apocalypse
alerta gatilho
Sukuna encarava a noite fria que cobria todo o vilarejo incendiado, o buraco em seu peito se intensificando a cada segundo que se lembrava do quão o mundo era cruel. Sentia-se vazio, uma falta gigantesca se fazendo nas extremidades sôfregas. Os olhos estavam secos, assim como a garganta encontrava-se arranhada. As mãos tremiam e um único pensamento invadia sua mente: destruição. Ryomen iria tornar o mundo caótico, iria trazer com a sua perda, o apocalipse que a humanidade necessitava. Vingaria-se pela morte de Ren e seu filho, começando assim, uma era das trevas onde ele governaria tudo e todos.
Terminou de enterrar o corpo da mulher, deixando em cima da terra empilhada uma flor roxa que encontrou pelas redondezas. O túmulo dela foi feito ao lado do riacho onde se amaram pelo primeira vez, sendo cuidadosamente cavado por Sukuna. Ele a lavou e a vestiu com um kimono que havia sido salvo do fogo, chorando silenciosamente sempre que seus olhos entravam em contato com o corpo perfurado dela. O homem lamentava por sua insuficiência, molhando-se junto a ela no poço de água gelada enquanto via os tecidos esbranquiçados de sua roupa tornarem-se vermelho sangue - que vinha de Ren.
Banhou seu corpo com a lua, enterrando-o logo depois. Ficou um tempo observando as estrelas, sentando-se ao lado do túmulo. Desejou estar entre elas, assim podendo ficar com Ren, porém como lhe era impossível, faria do mundo um inferno. Já que a bondosa alma que tanto amava não estaria ali, ninguém mais poderia. Sukuna se levantou rápido, iniciando seus passos para a aldeia no pé da montanha, o único objetivo sendo óbvio em sua mente.
Ao chegar no local, pôde perceber a inquietação dos moradores que vinham em busca de seus pertences que sobraram do incêndio. Crianças choravam e adultos brigavam para descobrir qual fora a origem das chamas. Mal sabiam eles que uma maldição havia feito tudo aquilo apenas para provocar Sukuna e conseguir consumir seu grande poder amaldiçoado. Ren havia sido morta por culpa de sua existência. Cerrou os punhos, o kimono manchado de sangue se destacando na multidão de pessoas onde se encontrava. Ryomen não conseguia olhar para aqueles rostos e não sentir ódio, simplesmente enojava todos que ficaram vivos no lugar da japonesa que amou.
Em um piscar de olhos, Sukuna se desfez de toda vida que havia no local, secando árvores e rachando a superfície, deixando por último os humanos inferiores que tanto lhe enjoavam. A paisagem ficou mórbida, apenas os escombros e a vegetação seca coloriam o local, porém seu vermelho sangue dos olhos e da roupa manchada, eram notados por todos ali. As crianças encaravam assustadas o homem estrutural que remexia-se estranhamente, dois braços surgindo de suas costelas enquanto sombras estranhas circulavam seu corpo. Ele chamou atenção, tendo todos os olhares para si, rindo sarcasticamente daquelas vidas miseráveis que os moradores tinham.
Se vingaria por toda humilhação que Ren passou apenas por ter aqueles belos olhos heterocromaticos, iria trazer toda a dor que seu filho sentiu ao ser esmagado ainda no útero da mãe. Iria dar início à sua dominação ao mundo e logo faria com que o planeta se tornasse o caos que deveria ter sido. Sukuna abriu os braços, dando um sorriso ladino para um velhote que estava em sua frente. As orbes avermelhadas brilhavam em pleno divertimento, pois era a verdade, Ryomen se divertia ao brincar com a vida das pessoas. Lhe dava a nostalgia de antes, quando era o assassino que buscava o sentimento de humanidade, porém sentiu demais e agora chorava silenciosamente de saudades da mulher que ama.
- E então? - falou, juntando as mãos - Quem vai ser o primeiro sacrifício?
Abriu a expansão de domínio, levando para lá todos que estavam no vilarejo, matando um por um. Escolhia por dedo quem deveria ser torturado ou quem morreria rapidamente, sempre fazendo os mesmos movimentos quando assassinava a pessoa escolhida. Perfurava-lhe o coração, repetindo os mesmos atos que haviam feito com Ren.
Ryomen esperava que a garota o perdoasse por tal crueldade, porém um mundo sem ela não merecia mais a bondade dele. O Rei das Maldições apenas seria bondoso se sua amada o mandasse ser, tirando isso, continuaria fazendo o mal e não pararia até que todos estivessem mortos. Sentia-se leve quando via os corpos caídos ao chão, cabeças sendo empilhadas e cachoeiras de sangue tomando conta de seu domínio. Sukuna se distraía ao cometer tal maldade, dissipando de sua mente as memórias de Ren sendo morta.
Eram mortes atrás de mortes, apenas parou quando sua atenção foi tirada por uma invasão em sua expansão de domínio. Um feiticeiro jujutsu. Ryomen sabia disso, reconhecia a energia amaldiçoada circulando feito uma serpente curiosa. Esperou que a pessoa aparecesse, encontrando segundos depois um humano andando por entre os corpos caídos. Ele tinha um aspecto diferente dos outros feiticeiros que Sukuna enfrentou no passado e se encheu de entusiasmo por ter alguém que o divertira.
Contemplou o adversário, uma das mãos apoiando o rosto sarcástico enquanto o braço sustentava seu peso proporcional. O feiticeiro observou todo o domínio, virando os olhos para o Rei das Maldições e se surpreendendo com o potencial que ele tinha. Sabia que não seria possível mata-lo, tendo em mente que a única possibilidade de cessar seu grande poder era selando Sukuna de uma forma ou outra.
- Qual seu nome? - perguntou o feiticeiro.
- Sukuna Ryomen - falou, levantando-se de seu trono de corpos e se preparando para a possível luta.
*
600 anos depois
- O que é isso? - Ryomen perguntou, sentindo um cheiro familiar.
- Ah - o garoto lhe respondeu - É meu lanchinho da madrugada.
O Rei das Maldições observava tudo de seu pequeno olho instalado na bochecha do adolescente, que atualmente era seu hospedeiro.
- Senti fome - o mais novo deu uma risadinha, passando a faca pelo pão.
- Quero saber o que é, Itadori - disse mais grosseiro, sentindo raiva da enrolação do menino.
- Não seja grosso - respondeu sentido - É pão com geleia de amora.
Viu o garoto colocar um pedaço da massa na boca. Sukuna ficou reflexivo, lembrando-se de todos os momentos vividos há 600 anos atrás, quando Ren era viva. Não se esquecera dela em nenhum momento de sua vida, memórias de seu sorriso e olhos heterocromaticos preenchiam sua mente constantemente. Ele ainda sonhava com o dia que a veria novamente, enquanto isso, apenas a imaginava em qualquer lugar que ia.
- Quer? - Yuuji perguntou, oferecendo um pedaço do pão para a pequena boca em sua bochecha.
Ryomen abocanhou o lanche, mordendo o dedo de Itadori no ato. Sentiu o gosto doce preencher sua boca, trazendo nostalgia da boa época em que viveu. Queria chorar, porém não iria deixar claro suas intenções para seu hospedeiro, comendo em silêncio o doce que tanto amava.
- Ai! Não precisa me comer também - ele reclamou, sentando no balcão da cozinha e comendo mais do lanchinho.
- Cale a boca - o Rei das Maldições mandou, comendo mais um pedaço do pão.
- Você é muito nervosinho - Itadori tentou provocar Sukuna.
- Pirralho.
Se xingaram, Ryomen tentando esconder os sentimentos depressivos que o consumia. Sentia falta de Ren, porém viveria por ela, relembrando de todas as suas características em todas as manhãs e noites. Nunca se esqueceria da sensação de humanidade que a japonesa lhe trazia. Seria eternamente grato por tê-la conhecido.
[17/06/21]
sem revisão
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