#𝟐𝟐 𝖠𝗍𝗋𝖺𝗏𝖾́𝗌 𝖽𝗈 𝗏𝖾́𝗎 𝖾𝗌𝖼𝗈𝗇𝖽𝗈 𝐦𝐢𝐧𝐡𝐚 𝐝𝐨𝐫

AVISO: Esse capítulo contém uma cena de violência feminina pesada relacionada a gestação, não leia se for sensível ao conteúdo.

Havia uma comoção em torno da princesa, eles havia esperado por um bom tempo para que Drasilla finalmente aparecesse grávida, alguns até cogitavam que ela ou Rasmus pudessem ter algum problema de fertilidade, mas outros nunca deixaram de acreditar, a história sobre o chá da lua morreu entre o casal, para o bem do futuro do casamento deles e seguiram tentando, até que algo como aquilo estava  finalmente acontecendo, a princesa parecia até mesmo radiante, no auge de seus três meses de gravidez.

Naquela ocasião Rasmus estava viajando para fechar negócios que agora levavam o seu nome, Leo tinha ido com ele, com isso Fedora e Alys eram companhias constantes da princesa, a mimando o máximo que podiam, ficando a sua volta durante todos os dias e a enchendo de suas comidas favoritas, Alys era quem reclamava que Drasilla não poderia só comer bolo o tempo todo, suas bochechas já estavam redondas, mas Carmine advertia a filha, não se deve contrariar uma grávida.

Tudo parecia as mil maravilhas, até que a notícia chegou antes mesmo do acontecido, os corvos diziam que Rasmus e Leo haviam sido atacados em uma das estradas do reino, quando já voltavam para casa, o caçula não tinha se machucado, mas o mais velho estava gravemente ferido. Apenas aquela sensação de poder perdê-lo ainda no caminho, longe de si, de não saber onde exatamente ele estava, para voar em Flarion até lá, causou em Drasilla um forte desconforto, a princesa não se aquietou durante os dois dias seguintes, que levariam para que a comitiva de Jardim de Cima chegasse finalmente em casa.

Mas aquilo, no entanto, não era o pior dos acontecimentos, o que viria a seguir era muito mais traumatizante, sem Rhaenyra por perto, sem Rasmus e correndo o risco de perdê-lo, Drasilla enfrentou só em seu quarto uma noite de dores e tormentos silenciosos, não queria chamar a atenção de ninguém. Não queria que os outros olhassem para ela, afundada na banheira que era metade água e metade sangue que expelia de si.

Seu corpo tremia na água antes quente, mas que agora estava fria, havia gritado com as criadas, para que a deixassem sozinha, devido a seu estado foi Carmine que tomou as rédeas de tudo, preparando-se par ao pior se possível, enquanto isso Drasilla tremia, segurando os gritos de dor enquanto seu corpo expelia o que mal chegou a ser seu filho, nesse momento ela gritou tão alto que sua garganta doeu, em puro choque e horror com o que o corpo e a dor haviam feito, sendo socorrida de dentro da banheira por Carmine, a Lannister era forte como uma leoa, colocou a nora na cama e a abraçou.

Carmine havia perdido dois filhos antes de ter Rasmus, um bem no início da gestação, ao cair do cavalo e outro quando estava no meio da gravidez, foi horrível, ela só abraçou Drasilla e a deixou sozinha, quando a princesa adormeceu, tremendo em seus braços, foi a lady que a limpou e ajudou a vestir algo, junto com a ajuda de uma criada, não deixou nem mesmo que Fedora ou Alys a vissem assim, só tinham ouvido os gritos.

Drasilla dormiu por muito tempo, tanto que nem mesmo percebeu que a comitiva chegou em Jardim de Cima, estava com tantas dores, sua cama estava suja de sangue, seu corpo ainda expelia seu filho, como um parasita que estava nela, o que a fez entrar em desespero novamente, seus gritos foram ouvidos por Alys e Fedora, paradas fora do quarto como guardas, Carmine não vinha, estava com os filhos, aos cuidados dos meistres, então Alys adentrou o quarto contrariando as palavras de Fedora, tomou Drasilla nos braços, que mesmo tentando empurrá-la, Alys só a segurou.

── Ei, eu tô aqui, tô aqui. ──  As orbes de Alys tremeram ao ver o sangue, Carmine tinha comentado sobre o bebê, mas ela não tinha visto nada com seus próprios olhos. ──  Me abraça, por favor, só me abraça.

──  Meu bebê ... ──  Drasilla repetia compulsivamente. ──  Eu matei meu bebê.

──  Não, você não matou. ──  Alys a acariciava na cabeça. ──  Vai ficar tudo bem, o Rasmus e o Leo chegaram também, respira.

──  Eles chegaram? ──  Drasilla tentou afastar Alys, mas ela resistiu um pouco. ──  Eu vou vê-lo.

──  Calma, se recomponha. ──  Alys segurou o rosto dela entre as mãos. ──  Está sentindo dor? Eu vou te ajudar a arrumar.

──  Eu não ...

──  Drasilla, me deixa te ajudar, nós somos como irmãs agora. ──  Alys tinha um pequeno sorriso no rosto. ──  Não vou deixar minha irmã parecer menos do que ela pode ser em um momento tão difícil, sente dor?

──  Um pouco. ──  Ela respondeu quase pálida.

──  Ok, vou pedir um chá a Fedora e volto para te ajudar a vestir algo. ──  Ela respondeu se afastando. ── Que cor quer usar?

──  Preto. ──  Drasilla tremia, como um galho ao vento. ──  A partir de hoje eu só uso preto. 

Havia um tremor no corpo dela sempre que era tocada por alguém, Drasilla se encolhia o tempo todo, parecia longe de ter o brilho que sempre tinha, de ser a pessoa que era a força do ambiente, o que a movia era só saber se Rasmus estava bem, a dor de ter quase o perdido deixava a princesa completamente atordoada, a ponto de que seu corpo rejeitasse o filho deles que carregava, seu corpo até doía, não pelo aborto, mas era uma dor sentimental.

Alys a amparou durante todo o trajeto enquanto caminhavam para os aposentos onde os meistres cuidavam de Rasmus e Léo, seus olhos encontraram primeiro os de Fedora, ela conversava com o marido, ele estava sério, parecia raivoso, até mesmo Léo deu um passo para o lado quando viu a cunhada, aninhada nos braços da irmã, Fedora se aproximou das duas, abraçando Drasilla sem falar nada, a princesa pensou em repelir a cunhada, havia uma ânsia em ver o marido, mas ela sabia o porquê do abraço, uma mãe confortando a outra.

Quando elas se separaram, a princesa viu Carmine próxima a uma cama, conversava baixo, sentada sob uma poltrona de tecido verde escuro, parecia consolar alguém por algo, pelos cabelos claros ela sabia que era seu marido. A morena se aproximou devagar, tinha medo sobre como ele estava, Léo estava com vários curativos e estava bem melhor, pelo que diziam. Quando ela estava perto o suficiente Carmine acenou a Drasilla, para que ela se aproximasse, a princesa deu a volta para o outro lado da cama, sentou-se no chão, quase na altura dele, segurando sua mão, ignorando as dores do corpo, em um semblante triste.

── Oi querido. ── Ela falou baixo, ele virou o rosto, machucado, na direção dela. ── Tive tanto medo de perder você.

── Uma vez eu prometi que você e eu envelheceríamos juntos. ── Ele falava baixo, com a voz embargada.  ── E teríamos muitos filhos, eu cumpro minhas promessas, princesa.

Drasilla olhou na direção de Carmine, segurava forte a mão de Rasmus, segurando também o choro, a Lannister pressionou os lábios, confirmando positivamente, as lágrimas saíram pelos olhos de Drasilla, seu lábio inferior tremia, lembrando da cena que passou, sentiu Rasmus alisando sua mão com o polegar dele, tão leve, mas ainda sincero e confortando-a.

── Ela me contou, não ... Brigue com ela. ── Ele falou baixo e rouco. ── Ela não queria que você tivesse o peso de me contar.

── A dor do corpo pode ser curada, a dor de perder um filho não nos abandona. ── Carmine falou olhando a nora. ── Ele entenderia pelo que você está passando.

── Tentaremos novamente quando você se sentir confortável pra isso. ── Ele falou tentando apertar a mão da esposa, mas a dor no corpo impedia.

── Eu matei nosso filho. ── As lágrimas escorriam no rosto dela, já vermelho. ── Eu queria tanto te dar o filho que você deseja.

── O filho é nosso, nós o perdemos, a culpa não é sua, meu lírio. ── Ele falava devagar, quase sem ar. ── Quando eu estiver bem, vamos fazer uma cerimônia simbólica para nos despedir dele, ok?

── Ok. ── Ela falou baixo de levantando e beijando o rosto dele. ── Agora durma, você precisa descansar.

── Agora que estou te vendo, não quero mais te perder de vista. ── Ele temia tanto não ver mais aqueles olhos, aquele rosto que amava.

── Ainda estarei aqui quando acordar. ── Ela sorriu acariciando o rosto dele com a outra mão, sem soltar a que ele segurava. ── Não vou sair do seu lado hora nenhuma, meu amor.

 𝙰𝙽𝙾 𝟏𝟐𝟎  𝙳𝙴𝙿𝙾𝙸𝚂   𝙳𝙰   𝙲𝙾𝙽𝚀𝚄𝙸𝚂𝚃𝙰  ]

Apesar da recuperação de Rasmus, os dois anos seguintes não se tornam muito mais felizes para o casal, não houveram outros acidentes, porém, a princesa Drasilla não conseguia levar a gravidez para frente, o trauma de ter perdido o primogênito e os eventos que se suscederam em torno dele deixam o psicológico de Drasilla fragilizado, isso fez com que ela perdesse outros dois bebês em ocasiões diferentes e toda vez que isso acontecia era um longo período de tormento em que ela se isolava, chorava boa parte do tempo e ficava uma pessoa irreconhecível, a única coisa que colocou uma luz em Drasilla foi a gravidez do terceiro filho de Rhaenyra.

Quando a herdeira do trono já estava em um estágio mais avançado da gestação foi Drasilla que voou até lá, enquanto o marido estava em uma viagem, para estar ao lado de Rhaenyra assim que ela fosse dar a luz, era a morena que segurava a mão da loira enquanto Laenor ficava com os filhos mais velhos deles, Luke e Jace. Drasilla tinha aprendido muito com Alys sobre partos enquanto esteve na Campina e não saiu do lado da sobrinha hora nenhuma, ninando o pequeno Joffrey, o clima de felicidade e paz só foi quebrado quando um guarda avisou que a Rainha Alicent queria ver o novo bebê.

── Ela o que? ── Drasilla uniu as sobrancelhas. ── Rhaenyra acabou de parir, ela pode esperar para ver o Joffrey.

── Ela só quer ver o bebê, alteza. ── O guarda respondeu de pronto. ── A princesa Rhaenyra pode descansar.

── Não vou deixar meu filho. ── Rhaenyra respondeu gemendo. ── Limpem-no, eu vou até lá.

── Nyra, não. ── Drasilla olhou pra ela e depois para Laenor, em pé próximo. ── Nós o levaremos até lá por você, eu e o Laenor. Não vamos deixar ninguém fazer mal ao bebê.

── Não. ── Rhaenyra se levantou devagar. ── Eu confio em vocês, mas não, eu tenho que fazer isso.

Drasilla viu a mensagem nos olhos de Rhaenyra, a mesma mensagem de raiva de ódio, recebeu Joffrey dos braços de uma ama e depois passou-o para os braços da mãe, ele era tão pequeno e frágil, os olhos de Drasilla marejaram por um tempo e depois ela prendeu a respiração por pouco, tentando não chorar, enquanto caminhava atrás de Laenor e Rhaenyra, com o bebê nos braços, inevitavelmente ela via o rastro de sangue deixado pela princesa de cabelos platinados, se pudesse faria tudo para tirar a dor de Rhaenyra, mas tinha que respeitar o desejo dela.

Ao entrarem na sala onde a rainha estava, Rhaenyra entregou Joffrey a Laenor e logo em seguida se sentou, ainda com dores por causa do parto, Drasilla foi logo ao encalço dela, se abaixando perto da sobrinha, o barulho oco da ponta da Coração de Valíria, presa a cintura da princesa, batendo no chão, chamou a atenção da loira, que segurou a mão de Drasilla com força quando uma dor subiu-lhe pelo ventre e viu Alicent se aproximar de Joffrey no colo de Laenor.

── Continue tentando Sir. Laenor. ── Ela sussurrou, mas Drasilla e Rhaenyra ouviram. ── O próximo vira com sua aparência.

── O que você disse? ── Drasilla não pensou duas vezes em erguer-se em rompante e passar por trás de Rhaenyra e Laenor, se colocando ao lado do Velaryon. ── Acho que não a ouvi elogiar meu sobrinho.

── Me deixem pegar o bebê. ── A voz de Viserys quebrou a tensão, já proximo de Laenor e tomando o pequeno Joffrey nos braços. ── Oh, como ele é lindo, tem as suas bochechas, mas certamente tem o nariz do pai.

Todos se olharam aos dizeres do rei, risos amarelos de quem queria dizer algo mas não podia, no fim aquela situação incômoda chegou ao fim. Drasilla queria poder ficar por mais tempo, mas se ausenhtar da Campina por tempo demais não era prudente, mesmo que de fato aquele lugar só a lembrasse do que perdeu, como uma dor latente que permancesse, de uma forma que ela não podia controlar e doía.

Nas semanas seguintes Drasilla recebeu mais de uma carta de Rhaenyra, em que a princesa falava de uma briga entre Sir Harwin Strong e Sir. Criston Cole, os rumores sobre a paternidade dos filhos da princesa platinada serem de seu guarda juramentado e não de seu marido Laenor acendiam mais problemas do que a pura bastardia dos três garotos, mas também sobre a sexualidade de Laenor, na ocasião Rhaenyra dizia a Drasilla que temia que isso virasse um conflito político e que Harwin voltaria com seu pai para Harrenhall.

Semanas depois as coisas pareciam finalmente se alinhar na Campina, Jardim de Cima estava em festa, era o 26º dia de seu nome para o Lorde Rasmus, Drasilla pessoalmente era quem organizava as coisas na Campina, querendo garantir que tudo estivesse mais do que perfeito, do jeito que o marido gostava, mesmo que ele estivesse na Campina, estava tão atarefado com as comemorações, dessa vez na companhia de Alys e Carmine, ele queria sua Drasilla lá, mas entendia a ausência dela.

── Você conferiu todos os pratos? ── Ela perguntou a sua assistente na ocasião. ── Eu listei todos que meu marido gosta, quero que ele fique indecido do que comer primeiro.

── Sim, alteza. ── A mulhr respondeu, seguindo a princesa. ── Todos que ordenou.

── Certo. ── Ela concordou revisando os lugares a mesa, organizar esse tipo de coisa normalmente era trabalho de Carmine, não naquele dia. ── Obrigado, Vidia.

Enquanto ela analisava os lugares e revisava tudo um guarda cortou o salão, estava eufórico, ele trazia consigo uma carta com selo real, era algo extremamente importante, estava assinado com a caligrafia da princesa Rhaenyra, o que por si só a deixou um pouco apreensiva, Drasilla não queria ou poderia abrir aquilo em público, então se recolheu em seus aposentos, sentou-se na cama, nervosa ficou alguns minutos apenas divagando e olhando a carta, até que teve coragem de abrir e ler letra por letra, junto as manchas de lágrimas no papel grosso, a loira escrevia aquilo chorando. Era curto, mas significativa: Harwin Strong estava morto.

O quarto de Drasilla estava envolto em uma atmosfera sombria e pesada. A notícia da morte de Harwin Strong, seu amigo de longa data, havia chegado a ela por meio de sua sobrinha, Rhaenyra. A mensagem chegou como um soco no estômago, um golpe que ela nunca poderia ter previsto. Drasilla encontrava-se totalmente desarmada diante da tragédia que se abateu sobre ela, pensava na loira, a todo momento, claro, mas era estranho saber que Harwin não estava mais lá, logo ele.

Seus aposentos, que normalmente eram preenchidos por uma aura de calma e momentos felizes ao lado de Rasmus, agora eram permeados por uma tristeza densa e sufocante. Drasilla sentia que estava sozinha, sentada em uma poltrona de veludo verde escuro, enquanto uma fina cortina de chuva caía lá fora, como uma chuva de verão, espelhando sua própria tempestade interior. Ela segurava a carta de Rhaenyra, as palavras que anunciavam a partida de Harwin Strong ecoavam em sua mente como uma sentença.

As lágrimas que ela havia contido durante a leitura da carta passaram a escorrer com mais força, traiçoeiras, por suas belas maçãs do rosto. Ela sentia um nó na garganta, uma dor aguda que parecia dilacerar seu coração.  A tristeza era avassaladora, e Drasilla sentiu-se impotente diante da brutalidade da vida.

A negação que a envolvia era uma forma de autopreservação, uma tentativa de manter a dor à distância. Ela repetia para si mesma que não podia ser verdade, que Harwin ainda estava por aí, em algum lugar, pronto para fazer alguma piada sobre mais um retorno seu. Mas a realidade era inegável. Drasilla sabia que precisava de apoio, que não podia enfrentar a perda de Harwin sozinha. Era por isso que ela estava determinada a voar até Rhaenyra, sua sobrinha e confidente, que compartilhava da mesma dor. A dor que a consumia poderia encontrar algum alívio na companhia de alguém que entendia o vazio que Harwin deixara em seus corações.

Ela não queria acreditar que Harwin, o homem que compartilhara tantos momentos de risos, aventuras e segredos, treinos de espada e que ele insistia em deixá-la ganhar, havia partido. Uma sensação de vazio e incredulidade a consumia. Ela se recusava a aceitar a realidade, esperando que, de alguma forma, fosse apenas um terrível engano ou um pesadelo passageiro.

Enquanto a notícia ecoava em sua mente, a tristeza, o segundo estágio do luto, começava a se insinuar em seu coração. As lágrimas que ela havia segurado até aquele momento começaram a escorrer por seu rosto. O pesar era avassalador, e ela sentia uma dor profunda que parecia intransponível.  Em um ato impulsivo e desesperado, Drasilla decidiu que precisava ir até Rhaenyra, a sobrinha que compartilhava de sua dor. Sem pensar duas vezes, ela se dirigiu ao pátio do palácio, onde seu fiel dragão, Flarion, descansava sob suas patas. Ela sabia que, em momentos como esse, o voo proporcionaria uma sensação de liberdade e alívio. Mas antes de ganhar o céu ela ouviu passos e uma voz lhe chamando.

── Querida? ── Rasmus chamou de novo. ── O que houve? Onde você vai?

── Vou a King's Landing, ver a Rhaenyra. ── Ela estava de costas pra ele. ── Volto pela manhã.

── É urgente? Algo aconteceu com ela? ── Rasmus estava preocupado, sabia como ela tinha se dedicado a seu aniversário. ── Posso ir com você se o Flarion estiver bem com isso.

── O Harwin está morto. ── Ela se virou mostrando os olhos vermelhos. ── Ela precisa de mim.

── Drasilla respire, você não pode voar assim. ── Ele se aproximou e ela se afastou. ── Você está cada vez mais doente, mais magra e distante, quando achei que estivesse melhorando nas últimas semanas ...

── Não. ── Ela ralhou. ── Não fale, só me deixe ir até lá.

── Fique, por favor. ── Ele pediu chegando até ela, quase próximo demais, se Flarion não tivesse bufado. ── Estou preocupado com você, em deixe te ajudar, podemos ir juntos.

── Não é justo. ── Os olhos dela marejaram de novo. ── Não o Harwin, ele não...

── Eu sei, está doendo em mim também. ── Rasmus trouxe ela aos seus braços, ela o apertou. ── Pode chorar comigo se quiser.

── Porque ele? ── Ela repetia várias vezes. ── Porque os deuses levaram o Harwin?

── Não sei, mas vamos entrar e nos acalmar. ── Ele se separou dela, segurando seu rosto entre as mãos. ── De manhã viajaremos até a Rhaenyra, ok?

── Ok. ── Ela respondeu em um sussurro. ── Não fale a ninguém, não quero estragar o jantar.

── Tudo bem, vamos. ── Ele segurou a mão dela, a levando consigo.

O jantar foi mais silencioso por parte da princesa do que normalmente seria, Drasilla vestia preto, diferente do que Carmine insistiu para que ela usasse, algo nada compatível com aquela comemoração, mas a princesa estava de luto. Aquela noite foi difícil para dormir, Rasmus sabia a relação de amizade de longa data da princesa com Harwin Strong, ele mesmo era amigo do guarda também, ela dormiu chorando nos braços dele depois de um longo tempo, mas na manhã seguinte, junto aos raios do sol, ela já estava de pé, vestindo suas roupas para montar em Flarion. A priori a princesa se surpreendeu, Flarion não era o único dragão no descampado onde ficava, perto de uma gruta, Sigmis também estava lá, urrou ao ver a princesa, abaixando a cabeça, como se soubesse que Drasilla estava mal.

Ela queria aproveitar o momento, acariciar o dragão, mas montou em Flarion rapidamente, ganhando os céus, sentido o vento cortando o rosto, o voo que normalmente era gostoso e harmônico, agora parecia mais cansativo e curto, quando ela chegou a uma King's Landing que parecia silenicosa. Quando pousou no pátio havia uma silêncio e uma calma, demorou até que um guarda aparecesse onde normalmente Harwin estava quando ela vinha, Drasilla só segurou as lágrimas enquanto saltava de Flarion e caminhava até onde Rhaenyra sempre estava, no quarto com o pequeno Joffrey.

── Você veio! ── Rhaenyra estava séria, parecia mais pálida que o normal. ── Chorou a noite toda, posso ver em sua cara.

── Como não? ── O queixo da morena tremia. ── Ele era um amigo muito bem quisto. Porque você não está chorando também?

── Bom ... ── Rhaenyra abraçou Drasilla num momento de conforto que durou alguns minutos. ── Tem problemas piores, como a legitimidade dos meus filhos.

── O que? ── Drasilla se separou na hora da loira. ── O rei reconhece seus filhos, o pai deles os reconhece.

── Mas isso parece não bastar. ── Rhaenyra se afastou sentando em uma poltrona. 

── Onde tá o Laenor? ── Drasilla perguntou unindo as sobrancelhas. ── Onde está o pai dessas crianças?

── Na cidade, caído em algum beco ou em algum bordel, vai saber. ── Rhaenyra tinha uma expressão cansada

── Eu vou resolver isso agora! ── Drasilla dá as costas para Rhaenyra, mas a loira a segura.

── Isso não é prudente para uma lady, uma princesa. ── A outra a lembra. ── Você é a Senhora da Campina agora, imagina o que dirão se te virem em um lugar desse.

── Eu sei me cuidar e eu vou encontrar o Laenor. ── Ela repousou a mão sob a de Rhaenyra. ── Esse momento vocês deveriam estar juntos e ele está bebendo como um qualquer.

── Sir. Cadmus não está aqui para te acompanhar. ── Nyra lembrou soltando a tia, Drasilla estremeceu.

── Eu sei me cuidar sem ele. ── Ela se afastou quase saindo pela porta. ── Eu já volto.

Ela conhecia os caminhos pelos quais deveria passar para não ser vista, Drasilla era escorregadia quando se tratava de estar em Kings Landing, aquela foi sua casa por anos, parte de si ainda residia ali, vigiando a sua maneira, mesmo que seu eu de vários anos atrás quisesse a char de burra ao considerar a Fortaleza Vermelha sua morada, era complicado, ela tinha envelhecido, tinha se tornado uma pessoa mais madura e experiente, era diferente.

Era meio da tarde quando ela desceu para procurar por Laenor, uma viagem de várias horas, como se Flarion soubesse que ela precisava do ar, um tempo com Rhaenyra e parte procurando por Laenor, o sol caía mais cedo na capital, logo ela não deveria estar na rua. Na sua cintura a Coração de Valíria era escondida pela capa, a qual a princesa se aninhava, Drasilla só precisava de ouro e bater na porta certa, nas ruas nunca acharia Laenor, apesar de não ser experiente em bordéis, ela sabia de algumas entradas, pagava quem estava na porta e passava, as coisas eram realmente problemáticas dentro dos locais, muito pior que fora deles.

Havia entrado em uma casa, era um estabelicimento fechado, eles poderiam só negar dar espaço a uma dama, mas ela estava limpa, tinha cabelos sedosos, quem estava na porta sabia, ela era uma nobre e ali, nobres eram a elite, nas sombras só importava seu dinheiro. Por um tempo ela permaneceu com o capuz sob a cabeça, depois o deixou cair sob os ombros, desceu as escadas, ouvia gritos ou gemidos, havia uma pequena arena lá embaixo, no andar superior as pessoas observavam e jogavam moedas, todo tipo de ser estava lá, passando pela lateral havia o bar, ela estava próxima dele quando alguém a agarrou por trás, Drasilla deu uma cotovelada no homem e retirou a espada apontando pra ele.

── Bem que a minha irmã falou que você é uma vadia arisca. ── Os olhos estavam neles e do chão, limpando o nariz sangrando, o ruivo se levantava afastando alguns homens com o acenar de mão. ── Te vi passar e fiquei hm ... Incrédulo que fosse você, tive que vir conferir.

── É revigorante saber que dei na cara de dois Hightowers, agora. ── Ela riu guardando a espada. ── Avise seu pai que ele será o próximo, Gwayne.

── Ui! ── Ele ergueu as mãos. ── Mas já que você está aqui, não quer tomar uma bebidinha?

── Não, mas agradeço, tenho que ir. ── Ela forçou um riso caminhando na direção oposta.

── Calma aí, princesa. ── Ele agarrou o braço de Drasilla, a impedindo de continuar. ── Você me deve um beijo agora, pra que eu não espalhe por aí que te vi aqui.

Drasilla não tinha duas coisas, a primeira era paciência para lidar com Gwayne Hightower e a outra era tempo, ela abaixou a cabeça por breve, puxando o braço, não querendo transformar aquilo em um circo, então ele a apertou, chegando mais perto com aquele bafo de álcool e sujeira por ter caído no chão a pouco, ela não hesitou em deferir um bom soco de direita, como Daemon havia lhe ensinado na infância, contra o olho do ruivo, o derrubando no chão de novo, meio tonto, mais do que já estava.

── Se você tocar em mim outra vez, nessa sua vidinha de merda, eu arranco sua mão fora. ── Ela vocifera dando as costas a ele.

A princesa se apressou para sair por uma porta no beco lateral, não havia tudo sorte em achar Laenor ali e logo escureceria, tentou em mais um, dois, no terceiro bordel, entre homens cantando músicas e mal se aguentando de bêbado encontrou Laenor, rindo como se as coisas em sua vida fossem maravilhosas. Ela parou na frente dele, o escarando, esperando que o Velaryon percebesse que era ela ao abaixar o capuz, mas foi um dos homens com ele que a olhou.

── Docinho, não terá nada de nós. ── O deles reclamou balançando a garrafa em mãos.

── Eu sou casado. ── O outro do outro lado de Laenor mostrou a aliança. ── Ele também.

── É eu sei. ── Ela só olhava para o homem que procurava. ── Levante-se ou se arraste, mas venha comigo, Laenor.

── Estou bem aqui. ── Ele bebeu mais da garrafa. ── Não vou voltar pra Fortaleza Vermelha.

── Eu não estou pedindo. ── Ela afastou a capa, mostrando a espada. ── Se afastem do marido da princesa ou eu vou cortar vocês dois rapidinho, vamos.

Havia um sorriso psicótico no rosto dela, do tipo que assustava, Laenor se inclinou pra frente, no sofá que ocupava agora sozinho, se apoiando nos próprios joelhos, resmungando algo em Alto Valiriano, como ambos bem sabiam, Drasilla entendia, ela também era fluente no idioma da Antiga Valíria, se abaixou perto dele, tocando rosto do Velaryon a mão e o fazendo a encarar.

── Você está patético. ── Ela falou baixo. ── Se enfurnando nesse poço enquanto a sua esposa que pariu a semanas está em casa precisando do seu apoio, pelos deuses! Que casamento é esse de vocês?

── Talvez agora ela sinta a dor que eu senti. ── Ele empurrou a mão da princesa e a encarou com escárnio. ── De perder o amor da sua vida.

── Se você está buscando um pouco de piedade da minha parte, não vai encontrar. ── Drasilla disparou se levantando. ── Eu me preocupo com a Rhaenyra, porque ela faz por merecer, ela entende a responsabilidades dela.

── Ela vive num mundo de amarras. ── Ele respondeu cuspindo no pé de Drasilla. ── Nós três vivemos, você sabe disso, temos consequências por nossas escolhas, ela escolheu ele, sabia o que podia acontecer.

── Você pode sofrer em casa, onde ninguém precisa ver quão fraco você é, Laenor. Pra pessoas como nós, nobres, o sofrimento é feito em silêncio. ── Drasilla ajeitou seu capuz no rosto. ── E isso tudo não seria preciso se você honrasse com seus compromissos.

── Você sabe que eu ...

── Não me importa, a culpa também é sua que os meninos estejam sendo chamados de bastardos, de vocês dois e normalmente eu dou a carta branca e o apoio incondicional, mas você não está facilitando, então vou te dar duas opções. ── Ela se afastou, dando espaço a ele. ── Você vem comigo por bem ... ou por mal.

── Eu sou maior que você. ── Ele respondeu rindo e se levantando devagar.

── É, mas só um de nós foi treinado pelo Daemon, então sugiro que comece a andar. ── Ela respondeu dando mais um passo atrás. ── Vamos, quero voltar pra Campina ainda hoje.

Os dois seguem pelos becos, em momento nenhum Drasilla toca no Velaryon, era fresca na sua cabeça a memória de buscar Daemon em um lugar sobre esse, a memória e lembrança de Cadmus é quase nítida na sua cabeça, ela afasta com um balançar, não via o guarda pessoalmente a alguns anos, mas se correspondiam sempre, sobre Dragonstone, sobre o Norte, mesmo que as cartas de Sarah e as notícias sobre Cadmus viessem mais da primogênita do Lorde de Winterfell que de seu primo.

Ao chegarem nos portões eles encontraram Sir. Harold, o chefe da guarda real, quando Laenor começou a vomitar no pátio, Drasilla só inclinou a cabeça com um olhar compassivo, pedindo ao homem que cuidasse disso por ela, tinha que se despedir de Rhaenyra. Estava cansada, queria dormir ali, mas prometeu a Rasmus que seria breve, a Campina e seu tom pálido dos últimos tempos, ainda tinha um gosto agridoce na boca de voltar pra lá, precisava escrever pra Daemon em Driftmark.

── TIA DRASILLAAAAA. ── Um Lucerys de três anos cortou o quarto da mãe correndo rumo a tia assim que ela apareceu na porta. ── Eu vi o Flalion... Flarion lá fora, sabia que você veio me ver.

── Claro, vim te ver, o que mais eu faria aqui? ── Ela riu de como ele falou rápido e errou o nome do dragão, o pegando no colo em seguida. ── Vim te buscar pra ir embora comigo.

── Não tia. ── Jacaerys, de cinco anos, saiu correndo em seguida, abraçando as pernas de Darsilla. ── Leva o Joffrey, mas deixa o Luke.

── Levar o Joffrey? ── Nyra olhou o primogênito.

── É, ele é pequeno. ── Jace se justificou com os olhos já marejados. ── Eu gosto mais do Luke.

── Oh meu bem, a titia não vai levar niguém. ── Drasilla riu dele. ── É só brincadeira.

── Tia, quando vai me levar pra voar no Flarion? ── Luke ansioso segurou o rosto de Drasilla com as duas mãos. ── A mamãe deixou.

── Deixou é? ── Drasilla tentava olhar pra Rhaenyra, mas as mãozinhas de Luke não deixavam. ── Você já voou na Syrax com ela?

── Não cabem duas celas nela. ── Lucerys justificou colocando as mãozinhas no rosto. ── Mamãe disse também pra não pedir nada pro Daemon.

── Eu não iria querer voar no Caraxes mesmo, ele come criancinhas. ── Drasilla riu beijando o pescoço de Luke e fazendo cócegas, antes de colocá-lo no chão. ── O passeiro ficará pra deixou meninos, eu preciso voltar pra casa.

── Mamãe disse que essa também é sua casa. ── Foi Jace que soltou essa, fez Drasilla olhar ele depois rir para Rhaenyra.

── É ela tem razão, mas eu preciso ir, ou o Rasmus fica triste e chora sem mim. ── Ela falou se abaixando e abraçando os dois. ── Chora mais que o Joffrey.

── Duvido, ele chora demais. ── Luke reclamou e todos riram.

Drasilla queria mesmo ficar, sabia que Jace estava certo, aquele castelo também era sua casa, aquelas pessoas eram sua família, mas Jardim de Cima também era, então se despediu beijando os sobrinhos e abraçando Rhaenyra, não poderia protelar, já tinha quase escurecido, seria um longo voo até em casa. A outra casa.

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