CAPÍTULO 26 - FORA DE PERIGO

Ao abrir inadvertidamente o armário de ferro enferrujado, deparei-me com um cenário que gelou meu sangue e congelou meu coração. Lá dentro, iluminado apenas pela fraca luz que penetrava pela fresta da porta entreaberta, estava um corpo. Um corpo pálido e imóvel, com os olhos vidrados encarando o vazio, e o rosto congelado em uma expressão de horror. Esse corpo pertencia ninguém menos do que Rosa, minha babá.

Meus olhos se arregalaram de terror diante da visão macabra, e lágrimas de descrença escaparam dos meus olhos sem que eu pudesse conter. Minha mente gritava em desespero, enquanto meu corpo tremia de pavor diante daquela descoberta chocante.

Sem pensar duas vezes, afastei-me do armário como se estivesse fugindo de um monstro, meu coração pulsando tão forte que parecia prestes a explodir. A imagem do corpo inerte e assombrado continuava gravada em minha mente, como uma lembrança indelével de que o perigo ainda estava à espreita, mais próximo do que eu jamais poderia imaginar.

As lembranças da última vez que a vi sair de minha casa, e agora ver que ela estava com a mesma roupa daquele dia, significava que ela já tinha sido assassinada há muito tempo... Eu não queria acreditar, mas pela primeira vez, eu realmente acreditava que eu poderia morrer ali mesmo. E o pior de tudo, era que ela havia morrido por minha causa...

Com as pernas trêmulas e a mente em turbilhão, eu sabia que precisava sair dali imediatamente. Corri em direção à porta da cabana, ignorando qualquer pensamento que não fosse o de escapar daquele lugar amaldiçoado o mais rápido possível. Girei a maçaneta da porta e a abri rapidamente, colocando os pés para fora, em uma mesma velocidade em que uma faca pontiaguda passou por minha lateral e cortou o lóbulo da minha orelha, parando apenas ao fincar-se na madeira podre da cabana.

Ergui os olhos e vi o homem parado à minha frente, a poucos metros de distância. A única coisa que pude fazer foi dar um longo suspiro e começar a correr. Por incrível que pareça, ele não correu atrás de mim dessa vez, apenas retirou uma pistola da cintura, engatilhou o silenciador e a apontou na minha direção.

Com o coração acelerado e a dor latejante na orelha ferida, continuei a correr desesperadamente pela floresta, cada passo sendo uma luta contra o medo que ameaçava paralisar meu corpo. O som da pistola sendo engatilhada ecoava em meus ouvidos, aumentando ainda mais a sensação de terror que me consumia.

Eu sabia que não poderia parar, que precisava encontrar ajuda o mais rápido possível. Afinal, cada árvore que passava por mim era um lembrete sombrio de que o perigo ainda estava à espreita, pronto para me capturar.

Enquanto eu corria, as lágrimas misturavam-se ao suor em meu rosto, e a dor na orelha ferida pulsava em ritmo com os batimentos frenéticos do meu coração. Minha mente estava em turbilhão, tentando encontrar uma rota de fuga, um meio de escapar daquele pesadelo vivo que me perseguia implacavelmente.

No entanto, logo ouvi um tiro ecoar por toda a floresta! Parei imediatamente, sentindo que o tiro havia sido disparado a poucos metros de distância de mim. Não ousei voltar, mas também desejava saber o que tinha acontecido.

Antes que pudesse decidir o que fazer, ouvi a voz de Parker e seu namorado gritando meu nome.

Rapidamente, voltei na direção de onde vinha, alcançando o rosto preocupado de Parker e seu namorado, este último segurando uma espingarda.

- Amy! O que aconteceu? Você está bem?

- Parker! Graças a Deus! - Disse, abraçando-a em lágrimas.

Surpreendendo-a, ela não se importou e me abraçou, visivelmente preocupada.

- Vimos você correndo para a floresta e um cara te perseguindo, então ficamos preocupados. Trouxe a espingarda para amedrontá-lo. Mas, como ele também estava armado, dei um tiro na perna dele para não matá-lo. - Afirmou, Tom.

Suspirei aliviada. - Agradeço muito por isso, não sei o que teria feito sem vocês.

- Não se preocupe, mas precisamos ir logo para a polícia!

- Não! Preciso sair daqui, ir para San Diego e encontrar Alex o mais rápido possível... Aqui está muito perigoso para mim, não sei se estão atrás de mim.

- Os dois trocaram olhares compreensivos e disseram:

- Tudo bem, vamos te levar para San Diego. - Disse Parker. - Tim, pegue a caminhonete.

Após um tempo, estávamos na estrada. Levaríamos certa de 4h para chegar em San Diego. E ainda eu tinha que descobrir onde Alex, Victória e Simon estavam?

Minha mente estava a mil com todos os últimos acontecimentos desse dia, era só meio dia e havia acontecido tanta coisa, eu já tinha tido uma conversa acalorada com o Alex, descobri sobre o segredo do assassinato dos pais deles, descobri que nos conhecíamos quando crianças e por um triz escapei da morte, além de encontrar o terrível corpo de Rosa...

O Alex com certeza tinha razão, a minha vida é um caos. No entanto, para que eu os colocasse a par da situação, eu deveria ao menos saber onde eles estavam. Eu sabia que o Alex não queria me ver perto dele em um momento tão perigoso em que finalmente iriam prender o Simon, mas eu não poderia ficar aqui, e principalmente correr ainda mais risco de vida. Por isso, eu resolvi pegar o meu celular no bolso, e vi que havia dez chamadas perdidas da minha mãe e 20 mensagens. Eu então, ignorei todas elas, mas nesse momento eu me lembrei que não tinha o número dele e nem mesmo o de Victória. Irritada com a situação, eu bati a cabeça levemente contra o assento do carro. Como eu faria agora para encontrá-los? Não bastava eu estar apenas em San Diego, afinal aquela cidade é enorme e não um cubículo como Solvang.

- Amy, está tudo bem? - Parker, perguntou.

- Não. Eu já estou indo para uma cidade desconhecida, e nem ao menos tenho o número do Alex para contatá-lo ou sei onde ele está.

- Hum, acho que posso te ajudar com isso. Eu estive pesquisando, e sei que os Hart, são sócios de um resort em San Diego. - Dizia Parker, enquanto pesquisava ao celular.

- Veja você mesma. - Ela estendeu seu celular para mim.

Assim que eu olhei a foto, eu percebi que se tratava de um resort muito chique, só os portões pareciam ser de ouro de tão perfeitos que eram.

- Uau, deve ser muito caro... Mas como eles conseguem pagar tudo isso?

No mesmo instante Parker e Tom, deram uma gargalhada, parecendo surpresos comigo.

- Ué, Amy, eles são ricos você não sabia? - Peeguntou Tim.

- Não! - Exclamei surpresa, - Mas porque eles iriam querer morar num fim de mundo como Solvang? E ainda no nosso bairro?

- Eu não sei. Mas posso afirmar, que o Simon e o Alex tem bala na agulha. Cada plantão do Simon deve ser uma fortuna, eles que parecem simples mas há boatos que eles tem até mansão no Texas.

- Mas sem querer ser xereta demais, o que está acontecendo entre você e os Hart, Amy? Vocês sempre foram mais próximos devido a sua doença, mas agora está diferente, é como se você tivesse tomada as dores do passado deles.

- Bom, a nossa relação é bem complicada. Bem, só posso dizer que os nossos passados estão conectados e que principalmente eu estou correndo perigo junto com eles... mas fica difícil dizer quem é o verdadeiro culpado. Mas só saiba que o Alex não foi assassino dos pais dele.

Tim e Parker se olharam curiosos e surpresos com a notícia.

- É, talvez fosse algo nítido... O Alex só tentava causar medo, não era como se ele fosse ruim. - Concordou, Parker.

Após alguns minutos na estrada, Tim deu uma parada no estacionamento para urinar e comprar algo para comermos, e nesse momento eu e Parker ficamos a sós no carro. De início, ficamos um pouco sem graças uma com a outra, afinal a nossa última conversa, foi quando Alex me defendeu, e que ela simplesmente, deixou claro que me odiava.

- Bom, obrigada por ter me ajudado hoje, apesar de tudo. - Agradeci.

- Não se preocupe, Amy. Não é só porque tivemos um mal entendido, que eu não iria me preocupar com você. - Ela disse, - Além disso, me desculpe pelo modo que agi com você antes. Eu fui uma idiota, por dizer aquelas coisas.

- Sim, você foi. - Eu concordei, enquanto ela dava um sorriso.

- Bem, eu mereço isso. Era para mim ter ficado ao seu lado quando você descobriu a doença, mas eu preferi me afastar de você, e viver apenas ao lado daquelas bajuladoras. Peço desculpas também por ter te ridicularizado com os meus colegas naquele dia, não foi legal.

- É, não foi. Mas, eu te perdoo por isso. Só de você ter salvo a minha vida, eu me sinto feliz. - Afirmei - Porém, eu não entendo porque você disse que me odiava e principalmente desejava a minha morte?

- Sabe, eu me arrependo de ter dito coisas tão ruins a você, é que naquele momento eu queria apenas machucar você. Naquele dia, eu o Tim, tínhamos brigado e eu disse a ele no momento da raiva, que ficaria com o Alex. O Tom, visivelmente com ciúmes, fez uma oposta comigo de que eu não ia conseguir e que o Alex era inalcançável. E quando eu vi você, como uma suposta pedra no meu caminho, eu falei aquelas coisas sem pensar. - Ela contou - Sei que foi por um motivo bobo, mas na hora, eu não pensei com a cabeça.

- Foi bobo, mas eu entendo, e são águas-passadas, o importante é que tudo isso passou.

Nós sorrimos uma para outra, aponto de Tim chegar, com alguns salgadinhos e copos de milk-shake; eu não podia comer aquilo, mas acho que uma leve escapadinha da minha dieta não faria mal.

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