O retorno de Drasilla para a Campina foi complicado, ela demorou mais do que demoraria, voando de volta para sua casa, que não sentia que fosse sua depois daquela briga, a princesa passou horas conversando com Rhaenyra, sendo aconselhada, ouvindo a loira, que apesar de ser só um ano mais velha, parecia muito mais sábia em alguns momentos, elas tinham uma inegável conexão. No fim da longa conversa a herdeira disse a tia que queria passar alguns meses em Pedra do Dragão com os filhos, já que aquele lugar era onde ela já deveria morar, de fato, como um experimento e que Drasilla podia se preocupar apenas com a Campina por um tempo.

Demorou alguns dias para que Rasmus voltasse da sua viagem, havia um clima estranho, até mesmo entre Drasilla e os demais Tyrell, em preferia ficar na companhia de Alys, a sua cunhada, e Carmine, sua sogra, do que estar de fato em meio a outros estranhos. Quando Rasmus finalmente chegou ainda foram mais dois ou três dias de um silêncio estranho, que parecia consumir os dois e depois daquele jantar silencioso em que pouco se falou e pareceu só deixar o clima mais chato, os dois se recolheram no quarto, com o lorde da Campina finalmente decidindo a voltar a dormir com a esposa.

── Resolveu que sou digna de sua presença novamente, marido? ── Ela falou enquanto ajeitava suas roupas para dormir. 

── É o meu quarto também. ── Ele deitou ao lado dela, olhando o teto.

Um silêncio longo se formou, os dois estavam cansados de toda a tensão que aquilo tinha criado, Drasilla sentia seus olhos ardendo, como se isso não fosse o suficiente para fazê-la querer dormir. Ele a olhou de canto, esperando que ela se virasse para o outro lado e o ignorasse, indo dormir, mas ela encarava o teto, inquieta e depois olhou pra ele, que desviou o olhar.

── Que foi? ── Ela perguntou o encarando. ── Pensando se é agora que me mata com a faca que escondeu embaixo do travesseiro?

── Eu o que? Não! ── As sobrancelhas dele se uniram. ── De onde tirou essa ideia doida?

── Sei lá, está me encarando como se estivesse hesitando falar algo. ── O ar saiu pesado das narinas dela. ── Ou fazer.

── Eu estou te olhando porque eu sinto sua falta. ── Ele falou, finalmente se virando. ── Da minha esposa, da mulher que eu amo e jurei sempre amar a frente de homens e deuses, só isso.

── Er ... ── Ela falou, se virando devagar. ── Talvez eu também sinta sua falta, só talvez. 

Os dois ficaram em um longo silêncio, se olhando, levemente se aproximando um do outro, até que suas testas tenham se tocado de uma forma simbólica, então o silêncio permaneceu por mais alguns segundos, até que Rasmus se afastasse um pouco, o suficiente para olhá-la  nos olhos, não o suficiente para deixar de sentir o calor da respiração dela batendo contra o seu rosto.

── Me desculpe como eu reagi com você. ── Ele tocou o cabelo perto do rosto dela. ── Eu quero que sejamos uma família, quero te passar a segurança de que isso é o certo e não o medo de compartilhar isso comigo.

── Eu não deveria ter escondido isso de você. ── Ela respirava baixinho. ── Não devia ter feito, na verdade.

── Tudo bem, meu lírio. Já passou. ── Ele beijou a testa dela. ── Acho que está na hora de voltarmos a dormir juntos.

── É, eu acho que sim. ── Ela riu.

Todas as noites Drasilla agradecia o fato de que Rasmus tinha entrado na sua vida, que tinha amor por ela, cuidado, que não era um marido cruel, se os deuses tinham seus preferidos, com toda certeza ela era um deles. Depois daquilo ambos viveram um período de paz, longo o suficiente para que os empregados falassem que finalmente a tranquilidade do casal tinha retornado, para fazer Carmine dormir mais tranquila e a maioria dos Tyrell também, eles deveriam exercitar a paciência.

Drasilla tinha viajado com Rasmus para Derivamarca na ocasião, o aniversário de Lord Corlys Velaryon foi a ocasião e o casal foi representando a Campina, visto que novamente Lyonel estava de cama, nessa oportunidade, após um almoço onde todos riram e comemoravam que o Serpente Marinha estava comemorando mais um dia de seu nome, que Drasilla achou que era a hora de contar a Rasmus sobre Sigmis, havia escondido isso dele a tempo demais, naquele momento, subindo a colina perto do litoral, ele só pensava onde ela queria levá-lo.

── Isso não é onde os dragões costumam ficar? ── Ele estava receoso. ── O Flarion nos seguiu e você não quer admitir?

── Não, ele ficou na Campina. ── Ele riu esticando a mão pra ele, para andarem juntos, lado a lado. ── Não é sobre ele, mas sobre um dragão.

── Você vai me servir de comida pra um dragão, é isso? ── Ele brincou e ela riu. ── Não tem graça, saiba que eu fico péssimo flambado.

── Você seria uma ótima refeição, bom tamanho, físico sem muita gordura, jovem. ── Ela analisou ele dando uns passos a frente e o olhando de cima a baixo. ── Me deu uma ideia.

── Drasilla não tem graça. ── Ele apressou o passo atrás dela, quando a esposa saiu do campo de visão. ── Não fica longe demais.

Drasilla e Rasmus subiram até o topo da colina, e a vista que se desdobrava diante deles era espetacular. Lá embaixo, na costa de Derivamarca, vários dragões estavam reunidos, exibindo sua majestade e poder sob o sol brilhante. Era uma visão impressionante, e Rasmus não conseguia desviar os olhos. Ele estava um pouco assustado, afinal, nunca estivera tão próximo de mais de um dragão ao mesmo tempo. No entanto, a mão de Drasilla segurando a sua trouxe-lhe uma sensação de segurança e conforto. Ele olhou para ela e encontrou um sorriso caloroso em seu rosto, um sorriso que dizia "estamos juntos nisso."

Drasilla estava radiante ao ver seu marido tão maravilhado com os dragões. Ela sabia que essa era uma experiência única para ele, e ela estava determinada a compartilhá-la da melhor forma possível. Ela apontou para cada um dos dragões e sussurrou seus nomes a Rasmus, descrevendo suas histórias e características.

── Ali está Meleyes, a fiel companheira da Princesa Rhaenys, ela pertenceu a princesa Alyssa antes, a mãe do Daemon e do Viserys. E aquela é Vhagar, a imponente montaria da Lady Laena, ela pertenceu a Visenya, a conquistadora. ──  Ela explicou, apontando para os dragões mais antigos e grandiosos.

Rasmus observou Seasmoke, o pequeno azulado de Sir Laenor, e ficou impressionado com a agilidade e graça do dragão, perto dos outros ele parecia mínúsculo. Drasilla também apontou para um belo dragão negro, cujo proprietário permanecia desconhecido para Rasmus naquele momento. A brisa marinha trazia consigo o cheiro salgado do oceano e o som do bater de asas dos dragões ecoava no ar. A cena era de tirar o fôlego, e Rasmus se sentiu grato por ter a oportunidade de testemunhar tanta beleza e grandiosidade.

── Quem é aquele? ── O homem apontou para Sigmis. ── Quem o monta?

── A monta, é uma fêmea. Seu nome é Sigmis. ── Ela soltou a mão dele, um pouco aflita. ── Na verdade não a monta, ela não deixa, apesar de seguir a mim e ao Flarion.

── É seu o dragão? ── Ele parecia meio absmado. ── Tipo pode ter isso, dois?

── Não sei e bom, ela não é minha, dragões não são propriedades. ── Os olhos de Drasilla mal saíam de Sigmis. ── Não sei o que ela quer de mim, mas ainda vou descobrir.

── Você vai ensinar aos nossos filhos a montar? Como a princesa Rhaenys? ── Rasmus tomou as mãos dela. ── Como ela ensinou aos gêmeos.

── Não sei, ela ensinou pois eles são valirianos de pai e mãe e ... ── Ela olhou pra ele, meio calada. ── Desculpe, eu não pensei muito nisso, de verdade.

── Todo bem, teremos tempo. ── Ele puxou a mão dela. ── Vamos voltar pro castelo.

── Claro. ── Ela concordou e eles foram juntos.

Eles aproveitaram as comemorações do aniversário de Corlys pelo tempo em que estiveram ali, mas com o tempo - assim como todos - tiveram que voltar para a Campina e as notícias sobre a saúde de Lorde Lyonel Tyrell não eram das melhores, na verdade eram péssimas, ele passava mais tempo sem forças na cama do que fora dela, quase sempre estava na companha de sua filha Alys e sua esposa e fiel mulher, Carmine Lannister.

A passagem de Lyonel, o Lord de Jardim de Cima, trouxe uma sombra de tristeza sobre toda a Campina. A notícia de sua saúde precária já havia se espalhado, e todos aguardavam com apreensão o inevitável. Quando finalmente ocorreu, a comoção foi profunda. Drasilla permaneceu ao lado de Rasmus o tempo todo, consciente de como a morte de seu pai afetara profundamente seu marido. Ela o consolava com palavras gentis e abraços calorosos, oferecendo-lhe o apoio de que ele precisava. Rasmus, apesar de sua aparência muitas vezes tranquila, estava devastado por dentro.

Carmine, a mãe de Rasmus, parecia serena e inflexível diante da morte de seu marido. Ela tomou as rédeas dos preparativos para o funeral e as questões de sucessão com uma determinação que impressionou muitos na Campina, ela que em muitas vezes era vista como fútil e decorativa, se portou como uma verdadeira leoa. Ela era uma figura de autoridade, e sua postura séria não vacilou, mesmo em um momento tão doloroso. O funeral de Lyonel Tyrell foi uma cerimônia grandiosa, com muitos nobres da Campina presentes para prestar suas homenagens. O corpo do Lord foi colocado em um sarcófago de mármore, adornado com flores e lembranças de sua vida. Rasmus e Drasilla ficaram de mãos dadas durante a cerimônia, compartilhando o pesar da perda, aquela foi a única vez que a Targaryen não usou vermelho e preto, mas não cedeu ao verde, usando amarelo e azul.

A partida de Lyonel Tyrell deixou uma lacuna na Campina, mas também trouxe à tona a força e a resiliência de sua família. Rasmus e Leo eram quem cuidavam das coisas mais importantes, a verdade é que a presença de Lyonel e a sua relevância era muito maiores do que o primogênito achava e era seu irmão que o ajudava, enquanto Carmine tomava conta de suas obrigações como Lady da Campina, mesmo que fosse natural que Drasilla assumisse isso, ela e Alys ajudavam no que podiam.

── Nós podemos conversar? ── A voz de Carmine chama a atenção de Drasilla. ── Acho que é algo que já deveria ter sido falado entre nós duas a um tempo.

── Claro Lady Carmine. ── Drasilla aponta uma poltrona perto da sua, as duas podem olhar para os belos jardins a sumir de vista. ── O que tem em mente?

── Serei direta, estou preocupada com a sua capacidade de gerar herdeiros. ── A mulher mal tinha se sentado quando soltou essa. ── Não quero ser rude, querida. Eu como mãe amo meus filhos mais do que tudo e sei que faz o Rasmus feliz, aquele garoto não parava de falar de você desde que a viu pela primeira vez e eu tive medo que as expectativas dele não fossem alcançadas, mas você é uma boa moça.

── Nós estamos tentando, mas não é tão fácil quanto parece. ── Drasilla apertava os dedos contra os outros. ── Achei que tinha o seu apoio, mas está me pressionando, colocando meu pescoço em risco.

── Estou protegendo o seu pescoço, Drasilla. ── Ela se ergueu, avançando para próximo da princesa. ── Com meu Lyonel vivo não teria uma pessoa questionando nada, mas com Rasmus próximo a se tornar o Senhor da Campina, eles vão querer saber quem será seu sucessor, não poderemos casar Alys com um nobre relevante, pois ela é a primeira na linha sucessória após o irmão e pelos deuses, vai ter quem apoie a reinvidicação daquele bastardo de sangue Tully.

── Carmine ... ── Drasilla olhou nos olhos da loira. ── Eu estou tentando.

── Tente mais! ── Havia um desespero nos olhos da mais velha, que soltou um ar pesado. ── Eu não quero ter que voltar para Casterly Rock, para aba do Jason, eu me casei com o Lyonel, suportei aquele bastardo, tudo porque aqui é melhor que a minha casa.

── Você deveria ser a lady de Casterly Rock, a Senhora da Casa Lannister. ── Drasilla tomou as mãos de Carmine com as suas.

── Mas não sou, eu tenho dois irmãos mais novos, eles jamais deixariam que eu fosse, como corre o risco de não deixarem a Alys ser se o pior acontecer com o seu marido, por isso seus filhos são importantes. ── Carmine soltou as mãos dela. ── A reinvidicação da Princesa Rhaenys era forte, mas foi seu irmão a sentar no trono de ferro, lembra bem disso? Mulheres dão a luz pra se proteger.

── Eu estou em perigo? ── Drasilla estreitou os olhos.

── Não agora. ── Carmine precisava ir logo, ela sabia. ── Mas com homens ao seu redor, vai chegar um momento em que até possuir um dragão não é mais garantia de nada. Pense no que te falei.

Havia um certo tom fúnebre no que dias depois foram as comemorações de um novo Senhor Supremo do Vago, Lorde de Jardim de Cima, Defensor das Marcas, Supremo Marechal da Campina e Protetor do Sul, Rasmus ainda parecia sério demais, como se não quisesse fazer aquilo na idade que tinha, seu pai era jovem, se a doença não tivesse o levado, ele teria guiado-os por mais tempo, outra coisa que ele se preocupava era com a doença, aquilo era hereditário? Ele com o tempo desenvolveria a mesma coisa? Estaria fadado a morrer em uma idade precoce como Lyonel? Eram coisas que lhe passavam a cabeça, mas que ele não falava com ninguém.

O rei Viserys deveria comparecer a ocasião, mas sua saúde acabou atrapalhando os planos, por ser nascida na Campina, mais precisamente em Vila Velha, a rainha Alicent Hightower pediu ao marido para ir representá-lo e o rei cedeu, junto a si ela levou o seu segundo filho, Aemond Targaryen, esse convenceu a mãe que diferente de Aegon ele seria uma pessoa mais apropriada, já que o irmão mais velho sempre parecia desinteressado.

Na celebração de um novo lorde todos conversavam e comiam, tratando de coisas políticas na maioria das vezes, Alicent se preocupava em manter os laços dos Tyrell próximo aos dos Hightower na companhia do tio, já Aemond que observava tudo mais distante, no alto de seus seis anos, encontrou a tia Drasilla na companhia de lady Alys Tyrell, era por ela que ele primeiramente tinha insistido com a mãe para ir, mesmo que não revelasse isso a ruiva. Aemond se preocupava e admirava Drasilla, por todas as histórias que Viserys contava sobre ela e o que ele ouvia Rhaenyra falar com seus próprios filhos, ela parecia fascinante e uma montadora de dragão formidável.

── Minha condolências por seu sogro, milady. ── Ele se aproximou de Drasilla que já via Alys se afastar. ── O rei queria ter vindo.

── É, a saúde do meu irmão anda um pouco frágil, quando essa situação toda se acalmar na Campina eu quero ir vê-lo. ── Ela moveu os ombros. ── No Flarion é rápido chegar lá.

── Posso te fazer uma pergunta? ── Ele parecia sério, como uma criança não era.

── Claro. ── Ela se virou pra ele, olhando o sobrinho. ── O que quer saber?

── Como eu domo um dragão? ── Ele foi direto e reto. ── Eu já tenho quase 7 anos, meu ovo nunca chocou, o do Aegon foi a muito tempo e a Heleana tem se aproximado do dragão da boa rainha Alyssane, mas eu nada.

── Querido, olhe ... ── Drasilla se abaixou um pouco. ── Nem todos tem seu dragão assim que nascem.

── Você teve, meu pai contou que o Flarion nasceu com você, praticamente. ── Os olhos dele tremiam. ── Você pode me mandar um ovo? Você mandou pro Daeron e pro Lucerys, talvez eu possa receber outro.

── Talvez possa. ── Ela riu bagunçando os cabelos dele. ── Verei o que temos em Pedra do Dragão, mas Aemond ...

── Sim? ── Ele a olhou, como ela era bonita e confiante.

── Tudo tem seu tempo, o Daemon tinha 16 anos quando montou Caraxes pela primeira vez, Rhaenys também era mais velha que você quando teve Meleys, montadores diferentes, dragões diferentes, tempos diferentes. ── Ela sorriu pra ele. ── Promete que não vai ficar encucado com isso e vai dar seu melhor? ── Ela esticou o mindinho pra ele.

── Isso é ridículo, eu não tenho 4 anos. ── Ela cruzou os braços.

── Eu ainda estou com meu mindinho esticado. ── Ela balançou a mão.

── Ok, eu prometo. ── O garoto riu apertando o dela.

Os dias na Campina tem sido cheios, a troca de um novo Lorde não era vista a muitos anos, Lyonel assumiu o lugar de seu tio, que tinha assumido de seu pai, quando era jovem, mais jovem que Rasmus, então tudo parecia novo para as gerações mais recentes, Rasmus vivia em viagens, os acordos políticos precisavam ser reafirmados, não era de se estranhar que ele ficasse mais fora de casa do que dentro dela. Incrivelmente, ele voltava de uma longa viagem por Westeros, passaria alguns dias finalmente ao lado daqueles que amava, um acalento a Drasilla que não via a hora de tê-lo consigo de novo.

Na ocasião, ainda pelo dia, Alys observava a cunhada orientando as amas enquanto organizava o jantar de retorno de seu marido, normalmente Drasilla pedia ajuda a Carmine ou a Alys, mas a mais jovem do sirmãos Tyrell podia observar nela a vontade de aprender como uma dama e uma senhora de uma casa realmente levava as coisas. Mas Alys não estava sozinha, na sua companhia estava Fedora Redwyne, esposa do outro irmão de Alys, Leo, e também sua cunhada, as duas conversavam sobre coisas banais, até que o silêncio pairou.

── Estou com uma suspeita. ── A voz doce de Fedora chamou atenção de Alys. ── Não me atrevo a falar a ninguém, a não ser você, querida cunhada.

── O que foi? ── Alys sequer olhou na direção da ruiva. ── Pode falar, estou te escutando.

── Você também não acha que ela ... ── Fedora hesitou, ambas olhavam para Drasilla. ── Não sei, ela ... Bom, parece estranha e ...

── Grávida? ── Alys a cortou rindo, ainda admirando a forma como Drasilla ensinava uma ama a dobrar um guardanapo. ── É, eu suspeito disso a um tempo, o jeito que o corpo dela está, a forma como ela tem se portado, eu nunca tive filhos, mas veja, na maioria das vezes estou com as senhoras, eu sei observar, eu sei ler as pessoas, fico muito tempo com os livros as vezes, consigo reconhecer uma grávida.

── Ufa! ── Fedora tinha dado a luz a três crianças já, a suspeita dela ser confirmada, ou quase, a deixava mais aliviada. ── Você acha que ela sabe?

── Talvez saiba. ── Alys finalmente olhou a outra cunhada. ── Talvez esteja esperando meu irmão voltar para contar, por isso o jantar.

── Mas sua mãe já deveria saber, ela me falou quando me casei com Leo. ── Fedora se ajeitou na cadeira para imitar Carmine. ── Conte-me primeiro ou arrancarei ele do seu útero com as minhas mãos.

── Ela adora dramatizar as coisas, mas acho que minha mãe tem mais receio dos Targaryens do que ousadia pra dizer isso a princesa. ── Alys riu se levantando. ── Vou falar com ela, se me dê licença.

Drasilla tinha acabado de orintar mais uma ama quando Alys Tyrell se aproximou, ela gostava da presença da cunhada pro perto, as vezes estranhava por que ela não ter se casado ainda, mas lembrava das palavras de Carmine, eles não podiam entregar Alys a qualquer um, quando ela ainda era a herdeira depois do marido, se algo acontecesse com Rasmus hoje, havia uma crise sucessória em Jardim de Cima, Alys teria seu total apoio, mas ela queria ver a cunhada feliz.

A loira puxou a princesa pelo braço, entrelaçando com o seu, as duas caminhavam para fora do salão, indo em direção auma das sacadas onde podiam ver os mais belos jardins da Campina, elas se encostaram, sentindo o vento em seus cabelos, falando besteiras de jovens mulheres, Alys ainda pensava como iria abordar Drasilla o assunto que ela e Fedora conversavam a pouco tempo.

── Acho que estamos a sós o suficiente para te perguntar algo. ── Alys apoiou o corpo no beiral, olhando os olhos lilás da princesa, será que a criança nasceria com aqueles mesmos olhos? Ela desejava. ── Tem algo que queira compartilhar comigo? Você sabe que sou de confiança.

── Algo? ── As sobrancelhas de Drasilla se uniram. ── Eu deveria?

── Acho que deveria. ── Alys esticou a mão, tocando a barriga da morena. ── Oh, você ... Você não sabia?

── Sabia de que? ── Drasilla riu olhando a mão dela, a ficha caiu lentamente. ── Oh, não, você está delirando.

── Eu vejo sinais em você, todos os sinais. ── Alys riu levando as mãos ao rosto. ── Você está tão radiante, me lembra todas as que já vi assim.

── Eu não estou grávida, Alys. ── Drasilla deu um riso nervoso, olhando para os jardins, respirando fundo. ── Não, eu ...

── Calma, você está só nervosa com a possibilidade. ── A mais jovem segurou as mãos da princesa. ── Respira, vou pedir pra prepararem um chá pra você.

── U..Um chá? ── Os olhos de Drasilla tremeram, pensando no chá da lua.

── É, um chá calmante, com ar ervas do litoral, mamãe diz que ótimas pra um início de gestação, a Fedora tomou bastante e pariu 3 crianças fortes. ── Alys riu alisando as mãos de Drasilla. ── Mas fique aqui um pouco mais, vá descansar também, eu não vou contar a minha mãe que eu soube antes dela, fica tranquila.

── É, ela ficaria chateada de certo. ── Drasilla ainda parecia nervosa.

Alys a deixou só, ainda respirando fundo, mas sua mente virou uma chave automaticamente, não conseguia focar naquilo, o jantar precisava estar perfeito, nada mais do que isso, sua mente por algum tempo foi como se nada tivesse acontecido, como de Alys não tivesse jogado aquela possível bomba nela, também não podia criar esperanças, sabe como é, podia ser só bolo demais, ela amava bolo.

Rasmus chega algumas poucas horas antes do jantar, durante eles todos riem e comemoram as boas notícias que ele traz, ele estava do lado da esposa do tempo todo, alisando suas mãos, ele tinha tanta saudade dela, por sua escolha ele só iria pra cama e dormiria, mas quando soube do jantar que al tinha preparado e como ela se esforçava sendo agora a Senhora de Jardim de Cima, ele também tentou empurrar o cansaço de lado para apenas aproveitar isso, como ele sabia que ela aproveitava tudo por ele.

Ao fim daquilo todos se recolheram, parte da mente de Rasmus estava aliviado, o cansaço já lhe consumia o corpo e ele sabia que logo cedo os lordes em Jardim de Cima procurariam por ele para assuntos de sempre. Quando ele se deita na cama, Drasilla já está lá, ela estava séria, olhando o teto, com as mãos sob a própria barriga, ela não costumava ser tão silenciosa, normalmente o faria várias perguntas sobre a viagem.

── Querido, você acha que eu estou maior? ── Ela nem olhava pra ele, só pro teto. ── Tipo, mais gorda?

── Meu lírio, isso não faz a maior diferença, porém ... ── Ele riu se deitando ao lado dela. ── Você só deve estar comendo bolo demais e treinando espadas de menos, o que pouco me importa, porque você continua ótima.

── A Alys acha outra coisa. ── Ela olhou séria pra ele. ── Ela acha que eu estou grávida e talvez ela tenha razão, estive pensando nisso e em como tenho me sentido.

Foi como se desse um branco total na cabeça de Rasmus, ele ficou desejando tanto por aquele momento que mal conseguia processar com a possibilidade, ele fiocu paralisado um minuto ou dois e Drasilla teve que estalar os dedos na frente dos olhos dele, ele sabia do medo dela, então pensou que eles ainda levariam mais anos para ter aquela conversa e agora, quando ele ainda sentia a dor do pai, ela o daria um presente como aquele. No momento ele só conseguiu beijá-la e depois sua barriga, deitando próximo dela.

── Oi bebê. ── Ele olhava o tecido da roupa dela, se sentia meio idiota falando assim. ── Aqui é o papai.

── Ele não vai te ouvir. ── Ela riu acariciando os cabelos dele. ── Não deve nem ter ouvidos ainda.

── Meu pai sempre conversava com a barriga da minha mãe, ele disse que fez com que sempre fosse bem próximo de mim e da Alys. ── Rasmus justificou, o sorriso mal cabia no rosto. ── Como eu durmo depois disso agora?

── Você vai me prometer que não vai sair contando pra todo mundo, talvez só sua família mais próxima. ── Ela pediu se virando na cama. ── Promete?

── Mas ... 

── Não. ── Ela ergueu o indicador. ── Eu sou escrever pra Rhaenyra e só pra ela.

── Nada do Daemon ou do Viserys? ── O loiro quis saber.

── Sim, depois. O Viserys está doente e o Daemon ... ── Ela parou pensativa. ── Uma gravidez nunca é algo muito feliz pro Daemon, a chegada do bebê e o bem estar da mãe talvez mas ... É complicado, ele tem traumas com isso, ficaria paranoico.

── Entendo, então só a Nyra, certo. ── Rasmus repetiu deitando ao lado dela na cama.

Na manhã seguinte Drasilla se apressou em escrever uma carta pra Rhaenyra, não imaginava contando aquilo para mais ninguém a não ser a sobrinha que era quase como uma irmã pra ela, pediu é claro que a princesa mentivesse segredo. O que Drasilla não imaginava é que dias depis, sobrevoando Jardim de Cima e pousando em um dos pátios laterais viesse a própria Princesa Rhaenyra, os moradores da residência Tyrell se sentiam muito honrados em ter a herdeira do trono de ferro ali, a frente deles, mas para Nyra só havia um motivo de estar lá, Drasilla.

── Você veio! ── A morena tomou a loira nos braços em um abraço apertado pouco depois que a mesma saltou de Syrax. ── Não precisava ter se deslocado, nós vamos a capital em poucas semanas.

── Eu não aguentaria ficar lá e não vir te ver depois de ler a carta. ── Ela riu, agora olhando nos olhos da tia, iguais aos seus. ── Você sempre vem até mim, deixe-me vir até você. Eu sempre vou ir até você.

Rhaenyra estava genuinamente feliz por Drasilla, voou até lá pois a conhecia como ninguém, sabia que uma precisaria da outra, mesmo que fosse para uma conversa de algumas horas.