e morrerá como uma.
── Você vai morrer como um qualquer se não sair da minha frente, agora. ── Leo retrucou, tentando avançar, mas Cadmus o empurrou para trás.
── Eu não recebo ordens de alguém como você, o Príncipe Daemon quem ordenou que eu não deixasse ninguém entrar. ── A face séria de Cadmus era imutável.
── Você sabe quem eu sou? Onde você está? ── Leo uniu as sobrancelhas e acenou para dois guardas. ── Vou te dar uma última chance de sair sem ter que usar a violência, como cordialidade a sua relação com a coroa e nossa amizade com o Norte. A princesa deve comparecer ao Conselho da Rosa, com urgência!
── O que está acontecendo aqui? ── Daemon rompeu a porta, colocando a cabeça pra fora e vendo a cena, Cadmus de um lado, Leo e dois guardas de outro. ── Mandei que minha irmã não fosse incomodada em seu luto, há algum problema nisso?
── Sir. Leo quer que ela compareça ao Conselho da Rosa. ── Cadmus informou ao Príncipe Rebelde. ── E acha que ele e dois guardas seriam páreos pra conseguir passar por mim, alteza.
Daemon riu e depois olhou sério para Leo, os guardas se afastaram em dois passos, mas o moreno permaneceu onde estava, mesmo quando Daemon se aproximou.
── A princesa é a Lady da Campina, como deu dois filhos legítimos ao meu irmão e nenhum deles tem idade para suceder Rasmus, ela deve comparecer ao Conselho da Rosa como uma das cabeças da reunião. ── Leo não perdia o ar de soberba e incômodo ao falar. ── É uma crise de sucessão.
── Sua mãe não pode representar a Drasilla? Ela já foi a Lady antes da minha irmã. ── Daemon não era muito paciente, mas sugeriu.
── Não, fale com Vossa Alteza, ela entenderá a urgência. ── Leo se afastou alguns passos. ── Antes que os vassalos se rebelem e nossa casa fique fragilizada.
Daemon e Cadmus se olharam, quando Leo saiu de seu campo de visão, o príncipe abriu a porta, a irmã chorava de novo, culposamente, não tinha a menor condição de comparecer ao Conselho da Rosa, não agora.
── Avise-os que ela não consegue sequer parar de chorar. ── Daemon ordenou a Cadmus enquanto segurava a porta.
── Claro alteza. ── O guarda balançou a cabeça positivamente andando pelo corredor.
── E Cadmus ... ── Daemon o olhou fazendo parar em silêncio. ── Qualquer um que ousar passar por essa porta, use isso.
O príncipe puxou uma espada de dentro do cômodo e entregou a Cadmus, os dois se olharam em silêncio, era a Coração de Valíria, a espada originalmente de Rhaenys Targaryen que os os Martell deram de presente de casamento a Drasilla. Cadmus olhou o príncipe incerto, Daemon sabia que a irmã não tinha a menor condição de empunhar a mesma, não agora, Cadmus cuidaria da arma e faria bom usa protegendo a princesa se necessário.
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