CAPÍTULO 9 - ENTRE O MEDO E A CONFUSÃO
Quando abri os olhos, estava deitada em uma cama de hospital. O cheiro daquele lugar invadiu minhas narinas enquanto minha visão voltava. Não sentia mais tontura, mas meu corpo ainda estava fraco.
Admito que não me recordo muito bem do que aconteceu, apenas lembro de estar a poucos metros de Alex e, de repente, ver uma cena. Em seguida, desmaiei quando minha visão ficou turva.
Sinceramente, não sei o que isso significa, mas essas alucinações devem ser um sinal de que preciso fazer a cirurgia urgentemente. Sinto-me cansada, como se tivesse corrido uma maratona. Com a força do hábito, deitei-me ainda mais na cama e, em um piscar de olhos, peguei no sono.
Depois de algum tempo, acordei com a voz do Dr. Simon ecoando na minha cabeça. Ao abrir os olhos, lá estavam ele e Alex. Eu me levantei imediatamente e abri a boca para dizer alguma coisa, mas, inesperadamente, nada saiu!
O Dr. Simon se aproximou de mim e disse:
- Sinto muito, mas acredito que você ficará alguns dias sem falar.
Arqueei as sobrancelhas, sem entender o que ele estava falando. Porém, ele continuou:
- Temos uma dúvida grande, afinal, você por acaso já sofreu algum trauma?
Balancei a cabeça negativamente em resposta à sua pergunta.
Ele me olhou com ainda mais atenção e prosseguiu:
- Não sabemos o porquê, mas seu cérebro teve um comportamento estranho nos últimos minutos. Parece que você experimentou um trauma por um curto período.
- Pensamos que poderia estar relacionado ao seu câncer ou a alguma alteração, mas esses sinais surgiram e desapareceram como se não tivessem acontecido enquanto fazíamos uma nova ressonância. - Ele afirmou. - Por isso acreditamos que a perda da sua fala seja um sinal de que algo aconteceu devido a algum trauma. - Ele completou. - Você se lembra de algo do seu passado que tenha afetado profundamente a sua mente?
Balancei a cabeça novamente, negando.
- Certo. Talvez seja melhor assim. - Ele sorriu de maneira inusitada.
- Bem, sua cirurgia não poderá ser realizada agora, já que sua saúde continua instável, o que poderia aumentar a chance de você não sobreviver.
- Continuaremos com os exames de rotina e a quimioterapia. A partir de hoje, eu serei o seu médico oficial.
- A Dr.ª Rachel manda lembranças. - Ele sorriu e saiu da sala com o meu prontuário médico, deixando-me sozinha, com Alex observando de perto.
Evitava olhar para ele, afinal, ainda estávamos brigados desde o que aconteceu. Além disso, eu já tinha problemas suficientes. Mal conseguia sobreviver direito, por que pioraria minha vida com fantasias românticas com um assassino? Talvez eu fosse louca. Um romance com um assassino, em que mundo vivo...
Sei que isso é um desvio de assunto, mas confesso que sinto saudades de me reencontrar com a garota que eu era antes, aquela Amy que não precisava se preocupar com medicamentos e com a vida. E questiono-me, por que não posso ter a minha vida de volta? Não sei se é pedir demais, mas sempre em minhas orações, imploro a Deus por mais um tempo de vida, mas que se Ele for me levar, que me faça partir pelo menos feliz.
De repente, Alex me tirou dos meus pensamentos ao caminhar em passos firmes até mim. Encarei seu capuz, com os olhos arregalados de surpresa, e ele parou, estendendo as mãos para o alto e me entregando um pequeno bilhete. Abri meu semblante de dúvida e peguei o papel, lendo em meus pensamentos:
"Me desculpe" - Sorri após ler a mensagem e agradeci apenas com um aceno de cabeça. Acredito que ele deve ter ficado com remorso pelo que disse, e não o culpo, afinal, pegou pesado comigo. Talvez, esse seja um sinal de que ele esconde seu verdadeiro eu por trás de uma máscara fria e repleta de mágoa.
××××
Após algumas horas, Alex continua ao meu lado enquanto como a comida do hospital. Ela desce com dificuldade pela minha garganta, e confesso que gostaria de comer algo diferente, talvez uma pizza para variar. No entanto, dada minha condição de saúde, é improvável que eu possa fazer isso. Sinceramente, estou me sentindo um caco, ainda mais sem voz. Além disso, sinto-me deprimida por estar mentindo para minha mãe. Estou cansada de diariamente ter que inventar desculpas sobre como foi meu dia, quando, na verdade, foi péssimo, e estive na companhia de um assassino. O pior é que, se ele me matar, minha mãe será provavelmente a última a acreditar que foi ele, pois ela não está ciente de nossos encontros. Para mim, isso é uma incógnita, já que o doutor poderia explicar a situação em vez de me forçar a mentir.
Depois de um tempo, o doutor Simon chegou e conversou um pouco mais comigo sobre minha condição e, em seguida, me levou para casa sob sua supervisão. Em casa, o doutor informou o que havia acontecido algumas horas atrás para minha mãe, que me aguardava preocupada no jardim, observando-me sair do carro.
- O que aconteceu, Amy? - Mamãe perguntou com desespero.
Tentei dizer algo, mas nada saiu da minha boca, exceto uma dor no fundo da minha garganta.
- Me desculpe por interromper, senhora Smith, mas a Amy não poderá dizer nada no momento.
- Ué, por quê? - Ela questionou sem entender.
- Bem, isso foi devido a um desmaio repentino que sua filha teve. Fizemos uma ressonância e detectamos alterações inesperadas no cérebro de Amy, como se ela estivesse revivendo algum trauma passado.
- Trauma? - Minha mãe parou, com uma expressão indecifrável, mas com certeza de algo que não me agradava. Doutor Simon também a encarou, parecendo prever o motivo que a perturbava.
- Bem, quer dizer... A Amy está bem? Ela corre algum perigo? - Ela perguntou, quebrando o clima.
- Não, mas eu gostaria que a senhora permitisse que ela passasse a noite em minha casa. Acredito que não seja apropriado, agora, deixá-la sem supervisão médica.
- Seu irmão com certeza estará lá com a minha filha, algo que definitivamente não posso aceitar.
- Entendo a preocupação da senhora, mas peço que reconsidere. Será apenas uma noite, e quero ter certeza de que Amy está melhor, já que acabou de receber alta do hospital.
- E também, Alex usa uma pulseira elétrica que nos permite monitorar seus batimentos cardíacos e a distância exata dele em relação a uma pessoa. Não correrá riscos de que ele machuque Amy. - Ele afirmou, mas a expressão desconfiada de minha mãe persistia.
- E se ele conseguir machucar minha filha de alguma forma? - Ela questionou.
- Bem, caso ele se aproxime dela, a pulseira detectará o movimento e acionará uma corrente de choque imediatamente, capaz de desarmá-lo. - Ele respondeu.
- Então, não é preciso que alguém esteja presente para fazer a pulseira funcionar, ela agirá independentemente da intervenção humana, correto? - Ela perguntou novamente.
- Sim. Mesmo que a senhora não confie em mim, pode confiar na tecnologia. Ela será eficaz, independentemente da situação.
Ela suspirou e ficou alguns minutos em silêncio, ainda pensando. Inesperadamente, ela abriu a boca novamente:
- Está bem, mas apenas esta noite.
- E doutor, caso algo aconteça com minha filha, você terá que se preocupar não apenas com a polícia. Portanto, mantenha esse garoto longe dela.
Doutor Simon deu um sorriso debochado e concordou, lançando um olhar de lado para Alex. Enquanto eu continuava sem entender o que estava acontecendo na mente de cada um, sentindo que eles estavam escondendo algo precioso. Mas, talvez essa aproximação repentina com os Hart me ajude a desvendar os eventos estranhos que cercam a minha vida.
- Bem, então estamos decididos. Mas primeiro, quero conhecer a residência de vocês.
- Certo, é só me seguir. - Ele disse, e minha mãe correu para dentro de casa e trouxe algumas mudas de roupas e minha maleta de remédios. Depois, fomos para a casa dos Hart, entramos, e imediatamente o cheiro de produtos de limpeza invadiu minhas narinas, revelando um ambiente mais despojado graças a mim.
Estou um pouco desconfortável em dormir na mesma casa que eles, mas, de certo modo, já me acostumei com a companhia de Alex. Além disso, o doutor Simon também estará aqui, então o que poderia dar errado?
Ao sentir o cheiro, minha mãe sorriu.
- Pelo que vejo, a casa está bastante organizada e limpa, o que é necessário para Amy, já que ela tem pulmões fracos.
- Certamente, a senhora gostaria de ver o quarto onde Amy passará a noite?
- Mas é claro. - Minha mãe respondeu.
- Certo, então venha por aqui. - Ele pediu.
Caminhamos lentamente até o outro cômodo, e abrindo a porta, vimos um lindo quarto com uma imensa cama de casal coberta por uma colcha cor de vinho, uma escrivaninha e um guarda-roupa ao lado.
- Esse é o quarto de hóspedes, espero que goste, senhorita Amy e senhora Smith.
Olhei o quarto, encantada com todo o seu revestimento. Suas paredes e móveis eram em uma estética feminina, mas em simultâneo antiga e gótica, como se eu estivesse em um dos cenários de "Sombras da Noite". Mamãe analisou o lugar e disse:
- É um ótimo quarto. Seus móveis clássicos são uma perfeição. - Ela afirmou. - Me diga, eles foram planejados?
- Sim. Na verdade, eles eram da minha falecida mãe. - Ele sorriu, enquanto minha mãe fazia o mesmo, no entanto, se sentindo ainda mais incomodada ao lado do Alex. Eu a cutuquei a fim de que ela parasse com isso, mesmo ele sendo um assassino.
Alex permaneceu sem se mover ao lado da porta, apenas encarando algo através do seu capuz, parecendo solitário, enquanto eu, não imagino por que, me sentia preocupada e também com saudades da sua voz nos meus ouvidos.
- Bom, já que temos tudo resolvido. Quero que me faça apenas uma coisa. - Mamãe pede.
- Tudo bem. O que seria? - Ele perguntou.
- Quero que você me traga o seu irmão, e eu permitirei que ele me encoste. Afinal, eu quero ter certeza de que esta pulseira funciona como você diz. - Ela diz, enquanto Simon encara Alex, como se estivesse perguntando o que ele pensa.
De repente, Alex se ergueu sem dizer nada e caminhou até mim, ao invés de seguir em direção à minha mãe. Seu rosto coberto era evidente, enquanto doutor Simon e mamãe ficavam surpresos com sua atitude. Em silêncio, ele parou à minha frente e levantou uma das mãos para cima, seguindo para o meu rosto, enquanto meus olhos arregalados acompanhavam tudo aquilo. Quando seus dedos tocaram as minhas bochechas, ele abriu os lábios:
- Eu nunca te machucaria. - Fiquei pasma com aquela afirmação, minhas bochechas ficaram quentes e vermelhas, e mamãe nos encarou com o rosto preocupado e Simon permaneceu sério como se aquela atitude dele não fosse uma novidade. Entretanto, aquele momento acabou, Alex largou o meu rosto sentindo dor após receber as consequências da pulseira, ele caiu no chão controlando a dor com alguns gemidos e apertando as mãos com força. Preocupada, eu me ajoelhei até ele e toquei seu corpo, como se fosse uma forma de me desculpar por aquilo. Aquela sensação era terrível, eu sentia que precisava protegê-lo e não machucá-lo... Mas eu não entendo esse sentimento, é como se estivéssemos ligados, mas de uma forma que eu não faço ideia. Afinal, tudo isso começou com aquelas pequenas visões desde a primeira vez que o vi tão de perto. Além disso, eu não entendo o porquê dele estar sendo tão gentil de repente...
Porém, antes que ele se levantasse, mamãe tossiu de leve, afastando-me em seguida.
- Bom, agora está claro que isso realmente funciona. Sinto muito, Alex, pela dor, mas foi necessário. - Mamãe diz, enquanto Alex se levanta com a ajuda de Simon.
Encaro minha mãe repreendendo sua atitude, quando ela me puxa para mais perto de si.
- O que aconteceu? - Ela sussurra. - Por que está se importando com ele, Amy?
Eu apenas balanço a minha cabeça que não. Me sentindo sufocada de algum jeito por dentro, meu coração dói novamente, e minhas lágrimas imploram por liberdade, enquanto eu as seguro em meu consciente. Sem resposta, ela suspirou e disse:
- Esqueça. Apenas tome cuidado, por favor. Porque se não fosse pela sua saúde, você não estaria aqui. É estranho dizer isso, estou te deixando ficar em um lugar que te fará bem, mas também mal.
- Mas vamos pensar positivo, a mamãe te vê amanhã. Então, tome isso por precaução. - Afirmou ela me entregando um spray de pimenta. Naquele instante, tentei dizer uma palavra, mas nada saiu.
- Não seja teimosa, Amy! Todo cuidado é pouco nesta casa. Não pense apenas em sua saúde, mas em sua sobrevivência também. - Ela pede, enquanto o doutor Simon arqueia a sobrancelha.
- Estamos ouvindo, senhora Smith.
- Era para vocês ouvirem mesmo, mas me desculpe por qualquer coisa. Caso algo aconteça, me ligue, doutor.
- Tudo bem. Pode ficar tranquila que Amy será muito bem cuidada.
- Acredito no seu trabalho, doutor... Espero que o senhor só tenha notícias boas. - Ela finaliza e parte, deixando-me com os dois.
Sem demora, Alex desaparece na escuridão do corredor, aparentemente indo para o seu quarto. Enquanto o doutor Simon se dirige a mim:
- Bem, acredito que queira descansar depois de tudo isso. Que tal um banho? - Ele pergunta, e em seguida concordo com a cabeça. Ele faz um gesto para que o siga pelo corredor escuro e me apresenta a um novo cômodo.
- Aqui é o banheiro. - Ele afirma. - Temos toalhas no armário de baixo, xampu e outras coisas. Espero que aproveite. - Ele diz, e eu sorrio agradecida.
Dito isso, o doutor Simon sai, e eu entro no banheiro, fechando a porta. Por um momento, tenho medo de estar sendo observada, mas não vejo nenhuma câmera. Porém, a preocupação ainda persiste, então minha única opção foi, tirar as minhas roupas e correr para o chuveiro, deixando a água deslizar sobre minha pele com carinho, enquanto fechava os olhos apreciando o momento.
Começo a pensar em tudo o que aconteceu desde o momento em que eu e Alex nos encaramos pela janela. Minha vida mudou desde então, tornando-se confusa, imprevisível e talvez até mais interessante. Mesmo que Alex seja um enigma, eu ainda acredito que possa existir um lado bom em seu coração. Pois não consigo esquecer a sua fala agora a pouco, aquilo simplesmente não me pareceu falso, mas também nem verdadeiro. Por que ele age assim? Para que se esconder e fingir que é uma pessoa que, na verdade, não é. O que existe na mente de Alex Hart? Isso certamente eu gostaria de entender.
Após alguns minutos, desligo o chuveiro, visto minhas peças íntimas e um vestido vermelho que minha mãe trouxe, e saio do banheiro, indo para a sala de estar, onde o doutor Simon está preenchendo alguns relatórios médicos.
- Oh, Amy! - Ele diz surpreso quando me vê. - Já tomou banho? - Ele perguntou, enquanto eu afirmava com a cabeça.
- Muito bem. Se quiser descansar, o quarto é ali. - Tento responder, mas minha voz falha, e o doutor Simon sorri compreensivamente.
- Não force sua voz, Amy. Ela voltará aos poucos. - Ele sorri. - Temos alguns remédios especiais que vão te ajudar, caso precise, estarei aqui.
Sorrio com gratidão, e em seguida me afasto indo em direção ao corredor escuro que dava acesso aos quartos da casa. Porém, antes que eu dê o último passo, doutor Simon me interrompe:
- Aliás, seja bem-vinda à nossa casa. - Ele diz, e eu viro-me sorrindo novamente para ele.
Apesar de ser misterioso, doutor Simon também tem um lado extremamente gentil, seu modo de cuidar de mim, aquece o meu coração, poderia até chamá-lo de irmão. Pois, apesar do seu interesse, ele também conseguiu me ajudar bastante através da sua proposta, que com certeza me dará uma vida melhor e mais sadia. No entanto, meus pensamentos a respeito dele foram logo interrompidos ao perceber que não enxergava nada naquela escuridão.
- Bem que poderia ter uma luz aqui... - Digo em voz alta enquanto sigo pelo corredor escuro. Entro em uma porta aberta por engano e percebo ser o quarto de Alex. Arrependida, dou dois passos para trás até que encosto em algo quente e molhado. Instintivamente, toco com medo e percebo ser uma pessoa, talvez Alex. Minha garganta fica fechada, e um silêncio toma conta de mim. Então, a voz de Alex sussurra no meu ouvido:
- O que você está fazendo aqui, Amy?
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