CAPÍTULO 12 - BARULHOS MORTAIS

Eu me sentia em um sono profundo, até que de repente os meus olhos se abriram ao escutar um barulho alto no lado de fora da casa!
O meu coração acelerou, afinal, ainda estava receosa com tudo que aconteceu entre mim e o Alex, e principalmente as anotações que descobri que existiam sobre mim nas coisas do Doutor.

Porém, o que mais me preocupava naquele momento, era o que estava acontecendo?

Aqueles sons vindos do lado de fora ainda continuavam, e aquele medo começava a pulsar sobre o meu corpo.

Com passos leves, eu caminho até a porta, e a abro pela greta, a fim de descobrir o que estava acontecendo.

O corredor estava escuro a ponto de ser uma escuridão sem fim. A torneira da pia pingava conforme o relógio marcava as suas badaladas.
Até que uma luz surgiu no meio daquele ambiente; era a porta da frente se abrindo e revelando a silhueta de um homem alto e de capa preta, e naquele instante o meu coração gelou! Afinal, quem seria ele?
Eu abri os lábios nervosa, e pronta para saltar um grito de medo! No entanto, eu me interrompi ao vê-lo lançar dois sacos pretos banhados de sangue no chão da sala, o tapete do Doutor Simon agora estava repleto de respingos de sangue. E sem me notar a espreita, ele caminhou para frente com seus passos firmes, fazendo pegadas de sangue por toda parte! Fiquei em silêncio, enquanto atravessava adiante de mim, quando reparei um detalhe explícito naqueles sacos, ambos estavam com o meu e o nome do Alex! O que certamente me fez apavorar, e gemer de medo, despertando a atenção do homem, que após isso andou em minha direção.
Desesperada, eu tranquei a porta, eu segurei a minha respiração com dificuldade. Porém, tudo isso foi em vão, quando escutei uma faca perfurar a madeira da porta! E ouvi a sua voz gritar o meu nome com voracidade enquanto chutava aquele porta! Comecei a chorar de medo e fechei os olhos com força! Desejando que tudo aquilo não fosse real.

Quando eu abri os meus olhos novamente, eu estava de frente para o teto do quarto. Eu me levantei com um sobressalto, sentindo o suor frio cobrindo a minha testa. Meu coração ainda batia apressado, e olhei ao redor, tentando recuperar o fôlego. Lentamente, a sensação de alívio se misturava com a confusão entre o que era real e o que fora apenas um pesadelo assustador.
Eu não ousaria dizer que tudo isso era apenas a minha imaginação, afinal, todas as sensações que senti pareciam reais o suficiente.

Olhei pela janela, e vi que ainda era madrugada, e não tinha como eu não ficar com medo, afinal, tudo aconteceu de repente e de forma tão imprevisível que confundiu a minha mente ainda mais...
Então, me sentindo solitário e vulnerável, eu resolvi fazer uma ligação para a minha mãe, mesmo sendo tarde. O celular dela só chamava, e nada de atender, o que começou a me preocupar, afinal, já faz um bom tempo que não conversamos, ou seja, não tem nem notícias se ela chegou bem. Como também, minha mãe não me deixaria cem por cento sozinha, sem me ligar ou me perguntar como eu estava. Então, certamente algo está errado!
Liguei pela sexta vez, e finalmente ela atendeu.

- Mãe? - Chamei.

- Filha? - Disse, enquanto o telefone chiava.

- Sim, mãe. Aconteceu algo? Por que a senhora não me ligou? Está tudo bem aí?

- Ah, Amy... Tem sido difícil, eu tentei ligar várias vezes mais o sinal está péssimo por aqui. Me perdoe por preocupá-la, você não sabe o quanto eu estava desesperada, por não saber como o meu bebê está. Mais fico feliz que tenha me ligado.

- Para de me chamar de bebê mãe! Já tenho 17 anos. - Sorri.

- Você sempre será o meu bebê! - E como estão as coisas por aí? E por que você está me ligando essa hora? Não vejo ser somente preocupação.

- Ah, mãe, não é nada. Estou apenas com saudades. As coisas estão bem por aqui.

- Acho bom, mocinha. E como está a sua saúde, está se alimentando bem?

- Estou. Não tenho tido muita fome, mais minha saúde está melhorando.

- Que bom, filha. Estarei de volta na próxima semana. Então, fique com a Rosa durante esse tempo.

- Está bem. Você conseguirá vir para levar as flores no túmulo do papai, não é?

- Sim, querida. Eu não poderia perder.

- Certo. E como está a vovó?

- Bem...

- Ah... Espero que ela melhore logo.

- Claro. Mas agora, terei que desligar, Amy.

- Está bem.

- Até breve, filha.

- Até mãe... Estarei aguardando.

Dito isso, desliguei o telefone. Ficando em dúvida sobre as últimas palavras de minha mãe, ela me pareceu muito evasiva quando perguntei da vovó, me parece que ela está escondendo alguma coisa...

E isso me incomoda.

Após aquele pesadelo horrível, a minha única forma de conseguir dormir, foi tomando algumas pílulas e apagando de vez, sem que nada tirasse a minha paz. E quando finalmente acordei, o relógio marcava 13h20 da tarde!
Eu me surpreendi ao ter dormindo tanto assim, além disso, a minha barriga estava roncando e a minha bexiga louca para ser esvaziada.

Porém, eu ainda não me sentia segura em sair do quarto. A situação com o Alex ainda estava desconfortável, ainda mais depois da nossa conversa. Não sentia que podia olhá-lo novamente como antes, além disso, o modo que ele agiu comigo e que simplesmente me ameça ou me fez enxergar que ele realmente não é o que eu achava que fosse. Então, distancia seria a melhor coisa. Afinal, eu tenho um coração muito mole, e consigo perdoar muito fácil as pessoas, e isso da com que elas me achem uma idiota, mas eu só faço isso porque me sinto sozinha, como se essas pessoas fossem as únicas na minha vida. E por isso não consigo esquecê-las...

Após alguns minutos pensando na vida, alguém surpreendentemente bateu na porta, despertando a minha atenção!

- Amy, bom dia. Aqui é o Simon. - ele disse, do outro lado da porta. Enquanto eu corria para abri-la: - Bom dia, doutor.

- Olá! - Ele abriu um sorriso. - Como vai?

- Vou bem...

- Ótimo. Trouxe os seus medicamentos.

- Oh, obrigada...

- Imagina. Não se esqueça de tomá-los.

- Claro. Eu agradeço. - Digo. - Bem, está indo para o hospital?

- Sim, tenho muito trabalho a fazer. - Disse ele. - Mas, o que me deixa triste é vê-la voltar para a sua casa.

- Triste? Mas, por quê?

- Porque foi divertido cuidar de você, e principalmente te conhecer melhor. Você é uma garota corajosa, poucas se submeteriam ao risco que você correu. Viver com o meu irmão, é pedir para se confundir totalmente, mas você tem conseguido. Meus parabéns.

Eu sorri, incrédula. Mas, preferi segurar o que se passava entre mim e Alex no meu coração e apenas agradeci.

- Obrigada. Mas não se preocupe, nós ainda nos veremos, nosso contrato continua de pé.

- É claro. - Ele concordou. - Ah, mas não se preocupe em ficar aqui hoje, pode ir para casa e descansar, amanhã você aparece.

- Certo. Obrigada. - Eu sorri fechada.

- Bom, foi bom conversar com você, mas tenho que ir.

- Compreendo. Tenha um bom dia de trabalho.

Ele olhou para mim com carinho e sorriu. Porém, lembrei-me daquela pasta secreta. Por que ele tinha tantas informações sobre mim? O que estaria escondendo por trás dessa máscara tão amigável? E o mais importante, isso não são só coisas da minha cabeça?

Depois que ele partiu, senti um alívio, e toda a tensão ir embora. A conversa pareceu roubar um peso em mim. E, com certeza, me senti mais forte com a minha decisão sobre Alex. Ele merece paz e eu a minha autonomia.

Em seguida, recolhi meus pertences e voltei para casa, sem olhar para trás. Pois, sabia que, mesmo que Alex não quisesse, nos veríamos de novo.

Ao entrar na sala de estar, vi os sapatos de Rosa na entrada. Subi as escadas sem cumprimentá-la; precisava deixar minhas roupas no quarto primeiro.

Com passos lentos, abri a porta do meu quarto e suspirei, me sentindo em casa. A saudade do meu cantinho especial era evidente.

Meu travesseiro e meus vários ursos estavam no mesmo lugar, o chão brilhava e as janelas estavam trancadas. O vento que vinha do pequeno vasculhante balançava as cortinas lilases.

Caminhei até a cômoda e coloquei minhas roupas de volta no lugar. Então, organizei meus remédios no móvel e me sentei na cama, desanimada.

- Acho que... meu mundo voltou a ser como era. - Afirmei para mim mesma, sentindo o peso da solidão.

Estar com Alex, apesar de às vezes insuportável, era a única forma de me sentir viva. Ele não me tratava apenas como uma doente. Perto dele, eu me sentia verdadeiramente normal...

Voltar agora era um regresso, todas as lembranças voltavam, e eu me dava conta de que estava realmente sozinha de novo.

Sei que o verei, mas prometi a mim mesma não perturbá-lo novamente. E não descumprirei minha promessa.

Suspirei fundo com olhos molhados, e logo me contive, passando a mão no rosto. Para esquecer tudo isso, resolvi descer e encontrar com Rosa.

Peguei minha bolsa de ar, conectei os tubos no nariz e desci cautelosamente para a cozinha, onde a encontrei.

Rosa, era uma mulher de meia-idade, baixa e de etnia mexicana, tinha um sotaque constantemente engraçado.

- Oi, Rosa! - Cumprimentei, mas ela deu um pulo e disse:

- Órale! - Sorri, e ela completou. - Que susto, mija.

- Mil perdões, Rosa. Não foi minha intenção.

- Entendo, minha criança. - Ela afirmou, picando os legumes.

- Está com fome?

- Estou sim. Não tomei café hoje cedo.

- Graças a Deus por isso. Eu e sua mãe estamos preocupadas. Você precisa se alimentar melhor.

- Sim, eu sei. Mas não consigo ignorar as dores que sinto e comer.

- Claro. Não deve ser fácil para você, mas também não é para nós.

- Ver você assim... sempre só e angustiada, nos faz sentir que não somos boas o suficiente para você.

Rosa largou a faca e me olhou com dúvida e tristeza. Devolvi o olhar com mais intensidade, compartilhando o que está cravado na minha alma: a dependência e a falta de fazer minhas próprias escolhas.

- Vocês duas são ótimas, mas sou adolescente. Preciso de espaço para lidar com meus próprios pensamentos e medos...

Sua feição mudou, talvez entendendo o que realmente necessitava.

- E vocês... nunca me dão esse espaço. Querem decidir tudo por mim. E isso é frustrante. Sinto-me presa em uma gaiola, sem liberdade...

- Sei que nos amam, mas acho que neste momento preciso me ferir para realmente aprender a viver.

Rosa sorriu.

- Por isso essa curiosidade pelo rapaz?

- Acho que sim. Sinto que ele pode me ajudar a enxergar o mundo de outra maneira.

- Como assim? Você já não o enxerga?

- Vejo apenas com os olhos, não com a alma. Posso ser doente, mas meu mundo é perfeito. Ele é o único que pode me mostrar um mundo diferente.

Rosa parou, receosa.

- Amy, você é jovem e não tem noção do mundo. Não seria melhor manter isso em segredo? - Ela parou. - Te aconselho a não buscar coisas que não gostaria de saber. - Ela disse.
- Você acha o mundo dele curioso. Mas e se for ruim, sangrento, de um assassino? Você compactuaria com isso?

Fiquei sem palavras naquele momento. Seus olhos não piscaram após suas palavras, e aquilo refletiu na minha mente... O que seria o certo a fazer, afinal?

Depois daquela conversa que mudou completamente o rumo das coisas, escolhi ficar em silêncio, apenas observando-a preparar o café. Rosa, sempre atenciosa, não insistiu na pergunta, seguindo com suas tarefas.

Minha mente, por outro lado, fervilhava com pensamentos sobre minha vida e a estranha atração pelo Alex. Sei que talvez seja louco me interessar tanto pelo desconhecido, mas algo nele sempre me puxa de volta. Posso sentir medo, perigo e outros sentimentos ao lado dele, mas o fato de ele me tratar como uma pessoa normal, sem pena, é incrível. Além disso, seu jeito frio e doce me intriga. Fico ansiosa para descobrir quem ele realmente é.

Mas há outra razão para minha fascinação por ele. Pois parecemos simultaneamente iguais. Ambos enfrentamos os nossos próprios problemas, somos isolados como se fôssemos um fardo e nossos nomes saíram ditos a cada esquina. Na verdade, somos considerados obstáculos perante os olhos de todos ao nosso redor, como se não tivéssemos o direito de existir...

Ele é como o meu parceiro nesse sofrimento, e se nos uníssemos, seríamos uma dupla e tanto contra o mundo. Mas, em vez de me aproximar, só o afastei mais... Parece que nunca faço nada certo.

Terminei o café da manhã, e subi para o andar de cima, onde tomei meus remédios de rotina. Passei o resto da manhã até a tarde fazendo nebulização enquanto assistia aos Simpsons no celular.

Tive mais um dia tranquilo, deitada e assistindo aos meus desenhos favoritos, o que pode parecer estranho para uma adolescente. Mas é meu gosto, e é bom dar umas risadas, já que livros e séries não me seguram por muito tempo.
Rosa mais tarde foi ao supermercado e trouxe várias coisas para mim. Passamos o resto da noite juntas, vendo desenhos e comendo pipoca. Quando deu 22h00, ela pegou suas coisas e foi embora, deixando-me só com meu celular descarregado.

Coloquei-o na mesa de cabeceira e bocejei. Levantei-me para tomar um banho e dormir quando tive aquela pequena vontade de olhar pela janela.

Caminhei até lá e me sentei na sua beirada, observando a rua pouco movimentada, ouvindo o som das corujas e sentindo o vento balançar as árvores. Fechei os olhos e deixei o vento gelado bagunçar meus cabelos. Sorri e abri os olhos para a janela dos irmãos Hart. Fiquei encarando o ambiente, pensando naqueles olhos penetrantes do Alex...
Até que vi o seu capuz apontar pelo vidro. Ajustei minha postura para ver melhor e penteie o meu cabelo com as mãos, quando me surpreendi ao vê-lo me encarando do outro lado, pela a sua janela. Ele tinha um semblante neutro e me encarava, meio que dizendo" o que está olhando?"

Minhas bochechas arderam, e me escondi na pilastra da janela, repetindo para mim mesma: - Ai, que mancada...

Levei as mãos ao rosto, tentando esquecer a vergonha que passei. Ficar admirando uma pessoa de longe, nunca será uma boa ideia...
E agora, como vou encará-lo de novo depois disso?

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