⚞𝐶𝑎𝑝𝑖́𝑡𝑢𝑙𝑜 16 - 𝐸𝑠𝑡𝑎́ 𝑡𝑢𝑑𝑜 𝑏𝑒𝑚⚟
- Korn, eu estou muito feliz! - contou Kard, colocando um dos seus livros dentro da mochila amarela. Ele estava com um sorriso sincero.
- Por que toda essa alegria? - indaguei, me contagiando com sua animação.
- Porque nosso pai viajou e vai ficar fora por uma semana. Temos uma semana de férias dele. - ri balançando a cabeça do que disse.
Na noite anterior, assistimos o momento que meu pai recebeu uma ligação. Não demorou muito para já estar com uma mala pequena e saindo porta a fora dizendo que iria ficar uma semana fora.
- Hoje vou poder ir para a casa do P'Nim sem me preocupar com nosso pai. - disse, colocando as alças da mochila em seus ombros.
- Mas você não vai sozinho, é uma criança ainda. Chame Krit para ir com você. - pedi, Kard apertou os lábios revirando os olhos.
- Eu já fiz isso, ele vai me acompanhar. Mas sei que o real motivo para ele me acompanhar é para ficar o tempo todo na cozinha comendo praticamente a dispensa inteira da casa de P'Nim. Já estou esperando o momento que a mãe dele nos expulsar por culpa do Krit. - reclamou, cruzando os braços, ele ficou emburrado onde suas bochechas se encheram de ar.
- Não fique bravo com o Krit, você sabe como ele é. Tenho certeza que a mãe do nong Nim não se importa. - expliquei, imaginando que o Krit pode ter conquistado o coração de toda aquela família.
Kard deu de ombros arrumando seus óculos. Sorri para ele e logo encarei a xícara de chá que estava em minha frente. Novamente, cai no abismo da minha mente, querendo ter pelo menos uma ideia de como In está.
Não consegui dormir sentindo uma urgência enorme de protegê-lo mesmo sem saber o que aconteceu em sua casa. Meu pai com certeza dará um jeito de que o pai do In soubesse sobre nós.
In me disse que tinha esperança de seu pai compreender tudo, e eu espero que ele tenha essa tal sorte. Mas era tão irreal, In sempre acredita nas pessoas, que elas podem ser melhores do que são em qualquer momento. E eu, nunca senti essa expectativa nas pessoas, para mim, seu pai ainda não aceitaria tudo isso. Porque isso não seria tão simples, deveria ser, mas infelizmente, não é.
Ontem, na praia, me senti pleno novamente, o som das ondas deixava meu coração mais tranquilo, afastando um pouco o peso que sentia em minhas costas por tudo que estava acontecendo.
Falei que o amava, precisa dizer isso para ele. Precisava deixar claro que estava ao seu lado caso ele quebre por dentro, mesmo que eu já estivesse quebrado há muito tempo.
Sempre me senti como um quebra-cabeça, onde as peças sempre foram difíceis de encaixar, me deixando desanimado e desistente. Todos esses meses com In, podia sentir a sensação de querer lutar e enfrentar tudo aquilo. Tentava ser mais como In, focado no que quer, sem desistir, sem perder a esperança. Mas era complicado.
- Korn? - chamou Kard, ele estava com a testa franzida quando levantei o olhar saindo do meu devaneio - Você ficou muito tempo encarando a xícara de chá. No que está pensando? - perguntou, sua voz demonstrava preocupação.
- Não é nada, só estava distraído. - alarguei os lábios em um sorriso para tranquilizá-lo. Kard balançou a cabeça.
- Seus "não é nada" nunca soam sinceros. Quantas vezes vamos ter que te falar que você pode dividir seus pensamentos com a gente? Sei que não quer que nos preocupemos, sei que quer carregar o mundo nas costas sozinho, mas vai chegar um momento que você não vai mais aguentar! - sorri pequeno desviando o olhar, ao ouvir suas palavras, palavras tão sábias para um menino de sua idade - Nos deixe carregar o mundo com você. - pediu, como uma súplica.
Respirou fundo digerindo o que disse. Carregar o mundo sozinho era minha garantia que meus irmãos e In ficariam protegidos. Meus irmãos teriam a vida que desejam sem que meu pai interfira, e In ficará protegido, assim espero. E eu... Tinha um futuro que não conseguia imaginar.
Na verdade, poderia imaginar um futuro bonito, que In já pensou para nós. Que viveríamos livres e felizes, enquanto contava, eu acreditava e podia imaginar.
Poderia fantasiar coisas bonitas envolvendo nós dois. Mas ao mesmo tempo, doía imaginar. Doía pensar em um futuro bonito com ele com a voz do meu pai sussurrando no meu consciente que eu deveria fazer o que ele pedia.
Cocei a nuca expressando um sorriso convincente para Kard.
- Não se preocupe, está bem? Vamos, o Krit está nos esperando. - falei, me levantando. Kard revirou os olhos, passou por mim com os ombros caídos demonstrando frustração.
- Ei, eu já estou esperando há quinze minutos. Parece que fazem isso de propósito! - ouvimos Krit reclamar entrando na cozinha com o rosto raivoso. Olhei para Kard que estava se aguentando para não rir.
- Não fazemos de propósito, só esquecemos que você é apressado e fica esperando. - Kard provocou.
Vi o momento que Krit ficou com mais raiva e partiu para cima de Kard. Meu irmão mais novo riu e se escondeu atrás de mim.
- Korn, me protege! - pediu com um tom divertido apertando a manga da minha camisa atrás de mim.
Segurei Krit que queria dar uns cascudos em Kard e falei:
- Ok... Vamos parar com isso. Kard, pare de provocar o Krit, está bem? - Kard assentiu ainda com um sorriso provocador no rosto.
Krit consertou sua mochila, revirando os olhos. Sorri para aquele cenário. Essas provocações não passam de algo divertido para os três. Eu sabia que Krit não está com raiva de verdade, era como irmãos se comportam um com o outro, se provocando, mas sabemos que nos amamos independente das brincadeiras.
Do caminho da cozinha até a saída de casa, Kard e Krit já estavam rindo um com o outro ao lembrarem de momentos engraçados que já passaram juntos, e eu ficava só ali, ouvindo e sorrindo para mim mesmo vendo eles se divertirem.
Mas, nós três ficamos paralisados ao abrirmos o portão de casa, a nossa frente, estava In com um sorriso fraco, mas eu sabia que ele não estava bem, dava para ver em seus olhos tristes e desanimados.
Engoli em seco, o vendo daquela maneira. E meus irmãos, perceberam isso.
- Korn, fique com o In. Nós vamos sozinhos. - sorri para Krit assentindo. Ele segurou Kard pelo ombro e o direcionou para o caminho rumo à escola.
Soltei o ar vendo o exato momento que In ficou cabisbaixo quando uma lágrima solitária deslizou pelo seu rosto.
Me apressei em abraçá-lo, sentia sua respiração pesada e rosto quente, Acariciava seus cabelos tentando deixá-lo mais tranquilo. Fiquei esse tempo o abraçando forte pensando no que tinha acontecido com seu pai na noite anterior.
O dia estava nublado, deixando tudo mais desanimado, a rua vazia e silenciosa trazia mais confiança em abraçá-lo na calçada. Um tempo depois, In se afastou o suficiente para me olhar, meu coração sentiu um ardor quando vi o rosto de In totalmente triste, o sorriso que tanto mantinha, que carregava alegria para quem o olhasse, naquele momento, não estava em seu rosto.
Segurei sua mão, acariciando o dorso. Passei minha mão em seus cabelos e falei:
- Vamos entrar. - In assentiu, apertando os lábios.
Entramos dentro de casa, passava a mão vagarosamente nas costas de In, tentando trazer conforto para ele. A sala estava escura, me adiantei em abrir a persiana da janela, a luz do dia invadiu o cômodo.
Mas, antes de me virar, senti In apoiar sua testa em minhas costas, ele soltou o ar demonstrando cansaço, desânimo.
Eu estava preocupado com o que aconteceu, tinha medo de perguntar, de fazer ele ficar mais triste. Me virei e segurei seu rosto, nenhum esboço de sorriso foi encontrado. Beijei seus cabelos sobre sua testa vivenciando sua respiração ficar mais calma. O abracei e fiquei ali, dando suporte. Até o momento que ele apoiou seu queixo em meu ombro durante o abraço e disse:
- P'Korn... Meu pai me bateu pela primeira vez. - falou com a voz embargada - Nunca imaginei que ele faria isso. - apertei os olhos sentindo uma dor no coração pelas palavras de In.
Respirei fundo, me mantendo estável, In precisava de estabilidade naquele momento.
Acariciei seus cabelos, o abracei mais forte e o confortei:
- Shiiiii, está tudo bem. - sussurrei, com uma voz suave para tranquilizá-lo - Estou aqui agora. Nada vai te machucar. Você vai ficar bem. - falei, usando minhas palavras para ele e para mim mesmo. Me convencendo que, de alguma maneira, trarei o sorriso de In de volta.
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