A princesa se apressa em voltar para o encontro do marido, sabia que Rasmus não era inocente, mas ainda sim não queria deixá-lo a mercê de qualquer cobra que se rastejava pela corte, ainda mais quando Criston Cole insistiu que o rei queria falar com ela, mas Viserys provou que era o contrário. Drasilla quase saltou os degraus visto a velocidade que os descia, dobrando corredores, quando chegou as portas do quarto encontrou do Rasmus acabando com as uvas.

- Como foi com o rei? - Ele quis saber esticando as uvas pra ela, Drasilla estava sem fome.

- Nós precisamos conversar. - Ela se aproximou dele devagar. - Viserys me ofereceu Dragonstone, como sua guardiã enquanto a princesa Rhaenyra não está morando lá.

- Oh ... - Rasmus parou de comer as uvas e seus lábios formaram um O, os olhos depois desceram para cintura dela, onde uma espada estava presa. - O que é isso?

- Foi um presente, eu já conto sobre, mas antes ... Dragonstone. - Ela insistiu. - Eu quero fazer nosso casamento funcionar, mas também quero aproveitar as oportunidades que o rei me deu.

Rasmus ainda olhava de canto de olho para a espada, curioso, mas ainda sim atento a ela, deixou o que sobrou das uvas sob a pequena mesa que estavam antes e limpou as mãos na roupa, tomou as da esposa com as suas, acariciando-as com certo carinho, ele não era a melhor pessoa do mundo para entender outras pessoas, mas ela era um livro fácil demais de ser lido, a sua apreensão era quase palpável.

- Eu entendo, não me importo que viva em Dragonstone, meu lírio. - Havia um sorriso curto e sincero no rosto dele. - Mas te quero em Jardim de Cima também, comigo e nossa família, pois os Tyrell são seus parentes agora também. Que tal se você ficar na ilha quando eu estiver viajando ou precisarem de você? Estarei muito na estrada brevemente cuidando dos negócios de Jardim de Cima em nome do meu pai, terá seu tempo com as propostas do rei.

- É uma boa ideia. - Ela agora acariciava a mão dele de volta.

- Então, sobre a espada, me conte ... - Ele quase não se continha de curiosidade.

- Ela pertenceu a Rhaenys, a conquistadora ... - Drasilla abriu um grande sorriso ao contar e ficou ali com ele por um tempo relatando tudo que Viserys disse ou que ela sabia sobre a irmã-esposa do conquistador.

As coisas iam se acomodando nos dias que se passavam, as pessoas começavam a ir embora e as festividades por causa de um casamento real iam ficando em segundo plano, a vida de fato deveria seguir o seu curso normal. No caso de Sarah Stark, ela já estava incomodada com todo aquele calor da capital, por mais que ainda não fosse inverno no Norte de fato, o vento fresco e as temperaturas mais amenas era com o que ela estava acostumada, mas naquele momento, enquando se aproximava de seu primo Cadmus que observava a guarda treinando, ela tinha outras preocupações.

- Achei você. - A jovem meneou a mão, se apoiando no beiral de pedra ao lado dele. - Vim me despedir, minha pequena comitiva deve retornar a Winterfell em breve e você tem ficado difícil de achar, acho que está fugindo de mim.

- É coisa da sua cabeça. - Ele a olhou de canto. - Já se esqueceu como achar alguém, como fazíamos na infância em casa.

- Falando em casa ...

- Não! - Ele a cortou. - Não é porque eu o representei aqui que eu quero voltar pra lá.

- Winterfell não é sua prisão, primo. - Ela insistiu, seus olhos tremiam. - As coisas precisam se alinhar.

Cadmus iria responder algo, quando os gritos do outro lado do muro de pedra atrás deles chamaram a atenção de ambos, havia uma passarela de lá, que terminava em uma sacada, lá embaixo as pessoas se amontoavam para ver alguém da família real e pelos gritos que podiam ser ouvidos tanto Cadmus quando Sarah entenderam que eram os recém casados a quem o povo adorava. A garota voltou logo a olhar o primo, a guarda treinando no pátio, mas Cadmus se demorou olhando o muro, como se visse além, dando um suspiro pesado.

- E precisam se alinhar não só em Winterfell. - Sarah quebrou o silêncio. - Resolva as coisas que precisa e venha pra casa.

- Antes que o inverno chegue. - Cadmus suspirou lembrando de algo que o pai falava.

- Isso mesmo e você sabe que o inverno está chegando. - Ela respondeu esticando os braços e o envolvendo, sentia falta do primo que considerava um irmão.

A viagem para Jardim de Cima era algo que pairava sob a cabeça de Drasilla, naquele mesmo dia, mas já a noite, ela deixava os últimos assuntos pendentes resolvidos, ela e Rasmus partiriam pra casa nova na manhã seguinte e Drasilla não poderia deixar de se preocupar com Flarion, ela não deixaria seu dragão longe, onde ela fosse, ele também iria, se o lugar não o coubesse, não caberia ela também, por isso ela voaria com ele logo após a partida da comitiva dos Tyrell.

Preparar o dragão na noite anterior era essencial, por isso ela deixou o castelo rumo ao Fosso dos Dragões, dessa vez sem esgueirar por aí, mas cumprimentando os domadores e descendo até a cripta tranquilamente, como as coisas mudavam rápido não é mesmo. Quando chegou lá embaixo, além dos dragões, havia uma pessoa encostada próxima a uma abertura que dava para o penhasco atrás do fosso, não passaria um dragão, uma pessoa sim, mas a silhueta masculina lá observava a lua.

- O que você faz aqui em baixo? - Ela riu pendurando a lamparina que carregava no candelabro da parede. - Está querendo ser o jantar de alguém, Cadmus?

- Só queria falar com você e sabia onde te encontrar. - Ele deu de ombros.

- Eu sou tão previsível assim? - Tinha um leve ar de indignação. - Daemon falou a mesma coisa.

- Quando se trata do Flarion você é um pouco. - Ele respondeu dando de ombros novamente.

Ela tinha que concordar com ele, Flarion poderia ser como um irmão pra ela em muitos momentos, mas o dragão despertava uma sensação bem maternal em Drasilla, e ele estava crescendo, muito, o tempo fora do Fosso dos Dragões fez com que ele ficasse maior que Syrax, viver no ar livre tinha feito bem ao dragão, faria bem pra ele viver em Jardim de Cima? Ela não sabia.

- Falando nele, estou indo vê-lo, me acompanha? - Ela sugeriu passando por Cadmus.

- Você não vai me ofertar como jantar pra ele né? - O guarda perguntou erguendo a sobrancelha enquanto desciam mais degraus até as outras criptas.

- Claro que não. - Ela riu olhando por cima do ombro. - Ele não gosta de carne de lobo.

O silêncio paira em seguida, Drasilla sabe que conversas jogadas fora poderiam ser boas, mas não ali, não onde outros dragões estavam, Flarion poderia ser obediente a ela, mas ela sabia que Syrax e Caraxes, por exemplo, também estava presos lá embaixo em algum lugar, ela não temia pelo dragão de Rhaenyra, mas Caraxes era uma salamandra raivosa e vingativa, não poderia dar brecha pra ele.

Ao se aproximar de onde Flarion estava, Cadmus parou a uma distância segura, já Drasilla sumiu nas sombras da cripta, Cadmus ficou tentado a chamá-la, ouviu a correntes de dragão se mexendo e depois a viu emergir da escuridão, limpando as mãos como se tivesse soltado um bichinho inofensivo. Pouco atrás dela vem Flarion, o dragão estava maior desde a última vez que o viu, sua cabeça tinha quase o tamanho da metade do corpo de Drasilla e ela também tinha crescido, ao ver de Cadmus o dragão branco azulado tinha um semblante levemente maléfico se você olhasse demais. Flarion não hesitou em avançar mais pra fora da cripta e soltar uma lufada de ar quente no guarda que permaneceu imóvel, talvez medo, talvez respeito, isso fez a princesa rir.

- Quer tocar ele? - Ela estica a mão pro Stark. - Pode confiar em mim, em nós.

- Olha ... - Ele tem um leve receio, mas acaba por ceder. - Ok.

Ele dá passos curtos a frente, até conseguir segurar a mão dela, para Drasilla estar com um dragão era algo comum demais, ela cresceu com Flarion ao seu lado, o ovo chocou semanas após ela ter nascido, eles estavam juntos desde sempre, mas para alguém como Cadmus dragões eram algo além da imaginação e do perigo. Flarion, por sua vez, olhou de canto para a montadora, como se perguntasse que ideia maluca ela tinha na cabeça agora, o dragão chegou a abrir a boca quando o rapaz tocou em seu fucinho, mas Drasilla olhou séria a Flarion.

- Flarion, não ouse. - Ela ralhou. - Seja educado, não seja como Caraxes que tenta morder tudo menos o Daemon.

- O que você falou com ele? - Cadmus quis saber, ele não entendia Alto Valiriano.

- Só um comando para acalmá-lo. - Ela ri em resposta.

- Foi ótima essa experiência, mas não vamos abusar da boa vontade dele. - O guarda respondeu recolhendo a mão e fazendo uma reverência. - Então, como vão ser as coisas agora que eu não vou mais precisar esperar que você volte daqui dois anos, seja de uma fuga ou de uma viagem com o Daemon. Você não vai voltar.

- Não seja dramático. - Ela ponderou com a cabeça. - Você sempre será bem vindo em qualquer lugar que eu estiver, pode ir a Jardim de Cima se quiser. Mas e você? Vai ficar em Kings Landing? Vai voltar para Winterfell?

Cadmus puxou uma quantidade de ar para os pulmões, enquanto deixava a mente vaguear para aquilo, ele tinha mesmo que resolver algumas coisas, Sarah tinha razão, mais do que ele queria aceitar que uma adolescente tinha, mas infelizmente era verdade, o que cabia ao Stark agora era analisar as possibilidades e agir logo, disso ele tinha certeza.

- Não sei, eu preciso resolver sim algumas coisas em casa. - A cabeça meneou de um lado a outro, sua expressão era confusa. - Mas eu não queria estar lá.

- O que você acha de ter Dragonstone como moradia fixa? - Ela sugeriu em um rompante, dando alguns passos na direção dele. - Ficarei entre lá e Jardim de Cima, precisarei de alguém de confiança, já que a reserva de dragões fica lá e é um lugar muito importante pra casa Targaryen.

- Eu sempre vou estar onde você precisa. - Ele respondeu dando uma risada anasalada e alguns passos a frente.

O silêncio permeou entre os dois, a proximidade não era o suficiente para sentirem o ar que saía um do outro, mas ainda era próximo, nem Flarion ousou emitir algum som, ele assistia aquele momento como um espectador silencioso. Cadmus analisava cada pedaço do rosto dela, os olhos lilás que estavam embebidos de sombras agora que ela estava contra a luz, o desenho das bochechas e do maxilar, os lábios róseos dela, ele não conseguia tirar os olhos deles.

- Sempre estarei onde e quando você me chamar ... - Ele praticamente sussurrou, se aproximando mais dela, agora próximo o suficiente para sentir o calor de Drasilla próximo. - Princesa.

Eles sentiam a respiração um do outro, em um silêncio mágico, como se algo puxasse um para o outro, tão lentamente próximos que nada poderia os separar, bom ... Nada se ninguém interferisse, mas parece que alguém sabia das consequências da situação, então Flarion bufou ar quente, chamando a atenção dos dois, principalmente de Drasilla, que dá dois passos atrás ao perceber o que estava fazendo.

- Nossa, já é tarde, tenho que voar logo ou não dará tempo. - Ela desvia o olhar para qualquer canto que não seja ele. - É melhor se afastar, o Flarion pode acertar você ao voar pelo topo da cripta.

Cadmus não fala nada, só a observa subir no dorso de Flarion, ele sequer estava usando uma cela de dragão, mas Drasilla não se importava, já havia se acostumado a voar nele assim, as vezes até preferia. Cadmus deu dois passos atrás, enfiando as mãos trêmulas nos bolsos, na sua garganta algo parecia gritar para sair, mas ainda estava entalado, enquanto a via partir e ele perdia a oportunidade. Naquele instante, enquanto via ela e o dragão sumirem no céu e ele saía dali para fora do fosso, o guarda decidiu ouvir Sarah e voltar para Winterfell, alguns assuntos precisavam ser resolvidos com urgência.