CAPÍTULO 20 - A ANGÚSTIA DE AMY

No dia seguinte, acordei mal-humorada. A cama tinha sido muito dura essa noite, e todos os pensamentos mais tristes tomaram conta da minha mente. Talvez a pressão de tudo isso tivesse feito o meu fôlego diminuir, já que acordei com falta de ar. Minha respiração estava rouca, parecendo que eu não ia conseguir sugar nenhum ar de repente e por isso, tive que ligar a máscara de oxigênio, aumentando duas vezes mais o fluxo. Tomei os meus remédios como de costume, e devido a tudo isso, Simon me chamou até o seu gabinete para me examinar.

- Bom, era para você ter ido à radiologia. Você sabe, Amy, ficar sem uma dose de quimioterapia não é algo bom, ainda mais que você está melhorando, - ele impôs, pegando seu estetoscópio e seguindo em minha direção.

- Sim... Mas, como estou sem a Rosa... - Dizia até ele me interromper.

- Você tem a mim. Além disso, eu moro praticamente com o hospital, se eu te levasse não faria diferença.

- É claro. Mas, você teria que voltar comigo, e com certeza tem muitos pacientes para atender. - Afirmei.

- É, você está certa... Mas, agora fique parada,- ele pediu, colocando a pequena borrachinha bege na orelha e deslizando o pequeno círculo metálico no meu peito.

-cSeus batimentos cardíacos estão acelerados,- ele suspirou com uma expressão de preocupação, - Vamos medir sua pressão.

Após realizar todos os procedimentos, Simon disse que minha pressão também estava alta e, por isso, me receitou alguns calmantes e disse que eu deveria descansar depois de falar com os policiais. Insistindo que eu faria a minha sessão de quimioterapia amanhã.

Sem opção, concordei e saí de sua sala, deixando-o trabalhar nos exames de seus outros pacientes. Embora ainda estejamos um pouco afastados, creio que o Simon voltou a ser mais gentil. Fui caminhando para a cozinha e vi Alex e Victória sentados à mesa. Ambos estavam em silêncio, enquanto ele lia seu livro de bolso com uma xícara de café na mão e Victória lia uma revista de fofocas tomando leite quente. Victória me notou primeiro e disse com o mesmo tom sarcástico de sempre:

- Nossa paciente resolveu aparecer.

- Oi... - cumprimentei desanimada.

Alex rapidamente levantou a cabeça; seus olhos estavam surpresos, indo do meu rosto para a minha bolsa de oxigênio. Ele passou as mãos nos fios dourados do seu cabelo. No entanto, eu resolvi ignorá-lo e continuei os meus passos até a cafeteira, olhei para o armário de xícaras e vi que a minha de costume não estava ali. Mas, olhando ao redor, nas mãos de Victória, respirei fundo e peguei a única que tinha. Enchi ela até a boca e em seguida dei uma golada.

Quando me virei, pronta para ir embora, Alex me interrompeu perguntando:

- Você já conversou com os policiais?

Meu rosto se tornou ainda mais sem vida. Acho que esperava que ele dissesse algo que não fosse isso... se ele me perguntasse se eu estava bem, seria muito melhor do que uma coisa tão insensível assim.

- Não, - respondi.

- E você vai? - ele perguntou.

O meu coração doía todas as vezes que eu o via tão despreocupado; a minha presença não deve fazer falta para ele, afinal, ele sempre dizia que só queria paz. Então, ele não precisa se preocupar mais, eu irei lhe dar todo o sossego do mundo.

- Acho que isso não é da sua conta,- disse, - Converse com a sua namorada; ela está bem do seu lado,- disse, deixando a cozinha em passos rápidos, afim de me esconder no meu refúgio pessoal até a chegada dos policiais.

Passados alguns longos minutos, alguém bateu na porta da frente. Levantei-me da cama, mas Simon foi mais rápido e saiu de seu gabinete indo em direção à porta. Sem esperar, segui-o e me juntei a ele na sala de estar.

Abrindo a porta, nos deparamos com dois policiais, fardados, com cabelos pretos alinhados e armas presas aos cintos.

- Bom dia, senhores,- Simon cumprimentou. - Agradeço a presença dos oficiais,- finalizou, enquanto ambos concordavam.

- Não se preocupe, rapaz. Só estamos fazendo o nosso trabalho,- ele afirmou, -Onde está a vítima?

Simon rapidamente se virou para o lado, para que os policiais me vissem atrás dele.

- Ótimo. Vamos começar o interrogatório.

Dito isso, os policiais entraram e se acomodaram no sofá, enquanto eu me sentava ao lado de um mais velho, e Simon permanecia em pé um tanto ansioso.

- Bom, vamos dar início,- disse ele, -Há que horas o ocorrido aconteceu?

- Bem, lá para umas 23h00 da noite. - Respondi.

- Onde você estava?- perguntou, enquanto o outro anotava as informações em um bloco de notas.

- Eu tinha dormido no sofá, mas eu acordei e desliguei a televisão, porém quando eu estava subindo para o meu quarto, eu ouvi um barulho.

- Certo. Poderia detalhar a cena de como tudo foi para mim?

- Sim...- Concordei.

- Bom, como eu disse, quando eu estava subindo, ouvi um barulho na cozinha e pensei em voltar para ver o que era. No entanto, vi a sombra de um homem, e isso me fez paralisar. Só que quando eu estava prestes a subir, o Alex apareceu...

O policial interrompeu, indagando sobre Alex como testemunha. Confirmei que ele estava junto comigo naquela noite.

- Certo. Onde poderíamos encontrá-lo?- perguntou o policial mais uma vez.

- Ele provavelmente está na cozinha com a namorada. - Respondi, indicando o caminho com a cabeça.

Os policiais se levantaram e se dirigiram à cozinha, enquanto Simon permanecia ao meu lado. A tensão pairava no ar, e meu olhar encontrou o de Alex mais uma vez. Seus olhos pareciam expressar algo, mas eu não conseguia decifrar.

Eu senti um incômodo em meu peito, e o meu corpo agiu rapidamente a isso, já que as minhas pernas não paravam de balançar. Uma pontada grande de saudade pulsava em meu coração por ele. Já me acostumara com sua atenção e, às vezes, frieza. Agora, que estávamos incapazes de trocar palavras, parecia ser o ápice do fim. Meus dias não pareciam normais, embora fossem sempre confusos. Alex tornara-se uma parte significativa da minha vida, e estar longe dele era angustiante. No entanto, não conseguia esquecer que ele estava feliz com outra pessoa, mesmo aceitando meu beijo.

Com raiva, desviei meu olhar dele, e observei os policiais novamente. Depois de alguns minutos, após conversar brevemente com Alex, o oficial mais velho voltou-se para mim:

- Senhorita Amy, precisamos confirmar algumas informações. Alex mencionou que vocês pularam pela janela e fugiram pela árvore. Pode nos explicar melhor essa parte?

Respirei fundo antes de começar a narrar novamente os acontecimentos daquela noite, detalhando a fuga pela árvore e a observação do criminoso. Os policiais ouviam atentamente, fazendo anotações conforme eu falava.

Quando terminei, o policial mais novo perguntou:

- Você reconheceu alguma característica do criminoso? Algum detalhe que possa nos ajudar na investigação?

- Infelizmente não. Ele estava usando um capuz longo e preto que cobria a maior parte do rosto. Não conseguimos ver mais nada.

- Certo. Há algo mais que deseja compartilhar conosco?

Após a pergunta dos oficiais, eu me prendi novamente aos acontecimentos estranhos daquela noite, tentando refletir se havia algo de importante que poderia levar ao encontro do suspeito... Até que me lembrei que Rosa ainda estava desaparecida.

- Bom... há uma coisa que preciso contar a vocês.

- Prossiga. - Permitiu o policial.

- Na mesma noite que invadiram a minha casa, a minha acompanhante não apareceu - Afirmei, - Ela costumava vir todos os dias à minha casa, pois tinha o trabalho de ajudar-me com os remédios e as atividades diárias. A mesma tinha o costume de deixar a minha casa às 20h00, mas um dia antes ela acabou saindo mais tarde, lá pras 22h30. Mas no dia seguinte ela não compareceu... eu e minha tentamos entrar em contato, mas o telefone dela estava constantemente fora de área. E até agora, eu não tenho notícias... - Finalizei.

- Sim, e já faz quanto tempo que ela está desaparecida?

- Já faz exatamente quatro dias, desde a última vez que a vi.

Os policiais trocaram olhares e continuaram com algumas perguntas relacionadas ao desaparecimento de Rosa Gusmam.

Após um tempo, eles agradeceram as informações e disseram que investigariam o caso do desaparecimento. Antes de saírem, o policial mais velho dirigiu-se a Simon:

- Doutor, se precisarmos de mais informações ou esclarecimentos, entraremos em contato.

Assenti com a cabeça, e eles deixaram a casa. Simon olhou para mim com uma expressão preocupada.

- Como está se sentindo, Amy?

- Cansada, Simon. Cansada de tudo isso. - Suspirei.

Ele assentiu compreensivamente e sugeriu que eu descansasse um pouco. Voltei para o meu quarto, mas os pensamentos tumultuados continuavam a me assombrar. O desaparecimento de Rosa, o incidente da noite anterior e a presença de Alex na minha vida criavam várias emoções difíceis de lidar.

Pensando bem, se eu fosse uma psicopata, esses sentimentos não me machucariam, mas como sou um ser humano empático, não consigo evitar confiar, sofrer ou sentir quando algo me fere. Talvez a única coisa que eu deva fazer agora é esquecer o que não posso mudar, focar em mim mesma e naquilo que me faz feliz...

Afinal, a vida é curta e complexa demais para ficar presa a sentimentos não correspondidos. Se Alex deseja permanecer em sua confusão, que assim seja. Não vou mais insistir, a menos que prove que suas razões são válidas. Se ele se abrir, tudo entre nós irá se resolver; agora só depende dele...

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